Coronavírus: Sem ventilador, paciente morreu 'roxo por faltam b1 betarm b1 betfrente a equipe' - o caos descrito por médicosm b1 betPernambuco:m b1 bet
Cinco municípios da região metropolitanam b1 betRecife tiveram quarentena decretada pelo governo do Estado, começando neste sábado (16), até dia 31m b1 betmaio.
A BBC News Brasil colheu relatosm b1 betcinco médicos sobre a difícil situação que têm enfrentado no dia a dia.
m b1 bet 'Já vi pacientes chegando perto da morte sentadosm b1 betcadeira dura durante 48 horas por faltam b1 betleito' m b1 bet - Joabe Oliveira Vasconcelos, 28 anos, médico generalistam b1 betUTIs e UPAsm b1 betRecife
"Estou trabalhando 72 horas por semanam b1 betUTIs e UPAs. As UTIsm b1 betcampanha até que estão conseguindo atuar no limite da capacidade, mas a gente está com gargalo muito difícil no atendimento primário, na portam b1 betentrada para a emergência, que são as UPAs. Elas ficaram esquecidas.
Não tem ventilador suficiente para todos nas UPAs. Já tive que escolher entre dois pacientes [sobre quem seria intubado e colocado no ventilador] e escolhi pelo que aparentemente tinha melhor chancem b1 betsobreviver. Já aconteceum b1 betmaism b1 betum plantão, e continua acontecendo, porque o númerom b1 betventiladores não é suficiente.
Fico com uma sensaçãom b1 betindignação com a faltam b1 betrecursos para todo mundo receber o atendimento que precisa. É um direito básico.
Os pacientes são transferidosm b1 betUPAs para hospitais entre 24 horas e maism b1 bet72 horas. Há pacientes que ficam 4 dias ou 5 dias intubados na UPA. A vida deles corre risco.
É muito comum ter pacientes na UPA — uns 10 pacientes no mínimo por plantão — recebendo oxigênio no cateter, mas sem terem leito para ficar, sentadosm b1 betuma cadeira dura por 24 horas, 48 horas.
Ficam reclamando do desconforto, olhando para gente, e a gente sem ter como acomodá-los no leito. Isso é horrível, nossa. Ter uma pessoa 48 horas olhando para você lhe pedindo um leito e você não poder oferecer. Os mais velhos e idosos sofrem muito porque a doença agrava bastante, ficam sonolentos na nossa frente e não tem lugar para botar eles. É indigno. Já vi pacientes chegarem muito perto da morte assim.
Um dos maiores medos que os pacientes têm ém b1 betserem intubados e nunca mais acordar. Um pacientem b1 bet56 anos disse a mim: 'Eu tenho medom b1 betser intubado e nunca mais sair, doutor'. E eu soube quem b1 bet24 horas ele morreu. Para mim foi muito duro porque quando eu o intubei eu dei a ele alguma esperança, eu respondi que aquela era a melhor chance que ele teriam b1 betsobreviver, e isso não aconteceu.
Na semana passada, atendi um paciente que tinha 33 anos. Quando cheguei no plantão ele tinha sido intubado havia cercam b1 bet10 horas. Era um paciente obeso e a doença dele agravou-se absurdamentem b1 bet24 horas. Passei 30 min tentando reanimá-lo, mas infelizmente ele não sobreviveu. E dar a notícia para a família, e para o irmão,m b1 betque a pessoa que estava com eles há menosm b1 bet24 horas não estaria mais nunca, sem terem direito a ver o corpo e ter um momentom b1 betluto? Isso para mim foi o mais trágico."
m b1 bet 'Não é fácil ver paciente morrer nam b1 betfrente por faltam b1 betventilador' - m b1 bet Médica generalista anônima, 30 anos, trabalham b1 betUTIs e UPAm b1 betOlinda
"A UPA está chegando ao pontom b1 betque está impossível dar conta da demanda. As salas estão ficando lotadas com pacientes graves. A gente não tem equipe suficiente nem ventiladores mecânicos para todos. Isso acaba gerando um ciclom b1 betcaos.
Os pacientes intubados ficam aguardando leitom b1 betUTI, mas tem uma fila gigantesca. Demora para sair a senha desse paciente [para ir para a UTI], demora para sair a transferência e os pacientes ficam mais graves. Às vezes, sai a senham b1 betUTI e não tem transporte. Já é frequente o rodíziom b1 betfontem b1 betoxigênio, já que são muito pacientes e fontes limitadas.
