Caçadores expõem matançavirtuais betanoanimais silvestres no Facebook e YouTube:virtuais betano
Caçadas com cachorros
No Facebook, um grupo fechado criadovirtuais betanojulhovirtuais betano2019 e chamado "Caçadoresvirtuais betanopaca" conta com 74 mil membrosvirtuais betanotodas as regiões do Brasil.
Descrito como um espaço para a "trocavirtuais betanoinformações sobre a esperavirtuais betanopaca", um roedor nativo das Américas, o grupo também agrega caçadoresvirtuais betanovárias outros animais silvestres, como veados, tatus, jacarés, capivaras, quatis, mutuns, queixadas e onças.
A BBC News Brasil ingressou no grupo, onde são compartilhadas centenasvirtuais betanofotosvirtuais betanoanimais abatidos. Em vários casos, os caçadores aparecem com os rostos à mostra exibindo os bichos.
Há também vídeosvirtuais betanocaçadas, gravados com celulares ou câmeras acopladas às armas. Boa parte dos usuários caça com o auxíliovirtuais betanocachorros, que encurralam os animais antes do abate.
Outros vídeos exibem cenas da chamada caçavirtuais betanoespera. Adeptos dessa modalidade costumam espalhar alimentos na mata — ou "fazer a ceva", no jargão caçador — para atrair os animais. Eles então montam redes ou estruturas elevadas para aguardar a chegada dos bichos e alvejá-los por cima.
Outros usam o espaço para trocar informações sobre armas — algumas delas sofisticadas, vendidas por alguns milharesvirtuais betanoreaisvirtuais betanolojas especializadas.
Alguns compartilham infortúnios no grupo. Um usuário publicou a fotovirtuais betanoum cachorro morto por uma picadavirtuais betanocobra durante uma caçada, e outro exibiu um cão com os olhos feridos após a perseguiçãovirtuais betanoum animal.
"Espreme limão que limpa. No outro dia está bom, já curei muitos assim", comentou um participante.
'Criminoso desde criança'
Caçadoresvirtuais betanoanimais silvestres também têm formado comunidades no YouTube, como os canais "FAL CAÇADOR", "só do mato caçador", "Caçadores Anônimos" e "Pedrinho caçador sniper" — todos eles criados nos últimos dois anos.
Com 40 mil inscritos, o canal "Alemão CAÇADOR!" exibe dezenasvirtuais betanovídeos com dicas sobre a caçavirtuais betanoanimais como pacas, jabutis e macucos, uma ave nativa da América do Sul.
O responsável pelo canal, que se identifica como Alemão e não mostra o rosto nos vídeos, defendevirtuais betanovárias gravações a legalização da caçavirtuais betanoanimais silvestres.
"Aqui podia ser regulamentado caçar com responsabilidade, mas não é", ele diz num vídeo com 160 mil visualizaçõesvirtuais betanoque descreve a caçavirtuais betanoum veado mateiro.
"Sou criminoso desde criança, porque eu caço desde pequeno mais (com) meu pai. Nós 'caçava'virtuais betanocachorro, fazia arapuca. Então, para mim, era meiovirtuais betanovida, era sobrevivência. E hoje eu caço porque eu gosto, eu gosto demais disso aqui", conta.
Ao final da gravação, o YouTuber exibe o veado alvejado, amarrado a um galho pelo pescoço. Há maisvirtuais betano600 comentários no vídeo, a maioria elogiosos.
"Não tem coisa melhor no mundo do que estar numa rede e escutar o bicho chegando na espera. Para quem gosta... Você esquece todos os problemas", comenta um usuário identificado como Marcelo Chumbão.
"Faço das suas as minhas palavras, cresci vendo meu pai caçando e pescando para sobreviver... Caçar com responsabilidade é o que precisamos", escreve outro usuário.
Ética caçadora
Em vários grupos virtuaisvirtuais betanocaçadores, são comuns as mensagens que pregam moderação ou condenam o abatevirtuais betanodeterminadas espécies.
No grupo do Facebook "Caçadoresvirtuais betanopaca", um participante fez ressalvas ao comentar uma foto publicadavirtuais betano20virtuais betanomaio por um caçador que matou duas pacas e uma onça parda.
"Pena ter matado o gatinho. Vamos ser conscientes, amigos. As pacas, showvirtuais betanobola, parabéns", escreveu.
Já um vídeovirtuais betanoque um caçador decide deixar uma anta e seu filhote passarem pela mira sem apertar o gatilho recebeu vários elogios.
"Essa tem passagem livre pra nós", comentou um usuário, posição compartilhada por outros que disseram poupar antas por considerá-las muito dóceis ou por rejeitar o saborvirtuais betanosua carne.
Alguns participantes, porém, se gabamvirtuais betanocaçadas fartas, que resultam na mortevirtuais betanovários animais. Uma fotovirtuais betano18virtuais betanomaio que exibia três pacas e dois tatus abatidos gerou reações divergentes.
"Rapaz, você lavou a égua", festejou um usuário.
Outro rebateu: "Destruição total dos bichos. Futuramente, não teremos nem mais sombras dessas maravilhas."
Caçavirtuais betanojavalis
Especialistavirtuais betanomanejo e conservação, o biólogo Gustavo Figueirôa diz à BBC News Brasil que a regulamentação da caça do javali pode ter impulsionado o abatevirtuais betanoanimais silvestres no país.
