'Esquerda compra da esquerda': grupobitstars free spinvendas já reúne maisbitstars free spin60 mil pessoas:bitstars free spin
"Queremos empoderar economicamente a esquerda e valorizar os nossos", diz Erica Caminha, idealizadora do grupo.
Para Pablo Ortellado, professor da USP e coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, a iniciativa é uma expressão do que se chamabitstars free spin"polarização afetiva", que se difere do antagonismo ideológico do passado ao se expressar na formabitstars free spinuma aversão ao campo político adversário e na reafirmaçãobitstars free spinidentidades a partir do antagonismo. Nesse sentido, diz o pesquisador, há hostilidadesbitstars free spinambos os lados do espectro ideológico.
Magazine Luiza ou 'Véio da Havan'?
Para entrar no grupo "Esquerda Compra da Esquerda", o usuário do Facebook precisa ser convidado por alguém que já participa da comunidade e responder antes a três perguntas.
"Se você tivesse que comprar um liquidificador hoje, compraria com: Magazine Luiza ou Véio da Havan", uma referência a Luciano Hang, proprietário da redebitstars free spinlojasbitstars free spindepartamento Havan e apoiadorbitstars free spinprimeira hora do governo Jair Bolsonaro (sem partido).
"Você se considerabitstars free spinesquerda ou progressista: sim ou não" e "Em quem você votoubitstars free spin2018? Haddad/Manuela ou Bozo/Mauzão", referência a Bolsonaro e ao vice-presidente Hamilton Mourão.
"Nós conferimos no perfil da pessoa que pede para entrar se tem algum indicativobitstars free spinque ela ébitstars free spinesquerda, se tem foto do Lula, do Boulos, do Che Guevara, alguma dessas coisas que identificam a esquerda", diz Caminha, que conta com a ajudabitstars free spinum grupobitstars free spinmoderadores voluntários para administrar a comunidade virtual.
"Mas temos consciênciabitstars free spinque muitas pessoas, por receio, principalmente por questõesbitstars free spintrabalho, não usam informação nenhuma nas suas redes sociais, aí se torna um pouco difícil para identificarmos, mas no geral tem funcionado bem."
'Estamos inseridos num sistema capitalista'
Aos 50 anos, a artista plástica e ativistabitstars free spindireitos humanos Erica Caminha mora há sete anos na Alemanha, na cidadebitstars free spinRosenheim, a cercabitstars free spin51 kmbitstars free spinMunique.
Ela conta que, antesbitstars free spinse tornar "Esquerda Compra da Esquerda", o grupo no Facebook teve pelo menos dois outros nomes: "Jornada Mundial Lula Livre" e "Fora Bolsonaro Internacional".
"Um dia, escrevi na internet: 'Vocês conhecem pessoas progressistas oubitstars free spinesquerda que vendam produtos, sejam artesãos ou tenham empresas?' Para minha surpresa,bitstars free spinmenosbitstars free spinduas horas, havia trinta pessoas", conta Caminha.
"Aí fui lá e troquei o nome do grupo. Isso foibitstars free spin1ºbitstars free spinnovembro. Éramos 150 pessoas na ocasião, e agora já somos maisbitstars free spin60 mil,bitstars free spin381 cidades,bitstars free spin31 países."
A idealizadora da comunidade diz que, até agora, o grupo não sofreu ataques por parte da direita, mas já houve questionamentos vindos da própria esquerda.
"Há pessoasbitstars free spinesquerda que acham que estamos fazendo um desfavor, porque, se os bolsonaristas resolverem fazer a mesma coisa, pode ser prejudicial", diz Caminha.
"As pessoas dizem que bolha é ruim, mas é muito confortável, nos sentimos compreendidos, respeitados, à vontade para sermos quem somos, sem temer represálias."
Quanto a uma possível contradição entre um grupobitstars free spincompra e vendas e a perspectiva anticapitalistabitstars free spinboa parte da esquerda, a artista plástica avalia que é preciso pragmatismo.
"Estamos inseridos num sistema capitalista, todos nós precisamos ter dinheiro", afirma.
