'Bolsonaro gosta do STF quando lhe dá decisão positiva. Se é negativa, prefere não brincarroleta europeia truquesdemocracia', diz professora da FGV:roleta europeia truques

Bolsonaro falando

Crédito, EPA/Joedson Alves

Legenda da foto, Presidente afirmou nesta semana que 'ordens absurdas não se cumprem', ameaçando não respeitar decisões do STF

"O papel do STF, dado pela Constituição, é controlar os atos do Congresso Nacional e do Poder Executivo. Então, quando o Supremo anula medida provisória do Poder Executivo, questiona alguns decretos, e abre uma investigação contra o presidente e seus ministros, não está fazendo nada mais do que a Constituição exige", afirma Machado.

"Se temos um Tribunal que, durante o anoroleta europeia truques2020, se mostra mais atuante, talvez isso seja explicado por um Poder Executivo que também desafia mais a lógica da Constituição", acrescenta. "Não há aí uma equivalência entre dois lados errados".

A professora reconhece que há questionamentos sobre a forma como o inquérito das Fake News foi iniciado, com base no regimento interno do STF, mas considera que o plenário poderá delimitar a constitucionalidade da investigação quando julgar ações que pedem seu arquivamento. Naroleta europeia truquesleitura, os ataques ao Supremo investigados nesse inquérito não são mera "liberdaderoleta europeia truquesexpressão", como afirmam o presidente e seus aliados.

"O que estamos é dianteroleta europeia truquesameaças eroleta europeia truquesincitação à violência e ao descumprimentoroleta europeia truquesordens judiciais, todos esses (atos) tipificados como crime por nossa legislação."

Eloísa fala no microfoneroleta europeia truquesaudiência na Câmara

Crédito, Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Legenda da foto, 'Se temos um Tribunal que, durante o anoroleta europeia truques2020, se mostra mais atuante, talvez isso seja explicado por um Poder Executivo que também desafia mais a lógica da Constituição', avalia Eloísa Machado

Machado ressalta que o governo Bolsonaro, alémroleta europeia truquester frequentemente seus atos questionados na Corte, também costuma apresentar ações no STF, onde acumula vitórias e derrotas.

Um exemplo recenteroleta europeia truquesresultado positivo pararoleta europeia truquesgestão foi a interpretação dada pelo Supremo à Leiroleta europeia truquesResponsabilidade Fiscal, que afastou a possibilidaderoleta europeia truquescrime orçamentário devido ao forte aumentoroleta europeia truquesgastos na pandemia do coronavírus.

"Me parece que o presidente gosta do Tribunal só quando dá decisão positiva para ele. Quando a decisão é negativa, ele prefere não brincarroleta europeia truquesdemocracia eroleta europeia truquesEstadoroleta europeia truquesDireito. Só que a nossa Constituição não permite que ele tenha esse poderroleta europeia truquessimplesmente ignorar decisões judiciais", crítica.

Leia a seguir a entrevista concedida na quinta-feira (28/05).

roleta europeia truques BBC News Brasil - Nos últimos dias, temos visto uma escalada ainda maior da tensão entre o governo Bolsonaro e o STF. Tem algum lado errado nessa briga, ou ambos os Poderes estão cometendo erros?

roleta europeia truques Eloísa Machado - É importante, para começar, pensar bem qual é o papel do Supremo Tribunal Federal. O papel do STF, dado pela Constituiçãoroleta europeia truques1988, é controlar os atos do Congresso Nacional e do Poder Executivo, sempre, claro,roleta europeia truquesacordo com o texto constitucional. Então, quando o Supremo anula medida provisória do Poder Executivo, questiona alguns decretos, e abre uma investigação contra o presidente e seus ministros, não está fazendo nada mais do que a Constituição exige e determine que ele faça. O que estamos vendo é um Tribunal agindo como tal.

Se temos um Tribunal que, durante o anoroleta europeia truques2020, se mostra mais atuante frente aos controles que ele precisa exercer dos atos do Poder Executivo, talvez isso seja explicado por um Poder Executivo que também desafia mais a lógica da Constituição.

Se temos um Poder Executivo que desafia a Constituição, que questiona a integridade do nosso texto constitucional e que desafia a autoridade do Supremo, me parece que não há aí uma equivalência entre dois lados errados.