Nativo da África, Ásia e Europa, o javali foi trazido ao Brasil para ser criadovirtuais betanofazendas, mas escapou, tornando-se um problema para o equilíbrio ambiental e atividades agrícolas. Desde 2013, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) autoriza a caça da espécie.
Embora avalie que o controle é necessário, Figueirôa afirma que muitos caçadores habilitados a matar javalis também acabam abatendo outros animais silvestres que encontram nas caçadas.
O biólogo diz ainda que a facilitação do acesso legal a armas no governo Bolsonaro enfraqueceu um dos principas fatores que dissuadem caçadoresvirtuais betanoanimais silvestres: a possibilidadevirtuais betanoserem presos por porte ilegalvirtuais betanoarmas.
"Naturalmente, se você permite que mais pessoas tenham armas legalmente e saiam a campo para caçar legalmente (javalis), você aumenta a chancevirtuais betanomais animais silvestres serem caçados", afirma Figueirôa.
Em 2019, Bolsonaro publicou uma sérievirtuais betanodecretos que facilitaram o acessovirtuais betanocaçadores, atiradores esportivos e colecionadores (CACs) a armamentos e munições.
Para caçadores, antes sujeitos ao limitevirtuais betano12 armas, 6 mil munições e 2 kgvirtuais betanopólvora por pessoa, as mudanças passaram a permitir a possevirtuais betanoaté 30 armas, 90 mil munições e 20 kgvirtuais betanopólvora.
No mesmo ano, segundo o Instituto Sou da Paz, o númerovirtuais betanoregistros ativosvirtuais betanoCACs chegou a 396.955 — um aumentovirtuais betano50%virtuais betanorelação a 2018.
Impactosvirtuais betanotoda a cadeia alimentar
O biólogo Gustavo Figueirôa questiona os critérios citados nos gruposvirtuais betanocaçadores sobre animais silvestres que poderiam ou não ser abatidos. Segundo ele, espécies com populações numerosasvirtuais betanoalgumas regiões do país podem estar ameaçadasvirtuais betanooutras.
É o caso, por exemplo, da paca, espécie normalmente considerada abundante por caçadores, mas que se tornou raravirtuais betanoalguns biomas nacionais, como a Mata Atlântica.
Alguns caçadores indicam ter noção da escassez do animal. No grupo "Caçadoresvirtuais betanopaca", um usuário exibiuvirtuais betano19virtuais betanomaio duas pacas abatidas no Riovirtuais betanoJaneiro, destacando que o Estado "ainda tem" membros da espécie.
Figueiroa afirma ainda que, mesmo que um animal abatido não esteja sob ameaçavirtuais betanodeterminada área,virtuais betanomorte gera consequências negativas no local.
A cutia, por exemplo, também bastante visada por caçadores, é dispersoravirtuais betanosementes e ajuda a manter a biodiversidade da floresta — alémvirtuais betanoser presavirtuais betanoonças, que passam a disporvirtuais betanomenos alimento quando o animal é caçado por humanos.
"Quando você mata um animal que é presavirtuais betanooutros, você tira um elemento da cadeia que desequilibra todo o resto", afirma.
Figueirôa diz que já denunciou ao YouTube e Facebook vários grupos que promovem a caçavirtuais betanoanimais silvestres, mas que as plataformas não tiraram os canais do ar e sugeriram que ele simplesmente deixassevirtuais betanosegui-los.
Comunicado pela BBC News Brasil sobre a reportagem, o Facebook excluiu o grupo "Caçadoresvirtuais betanopaca". "O grupo foi removido por violar os Padrões da Comunidade do Facebook, que claramente vedam posts que retratem ou promovam violência física contra animais", disse a empresa,virtuais betanonota.
Outros grupos na plataforma, porém, ainda exibem vídeos da caçavirtuais betanoanimais silvestres — como o "Caça e Pesca Brasil" e "cãesvirtuais betanocaça Brasília df".
Já o YouTube, que mantém no ar todos os canaisvirtuais betanocaçadores apontados pela BBC News Brasil, dissevirtuais betanonota que é "uma plataformavirtuais betanovídeo aberta, e qualquer pessoa pode compartilhar conteúdo, que está sujeito a revisãovirtuais betanoacordo com as nossas diretrizes da comunidade".
"Qualquer usuário que acredite ter encontrado uma violação dessas regras pode fazer uma denúncia e nossa equipe fará a análise do vídeo. Quando não há violação à políticavirtuais betanouso do produto, a decisão final sobre a necessidadevirtuais betanoremoção do conteúdo cabe ao Poder Judiciário,virtuais betanoacordo com o que estabelece o Marco Civil da Internet", diz a empresa.
Principal órgão federal responsável por combater crimes ambientais, o Ibama disse à BBC News Brasil "que a exposiçãovirtuais betanoconteúdos relacionados à caçavirtuais betanoanimais silvestres no YouTube e Facebook tem forte impacto negativo para a preservação ambiental, pois estimula a caça ilegal".
"Cotidianamente, o órgão acompanha as denúncias presentes nas redes sociais e atua com base nelas, investigando os responsáveis", completou o órgão.
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