'Durmo no terraço para não infectar minha mãe', diz técnicojogo de blazeenfermagem que ganha R$ 80 por plantãojogo de blaze12 horas:jogo de blaze

A Secretariajogo de blazeSaúdejogo de blazeCampina Grande informou, nesta sexta (10), que disponibilizou hospedagem para profissionaisjogo de blazesaúde que precisem ficar isoladosjogo de blazefamiliares, incluindo Joseildo,jogo de blazeum hotel da cidade.

Joseildo trabalha na linhajogo de blazefrente: casos suspeitos chegam na UPA e depois são encaminhados ao hospital. Na cidade dele, há três casos confirmados até agora. Em todo o Estado da Paraíba, eram 79 até esta sexta (10).

Como Joseildo, profissionaisjogo de blazeenfermagemjogo de blazetodo o país recebem salários baixos para trabalhar longas horas e exercer um trabalho fundamental na linhajogo de blazefrente ao combate desta pandemia. De todos os profissionaisjogo de blazesaúde, eles são os que mais têm contato com pacientes com covid-19, a doença causada pelo vírus.

Muitos têm trabalhado sem equipamentojogo de blazeproteção necessário, como máscaras, luvas e aventais adequados, escassojogo de blazediversos hospitais públicos e privados pelo Brasil. Expostos, estão praticamente arriscando a vida. O Conselho Federaljogo de blazeEnfermagem (Cofen) já contabiliza 17 mortesjogo de blazeprofissionaisjogo de blazeenfermagem no Brasil que tiveram suspeita ou confirmaçãojogo de blazecovid-19.

Por causa dos salários baixos, grande parte dos profissionais acumula maisjogo de blazeum emprego - às vezes um no setor público e outro no privado, segundo Manoel Neri, presidente do Cofen. "É uma sobrecarga muito grande que pode interferir na qualidadejogo de blazeassistência e que leva à faltajogo de blazetempo para se aperfeiçoar e para estar com a família", diz. Há casosjogo de blazeconcursos para técnicosjogo de blazeenfermagem oferecendo salário mínimo, como no casojogo de blazeJoseildo, ou até menos que isso. A categoria não tem piso salarial.

Na Alemanha, enfermeiros agradeceram as rodadasjogo de blazeaplausos da população durante esta pandemia do coronavírus, mas reivindicaram também aumento salarial. Um abaixo-assinado com o pedido angariou 350 mil assinaturas até o finaljogo de blazemarço, segundo reportagem da Deutsche Welle.

No Brasil, profissionaisjogo de blazesaúde desabafam nas redes sociais sobre a desproporção entre o risco que correm e o salário que recebem: "os aplausos são lindos, mas reconhecimento poderia vir um pouco no salário também, afinal, todos precisamos para viver", comentou uma enfermeirajogo de blazeuma postagem com a históriajogo de blazeJoseildo.

Em outra publicação, uma enfermeira reclamavajogo de blazeter recebido a oferta para fazer plantõesjogo de blazetriagemjogo de blazepacientes com sintomasjogo de blazecovid-19. Por plantõesjogo de blaze12 horas, receberia R$ 80, o mesmo valor que Joseildo recebe. "Homenagens batendo palmas na janela não pagam nossos boletos, o sustento dos nossos filhos. Estudamos demais para isso", desabafou.

Leito do paciente

Hoje, o Brasil tem um totaljogo de blaze2,2 milhõesjogo de blazeprofissionais da área, entre enfermeiros, técnicosjogo de blazeenfermagem, auxiliaresjogo de blazeenfermagem e obstetrizes. Uma pesquisa conduzida pelo Cofen e a Fiocruzjogo de blaze2014 mostrou que 10% desses profissionais estavam desempregados.

A pesquisa também traçou um perfil dos profissionaisjogo de blazeenfermagem do Brasil: são mulheres, emjogo de blazemaioria (85,1%), com crescente aumentojogo de blazeparticipação masculina. A maioria dos profissionais são pretos ou pardos (53%), seguidojogo de blazebrancos (41,5%). Há uma concentraçãojogo de blazeprofissionais na região Sudeste, enquanto Norte e Nordeste sofrem com uma carência deles.

Segundo a pesquisa, 17,8% da categoria recebiam "subsalários", ou menosjogo de blazeR$ 1 mil mensais na época do estudo, produzidojogo de blaze2016 com dadosjogo de blaze2014.