O Poder Executivo me parece consideravelmente equivocado na maneira como tem lidado com o controle que é legitimamente exercido sobre seus atos, e o Poder Judiciário tem mantido uma considerável serenidade, decidido cada caso avaliando as razões jurídicas para, eventualmente, anular um ato ilegal do presidente.

roleta europeia truques BBC News Brasil - Aliados do presidente atingidos pela operação da Polícia Federalroleta europeia truquesquarta-feira (27/05) dizem que o inquérito das Fake News é ilegal. Afirmam também que não cometeram crime e estão tendoroleta europeia truquesliberdaderoleta europeia truquesexpressão violada. Como vê essas duas questões?

roleta europeia truques Eloísa Machado - Vou separar o enfrentamento dessas duas questões. Um primeiro tema, que é o tema principalroleta europeia truquesdefesa que estároleta europeia truquestodas as redes sociais e tem feito parte do discursoroleta europeia truquesministros e do Presidente da República, éroleta europeia truquesque o Supremo estaria censurando indevidamente a opiniãoroleta europeia truquesmembros do governo eroleta europeia truquesseus aliados. De maneira nenhuma isso parece ter razão.

Não estamos dianteroleta europeia truquesum casoroleta europeia truquesliberdaderoleta europeia truquesexpressão pelo que se pode apurar até agora. O que estamos é dianteroleta europeia truquesameaças eroleta europeia truquesincitação à violência e ao descumprimentoroleta europeia truquesordens judiciais, todos esses (atos) tipificados como crime por nossa legislação.

É evidente que todos nós temos liberdaderoleta europeia truquesexpressão, mas não podemos cometer crime valendo-se pretensamente dessa liberdade. O que temos é uma investigação ordinária (comum). O inquérito descobriu até agora que essas ameaças, que essa incitação à violência e ao descumprimentoroleta europeia truquesdecisões judiciais tem se dadoroleta europeia truquesmaneira articulada entre alguns blogueiros, deputados e assessores parlamentares e um núcleoroleta europeia truquesfinanciamento dessa máquinaroleta europeia truquesameaças até agora.

Então, o inquérito adotou medidas como a busca e apreensão, a quebraroleta europeia truquessigilo (fiscal e bancário), convocou algumas dessas pessoas a prestar esclarecimentoroleta europeia truquesdepoimentos, e nenhuma dessas medidas é extraordinária. Todas essas medidas são muito comuns no cursoroleta europeia truquesuma investigação.

O que é preocupante no inquérito do Supremo, e é preciso que a gente faça essa ponderação, é que ele é baseado no regimento interno do STF, que diz (em seu artigo 43) que, na hipóteseroleta europeia truquesum crime nas dependências do Tribunal, o presidente do Supremo poderá indicar um ministro relator para promover essa investigação.

O que a gente precisa analisar é se essas ameaças disseminadas, através inclusiveroleta europeia truquesredes sociais, compõem nessa interpretação sobre o ambiente do Tribunal, e também qual é o alcance dos poderesroleta europeia truquesum juiz que promove uma investigação.

Há uma questão muito importante para o Estadoroleta europeia truquesDireito: o juiz que participaroleta europeia truquesuma investigação, que produz uma provaroleta europeia truquesacusação, não pode depois se envolver no julgamento desse caso. O Alexandreroleta europeia truquesMoraes disse que não vai fazer isso, mas o plenário do STF precisa se debruçar sobre essa questão e enfrentar esse tema central para o Estado Democráticoroleta europeia truquesDireito que é garantir a imparcialidaderoleta europeia truquesquem vai avaliar essas provas.

Dias Toffoli sentado no centro do plenário do STF, ao ladoroleta europeia truquesassistente com máscara

Crédito, Fellipe Sampaio/SCO/STF

Legenda da foto, Dias Toffoliroleta europeia truquessessão do STFroleta europeia truquesmeio a pandemiaroleta europeia truquescoronavírus; Eloísa Machado destaca que 'o grande poder do presidente do STF' é escolher as pautasroleta europeia truquesjulgamento no plenário

roleta europeia truques BBC News Brasil - Alguns juristas apontam que esse inquérito acaba desrespeitando alguns princípios do direito penal brasileiro, da Constituição. Como o regimento do Supremo pode se sobrepor a princípios constitucionais? É sobre essa questão que o plenário do STF terá que se debruçar? Lembrando que há ações questionando a legalidade do inquérito sob relatoria do ministro Edson Fachin prontas para julgamento desde maioroleta europeia truques2019, mas o presidente Dias Toffoli se recusa a levá-las ao plenário.

