'Acostumados à barbárie': Pesquisadoracasinocasino em brasileirobrasileiroOxford alerta para riscocasinocasino em brasileirobrasileironormalizaçãocasinocasino em brasileirobrasileiroincêndios na Amazônia:casino em brasileiro

Funcionário do Ibama tenta apagar chamas na Amazônia

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Fogo e desmatamento na Amazônia causam preocupaçãocasino em brasileirotodo o mundo

Os registroscasinocasino em brasileirobrasileirofocoscasinocasino em brasileirobrasileirocalor (que costumam representar incêndios) na Amazôniacasino em brasileiro2020 superam os do mesmo período nos dois últimos anos, segundo dados do Instituto Nacionalcasinocasino em brasileirobrasileiroPesquisas Espaciais (Inpe).

De janeiro a esta quinta-feira (24/9), foram registrados 72,2 mil focoscasinocasino em brasileirobrasileirocalor, conforme o Inpe. Somente nas duas primeiras semanascasinocasino em brasileirobrasileirosetembro, os númeroscasinocasino em brasileirobrasileiroincêndios na Amazônia cresceram 86,1%casino em brasileirocomparação ao ano passado. Enquantocasino em brasileiro2019 foram registrados 11 mil focoscasinocasino em brasileirobrasileirocalor, neste ano foram 20,4 mil.

Estudos apontam que o fogo que atinge o bioma está diretamente relacionado ao desmatamento.

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casino em brasileiro Quer saber mais? Leia nosso especial sobre o desmatamento na Amazônia:

Leia a primeira parte: "A grande mentira verde"
Leia a segunda parte: "O que ameaça a Amazônia"
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Entre 2000 e 2018, a Amazônia perdeu 269,8 mil kmcasinocasino em brasileirobrasileiroflorestas — área superior, por exemplo, à extensão do Reino Unido. Segundo esse dado, divulgado pelo Instituto Brasileirocasinocasino em brasileirobrasileiroGeografia e Estatística (IBGE), a cobertura florestal da área total do bioma caiucasinocasino em brasileirobrasileiro81,9% para 75,7%,casino em brasileiro18 anos. Pouco mais da metade das alterações da terra foi para converter áreascasino em brasileiropastagem.

No governo Jair Bolsonaro, o desmatamento na região atingiu níveis preocupantes, segundo levantamentos. Em julho do ano passado, 2.255 km² do bioma foram desmatados, recorde desde 2015. No mesmo mês,casino em brasileiro2020, foram 1.658 km² da floresta, segundo o sistema Deter, do Inpe.

"Antes do governo Bolsonaro, a gente só teve um mês com maiscasinocasino em brasileirobrasileiromil km² desmatados desde 2015,casino em brasileiroagostocasinocasino em brasileirobrasileiro2016. Depois do começo da gestão dele, esse número se tornou comum", diz a pesquisadora.

O desmatamento na Amazônia já passoucasinocasino em brasileirobrasileiromil km²casino em brasileiroseis meses, desde o início do governo Bolsonaro. Os dados são do sistema Deter, que há cinco anos analisa o desmatamento na floresta tropical mensalmente.

"Os levantamentos apontam que há uma grande proporção da área desmatada no ano passado que foi queimada somente neste ano. Esse é um dos possíveis motivos para justificar o aumento do fogocasino em brasileiro2020,casino em brasileirocomparação ao ano passado", diz Berenguer.

'O desmatamento está virando normal'

Em 2019, houve um grande movimentocasino em brasileirodefesa da Amazônia. "A sociedade civil organizada fez uma mobilização, principalmente após o mêscasinocasino em brasileirobrasileirojulho, quando foram desmatados maiscasinocasino em brasileirobrasileiro2 mil km² a floresta", comenta a especialista.

Porém, Berenguer afirma que neste ano não notou a mesma reação diante dos incêndios e do desmatamento intenso no bioma. "O problema é que parece que muitos passaram a aceitar e normalizar as queimadas e o desmatamento na Amazônia. Tenho a impressãocasinocasino em brasileirobrasileiroque as pessoas sabem que as coisas não estão muito bem (no bioma), mas não entendem a real dimensão do quanto as coisas estão ruins", declara.

