Desmatamento na Amazônia cresce 9,5% e chega a valor mais alto desde 2008:

Foto aérea mostra clarão no meio da floresta, com área incendiada

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Área desmatada dentro da Terra Indígena Menkragnoti, no Pará; Estado foi responsável por 46,8% do desmatamento no país no último ano

O desmatamento na Amazônia atingiu novos recordes, segundo dados preliminares levantados pelo Instituto NacionalPesquisas Espaciais (INPE) e divulgados nesta segunda-feira (30/11).

A área desmatada chegou ao nível anual mais alto desde 2008 — um total11.088 km² entre agosto2019 e julho2020. No período equivalente2008, o valor foi12.911 km².

Os números são calculados a partirimagenssatélite ProjetoMonitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do INPE.

O levantamento preliminar, a ser confirmado na consolidaçãodados no início2021, mostra também que o desmatamento entre agosto2019 e julho2020 deve ser 9,5% maior do que o período anterior equivalente —agosto2018 a julho2019, quando foram desmatados 10.129 km².

Desmatamento na Amazônia. Taxa anualkm².  *Para 2020, dados são preliminares, a serem confirmados no início2021.

No período mais recente, fechadojulho2020, quatro Estados concentraram quase 90% da área desmatada: Pará aparece na liderança com 46,8%, seguidoMato Grosso (15,9%), Amazonas (13,7%) e Rondônia (11,4%).

O Brasil tinha como meta diminuir3.900 km² o desmatamento anual até 2020.

Em entrevista coletiva no INPE, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que não há o que comemorar, mas justificou que havia uma tendênciaaumento do desmatamento anterior ao governo do presidente Jair Bolsonaro, que assumiu2019.

Antesseu mandato, no período encerrado2018, a área desmatada foi7.536 km².

"A tendênciaaumento do desmatamento vem desde 2012 — teve uma ligeira queda2017 e depois voltou a subir. No ano passado, o resultado do Prodes pegou metade da gestão do presidente Bolsonaro e outra metade do governo anterior", afirmou Mourão.

"É nossa responsabilidade fazer cumprir a lei, é isso que temos que buscartodos os momentos. Nós temos a noção bem exataonde estão acontecendo os principais problemas, e com isso vejo que temos capacidadeagirforma mais proativa", disse o vice-presidente, garantindo uma melhor resposta da fiscalização à extração ilegalmadeira e ao comércio ilegalmadeira e minérios após a criação, neste ano, do Conselho Nacional da Amazônia Legal e da realização da operação Verde Brasil.

Entretanto, Mourão afirmou ter deixado "muito claro para todos os companheiros da imprensa que nós tínhamos começado atrasados" nas ações.

"Temos visto que, a partir daí, iniciou-se um projetotendência da redução da área desmatada."

"Tanto que as estimativas que nós tínhamos eram mais negativas ainda para esse resultado que está sendo divulgado — era uma estimativaque teríamos um aumento20%relação ao ano passado. Deu 9,6% — não é nada para comemorar, muito pelo contrário. Como eu falei aqui, nosso estado final desejado é não ter mais desmatamento ilegalhipótese alguma dentro da Amazônia."

Hamilton Mourãopé, falando, com painel expondo mapa do Brasil atrás

Crédito, Mauro Pimentel/AFP/Getty

Legenda da foto, 'Nosso estado final desejado é não ter mais desmatamento ilegalhipótese alguma dentro da Amazônia', afirmou Mourão

Em nota, o Observatório do Clima (OC), composto por 56 ONGs e movimentos sociais, afirmou entretanto que os dados divulgados não são "uma surpresa para quem acompanha o desmonte das políticas ambientais no Brasil desde janeiro2019".

"Os números do Prodes simplesmente mostram que o planoJair Bolsonaro deu certo. Eles refletem o resultadoum projeto bem-sucedidoaniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãosfiscalizaçãocuidarnossas florestas e combater o crime na Amazônia", afirma um comunicado do observatório divulgado à imprensa.

O texto diz ainda que a destruição do meio ambiente é "o preço da passagem da boiada",referência a uma fala do ministro Ricardo Salles, titular do Meio Ambiente,uma reunião ministerial.

"Precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momentotranquilidade no aspectocoberturaimprensa, porque só se falacovid, e ir passando a boiada, e mudando todo o regramento (ambiental), e simplificando normas", afirmou Salles na encontroabril, que teve a presençaBolsonaro.

Em outubro, a BBC News Brasil publicou uma matéria mostrando 5 momentos nos quais Ricardo Salles afrouxou regras ambientais.

Para o Observatório do Clima, o próprio discursomembros do governo favorece a ação"grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais e assassinosíndios".

Além das falasrepresentantes do Planalto, o observatório criticou ações do governo — como a própria Operação Verde Brasil 2, que segundo o texto "falhouconter tanto o desmatamento quanto as queimadas" e configurou uma "estabanada operação militar na Amazônia".

A nota critica ainda a gestão ambiental do governo Bolsonaro com menções ao congelamento do Fundo Amazônia, a "perseguição e exoneraçõesagentes ambientais por fazer seu trabalho", "enviopropostas ao Congresso para abrir terras indígenas ao esbulho e legalizar a grilagem, tentativalegalizar o rouboterras indígenas não homologadas, omissão criminosanão gastar o dinheiro que existe para a fiscalização e as políticas ambientais", entre outras ações.

Bolsonaro e membros do seu governo já criticaramdiversas ocasiões o trabalho do INPE, questionando seus dados. Em agosto2019, a situação escalou a pontolevar à demissão do então diretor do instituto, Ricardo Galvão.

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