roleta europeia truques Eloísa Machado - O regimento interno, definitivamente, não se sobrepõe à Constituição. Para isso, não temos dúvida. O que precisamos entender é: há poder específico para o STF promover investigações no âmbito do Tribunal? Se houver esse poder, ou seja, se for reconhecida a legitimidade desse artigo 43 do regimento interno, como ele deve ser conduzido para que se garantam os princípios constitucionais? Quais princípios são esses?

O da imparcialidade do juiz,roleta europeia truquesque quem colhe a prova não vai, definitivamente, poder julgar esse caso lá na frente. O da participação do Ministério Público, que detém a titularidade da ação penal. Então, qualquer denúncia que sair desse inquérito necessariamente deverá sair a partir da interpretação e discricionariedade do membro do Ministério Público.

Então, ainda que o relator Alexandreroleta europeia truquesMoraes tenha tentado responder à parte dessas críticas, pois ele garantiu que a denúnciaroleta europeia truquesfato segue como competência do Ministério Público, (tem que estar garantido também) que ele não vai participar do julgamento e que todas as diligências pedidas nessa investigação sejam feitasroleta europeia truquesacordo com o devido processo legal.

Então, é essencial que o plenário do STF se debruce sobre esse inquérito, sobre as circunstâncias que ele foi criado, se ele teve a amplitude adequada nos termos do regimento interno para que não fira os princípios do processo legal e da Constituição, e também que haja uma determinação clara desse relator, do Alexandreroleta europeia truquesMoraes, (para que não participe) num eventual julgamentoroleta europeia truquesalguém a partir das informações desse inquérito.

roleta europeia truques BBC News Brasil - Como avalia roleta europeia truques a roleta europeia truques recusa do presidente Dias Toffoliroleta europeia truqueslevar o inquérito para análise do plenário? Se isso tivesse sido feito, poderia ter havido uma chancela do plenário, dando mais legitimidade à investigação, ou o inquérito poderia ter sido encerrado desde o início.

roleta europeia truques Eloísa Machado - Também o regimento interno do Supremo garante o poderroleta europeia truquespauta do presidente. Então, o grande poder do presidente do STF, sem dúvida nenhuma, é poder escolher o que o plenário vai julgar ou não. Existem muitas pesquisas criticando a faltaroleta europeia truquestransparência na escolharoleta europeia truquescritérios desses casos: por que um caso mais novo eventualmente entra na frenteroleta europeia truquesuma caso mais antigo? Por que casos polêmicos são às vezes esquecidos e não entramroleta europeia truquespauta?

Independentemente do debate que se coloca agoraroleta europeia truquesrelação ao inquérito, o poder do presidente do Supremo para pautar o que o plenário vai julgar é uma questãoroleta europeia truquesatençãoroleta europeia truquestodos os pesquisadores e constitucionalistas, eroleta europeia truquesuma maneira muito crítica. Porque mais importante do que o Tribunal julga é o que ele não julga. E a única pessoa que faz esse filtro é o presidente do STF.

Então, é importante que o Supremo também, não só a partir da crítica que se faz à ação relativa a esse inquérito, mas a várias outras ações relevantes, estabeleça uma política interna mais clara e mais transparente sobre quais afinais serão os critérios para escolher os casos que serão julgadosroleta europeia truquesplenário.

Dedoroleta europeia truquesristeroleta europeia truquesBolsonaro enquanto fala, com microfonesroleta europeia truquescanaisroleta europeia truquestvroleta europeia truquesfrente

Crédito, EPA/Joedson Alves

Legenda da foto, Bolsonaro é 'pouco preocupado com a integridade da Constituição' e 'tem inclinações autoritárias' que precisamroleta europeia truquesuma resposta institucional, afirma Eloísa Machado

roleta europeia truques BBC News Brasil - Alguns juristas que estão apoiando esse inquérito destacam o momento que estamos vivendo,roleta europeia truquesfortes manifestações autoritárias por parte do governo Bolsonaro eroleta europeia truquesseus aliados. Por isso, afirmam, se justificaria o STF lançar mãoroleta europeia truquesinstrumentos heterodoxos para se contrapor a supostos abusos do Poder Executivo. Esse contexto justifica esse inquérito? Os fins justificariam os meios?

