'Sem wi-fi': pandemia cria novo símbolocampo minado pixbetdesigualdade na educação:campo minado pixbet

Jovem com celular sem conexão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Muitos falam que não conseguem acessar as aulas', conta jovem do segundo ano do ensino médio. 'Alguns nem pegaram a apostila ainda'

"A gente tem um grupocampo minado pixbetWhatsApp (da turma da escola), e muitos falam que não conseguem acessar as aulas", conta à BBC News Brasil. "Alguns nem pegaram a apostila ainda."

Questionado se teme ficar para trás nos estudos, Matheus diz que tem mais medocampo minado pixbetpassarcampo minado pixbetano sem sentir que aprendeu o suficiente. "Queria fazer tudocampo minado pixbetnovo. Não adianta eu passar para o terceiro ano sem ter aprendido nada. Prefiro voltar e fazer o segundo anocampo minado pixbetnovo, do zero."

Em São Paulo, na comunidade do Jardim São Luís (extremo sul), Vânia Rocha tem internetcampo minado pixbetcasa, mas apenas um aparelho eletrônico: o seu próprio celular, que não tem sido o bastante para dar conta das aulas dos dois filhos, Gabriel e Giovana. Com a filha mais nova,campo minado pixbetsete anos, a maior dificuldade é conseguir ajudá-la nos estudos, já que, aos 7 anos, ela ainda é pequena para estudar sozinha.

Complexo do Alemão,campo minado pixbetfotocampo minado pixbetarquivo

Crédito, Fernando Frazão/Ag Brasil

Legenda da foto, No Complexo do Alemão, onde mora Matheus, seu acesso à internet é instável

"Nós recebemos a apostila da escola, mas eu não consegui acompanhar os estudos dela. (...) Acabei desistindo, infelizmente", conta. "Outro dia, a Giovana me perguntou: 'mãe, no ano que vem, quando passar a pandemia, eu vou voltar para a escola e ir para o segundo ano (do ensino fundamental) sem saber ler e escrever?' A gente respira e não sabe o que responder. (...) A desigualdade é muito grande, os filhos da periferia não estão acompanhando as aulas."

18% dos alunos sem acesso às atividades da escola

A pandemia do coronavírus acentuou as desigualdades na educação e tornou mais comuns, pelo Brasil inteiro, as dificuldadescampo minado pixbetconectividade enfrentadas por Matheus e Vânia. Enquanto redes e alunos com mais estrutura avançaram (mesmo que com percalços) no ensino remoto, uma parcela dos alunos ecampo minado pixbetlocais mais carentes não conseguiu se manter conectada e foi perdendo tanto conteúdo quanto entusiasmo pelos estudos.

No momentocampo minado pixbetque as redes estaduais e municipais começam a planejar a retomada para o ensino presencial (ou ao menos híbrido), reengajá-los será um dos grandes desafios.

Aindacampo minado pixbetjulho, uma pesquisa do Datafolha para as fundações Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures com pais ou responsáveiscampo minado pixbet1.556 estudantescampo minado pixbetescolas públicas do país concluiu que aumentoucampo minado pixbet74% (desde maio) para 82% o índicecampo minado pixbetalunos que estavam recebendo atividades escolarescampo minado pixbetcasa, seja por material impresso ou celulares, TV, rádio e computador, ou uma combinação desses meios.

Mas isso ainda deixa quase 1campo minado pixbetcada 5 estudantes da rede pública sem ter feito atividades remotas da escola.

A proporçãocampo minado pixbetalunos sem acesso aos conteúdos escolares era ainda maior na região Norte (38% contra 18% do resto do país) ecampo minado pixbetcasas que concentram três ou mais estudantes.

Além disso, a faltacampo minado pixbetmotivação dos jovens com as atividades remotas passoucampo minado pixbet46%campo minado pixbetmaio para 51%campo minado pixbetjulho.

Mas o dado mais preocupante da pesquisa écampo minado pixbetque os paiscampo minado pixbetmaiscampo minado pixbetum terço dos estudantes dizem que seus filhos consideram muito difícil a rotinacampo minado pixbetestudos remotos e correm o riscocampo minado pixbetabandonar a escola por causa disso.

Mãe estudando com a filha

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Enquanto parte dos alunos têm se mantido conectado e engajado nas aulas remotas, outra parte corre risco gravecampo minado pixbetevasão escolar

O déficit tecnológico vemcampo minado pixbetantes da pandemia. A pesquisa TIC Domicílioscampo minado pixbet2019 apontava que, naquela época, 43% dos domicílios urbanos brasileiros e apenas 18% dos rurais tinham computadorcampo minado pixbetcasa. No que diz respeito à conexão com a internetcampo minado pixbetcasa, os percentuais subiam para 75%campo minado pixbetlares urbanos e 51%campo minado pixbetlares rurais.

Embora esses números estejam desatualizados por conta da pandemia - já que parte dos alunos ganhou pacotescampo minado pixbetdados e dispositivos eletrônicos,campo minado pixbetredes públicas ou doadores particulares, para continuar estudando -, eles exemplificam a desigualdadecampo minado pixbetacesso à tecnologia, à conectividade e à informação no país.

