'Quem abusaroleta fire blazecriança não tem transtorno mental, só se sente no direito':roleta fire blaze
"Estamosroleta fire blazeuma delicadeza que é: como enfrentar a questão da pornografia, da violência, da sexualização precoce, sem cairroleta fire blazeum discurso conservador, reacionário,roleta fire blazeabstinência sexual? Esse cuidado, neste momento, temos que ter."
A advogada diz que o erro do Brasil, até aqui, consisteroleta fire blazenão enxergar o problema da violência contra crianças e adolescentes, cujo debate normalmente fica concentradoroleta fire blazecasos específicos, como o da meninaroleta fire blaze10 anos estuprada pelo tio desde os seis. Enquanto isso, a cada hora, quatro meninasroleta fire blazeaté 13 anos são estupradas no país, segundo o Anuário Brasileiroroleta fire blazeSegurança Pública 2019.
A professora também diz ter medoroleta fire blazeque o Brasil retroceda no que chamaroleta fire blaze"poucas conquistas" no âmbito do combate à violência sexual, como o aborto legal (previsto, por exemplo,roleta fire blazecasosroleta fire blazeestupro). E defende a necessidaderoleta fire blazefalar sobre sexualidade nas escolas para que as crianças possam se protegerroleta fire blazeeventuais situaçãoroleta fire blazeabuso.
"A família protege? Então por que maisroleta fire blaze70% dos casosroleta fire blazeviolência sexual acontecem dentro das residências, a maioria com pessoas próximas — parentes e conhecidos? Esta ideia românticaroleta fire blazeque a família é o espaçoroleta fire blazeproteção absoluta precisa ser rompida."
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos divulgouroleta fire blazemaio balanço do Disque 100 que aponta que a violência sexual contra crianças e adolescentes acontece,roleta fire blaze73% dos casos, na casa da própria vítima ou do suspeito.
Leia, a seguir, os principais pontos da entrevista (e, no fim desta reportagem, veja como denunciar):
Regras para a pornografia
O conteúdo pornográfico disponível na internet incita a violência sexual contra crianças e adolescentes, segundo a advogada. Ela aponta que o termo "novinha" (ou teen porn,roleta fire blazeinglês), é o mais procurado.
E descreve a navegaçãoroleta fire blazeum site pornográfico: "Vou encontrar os seguintes títulos: ´pai se divertindo com a filha´, ´professor dando nota pra aluna´ e assim sucessivamente. Abertos, gratuitos. Isso é crime? Não, essas meninas são atrizes e estão simulando situações: o pai não é o pai da menina, ela tem maisroleta fire blaze18 anos, mas ela estároleta fire blazemaria chiquinha, deitada na cama, e a simulação é que a mãe vai trabalhar e o pai entra no quarto da filha. Isto é um gatilhoroleta fire blazeviolência, incitação a um tiporoleta fire blazeviolência. E minha discussão é: por que a gente permite?"
"Porque não tem importância. A hora que um cara correto, legal, que tem namorada, abre o site pornográfico e vê esse título, ele não se choca, não se incomoda, não percebe a violência que tá ali. Nossa sociedade não se incomoda quando vê uma menina que nitidamente tem menosroleta fire blaze18 anos com um homem mais velho, na praia. Nem vai chamar a polícia."
Ela defende uma regulamentação da pornografia para tirar o tema da sombra. "Tem que proibir vídeo chamando ´pai se diverte com a filha´. Não pode."
"Estamosroleta fire blazeprocessoroleta fire blazeconservadorismo tão grande no Congresso Nacional, que eu tenho medoroleta fire blazelevantar uma temática dessas e ela ser capturada por um movimento conservador que não tem nada a ver com esta lógica, que éroleta fire blazeperseguição a liberdades, inclusive a sites pornográficos, e não é isso. Estamosroleta fire blazeuma delicadeza que é: como enfrentar a questão da pornografia, da violência, da sexualização precoce, sem cairroleta fire blazeum discurso conservador, reacionário,roleta fire blazeabstinência sexual?"
Além da questão da simulação do abusoroleta fire blazecrianças e adolescentes e do aumento do consumo desse tiporoleta fire blazepornografia durante a quarentena, Luciana Temer aponta que as crianças têm acesso cada vez mais cedo a conteúdosroleta fire blazesexo que contêm violência.
"Há 25 anos, quando um menino ou menina começava a ter curiosidade sexual, pegava uma revista do pai, que ia ter fotoroleta fire blazemulher pelada, e começava a descobrir por si só a sexualidade. Hoje um meninoroleta fire blaze11 anos dá um Google e vai ter acesso a todos os sites pornográficos, gratuitamente. (...) Aos 15, 16, ele já está entediado com o que está vendo. E aí você parte para filmes talvez mais violentos, inclusive."
Falar sobre sexualidade nas escolas
Diferentemente da violência contra a mulher, que entrou na pautaroleta fire blazediscussão nos últimos anos, Luciana Temer diz que o abusoroleta fire blazecrianças e adolescentes está fora do debate — e esse é o problema hoje, na avalição dela.