roleta europeia truques Eloísa Machado - No Direito, os fins não justificam os meios e há alternativas, há caminhos legais oferecidos pela Constituição para que devidamente sejam apuradas essas ameaças e essa incitação ao crime. Não estamos falandoroleta europeia truquesum cenárioroleta europeia truquesque não exista uma lei, não exista um procedimento,roleta europeia truquesque talvez o Tribunal precisaria criar algo novo. Já estároleta europeia truquesandamento uma Comissão Parlamentarroleta europeia truquesInquérito (no Congresso) apurando justamente esses mesmos fatos (a CPI das Fake News).

Temos uma denúncia desde a época das eleições sobre a presença também dessa máquinaroleta europeia truquesameaças eroleta europeia truquesdisseminaçãoroleta europeia truquesfake news (na campanha presidencialroleta europeia truquesBolsonaro) para ser apurada na Justiça Eleitoral e que pode inclusive gerar consequências muito fortes (a cassação dos mandatos) tanto para Jair Bolsonaro como para o Mourão.

Então, nós temos caminhos institucionais para que essa questão seja resolvida. Quando começamos a mudar o procedimento ou fazer concessõesroleta europeia truquesrelação ao devido processo legal, a partir do réu que está sendo julgado ouroleta europeia truquesquem está sendo investigado, já saímosroleta europeia truquesuma normalidaderoleta europeia truquesEstadoroleta europeia truquesDireito e já estamos entrando num Estado que não preserva essas mesmas garantias processuais. E isso é ruim, isso não é bom para ninguém.

A minha posição éroleta europeia truquesque não há saída e não há resposta que não seja uma resposta constitucional. Nós temos leis suficientes e temos instituições capazesroleta europeia truquesoferecer essa resposta. E eu espero que esse caminho seja o mais brevemente possível retomado para controlar os atos do Presidente da República, queroleta europeia truquesfato não se mostra nem um pouco preocupado com a integridade da Constituição, que levanta o tom, que é bastante irresponsávelroleta europeia truquesrelação a suas falas e atitudes e que tem inclinações autoritárias. Isso já está bastante evidente.

É preciso fortalecer as instituições para controlar esse Poder autoritário e responsabilizá-lo. Eventualmente, dar curso a um processoroleta europeia truquesimpeachment. Eventualmente, ter capacidaderoleta europeia truquesdar curso a essa investigação criminal sobre a interferência na direção-geral da PF. Então, há caminhos institucionais que estão abertos, que podem permitir essa responsabilização. Quando as instituições começam a criar decisões excepcionais, elas se fragilizam para apresentar essa resposta, que é a resposta que fortalece a lógica constitucional.

Então, na minha perspectiva, um Tribunal forte é muito relevante para enfrentar o autoritarismo, um Congresso Nacional respeitado e forte também é importante para enfrentar o autoritarismo, mas o devido processo legal está aí para garantir que a gente não se bandeie para o lado deles e também se torne autoritário no meio do caminho.

roleta europeia truques BBC News Brasil - O governo Bolsonaro tem dado repetidos sinaisroleta europeia truquesque cogita desrespeitar ordens do STF. Na quinta-feira (28/05), o presidente disse que "ordens absurdas não se cumprem". O que pode acontecer se o presidenteroleta europeia truquesfato desrespeitar uma decisão do STF?

roleta europeia truques Eloísa Machado - Descumprir decisão judicial não é uma opção que existe no Direito, não é opção constitucional. Se o presidente levar a cabo essa ideia, vai estar abandonando a legalidade que ele jurou seguir quando tomou posse no cargoroleta europeia truquesPresidente da República. Decisão judicial se cumpre e é contestada no âmbito do processo, com recursos, com outras ações. É assim que se faz num Estado Democráticoroleta europeia truquesDireito.

Quando o presidente se recusa a cumprir uma decisão judicial, ele incorreroleta europeia truquescrimeroleta europeia truquesresponsabilidade ao desrespeitar os comandos do Poder Judiciário e pode vir a sofrer um processoroleta europeia truquesimpeachment. Não há desobediência à Constituição que fique impune.