Já chegamos ao pontom b1 betestarmos com todos os leitos ocupados, chegar paciente grave que precisa ser intubado, a gente não conseguir e paciente ir a óbito. E vai acontecer com mais frequência.
A equipe está entrandom b1 betestafa mental e emocional porque não é fácil ver um paciente morrer nam b1 betfrente, você com capacidade técnica para ajudar, mas falta ventilador mecânico e ele morre. Tristeza, desespero e choro da equipe. Pessoa idosa... jovem sem históriam b1 betcomorbidades.
[Um paciente] Chegou levado pela filha que achou estranho a desorientaçãom b1 betcasa. Estava com saturaçãom b1 betoxigêniom b1 bet55% [o normal é entre 95% e 100%]. Não havia respirador disponível... Manejamos com o que tínhamos e fazendo medidasm b1 betconfortom b1 betparalelo. Ele faleceu após 3 horas, roxo por faltam b1 betar,m b1 betfrente à equipe. Caos para a saúde mental. Ninguém merece viver isso! Nem a pessoa doente nem o profissional que trabalha com o propósitom b1 betprimar pela saúde das pessoas.
Eu e a colegam b1 betplantão ficamos sem chão, atendendo entre o choro mesmo. Tínhamos mais seis pacientes na sala e mais dois quem b1 betbreve estariamm b1 betinsuficiência respiratória. A gente segue, mas sente no corpo as consequências. A colega está com crises ansiosas. No dia seguinte apenas dormi, apaguei. Sonhei com aquilo — e pior, fica um pensamento persistente do que eu deveria ter feito, se nos esquecemosm b1 betalgo… Cansa demais.
Ainda não surtei por algum motivo que só a bagagemm b1 betterapia e meditação devem explicar mais na frente. A situação realmente está ficando apertada. O cerco está fechando. A perspectiva é que seja uma grande catástrofe."
m b1 bet 'Nunca vi tanta gente morrer ao mesmo tempo' - m b1 bet Everton Abreu Lopes, 32 anos, médico clínico, trabalham b1 betUTIsm b1 betRecife
"O meu dia inteiro é covid-19, do começo ao final, nos três hospitaism b1 betque trabalho. Em média, por dia, fico responsável por 30 pacientesm b1 betUTIs.
E eu garanto que o sistemam b1 betsaúdem b1 betPernambuco já está colapsado [a conversa com a reportagem da BBC News Brasil foim b1 bet29m b1 betabril]. Os números divulgados, que ficam entre 97% e 98%m b1 bettaxam b1 betocupação, são completamente enganadores. Eu digo que ém b1 bet130%. O que está acontecendo é que muita gente fica represada nas UPAs, porque não tem transporte suficiente, não tem UTI.
E isso é uma das principais razões para altam b1 bettaxam b1 betmortalidade no Estado. É determinante o momentom b1 betque o paciente chega à UTI. Os casos graves só chegam na minha mão muito tempo depois do que o necessário, quatro ou cinco dias. Eu não vejo o paciente no início do quadro, quando é possível fazer alguma intervenção mais bem-sucedida. Quando ele chega, já é tarde, muito difícilm b1 betreverter a situação.
Eu trabalhom b1 betUTI desde que me formei, por isso sou acostumado a ver gente morrer e dar notíciasm b1 betmorte, é minha rotina. Mas nunca vi tanta gente morrer ao mesmo tempo. E o piorm b1 bettudo, para mim, é dar informação por telefone, já que os parentes não podem estar perto. Pessoalmente, é mais fácil criar empatia. A gente olha no olho, percebe as emoções, e até cria técnicas para conversar, fala pausado. Quando você dá a informação por telefone, as pessoas não estão preparadas. A gente não sabe onde a pessoa está, se tem alguém perto.
Certo dia, falei pra uma mulher sobre a morte do marido e ela estava no meio da rua. É muito angustiante não saber se ela ficou bem, só ouvi a respiração dela ofegante e o barulho da cidade. Não tinha ninguém para abraçá-la. Isso beira a frieza.
Eu nunca tive problemas para dormir, insônia. Mas, agora, não são poucas as vezes que acordom b1 betmadrugada, às 1h, 3h, sem conseguir mais fechar o olho.
m b1 bet 'Chego no plantão me perguntando para quantas famílias darei a terrível notíciam b1 betque não vão ver o parente nunca mais' - m b1 bet Anésia Bezerra da Fonsêca, 31 anos, médica generalistam b1 betUTIs e UPAsm b1 betRecife
"Estou trabalhando 84 horas por semana. A gente saim b1 betcasa todo dia achando que vai ser ainda pior do que já tem sido. Colegas e técnicosm b1 betenfermagem estão nervosos, exaustos, cansados, por conta da cargam b1 bettrabalho. Vemos o olhar assustado dos pacientes, que não sabem o que vai acontecer… Eles olham para o lado e veem alguém piorando, alguém que estava conversando há pouco tempo e que depoism b1 betalguns minutos precisou ser intubado. Às vezes testemunham mortes.