"A gente está vendo picoscasinocasino em brasileirobrasileirodesmatamento que eram raríssimos alcançar. Parece que isso tá virando normal", diz a especialista.

Berenguer avalia que há pouca repercussão sobre o fato nas redes sociais e as autoridades optaram por focar no Pantanal. "É como se tivessem se acostumado com a barbárie. Essa normalização diminui a pressãocasino em brasileiroórgãos que deveriam estar fiscalizando. Uma sociedade anestesiada diante desse cenário acaba não fazendo pressão para que essa tendência do desmatamento e queimadas mude", declara.

"É inaceitável termos maiscasinocasino em brasileirobrasileiromil focoscasinocasino em brasileirobrasileirocalor por dia e maiscasinocasino em brasileirobrasileiromil quilômetros quadrados desmatados com frequência. É inaceitável", declara.

A cientista ressalta que, além do aumentocasinocasino em brasileirobrasileiroqueimadas no Pantanal, a pandemia do coronavírus pode ter colaborado para diminuir a reação ao problema na Amazônia.

"Mas percebo que o fato talvez não tenha ganhado muita atenção neste ano porque não teve um dia negrocasino em brasileiroplena tardecasinocasino em brasileirobrasileiroSão Paulo", diz,casino em brasileiroreferência a 19casinocasino em brasileirobrasileiroagosto do ano passado, quando partículascasinocasino em brasileirobrasileiroincêndios, associadas a uma massacasinocasino em brasileirobrasileiroar frio, fizeram "o dia virar noite" na capital paulista.

Desmontecasinocasino em brasileirobrasileiroórgãoscasinocasino em brasileirobrasileirofiscalização

Um motivo para o aumentocasinocasino em brasileirobrasileiroincêndios e desmatamento, aponta Berenguer, é o desmonte feito pelo governo Bolsonaro a órgãoscasinocasino em brasileirobrasileirofiscalização ambiental. A especialista salienta que o fato transmite a sensaçãocasinocasino em brasileirobrasileiroimpunidade.

Mesmo com o atual cenáriocasinocasino em brasileirobrasileiroqueimadas, o governo cortou recursos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e do Instituto Chico Mendescasinocasino em brasileirobrasileiroConservação da Biodiversidade (ICMBio).

De acordo com uma reportagem da Folhacasinocasino em brasileirobrasileiroSão Paulo, o Ibama teve cortecasinocasino em brasileirobrasileiro4% para o próximo ano. O instituto terá recursoscasinocasino em brasileirobrasileiroR$ 1,65 bilhão — destes, R$ 513 milhões dependemcasinocasino em brasileirobrasileiroaprovação do Congresso.

Ainda segundo a mesma reportagem, o cortecasinocasino em brasileirobrasileiroverba no ICMBio foi correspondente a 12,8%. A entidade terá, no próximo ano, R$ 609,1 milhões — destes, R$ 260,2 milhões estão sujeitos a aprovação do Congresso.

Além do desmonte, Berenguer aponta que críticas do governo Bolsonaro ao Inpe tentam desacreditar os dados do Inpe. "Preferem culpar o mensageiro,casino em brasileirovezcasinocasino em brasileirobrasileirose preocupar com a mensagem", diz a pesquisadora.

Erika Berenguer

Crédito, Adam Ronan/Rede Amazônia Sustentável

Legenda da foto, Erika Berenguer é pesquisadora das universidadescasinocasino em brasileirobrasileiroOxford e Lancaster, ambas no Reino Unido

O discursocasinocasino em brasileirobrasileiroBolsonaro

Um dos principais fatores para que os incêndios na Amazônia sejam normalizados, segundo a cientista, é a posturacasinocasino em brasileirobrasileiroBolsonarocasino em brasileirorelação ao meio ambiente.