Mas aqui eu quero chamar atenção para um ponto: Bolsonaro também litiga no STF. Tem uma sérieroleta europeia truquesações que foram propostas pelo presidente Jair Bolsonaro, inclusive muito recentemente, e ele obteve respostas positivas. Então, por exemplo, no questionamento da ampliação do Benefícioroleta europeia truquesPrestação Continuada (aprovada pelo Congresso), quem entrou com a ação foi o presidente Jair Bolsonaro, inclusive ele assina junto com o advogado-geral da União. Ele foi parcialmente vitorioso nesa ação.

Da mesma maneira com relação à interpretação da Leiroleta europeia truquesResponsabilidade Fiscal, para afastar um eventual crime orçamentário num momentoroleta europeia truquesdecretaçãoroleta europeia truquescalamidade (devido à pandemiaroleta europeia truquescoronavírus), o Supremo também concordou com a posição que ele reivindicou perante o Tribunal.

Então, me parece que o presidente gosta do Tribunal só quando dá decisão positiva para ele. Quando a decisão é negativa, ele prefere não brincarroleta europeia truquesdemocracia eroleta europeia truquesEstadoroleta europeia truquesDireito. Só que a nossa Constituição não permite que ele tenha esse poderroleta europeia truquessimplesmente ignorar as leis, a Constituição e as decisões judiciais.

Bolsonaro,roleta europeia truquesmáscara, acena para apoiadoresroleta europeia truquesBrasília

Crédito, REUTERS/Adriano Machado

Legenda da foto, Bolsonaro acena para apoiadoresroleta europeia truquesBrasíliaroleta europeia truquesfotoroleta europeia truques17roleta europeia truquesmaio — manifestações recentes favoráveis a ele têm incluído críticas ao STF, quando não o pedidoroleta europeia truquesfechamento da corte ou impeachmentroleta europeia truquesseus membros

roleta europeia truques BBC News Brasil - A senhora citou as ações que tramitam na Justiça Eleitoral questionando a eleição da chaparoleta europeia truquesJair Bolsonaro e Hamilton Mourão. Nessa terça-feira (26/05), o novo presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, disse que é possível compartilhar informações do inquérito das Fake News com a investigação dessas ações. O fatoroleta europeia truquesa legalidade desse inquérito estar sendo questionada pode impedir esse compartilhamento?

roleta europeia truques Eloísa Machado - O compartilhamentoroleta europeia truquesprovas entre processos é bastante comum no Direito, chamamos issoroleta europeia truquesprova emprestada. Para que isso possa acontecer, você tem que ter parâmetros aliroleta europeia truquesatuaçãoroleta europeia truquesum advogado,roleta europeia truquesdevido processo legal respeitado, para que aquela prova esteja íntegra. Não me parece que tenha um questionamento específico sobre a legalidade das provas produzidas durante esse inquérito. O que se coloca ali, especialmente, é o papel do juiz, se ele vai ou não vai julgar alguém com base nessas provas que ele próprio colheu.

Certamente isso vai gerar uma nova discussão jurídica, um novo questionamento, mas juridicamente essa práticaroleta europeia truquesemprestar provasroleta europeia truquesum processo para o outro é bastante comum. Em se estabelecendo (em julgamento pelo plenário do STF) quais são os critériosroleta europeia truquesobservância do devido processo legal nesse inquérito, isso poderá sim vir a servirroleta europeia truquesprova no processo eleitoral que está sendo conduzido no TSE.

roleta europeia truques BBC News Brasil - Na quarta-feira, o ministro da Justiça, André Mendonça, entrou com pedidoroleta europeia truqueshabeas corpus no STF para impedir que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, prestasse depoimento no inquérito das Fake News, sobreroleta europeia truquesdeclaração defendendo a prisãoroleta europeia truquesministros do Supremo durante a reunião ministerialroleta europeia truques22roleta europeia truquesabril. Isso gerou críticas porque normalmente é a AGU que representa o governo no Supremo. É um caso grave ou não?

roleta europeia truques Eloísa Machado - Há várias questões super interessantes nesse ponto. A Advocacia Geral da União é uma advocaciaroleta europeia truquesEstado,roleta europeia truquespreservação do interesse do Estado brasileiro,roleta europeia truquesfacilitação da adoção dessas políticas (públicas elaboradas pelo governo federal). Já há uma primeira questão sobre se os advogados da União, e o advogado-geral da Uniãoroleta europeia truquesparticular, deveriam se prestar ao papelroleta europeia truquesdefesa criminalroleta europeia truquesalguém que está sendo acusado por um crime no exercício da função pública.