'Mais vulneráveis ficam para trás'

"O abismo digital, que já era preocupante, na pandemia vai piorar. (...) A faltacampo minado pixbetconectividade implicacampo minado pixbetdeixar as crianças mais vulneráveis para trás", diz à BBC News Brasil Ítalo Dutra, chefecampo minado pixbeteducação do Unicef (braço da ONU para a infância) no Brasil. Isso porque o grupocampo minado pixbetalunos mais desconectados coincide com o grupo que tem renda per capita menor, mais incidênciacampo minado pixbetpobreza e mais chancecampo minado pixbetabandonar a escola antescampo minado pixbetconcluir os estudos.

Dutra destaca, porém, que a maioria das redes públicascampo minado pixbeteducação do país têm conseguido combinar atividades digitais com materiais físicos, para minimizar a dependência da conexão com a internet. O Unicef também promove, desde 2017,campo minado pixbetparceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipaiscampo minado pixbetEducação (Undime), um projetocampo minado pixbetbusca ativa dos alunos, que consistecampo minado pixbetir atráscampo minado pixbetestudantes que não têm frequentado as aulas.

Na pandemia, diz ele, o parâmetro estabelecido pela Undime écampo minado pixbetque alunos que estão há no máximo três semanas sem manter contato com a escola ou realizar tarefas devem ser ativamente buscados. "A gente ainda vai precisar conviver com o vírus por um tempo. A grande preocupação nesse contexto é a perdacampo minado pixbetvínculo desses alunos com a escola, ecampo minado pixbeteles perderem seu direito à educação", afirma.

Claudia Costin, diretora do Centrocampo minado pixbetExcelência e Inovaçãocampo minado pixbetPolíticas Educacionais (Ceipe) da FGV, também destaca o esforço da grande maioria das redes públicas do paíscampo minado pixbetmanter o ensino vivo, a despeito dos desafioscampo minado pixbetconectividade.

Aula remota da rede amazonense

Crédito, Divulgação/Seduc

Legenda da foto, Muitas redes, como a amazonense na foto acima, conciliaram ensino online com atividades impressas, pela TV e por rádio

Mas ela destaca também que "o Brasil não tem direito, como nona maior economia do mundo, a ter expectativas baixas quanto a suas escolas". E lembra que o o ensino da cultura digital faz parte da Base Nacional Curricular Comum, documento que define as competências principais que as crianças devem aprender na educação básica brasileira e que prevê que todos devem ser capazescampo minado pixbet"comunicar-se, acessar e produzir informações e conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria".

Ambos os especialistas destacam, também, que o acesso por si só à internet e ao material digital das aulas não é garantiacampo minado pixbetmais aprendizado.

"O que garante a qualidade do aprendizado é a boa mediação do professor, seu feedback ao aluno", afirma Dutra. "E tem havido uma grande diversidadecampo minado pixbetmediações (nas aulascampo minado pixbetmeio à pandemia)."

Carênciacampo minado pixbetaparelhos,campo minado pixbetwi-fi ecampo minado pixbetcomida

De volta ao Jardim São Luís,campo minado pixbetSão Paulo, Vânia Rocha conseguiu alguns aparelhos para distribuir às crianças locais e ajudá-las nos estudos, por intermédio da ONG onde trabalha, a Orpas. "Mas a procura é imensa, e não temos recursos para atender todos", conta.

"A carênciacampo minado pixbetestrutura é total: desde ter uma boa internet para assistir a um vídeo até ter um aparelho. A mãe que consegue ter wi-ficampo minado pixbetcasa precisa trabalhar para pagar isso, e fica sem tempo para acompanhar o filho nos estudos — e ele precisa disso, porque não aprende sozinho", afirma.

Em regiõescampo minado pixbetmaior vulnerabilidade, há preocupações com questões ainda mais urgentes do que a conectividade: a fome.

Pessoa estudando online

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'A internet é para quem é mais privilegiado por aqui, para quem tem um bom aparelhocampo minado pixbetcelular. No nosso contexto rural, isso praticamente não existe''

Na divisa entre a zona da mata e o agrestecampo minado pixbetPernambuco, Lilian Prado tem um projeto para apoiar mães empreendedoras, o que lhe permitiu acompanharcampo minado pixbetperto a realidadecampo minado pixbetalgumas famílias da região.

"A internet é para quem é mais privilegiado por aqui, para quem tem um bom aparelhocampo minado pixbetcelular. No nosso contexto rural, isso praticamente não existe. Minha mãe é professora e muitoscampo minado pixbetseus alunos nem têm comida direitocampo minado pixbetcasa. Ela imprime os materiais, e as crianças vêm pegar", conta Prado.

"É horroroso que no Brasil, nos diascampo minado pixbethoje, a gente ainda veja pessoas morandocampo minado pixbetcondições tão ruins —campo minado pixbetcasascampo minado pixbettaipa, pessoas com fome, mulheres que sequer têm documentos, muito menos smartphone. Então é só um grupo pequeno e privilegiado daqui que tem conseguido estudar pela internet."

Para Claudia Costin, à medida que a pandemia se estende e a necessidadecampo minado pixbetrodíziocampo minado pixbetalunoscampo minado pixbetsala (quando as aulas presenciais voltarem) vira uma possibilidade crescente para muitas redes, vai ser cada vez mais importante incluir a conectividade dos alunos no planejamento orçamentáriocampo minado pixbetEstados e municípios, apesar das dificuldades fiscais.

"Se a gente conseguir ampliar o acesso a equipamentos e a pacotescampo minado pixbetdados, vamos ajudar muito esses alunos", conclui.

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