"Até agora, o Brasil não enxergou este problema. Meu medo é que a gente faça mais errado ainda. Meu medo atual é que a gente retroceda nas poucas conquistas que a gente teve", diz.
Entre possíveis retrocessos, ela cita a discussão, por parlamentares,roleta fire blazeretirar da legislação a permissão do aborto legalroleta fire blazecasosroleta fire blazeestupro. Hoje, o artigo 128 do Código Penal permite o abortoroleta fire blazecasosroleta fire blazeestupro e se não há outro meioroleta fire blazesalvar a vida da gestante. E uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu também o abortoroleta fire blazecasosroleta fire blazefeto anencéfalo.
Outro risco, na avaliação dela, é não falar sobre sexualidade nas escolas.
"Como posso acreditar que tenho que deixar questão da sexualidade única e exclusivamente para os pais, quando sei que a maioria das violências acontecem dentro da residência, por pessoas conhecidas, inclusive pais, padrastos, tios, avós? Eu não posso tirar da escola essa possibilidaderoleta fire blazediscutir sexualidade, desde com crianças muito pequenas - para que, se vítimas, possam identificar e falar sobre elas — até meninas adolescentes, que se sentem culpadas pela violência que sofrem."
"Esta ideiaroleta fire blazeque a família protege é uma ideia romântica. A família protege? Então por que maisroleta fire blaze70% dos casosroleta fire blazeviolência sexual acontecem dentro das residências, a maioria com pessoas próximas — parentes e conhecidos? Esta ideia românticaroleta fire blazeque a família é o espaçoroleta fire blazeproteção absoluta precisa ser rompida."
É também devido à violência dentroroleta fire blazecasa que ela se posiciona contra a possibilidaderoleta fire blazeeducaçãoroleta fire blazecrianças exclusivamente no domicílio. "Com altíssimos índicesroleta fire blazeviolência intrafamiliar, você não pode tirar da criança o direitoroleta fire blazeir pra escola. Um dos problemas gravados no confinamento é justamente que a criança não está tendo acesso ao espaço onde tem um adultoroleta fire blazeconfiança a quem pode denunciar, que é a escola."
roleta fire blaze 'Não é roleta fire blaze p roleta fire blaze edofilia'
Luciana Temer aponta que o uso do termo "pedofilia" para caracterizar as violências contra crianças e adolescentes não é adequada, já que se trataroleta fire blazeum transtorno mental, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A pedofilia é classificada pela OMS como uma "preferência persistente ou predominante pela atividade sexual com crianças ou criança pré-púberes".
"Ser um pedófilo não significa que eu seja um criminoso — posso me tratar e nunca praticar crime. (...) As pessoas que abusamroleta fire blazecrianças não têm, a princípio, grave transtorno mental, elas só se sentem no direito. E se sentem no direito porque somos uma sociedade que permite. A gente permite porque ficaroleta fire blazesilêncio. Se eu tenho pessoa na família que sofre violência sexual eu prefiro abafar essa questão, 'afinal seu tio é meio maluco mesmo, só não vou deixar você com ele', porque assim acho que não estou estigmatizando meu filho ou filha."
"Quando você falaroleta fire blazepedófilo, você falaroleta fire blazemonstro, uma coisa excepcional. A minha briga é mostrar para as pessoas que essa violência não é excepcional, é cotidiana. Mais do que cotidiana, ela é praticada por pessoasroleta fire blazebem. Por que uma pessoa como Joãoroleta fire blazedeus praticou durante anos violência sexual contra mulheres que não denunciaram? Ou as poucas denúncias foram desacreditadas? Porque ele é um homem do bem. A gente não imagina que o violador sexual pode ser essa figura. A gente está falandoroleta fire blazepais que abusamroleta fire blazefilhas dentroroleta fire blazecasa, ou tios, ou avós, e que são pessoas queridas da família."
Ela diz que a sociedade precisa mudar a forma como encara o crime sexual. "A vítima não pode serroleta fire blazenenhuma forma estigmatizada ou olhadaroleta fire blazeum jeito estranho porque foi vítimaroleta fire blazecrime sexual. Enquanto a gente faz isso, a gente silencia, deixa impune e permite a perpetuação desse crime."
Como denunciar violência sexual?
Se a violência estiver acontecendo neste momento ou a criança estiver correndo risco imediato, a recomendaçãoroleta fire blazeespecialistas éroleta fire blazeligar para a polícia. A Polícia Militar pode ser acionada pelo número 190roleta fire blazecasos geraisroleta fire blazenecessidade imediata ou socorro rápido. A ligação é gratuita. Outros números são o 192, do serviçoroleta fire blazeatendimento médicoroleta fire blazeemergência, e o 193, do Corporoleta fire blazeBombeiros.
Pelo Disque 100, que também é uma ligação gratuita e funciona 24 horas, é possível fazer denúnciasroleta fire blazeviolaçõesroleta fire blazedireitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa. Também é possível fazer a denúncia pelo aplicativo Proteja Brasil, disponível para iOs e Android.
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