Porque muitas vezes a defesa que o AGU vai fazerroleta europeia truquesuma pessoa dessa pode inclusive ter um conflito com a necessidaderoleta europeia truquespreservação do patrimônio da União.

Se pegarmos casos clássicosroleta europeia truquescorrupção ou mesmoroleta europeia truquesdesvioroleta europeia truquesfinalidade, a AGU tem como missão a preservação do patrimônio público. Como ela pode eventualmente defender alguém acusadoroleta europeia truquescorrupção num processo criminal porque essa pessoa é um ministro ou eventualmente o Presidente da República? Aí já tem uma questão complicada.

O segundo ponto é, a gente não tem sequer a AGU, o que já seria questionável, atuando na defesaroleta europeia truquescrimes particulares cometidos por integrantes do governo. O que temos no caso do Weintraub é completamente diferente. Há uma acusação pela qual ele já responderoleta europeia truquesracismo, uma investigação que está aberta, e agora temos um chamamento para um depoimento e ele se valeuroleta europeia truquesuma defesa do ministro da Justiça, que era o antigo AGU.

A história toda me parece muito despropositada. Não lembroroleta europeia truquesprecedenteroleta europeia truquesum ministro da Justiça agindo na defesaroleta europeia truquesinteresses particularesroleta europeia truquesalguém do governo, também isso pode ser entendido como um tiporoleta europeia truquesdesvioroleta europeia truquesfinalidade.

Alémroleta europeia truquesser muito inusitada a forma como o habeas corpus foi proposto, não havia nem a necessidade dele. Se Weintraub se entende no depoimento como alguém que está sendo investigado, ele pode simplesmente dizer que não vai, porque ele não precisa se incriminar, e quem garante esse direitoroleta europeia truquesque ele não precisa se incriminar é o próprio Supremo Tribunal Federal, que disse que o acusado não é obrigado a produzir provas contra ele mesmo e, portanto, não pode ser conduzido coercitivamente, por exemplo.

Então, (o pedidoroleta europeia truqueshabeas corpus) me parece muito mais um efeito midiático, algo para gerar mais uma reação do Supremo e ser explorado (politicamente), do queroleta europeia truquesfato uma estratégia jurídica muito sofisticada. Mas agora vamos precisar aguardar o resultado desse habeas corpus proposto pelo ministro da Justiça,roleta europeia truquesdefesaroleta europeia truquesinteresses particulares do ministro da Educação.

[Nota da redação: Após a entrevista com a professora Eloísa Machado, a Polícia Federal compareceu ao Ministério da Educação na sexta-feira (29/05) para colher o depoimentoroleta europeia truquesWeintraub, que optou por permanecerroleta europeia truquessilêncio, exercendo assim seu direitoroleta europeia truquesnão produzir provas contra si mesmo. Edson Fachin ainda não julgou o pedidoroleta europeia truqueshabeas corpus, e é possível que agora decida não analisá-lo, já que a tentativaroleta europeia truquesdepoimento já ocorreu.]

roleta europeia truques BBC News Brasil - A senhora está citando o julgamento do Supremo que considerou inconstitucional que uma pessoa seja conduzida coercitivamente a depor quando está na condiçãoroleta europeia truquesinvestigado, decisão tomadaroleta europeia truquesuma ação que o PT apresentou após a condução coercitiva do ex-presidente Lula na Operação Lava Jato. Então, Weintraub já estaria liberadoroleta europeia truquescomparecer por essa decisão?

roleta europeia truques Eloísa Machado - Foi esse o argumento que ele usou no habeas corpus. Então, ele nem precisaria ter entrado com o habeas corpus, bastava uma comunicaçãoroleta europeia truquesque vai se valer dessa garantia (que o protege)roleta europeia truquesnão precisar se incriminar (em um depoimento).