Um exemplo, aponta a pesquisadora, foi o discurso do presidente na Assembleia Nacional da Organização das Nações Unidas (ONU), na terça-feira (22/9).

Em vídeo apresentado na cerimônia, Bolsonaro disse que o Brasil é vítimacasinocasino em brasileirobrasileiro"uma das mais brutais campanhascasinocasino em brasileirobrasileirodesinformação", ao se referir às notícias que citam o descaso dele com o meio ambiente.

Segundo o presidente, a Floresta Amazônica é uma área úmida, que não permite a propagação do fogo. "Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçadoscasino em brasileirobuscacasinocasino em brasileirobrasileirosua sobrevivência,casino em brasileiroáreas já desmatadas", disse Bolsonaro.

As afirmaçõescasinocasino em brasileirobrasileiroBolsonaro durante seu discurso na ONU têm pouco ou nenhum respaldo. Sobre as áreas atingidas pelos incêndios na Amazônia, especialistas nacionais e internacionais têm afirmado que as queimadas frequentes no bioma contribuem para o fenômeno da degradação, que avançacasino em brasileirotoda a região e deixa a floresta mais seca e vulnerável aos incêndios.

Homem diantecasinocasino em brasileirobrasileiroincêndio na Amazônia

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Queimadas no Pantanal bateram recorde histórico neste ano e causaram repercussão mundial

Estudos do Institutocasinocasino em brasileirobrasileiroPesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) revelam que a alta nos incêndios está diretamente relacionada ao desmatamento. "Não existe fogo natural na Amazônia, porque ela não evoluiu com o fogo", declara Bereguer.

"Os estudos já apontaram que os incêndioscasino em brasileiroterras indígenas ou causados por caboclos foram minoria. Isso desmente os argumentos do presidente", diz a bióloga.

Em entrevista à BBC News Brasil, na terça-feira (23/9), o pesquisador Carlos Nobre, do Institutocasinocasino em brasileirobrasileiroEstudos Avançados da Universidadecasinocasino em brasileirobrasileiroSão Paulo e presidente do Painel Brasileirocasinocasino em brasileirobrasileiroMudanças Climáticas, ressaltou que monitoramentos do Inpe e da agência especial americana, a Nasa, mostram que maiscasinocasino em brasileirobrasileiro80% das queimadas na Amazônia são causadas por grandes propriedades.

"É o famoso e tradicional processocasinocasino em brasileirobrasileiroexpansão da áreacasinocasino em brasileirobrasileiroagropecuária", declarou Nobre.

Em meadoscasinocasino em brasileirobrasileirojulho deste ano, o governo federal publicou um decretocasino em brasileiroque proibiu queimadascasino em brasileirotodo o território nacional por 120 dias. A medida, porém, é considerada ineficaz por especialistas, pois não há intensa fiscalização.

O governo federal afirma que tem tentado combater o fogo na floresta por meio do empregocasinocasino em brasileirobrasileiromilitarescasino em brasileirooperaçõescasinocasino em brasileirobrasileiroGarantia da Lei e da Ordem (GLO), realizadas pelas Forças Armadas na região amazônica — a medida teve início no ano passado, após intensa pressão sobre as queimadas no bioma.

Berenguer destaca que as ações adotadas no combate aos incêndios na Amazônia são insuficientes. "Mesmo com o incômodo e toda a pressão internacional que o governo federal sofre com o desmatamento e as queimadas, a gente não vê medidas efetivas que mudem a situação. Os números comprovam que as coisas não melhoraramcasino em brasileirocomparação ao ano passado", declara.

Para a bióloga, o discurso do presidente reforça a normalização dos problemas enfrentados pela Amazônia e pelos outros biomas brasileiros.

As consequências das queimadas e do desmatamento

A pesquisadoracasinocasino em brasileirobrasileiroOxford comenta que há diversos problemas que podem ser causados pelas queimadas e pelo desmatamento na Amazônia.

Ela explica que uma área atingida por um incêndio nunca mais volta a ser como antes. "Na Amazônia, logo após o fogo há uma perdacasinocasino em brasileirobrasileiro50% das árvores, que morrem porque possuem cascas finas."