"É ingênuo achar que não se vai comprarbitstars free spinpessoasbitstars free spindireita, isso não existe, até porque não encontro arroz do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] no mercado. Mas se pudermos privilegiar os nossos, tanto melhor."
O Pão Que o Viado Amassou
O padeiro Gabriel Castro,bitstars free spin34 anos e dono da marca O Pão que o Viado Amassou, é um dos participantes do grupo.
Antes ator, DJ e trapezista, o moradorbitstars free spinCuritiba (PR) se viu sem trabalho com o isolamento social imposto pelo coronavírus e foi mais um dos quarentenados a ser pego pela "pãodemia", a febrebitstars free spinfazer pães artesanais que acometeu muitos brasileiros presosbitstars free spincasa.
Um dia, conversando no WhatsApp com uma amiga, ela perguntou como estavam seus colegasbitstars free spinapartamento. "Eu disse: 'Estão bem, estão ali na sala comendo o pão que o viado amassou'. Foi sem querer, mas foi aí que percebi que poderia usar o pão para abrir um diálogo."
"O assunto das causas LGBTQIA+ ainda é tabubitstars free spinmuitos lugares", diz Castro, citando a sigla que inclui lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, queers, intersexuais, assexuais e todas as demais sexualidades e gêneros.
Desde maio, a fabricaçãobitstars free spinpães se tornou a principal fontebitstars free spinrenda para o curitibano, que vende uma médiabitstars free spin450 unidades por semana e passou a empregar dez pessoas na produção.
Castro foi parar no grupo "Esquerda Compra da Esquerda" convidado pela mãebitstars free spinum amigo.
"Achei super válido e uma possiblidadebitstars free spinencontrar pessoas que simpatizariam com a marca. E tambémbitstars free spinapoiar outras pessoas que estivessem numa situação como a minha, que precisaram se virar e dar um jeito na vidabitstars free spinoutras formas."
Cozinha Canhota
A professorabitstars free spinhistória Marcelle Nogueira Toscani,bitstars free spin39 anos e moradorabitstars free spinPasso Fundo, no interior do Rio Grande do Sul, também viu no grupo um lugar seguro para anunciar seu negócio e apoiar outros pequenos produtores.
Ela é dona da marmitaria vegana Cozinha Canhota,bitstars free spinprincipal fontebitstars free spinrenda desde que ficou desempregadabitstars free spin2019.
"Fui meio jogada à força no ramo da culinária e resolvi unir as paixões que tenho na vida: a história, a política e a culinária vegana", conta Toscani, cujo cardápio tem pratos como a tortabitstars free spinabobrinha "Desgoverno do Bozo" e a lasanha à bolonhesabitstars free spinsoja "Internacional Socialista".
Militante do PT, ela conta que já sofreu ataques devido à orientação políticabitstars free spinseu negócio.
"Temos sido massacrados pelo campo da direita. Quando fiz minha logomarca, que tem uma foice e um garfo, teve um pessoal na minha cidade que boicotou, colocavam nas redes sociais 'não compre, porque é um negóciobitstars free spinuma pessoa comunista'. Eu tinha um adesivo do PT no carro e riscaram meu carro, jogaram pedra."
Toscani diz que já se preocupavabitstars free spinapoiar outros negóciosbitstars free spinpessoasbitstars free spinesquerda mesmo antesbitstars free spinparticipar do grupo.
"Sempre procurei me certificarbitstars free spinquem vou comprar qualquer tipobitstars free spinproduto, para não dar meu dinheiro para 'fascistas'. Se tem um negócio que sei que ébitstars free spinbolsonarista, eu boicoto mesmo, não dou meu dinheiro. O grupo é bacana porque é como um catálogobitstars free spinprodutos e serviçosbitstars free spinpessoas ligadas ao campo da esquerda, temos que nos apoiar."
Banco sem banqueiro
Uma das iniciativas mais recentes que passaram a fazer parte do grupo é a fintech LeftBank, que tem como sócios o advogado Daniel Gonçalves e o administradorbitstars free spinempresas e contador Volneibitstars free spinBorba Gomes.