As famílias levam o paciente para a unidade e não sabem quando é que voltarão a vê-lo. Depois que entram para a unidadem b1 betcovid, você não sabe quando que vai ver o paciente, muitas vezes você nunca mais vai ver.
Essa semana comuniquei alguns óbitos. A gente chega no plantão se perguntando: 'Para quantas famílias eu vou ter que dar a terrível notíciam b1 betque aquela pessoa que ela já não vê alguns dias, não vai ver nunca mais?'
Em alguns casos, é preciso dar a notícia por telefone, e é terrível. Por mais que a gente tente ser o mais acolhedor, dizer as melhores palavras, fica aquele vazio da presença física, o olhar. É o 'frio telefone'. Teve um comunicadom b1 betóbito que a única coisa que a família conseguia dizer era 'obrigado'. Como é que pode ser assim? Eu estou dando a notíciam b1 betque o irmão daquela pessoa faleceu e ele está dizendo obrigado porque 'pelo menos meu irmão teve uma chance aqui nessa UTI'.
Nas UPAs a gente pede vaga para um paciente que está estável e pode ir para a enfermaria, mas muitas vezes a demoram b1 betconseguir a vaga acaba com que ele piore e precisem b1 betleitom b1 betUTI. Daí é outra espera para leitom b1 betUTI. A gente fica ansioso, esperando que dê tudo certo e saia logo essa vaga. Muitas vezes não acontece, e eu já vi pacientes falecerem aguardando vaga na UTI.
Teve um paciente para quem fizemos tudo o que tinha que fazer na UPA e no fim ele disse: 'Eu não aguento mais. Por favor, doutora, me intube'. Onde que você vê uma coisa dessas? Paciente pedindo para ser sedado, intubado e perder o controle sobre si.
Minha vida, assim como am b1 bettodo mundo, parou. Estou vivendo para trabalhar e trabalhando para viver. Me dispus a essa carga horária para poderem abrir mais leitos, mas vou diminuir porque isso realmente está me afetando. Às vezes, a gente tem que comunicar óbitos com maior frequência e não dá tempo nemm b1 betse recuperar."
m b1 bet 'Vejo o povo na rua, não estão levando a sério, e há cada dia mais pessoas doentes' - m b1 bet Médica generalista anônima, 32 anos, trabalham b1 betUPAm b1 betRecife
"O volumem b1 betpacientes nas UPAs é muito mais alto do que a gente consegue dar saída. Quando começou toda essa históriam b1 betpandemia, o Estado abriu leitosm b1 betenfermaria e UTI porque deve ficar bonito para a imprensa, mas não estruturou as UPAs, a portam b1 betentrada, que é para onde o paciente corre, para atender a demanda. A UPA é um serviço que tem que ser temporário. O paciente tem que chegar, ser avaliado e transferido para outro serviço.
Mas demora maism b1 betum dia para transferir pacientes internados na UPA. Não tem respirador e fontem b1 betoxigênio suficiente para todos. A gente tem paciente que precisam b1 betrespirador, mas seguramos na fontem b1 betoxigênio porque não tem respirador disponível.
Às vezes, a gente tem pacientes que estão precisando da fontem b1 betoxigênio, mas ficam sem porque não tem suficiente. A equipe médica está muito desfalcada, há muita gente doente. Os plantões que deveriam ter quatro plantonistas, estamos segurandom b1 betdois.
Sabe um funil? É assim. A quantidadem b1 betpaciente que chega tem um volume muito grande, e a saída é pouquinha.
Cada plantão é uma angústia muito grande. Fora o medom b1 betficar doente, se contaminar.
É uma doença que provoca sofrimento muito grande no paciente. Chegam cansados, precisamm b1 betoxigênio. Os que vão a óbito vão por insuficiência respiratória. É algo muito tristem b1 betse ver. É extremamente angustiante, a gente dá suporte, mas ficamos com muita sensaçãom b1 betimpotência.
Não estou acompanhando mais notícias porque fico ansiosa. Vejo o povo na rua... Não estão levando a sério, e há cada dia mais pessoas doentes."
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