"Mas os impactos não são apenas imediatos. Há um estudo, aindacasino em brasileirofasecasinocasino em brasileirobrasileirorevisão, que aponta que há um excessocasinocasino em brasileirobrasileiromortescasino em brasileiroárvores, por causa do fogo, nos primeiros três anos após o incêndio", detalha a bióloga.

Depoiscasinocasino em brasileirobrasileiroser afetada pelo fogo, a floresta é tomada por clareiras, que facilitam a entradacasinocasino em brasileirobrasileirosol e vento e deixa a área mais seca. "Várias árvores não conseguem rebrotar nesses ambientes extremos, muito quentes. Por isso, começam a nascer árvores pioneiras, que crescem rápidocasino em brasileiroqualquer lugar", explica a bióloga.

Entre as consequências da alteração das árvores no local estão, por exemplo, menos armazenamentocasinocasino em brasileirobrasileirocarbono — porque as árvores pioneiras costumam ser mais finas e guardar menos carbonocasino em brasileiroseus troncos — e prejuízo à fauna local, pois costuma haver menos frutos disponíveis na região.

Berenguer comenta que, com a normalização dos incêndios e do desmatamento, pode haver um pontocasino em brasileiroque a floresta perca a capacidadecasinocasino em brasileirobrasileirose regenerar. "Quando você queima uma área maiscasinocasino em brasileirobrasileirouma vez, ela fica totalmente descaracterizada. A cada vezcasino em brasileiroque é queimada, ela fica mais diferente do que já foi um dia, até o momentocasino em brasileiroque pode não conseguir mais se recuperar", diz a especialista.

A população sente as consequências dos incêndioscasinocasino em brasileirobrasileirodiferentes formas. Uma delas é por meio do aumentocasinocasino em brasileirobrasileirointernações por problemas respiratórios — situação que se torna comumcasino em brasileiroperíodoscasinocasino em brasileirobrasileiroqueimadas nos Estados da Amazônia Legal.

"Além disso, a Amazônia tem um papel fundamentalcasinocasino em brasileirobrasileirocombater as mudanças climáticas, porque é um grande reservatóriocasinocasino em brasileirobrasileirocarbono. Mas quando há o desmatamento, esse carbono é queimado, aumentando a quantidadecasinocasino em brasileirobrasileirogasescasinocasino em brasileirobrasileiroefeito estufa na atmosfera e colaborando para acelerar as mudanças climáticas", detalha Berenguer.

A pesquisadora frisa que os incêndios afetam também a capacidade da floresta levar chuva a outras regiões do país. "Um dos papéis mais importantes da Amazônia, para o Brasil, é a geraçãocasinocasino em brasileirobrasileirochuva. Ela bombeia água do solo, por meiocasinocasino em brasileirobrasileirosuas árvores, para a atmosfera, gerando os famosos "rios voadores", que levam chuvas a regiões como Centro-Oeste e Sudeste. Essas precipitações são fundamentais, por exemplo, para a sobrevivência do agronegócio e para as nossas hidrelétricas", diz a estudiosa.

Erika Berenguer avalia árvore na Amazônia

Crédito, Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável

Legenda da foto, Bióloga estuda os impactos do fogo na Floresta Amazônica

"Além disso, a Amazônia é a floresta mais biodiversa do mundo. Há uma sériecasinocasino em brasileirobrasileirocompostos que podem ser descobertos ali (para diferentes finalidades), mas que podem nunca ser encontrados, caso a floresta seja derrubada", declara.

Ao avaliar o atual cenário das queimadas no Brasil, Berenguer pontua que um risco para o próximo ano é que os incêndios no Pantanal, mesmo que permaneçam com altos índices como nos últimos meses, sejam normalizados, da mesma forma que ela tem notadocasino em brasileirorelação à Amazônia atualmente. "Não podemos passar a aceitar issocasino em brasileironenhum lugar. Precisamos estar atentos. É uma situação que precisa ser combatida", declara a pesquisadora.

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