Os padres alvotous betataques racistas dos próprios fiéis no Brasil:tous bet

Paróquia do Sagrado Coraçãotous betJesus, na Glória, Zona Sul do Rio, montou presépio temático no Largo da Glória. Um dos temas foi o combate ao racismo

Crédito, Pascom/Paróquia do Sagrado Coraçãotous betJesus

Legenda da foto, Paróquia do Sagrado Coraçãotous betJesus, na Glória, Zona Sul do Rio, montou presépio temático no Largo da Glória. Um dos temas foi o combate ao racismo

No caso dele, o preconceito partiutous betoutros seminaristas. Mas, às vezes, parte dos próprios fiéis. Foi o que aconteceu na Paróquia Santo Antônio,tous betAdamantina, a 578 kmtous betSão Paulo (SP). Desde que assumiu a igreja matriz,tous bet2012, o padre Wilson Luís Ramos alegou ter sido vítimatous betdiscriminação por partetous betalguns fiéis. Houve quem dissesse que “deveriam trocar o galotous betbronze do alto da igreja por um urubu”.

Depoistous betum ano e dez meses na paróquia, o sacerdote foi transferido para o Santuário Nossa Senhoratous betFátima,tous betDracena, onde assumiu como pároco e reitor. Procurado pela reportagem, o padre Wilson não quis dar entrevista.

Outro casotous betpreconceito racial foi registrado na Paróquia Nossa Senhora do Bom Conselho,tous betSerra Preta, a 150 kmtous betSalvador (BA). A vítima da vez foi o Padre Gilmar Assis. No dia 3tous betjunhotous bet2017, ele disse ter tomado um susto ao ouvir um áudio no WhatsApp com ofensas e ameaças, como “negão”, “burro” e “animal”.

Em nota, a Arquidiocesetous betFeiratous betSantana, que abrange a Paróquia Nossa Senhora do Bom Conselho, declarou que repudia “manifestaçõestous betódio”, afirmou que não compactua com atitudes que “ferem a dignidade humana” e prestou solidariedade a todos aqueles que “sofrem qualquer tipotous betpreconceito e discriminação”.

“A Igreja Católica não é somente o padre e o bispo. É o povotous betDeus também. Infelizmente, a mentalidade da ‘Casa Grande’ ainda está presentetous betnosso povo”, lamenta Dom Zanoni Demettino Castro, arcebispotous betFeiratous betSantana (BA) e bispo da Pastoral Afro-Brasileira, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “A construção da paz passa pelo direito à igualdade racial. Por essa razão, não podemos admitir preconceito ou discriminação”.

Legenda do vídeo, As estatísticas que revelam a desigualdade racial no Brasil e nos EUA

Para o sociólogo Osvaldo José da Silva, doutorandotous betCiências Sociais e membro do Observatório do Racismo da Pontifícia Universidade Católicatous betSão Paulo (PUC–SP), não chega a surpreender o fatotous betalgumas comunidades cristãs ainda se apoiarem no racismo institucional. Segundo ele, seus membros estão contaminados pela ignorância racial.

“O mal do racismo está impregnadotous bettodas as instituições brasileiras. E,tous betmuitas pessoas, é muito mais comum do se imagina”, alerta o sociólogo. “Casostous betpreconceito racial contra padres, freiras e religiosos negros podem parecer isolados ou pontuais. Mas, fazem partetous betum senso comum equivocadotous betque os negros são inferiores aos brancos.”

'Dentro da igreja, mas longetous betDeus'

Uma recente demonstraçãotous betintolerância racial veiotous betAlfenas, a 335 kmtous betBelo Horizonte (MG). Em setembro, o padre Riva Rodriguestous betPaula,tous bet42 anos, assumiu como vigário da Paróquia São José e Nossa Senhora das Dores. Logo, a secretaria paroquial começou a receber os primeiros telefonemas pedindo que a matriz avisasse com antecedência quando “o padre preto fosse celebrar a Santa Missa”.

Na Semana da Consciência Negra, padre Riva chegava para rezar uma missa às sete da manhã quando, já dentro da igreja, foi abordado por um casal que o teria chamadotous bet“preto fedido”. Diante da ofensa, a diocesetous betGuaxupé (MG) soltou uma notatous betrepúdio que foi lida nas oito paróquiastous betAlfenas no domingo, dia 22: “São inaceitáveis atostous betracismotous betqualquer esfera da sociedade, principalmentetous betâmbito religioso, cujo lugar é propagar o respeito, o amor e o diálogo”.

Punho negro fechado sobre fundo vermelho

Crédito, EPA

Legenda da foto, Ofensas raciais contra religiosos estão longetous betser casos isolados, diz sociólogo

O vigário paroquial não quis registrar boletimtous betocorrência. Em vez disso, preferiu conscientizar a comunidade do pecado gravíssimo que é o racismo. Mas, caso volte a sofrer injúria racial, durante uma missa, casamento ou batizado, o padre Riva foi aconselhado pelo bispotous betGuaxupé (MG), d. José Lanza Neto, a interromper a cerimônia, chamar a polícia e fazer a denúncia.

“Quis mostrar que, dentro do ambiente religioso, também há racismo. Não dá mais para aceitar esse tipotous betatitude. Amanhã, se tiver um papa negro à frente da Igreja, vamos deixartous betser católicos?”, indagou o sacerdote, durante uma homilia no domingo, dia 22. “Tenho pena dessas pessoas e rezo muito por elas porque precisamtous betconversão. Estão dentro da igreja, mas longetous betDeus.”