Para Neri, a renda dos profissionaisjogo de blazeenfermagem deveria levarjogo de blazeconta fatores como o risco, "não só agorajogo de blazeperíodojogo de blazepandemia". "Não só o trabalho insalubre, como o penoso. O profissional trabalhajogo de blazeplantões noturnos, no fimjogo de blazesemana, feriados. Muitos trabalhamjogo de blazeplantõesjogo de blazeaté 24 horas seguidas", observa.

Ele diz que os profissionais também têm "uma grande importância social para a saúde" porque "são os que ficam na cabeceira do leito do paciente durante 24 horas para fazer seus cuidados - desde os mais simples, como o banho -, até osjogo de blazealta complexidade, na UTI".

A pesquisa do Cofen e da Fiocruz também registrou que 64,2% dos auxiliares e técnicos consideravamjogo de blazeatividade desgastante.

"A enfermagem recebe muito pouco pela responsabilidade que temos, nossas habilidades, nossa formação e a dedicação que temosjogo de blazerelação aos nossos pacientes. É uma sobrecarga para uma remuneração muito pequena", diz Bruna Costa, 30, coordenadorajogo de blazeplantãojogo de blazeuma unidade básicajogo de blazesaúdejogo de blazeBom Jesus do Amparo, Minas Gerais.

"Às vezes, deixamosjogo de blazecomer,jogo de blazeir ao banheiro, e 12 horas acaba sendo pouco para o tantojogo de blazeserviço que temos para fazer. Não paramosjogo de blazenenhum momento para dar contajogo de blazetudo o que está acontecendo. Nós gerenciamos a unidade, cuidamos dos pacientes. Se tem pia quebrada, teto pingando, é a enfermagem que tem que resolver."

Marcelo, enfermeiro que trabalha na região do Vale do São Francisco, trabalhajogo de blazedois locais. No setor privado, recebe R$ 2 mil, trabalhando 144 horas mensais. Na rede pública, R$ 2.600, trabalhando mais 156 horas mensais.

Agora, afastado por apresentar sintomas da covid-19 após trabalhar sem equipamentojogo de blazeproteção adequado, não recebeu auxíliojogo de blazenenhuma das unidadesjogo de blazesaúde para fazer o teste e saber se está com a doença. Tirou dinheiro do próprio bolso para pagar um exame e saber quando poderá voltar ao trabalho. Seu nome foi modificado para protegerjogo de blazeidentidade.

Joseildo, o técnicojogo de blazeenfermagem forçado a dormir no terraçojogo de blazecasa para não contaminar a mãe, também tem que fazer bicos para complementar a renda. Trabalhava às vezes como segurança, mas, com a pandemia, já não pode mais.

A boa notícia, contudo, é que, poucas horas depoisjogo de blazecompartilhar seu dramajogo de blazeum comentário no Instagram, recebeu ajuda. Uma empresajogo de blazevaquinha online viu o pedido e ofereceu divulgá-lo. Em só dois dias, foram arrecadados R$ 34 mil.

"Eu não quero para mim. Tirando o dinheiro para alugar um quartinho, vou fazer doações na minha cidade, porque tem muita gente precisando, e as pessoas vão passar por dificuldades. Já que estou sendo agraciado, tenho que agraciar mais pessoas", diz.

O que ele gostaria, no entanto, é que os profissionaisjogo de blazeenfermagem fossem mais valorizados. "Recebo praticamente menos do que o salário mínimo. Não digo que é constrangedor porque não trabalho pelo dinheiro. É por amor. Mas a gente está na linhajogo de blazefrente o ano todo, estamos lidando com a vida e a morte das pessoas. Os governantes poderiam olhar para nós com um olhar diferente."