Após esse contexto da Lava Jatoroleta europeia truquesinúmeras conduções coercitivas, inclusiveroleta europeia truquespessoas que estavamroleta europeia truqueshospital, e também aquela condução espetacular do ex-presidente Lula, filmada por helicóptero, etc, o Supremo foi muito tranquiloroleta europeia truquesdizer que o depoimento é uma garantia do acusado: se ele quiser se explicar, ele tem que ter essa oportunidade, mas ele não pode ser obrigado a deporroleta europeia truquesum assunto que pode incriminá-lo.

Então, a solução jurídica seria muito simples, e essa manobra todaroleta europeia truquesministro da Justiça entrando com habeas corpus me parece muito pouco juridicamente explicável, mas politicamente talvez faça sentido para eles.

Weintraub olha para cima, com olhar sério

Crédito, REUTERS/Adriano Machado

Legenda da foto, Em reunião ministerialroleta europeia truques22 abril, que teveroleta europeia truquesgravação publicada por decisão judicial, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendeu a prisãoroleta europeia truquesministros do STF

roleta europeia truques BBC News Brasil - Após a divulgação da fala do Weintraub na reunião ministerial chamando ministros do STFroleta europeia truquesvagabundos e defendendo suas prisões, alguns ministros como Luís Roberto Barroso e Marco Aurélio Mello disseram que não tomariam providências sobre isso, talvez para não levar essa crise adiante. E o Alexandreroleta europeia truquesMoraes veio como uma decisão dentro desse inquérito, que é questionável, pedindo o depoimento dele. É um decisão que mostra uma reação a Weintraub, mas que acaba jogando mais lenha na fogueira à toa?

roleta europeia truques Eloísa Machado - Certamente, estamos dianteroleta europeia truquesum crimeroleta europeia truquesofensa contra a honraroleta europeia truquesministros. Então, a decisãoroleta europeia truquesCelsoroleta europeia truquesMello (que autorizou o vídeo da reunião ser divulgado e determinou que os ministros atacados fossem comunicados) está olhando para esse aspecto. Ele diz que o minitro que se sentir ofendido pode vir a ter a necessidaderoleta europeia truquesrequisitar um ação penal privada para que isso seja avaliado.

Me parece que a justificativa do Alexandreroleta europeia truquesMoares é outra, que o ministro se preocupou com o discursoroleta europeia truques(Weintraub de) que colocaria todo mundo na cadeia, que tem que acabar com esse Poder. Me parece que o que está colocado ali, ao menos na pertinênciaroleta europeia truquesMoraes chamar Weintraub a depor, é a incitação à violência contra os Poderes. Moraes até menciona nessa decisão alguns artigos da Leiroleta europeia truquesSegurança Nacional, que dariam amparo a esse questionamento frente ao Weintraub.

Então, são decisões que estão olhando por enfoques diferentes: uma olha para a honra dos ministros, na hipótese específica do uso da expressão vagabundos, e uma outra discussão é essa incitaçãoroleta europeia truquesque tem que por na cadeia, que dialoga com o objeto do inquérito (das Fake News) do Alexandreroleta europeia truquesMoares.

roleta europeia truques BBC News Brasil - Antesroleta europeia truquesAugusto Aras assumir a Procuradoria-Geral da Repúblicaroleta europeia truquesoutubro, parlamentares e partidos costumavam apresentar pedidosroleta europeia truquesinvestigação diretamente à PGR. Como Aras é visto como alinhado ao governo, passaram a apresentar ao STF, que apenas encaminha à Aras, gerando um fato político. Considera adequada essa atuação dos parlamentares? Ou é um uso indevido do Judiciárioroleta europeia truquesdisputas políticas?

roleta europeia truques Eloísa Machado - Estamos dianteroleta europeia truquesum grande problema frente à atuação do atual procurador-geral da República. E,roleta europeia truquesfato, a gente percebe como aquela garantia da lista tríplice,roleta europeia truqueshaver a restrição da indicação (do presidente ao cargoroleta europeia truquesPGR) com base numa lista escolhida pela própria carreira (prática inaugurada por Lularoleta europeia truques2003, mas que não é obrigatória), fazia sentido. Issoroleta europeia truquesfato trazia um grau maiorroleta europeia truquesindependência desse procurador-geral. O que a gente vê com Aras é que ele não questionou a constitucionalidaderoleta europeia truquespraticamente nenhum ato do governo Bolsonaroroleta europeia truques2019.

