Por que fabricantespapel higiênico estão assustados com altacustos no Brasil:

Fábricapapel
Legenda da foto, Fabricantespapel higiênico estãoalerta após encarecimento da matéria-prima no Brasil

"Muitas matérias-primas, a começar pela celulose, são indexadas ao dólar, e a nossa moeda foi uma das que mais se desvalorizou durante esse ano, acima dos 20%. Só isso já é um impacto enorme", diz João Carlos Basilio, presidente-executivo da Abihpec.

Pedro Vilas Boas, diretor da Anguti Estatística, consultoria especializada no mercadopapel, destaca ainda a altapreços do papel maculatura, utilizado nos tubetes marrons do papel higiênico e toalha.

"Esse papel é feito com aparas marrons, que nos dois últimos meses subiram 40%", diz Vilas Boas. "Isso aconteceu por faltamaterial. Essas aparas vêm das caixaspapelão ondulado dos produtos vendidoslojas e shopping centers. Quando eles ficaram fechados, esse material deixouser recolhido, gerando escassez no mercado."

Por motivo semelhante, também houve altapreços nas aparas brancas, utilizadas na fabricação dos papéis higiênicos mais baratos, que são feitos com material reciclado.

Em embalagens plásticas, o motivo da altapreços, segundo Vilas Boas, é tanto o custo da resina plástica, que é atrelado ao dólar e à cotação internacional do petróleo, como as paradas da indústriaembalagens no momentodistanciamento social mais duro da pandemia.

"Pelas fábricas ficarem paralisadas muito tempo, ocorreu uma demanda muito maior que o previsto e aí, entre a oferta e a procura, o mercado foi aumentando seus preços e oferecendo para quem paga mais", diz Basilio, da Abihpec.

Supermercados não aceitam reajustes, diz entidade

Conforme o executivo, o problema para a indústria é que ela não tem conseguido repassar ao varejo todas essas altascustos.

No IPCA (Índice NacionalPreços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação no país, o papel toalha acumula deflação7,32% até novembro, enquanto o papel higiênico tem altapreço3,24%11 meses.

A Abihpec estima que as aparaspapel acumulam alta entre 26% e 31% entre janeiro e novembro. Já o GLP teve aumento3,5% somenteoutubro, enquanto materiaisembalagens, como as caixaspapelão, registrando altacerca10%; filme plástico liso, alta11,5%; filme impresso, alta9%; e a maculatura, alta7,5%.

Rolopapel higiênico
Legenda da foto, Faltamatéria-prima não afetou somente a indústriapapéis, mas tambémembalagensplástico

"Os preços que estão sendo praticados hoje, vendendo para os supermercados, para muitas fábricas não chegam nem a repor os estoques pelos custos atuais", afirma Basilio.

O presidente da associação destaca que o comércio já recuperou a atividade, com os supermercados acumulando um crescimentovendasmais6% até outubro, na comparação com igual período2019.

"Mas sabemos que o poder aquisitivo da população brasileira não vem crescendo na mesma proporção. Assim, os supermercados têm receio que a demanda caia e, por isso, pressionam seus fornecedores, tentando resistir à altapreços."

Não há nenhum riscodesabastecimento

Apesar desse desequilíbrio no mercado, o presidente da Abihpec garante que não há nenhum riscodesabastecimentopapéis para fins sanitários no mercado.

"Não existe absolutamente nenhum riscodesabastecimento. O risco é zero", diz Basilio.

"O que estamos alertando é que, nessas condições, há a possibilidadeque pequenas indústrias que fabricam papel higiênico não tenham fôlego para suportar essa pressão e possam ser compradas por grandes empresas. Pode haver uma maior concentraçãomarcas", afirma o executivo.

O mercado brasileiropapel higiênico é hoje bastante pulverizado. Segundo Vilas Boas, da Anguti Estatística, o país conta atualmente com 59 fabricantes.

A maior empresa do mercado é o grupo chileno CMPC, que comprou2009 a Melhoramentos Papéis e, no ano passado, adquiriu a paranaense Sepac, passando a unir as marcas Elite, Sublime, Duetto, Paloma, Stylus e Maxim.

Outras grandes são a Kimberly-Clark (donamarcas como Neve, Scott e Kleenex) e a Santher (que contasseu portfólio com Personal, Snob e Kiss, entre outras marcas), mas nenhuma das fabricantes tem fatia superior a 20% do mercado, na estimativa do analista.

"Como o papel higiênico é um produto leve, masgrande volume, temos diversas fábricas regionaistodo o país", explica Basilio. Essa é uma estratégia para que os fornecedores fiquem próximos aos mercados consumidores, do contrário, o custofrete acaba inviabilizando o lucro.

"Essas são pequenas indústrias, que estão sofrendo, porque não conseguem repassar para o preçoseus produtos os custos que estão recebendo devido à altamatérias-primas."

Problema deve começar a passar a partirmarço

Apesar do desarranjo no mercado, a Abihpec avalia que a pressão sobre custos deve começar a se dissipar2021.

"Acreditamos na possiblidadeque, lá para março, haja uma reversão desses preços, quando o mercado se normalizar. Isso é uma expectativa", diz Basilio.

Prateleirapapel higiênico vaziaLondres

Crédito, PA Media

Legenda da foto, Consultor prevê que preço da celulosepasta deve diminuirbreve, principalmente por conta da queda do dólar

Essa também é a avaliaçãoVilas Boas, da Anguti Estatística.

"No caso da celulose, o dólar já está perdendo força, então o preço da pastareais deve se estabilizar", prevê o consultor.

"No casoaparas, os shoppings voltaram, as lojasruas estão muito fortes, e tudo isso produz aparas marrons, que estão voltando para o sistema. Então acreditamos que, no começo do ano, já deve haver uma normalização desse mercado, talvez com alguma quedapreços."

Ainda segundo Vilas Boas, no mercadoplásticos, a expectativa éque, com o fim do auxílio emergencial e a redução do excessodemanda, também os preços se estabilizem, diante da diminuição esperada do consumo.

Não há escassezmatéria-prima, dizem fornecedores

Procurada, a Ibá (Indústria BrasileiraÁrvores), associação que representa a cadeiaprodutosbase florestal, disse atravésnota que a indústria nacionalcelulose e papel tem insumos suficientes para atender ao mercado.

"Mesmo nos períodosmaior procura por papel higiênico, papel toalha e lençospapel, as prateleiras do varejo estavam abastecidas para atender ao consumidor. Essencial, essa indústria permanece trabalhando durante a pandemia, com operações reorganizadas para garantir a segurança dos trabalhadores, empenhadaatender ao mercado."

Também procuradas, a Abras e a Apas, respectivamente a associação brasileira e paulistasupermercados, não se posicionaram até o fechamento desta reportagem.

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