Lançado na última sexta-feira (18/12), com um investimento inicialbitstars free spinR$ 500 mil, o LeftBank pretende ser uma conta digitalbitstars free spinpagamentos, a exemplobitstars free spinfintechs como Nubank e C6 Bank, mas voltada para militantesbitstars free spinesquerda.
"Desde 2018, conversávamos sobre a ideiabitstars free spin'murosbitstars free spinresistência' a essa 'onda fascista' que estava querendo se implantar no país", conta o cientista político e executivo do LeftBank, Paulo César Salvamoura Pires,bitstars free spin40 anos e moradorbitstars free spinCanoas (RS).
"Essa resistência se dá na sociedade, nos locaisbitstars free spintrabalho, nas redes sociais. Começamos a falar sobre bancos e pensamos que essa resistência também poderia se dar onde o capital mais lucra. Aí surgiu a ideiabitstars free spinformar uma fintech voltada para o públicobitstars free spinesquerda, que são quase 40 milhõesbitstars free spinpessoas, conforme as últimas eleições."
Para Pires, o objetivo é oferecer serviços bancários a quem não tem acesso, já que não será feita nenhuma checagem préviabitstars free spininadimplência dos usuários, e debater o papel dos bancos na sociedade.
"A pessoas perguntam se não é uma contradição um bancobitstars free spinesquerda, mas a verdade é que vivemos numa sociedade capitalista e não podemos fugir. Como pessoasbitstars free spinesquerda, temos que disputar essa sociedade, com as armas que ela nos disponibiliza, criando alternativas para mitigar o grande estrago que o capital faz na concentraçãobitstars free spinrenda e na vida das pessoas."
Polarização afetiva
Para Pablo Ortellado, do Monitor do Debate Político no Meio Digital, iniciativas como o grupo "Esquerda Compra da Esquerda" e o LeftBank são uma expressão da polarização política.
"A chamada 'polarização afetiva' é um rechaço, uma hostilidade com as identidades políticas adversárias. Estamos vendo isso se manifestarbitstars free spinvários fenômenos sociais", afirma.
Segundo o professor da USP, trata-sebitstars free spinuma manifestação recente. "A polarização não é antagonismo ideológico. Discordar e não gostar do campo adversário é constitutivo da política. Mas a polarização é uma espéciebitstars free spinexacerbação desse processo", avalia.
Ortellado cita pesquisas americanas que mostram, por exemplo, que democratas e republicanos não gostariam que seus filhos se casassem com alguém do campo adversário. Ou acham que as pessoas do campo adversário não podem ser boas pessoas.
"Quando você marca no seu perfilbitstars free spinum aplicativobitstars free spinpaquera que você ébitstars free spinesquerda oubitstars free spindireita, você basicamente está dizendo que se recusa a ter uma relação amorosa com uma pessoa da identidade política adversária", exemplifica.
Violência política e 'guerra civil'
Conforme o pesquisador, não há consenso na literatura sobre os motivos da emergência deste fenômeno. Entre as hipóteses, estão que ele estaria ligado à ascensão do populismo autoritário; ao aumento do uso das mídias sociais, que reforçam identidades; ou à explosão da mobilizaçãobitstars free spinruabitstars free spinvários paísesbitstars free spinanos recentes.
"Não existe uma explicação consensual, mas sabemos que é um fenômeno novo", diz Ortellado.
O professor diz que as pessoasbitstars free spinesquerda que relatam sofrer hostilidades estão corretas, mas que a direita também é alvobitstars free spinhostilidade.
"Os dois lados estão reclamando e estão fazendo, é uma estrutura que se estabeleceu, na qual você é hostilizado e hostiliza", afirma.
"A reação a isso é você se apegar mais ao seu grupo, porque aí é um espaço onde não há essa hostilidade e você pode reafirmarbitstars free spinvirtude política. Os dois lados acreditam que seu lado é virtuoso e o outro lado é corrompido. A identidade é construídabitstars free spinantagonismo ao outro."
"O risco disso é essa hostilidade crescer e virar violência política. Essa é a preocupação da maior parte dos especialistas que estão estudando polarização. Que isso terminebitstars free spinguerra civil, pois a disposição à violência está aumentando bastante nos últimos anos."
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