E olha que teve muita coisa (passívelroleta europeia truquesquestionamento), no âmbitoroleta europeia truquesarmas, direitos socioambientais, direitos da criança e do adolescente... um monteroleta europeia truquesatos do Poder Executivo. E o procurador-geral da República se movimentou só para questionar (com uma ação no STF) especificamente uma política que alterava a estrutura interna do Ministério Público,roleta europeia truques2019.

Chegaroleta europeia truques2020, começa a pandemia, essa discussão todaroleta europeia truquesdessincronizaçãoroleta europeia truquespolíticas entre as entidades subnacionais (Estados e municípios) e o Governo Central, e também não é a PGR que assume esse protagonismo, que sempre teve,roleta europeia truquespreservação da Constituição.

Chega (a questão da) a responsabilidade criminal (do presidente) e Aras começa a arquivar tudo, faz vistas grossasroleta europeia truqueseventual prática criminosa por parte do Presidente da República. Uma sérieroleta europeia truquesnotícias-crime relacionandas à conduta do presidente Jair Bolsonaro à incitaçãoroleta europeia truquesdescumprimentoroleta europeia truquesmedida sanitária preventiva, quando ele ia à rua e incitava as pessoas a não cumprirem o isolamento, foram sumariamente arquivadas pela PGR.

Quando veio o depoimento do (Sergio) Moro (sobre a possível interferência política na PF), me parece que Aras precisouroleta europeia truquesqualquer maneira responder a essa questão (e por isso abriu uma investigação).

Faz falta um procurador-geral da República com independência e que cumpra integralmente aroleta europeia truquesmissão constitucional. Os parlamentares e qualquer pessoa, na verdade, podem apresentar uma notíciaroleta europeia truquescrime. Mas há procedimentos, na verdade, diferentes: há um procedimento penal que é aplicado para todo mundo, e há um procedimento penal previsto na Constituição que é aplicado para o Presidente da República. E ainda não se sabe muito como esse funciona.

Por exemplo, na hipóteseroleta europeia truquesAras arquivar todas as representações criminais contra o presidente, não tem nenhum controle sobre o que o PGR faz? Essa é uma questão que certamente precisará ser enfrentada pelo Supremo. O Supremo pode reavaliar um arquivamento numa hipóteseroleta europeia truquesomissão comprovada do PGR? São questões que chegarão por lá.

Então, me parece que essa procura direta pelo STF talvez já seja uma tentativa de, diante da omissão do órgão que é incumbidoroleta europeia truquesfazer isso, tornar os ministros cientes ao menos do que está acontecendo. E aí o ministro Celsoroleta europeia truquesMello foi irretocável (ao enviar ao PGR o pedidoroleta europeia truquesapreensão do celularroleta europeia truquesBolsonaro apresentado por partidos).

Ele encaminhou ao procurador-geral da República, e falou: "você tem que fazer esse trabalho, avalie se está certo ou não (o pedidoroleta europeia truquesinvestigação do celular), arque com o ônusroleta europeia truquesuma decisãoroleta europeia truquesarquivamento ouroleta europeia truquesprosseguimento (do pedido), e o meu papel aqui é avaliar se tudo isso vai ser feito dentro da legalidade".

roleta europeia truques BBC News Brasil - O Congresso deve tornar a lista tríplice obrigatória? Há também propostas no Congresso para proibir a recondução do PGR para novos mandatos, ou que seja estabelecida uma quarentena até que um ex-PGR possa ser indicado ao STF, tudo para que o PGR não fique tentado a querer agradar o presidente. Seriam mudanças positivas?

roleta europeia truques Eloísa Machado - Sim, é importante avaliar nosso desenho institucional e corrigir no que for preciso. Então, medidas como a incorporação da lista tríplice na lei para indicação do PGR é um dos caminhos. Outros caminhos, por exemplo, é a necessidaderoleta europeia truquesuma quarentena para quem ocupa o cargoroleta europeia truquesAGU,roleta europeia truquesministro do STJ eroleta europeia truquesPGR possa ser indicado ao Supremo, justamente para evitar que esses cargos sejam instrumentalizados no interesse particular para uma eventual indicação.

Então, me parece que uma sérieroleta europeia truquesmedidas tem sido pensada para se aprimorar os mecanismos institucionais e tornar eles mais legítimos, mais transparentes e mais controláveis.

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