No Instituto Acolher, onde trabalha há 16 anos no atendimento psicoterapêutico a padres, religiosos e seminaristas, o psicólogo Eduardo Galindo diz já ter atendido a algumas vítimastous betpreconceito racial. Em muitas paróquias, os fiéis são tão rígidos e conservadores que, muitas vezes, não toleram quando os padres tentam promover mudanças na rotina paroquial. Em alguns casos, organizam abaixo-assinados ou fazem piadas nas redes sociais. Em outros, mais extremos, reagemtous betmaneira hostil aos sacerdotes.

“As feridas do racismo causam profundo sofrimento mental. Sem tratamento, podem levar o padre a sofrertous betestresse, depressão, ansiedade e até alcoolismo”, adverte Eduardo.

Sagrada Família negra

Se,tous betAlfenas, o padre Riva preferiu não registrar boletimtous betocorrência, no Rio, a invasãotous betuma igreja no dia da Consciência Negra virou casotous betpolícia.

Membrostous betuma associação católica conservadora tentaram impedir a celebraçãotous betuma missatous bethomenagem ao Dia da Consciência Negratous bet2019 na Igreja do Sagrado Coraçãotous betJesus, na Glória, zona sul do Rio. Durante a cerimônia, que contou com músicas, danças e instrumentostous betorigem afro, cercatous bet20 manifestantes começaram a rezartous betvoz alta o terçotous betlatim. Terminada a celebração, trocaram ofensas e agressões com paroquianos. O caso foi investigado pela Delegaciatous betCrimes Raciais e Delitostous betIntolerância (Decradi), que indiciou cinco homens por intolerância religiosa e alguns por racismo.

No último ano, a Arquidiocese do Rio cancelou, por medidatous betsegurança, a tradicional missatous bethomenagem ao Dia da Consciência Negra da Paróquia do Sagrado Coraçãotous betJesus, realizada há 16 anos. Um vídeo postado nas redes sociais por integrantes da associação conclamava os leigos católicos a se reunirem do ladotous betfora da igreja para rezartous betdesagravo ao que chamoutous bet“sacrilégio” e “profanação”.

A missatous bethomenagem ao Dia da Consciência Negra foi cancelada, mas o tradicional presépio da Igreja do Sagrado Coraçãotous betJesus, com temas seculares e controversos, como corrupção e desmatamento, não.

Uma representação do nascimentotous betJesus na grutatous betBelém foi inaugurada no último 7tous betdezembro, com a benção do arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta. O presépio traz uma Sagrada Família negra e anjos segurando uma faixa com os dizeres: “Diga não ao racismo”. A obra, composta por 16 peçastous bettamanho natural, foi criada pelo padre Wanderson Guedes, que é artista plástico.

“De uns anos para cá, os temas do presépio se tornaram, por assim dizer, mais seculares e menos religiosos. O racismo é um tema atual. Um tema que, infelizmente, não está superado no Brasil. Não faz sentido um país tão miscigenado como o nosso ser racista. Até pouco tempo atrás, o preconceito racial era velado. Hoje, não. As pessoas perderam o pudortous betdizerem que são racistas”, lamenta o pároco Wanderson.

Presépio criado pelo pároco Wanderson Guedes traz uma Sagrada Família negra e anjos segurando uma faixa com os dizeres: "Digam não ao racismo".

Crédito, Pascom/Paróquia do Sagrado Coraçãotous betJesus

Legenda da foto, Presépio criado pelo pároco Wanderson Guedes traz uma Sagrada Família negra e anjos segurando uma faixa com os dizeres: "Digam não ao racismo".

'Ouvi o clamor deste povo!'

Autortous betQuestões Raciais na Igreja Católica (Appris, 2019), o historiador Ronaldo Pimentel Baptista lembra que,tous bet1988, o ano do Centenário da Abolição da Escravidão, a CNBB dedicou a Campanha da Fraternidade ao tema: “A Fraternidade e o Negro”. O lema original, “Negro: Um Clamortous betJustiça”, no entanto, fora substituído por “Ouvi o Clamor Deste Povo”.

No Rio, o cardeal Dom Eugênio Sales manteve o tema, mas adotou um lema diferente do da CNBB: “Várias Raças, Um Só Povo”. “Já é passada a horatous betnão só a CNBB, mas, a Igreja Católica propor não só uma campanha temporária, mas uma ação permanente que extrapole o âmbito religioso no combate efetivo ao racismo no mundo.”

Na opinião do historiador Baptista, a Igreja pode e deve empreender mais esforços para combater o racismo e reduzir a exclusão social do negro no Brasil. Entre outras iniciativas, cita a adoçãotous betuma prática reflexiva constante sobre o racismo e a discriminação, principalmentetous betseu próprio interior. E a possibilidadetous betascensãotous betnegros aos seus mais altos cargos hierárquicos.

Atualmente, apenas 37 dos 483 cardeais, bispos e arcebispos brasileiros são negros. Esse número corresponde a 7,6% do total. “Essas medidas poderiam,tous betcerta forma, contribuir na luta contra o racismo, uma chaga aberta que permanece sangrandotous betnossa sociedade e dilacerando os negros, os mais pobres entre os pobres.”

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