Salário e desemprego

A carreirajogo de blazeenfermagem é divididajogo de blazetrês categorias:

- Enfermeiro: é o profissional com bacharelado, graduadojogo de blazeum cursojogo de blaze5 anos. É o que tem a maior formação e está apto a fazer todos os cuidados da enfermagem, inclusive osjogo de blazemédia e alta complexidade. Está a apto a prescrever medicamentos e requisitar exames mediante protocolos. O Brasil tem cercajogo de blaze540 mil enfermeiros

- Técnicojogo de blazeenfermagem: profissional que fez cursojogo de blazetécnico que auxilia enfermeirojogo de blazecuidadosjogo de blazemédia e alta complexidade sob supervisão do enfermeiro. Representa o maior númerojogo de blazetrabalhadores do setor: 1,2 milhões

- Auxiliarjogo de blazeenfermagem: faz os cuidados mais simplesjogo de blazeenfermagem; cursos técnicos têm diminuído muito e profissão estájogo de blazerotajogo de blazeextinção no Brasil. Há 400 mil auxiliaresjogo de blazeenfermagem no país

Não há piso salarial para profissionaisjogo de blazeenfermagem, algo reivindicado pela categoria. Um projetojogo de blazelei foi apresentado na Câmara no ano passado, mas ainda não passou por comissões para ser analisado. De autoria do deputado Mauro Nazif (PSB - RO), estabelece o piso do salário para enfermeirosjogo de blazeR$ 4.650,00 (a ser reajustado). Para técnicosjogo de blazeenfermagem, 50% do valor e, para auxiliares, 40%.

Os valores oferecidos atualmente diferem muito disso, e órgãos regionais do conselhojogo de blazeenfermagem constantemente emitem notas rejeitando salários oferecidosjogo de blazeconcursos para a categoria. Em 2019, o municípiojogo de blazeAraruama, no Rio, por exemplo, abriu concurso para enfermeiros (20h semanais) e técnicosjogo de blazeenfermagem (44h semanais), oferecendo um saláriojogo de blazeR$ 998 - salário mínimo do ano passado. O conselho regionaljogo de blazePernambuco já reclamou com o municípiojogo de blazeSirinhaém por abrir um concurso,jogo de blaze2017, que previa o saláriojogo de blazeR$ 500 para enfermeiros.

No geral, segundo a pesquisa da Cofen e Fiocruz, quase metade dos profissionais da categoria recebiam entre R$ 1.000 e R$ 3.000.

Número altojogo de blazeprofissionais, mas condições ruinsjogo de blazetrabalho

Durante a pandemia do coronavírus, o Cofen tem registrado dois movimentos diferentes, segundo Neri. Por um lado, há profissionais que têm pedido demissãojogo de blazeum dos empregos com medojogo de blazese contaminar ou levar a contaminação para a família, por faltajogo de blazeequipamentojogo de blazeproteção adequado.

Por outro, por causa da grande demanda gerada nos sistemasjogo de blazesaúde, apenas no mêsjogo de blazemarço, 23 mil profissionais fizeram registro (necessário para poderem trabalhar na profissão) no Cofen, dobrando a média mensal. A categoria tem ociosidadejogo de blazeprofissionais, já que há muitos formados desempregados que não conseguem engatar na carreira porque falta experiência - algo que pode mudar durante a crise do coronavírus.

O relatório "O estado da enfermagem no mundo 2020" da OMS (Organização Mundialjogo de blazeSaúde), lançado nesta semana, apontou um déficitjogo de blaze5,9 milhõesjogo de blazeprofissionaisjogo de blazetodo o mundo. O Brasil, contudo, tem uma proporação acima da média mundial, equivalente ajogo de blazepaíses ricos.

"Infelizmente, nós temos uma faixajogo de blaze10%jogo de blazeprofissionaisjogo de blazeenfermagem desempregados no Brasil. São maisjogo de blaze200 mil profissionais", diz Neri. "Por isso, o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem reservajogo de blazeprofissionais que podem ser contratados agora nesse momentojogo de blazecrise. A maioria dos países não tem."

Isso se deu por causajogo de blazeuma políticajogo de blazeexpansão da formação, principalmente nas mãosjogo de blazeinstituições privadas. Elas formaram 57,4% dos enfermeiros e 72% dos técnicos e auxiliares, segundo a pesquisajogo de blaze2016.

Mas o relatório da OMS também apontou problemas. Na categoria das regulações e condiçõesjogo de blazetrabalho, o Brasil ficou com dois pontosjogo de blazeum índicejogo de blazeum a seis, equivalente ao desempenho da Índia e do Camboja. O indicador avalia questões como segurança no trabalho, horasjogo de blazetrabalho, proteção social, contratos temporários e planojogo de blazecarreira.

"Nesse períodojogo de blazepandemia, a sociedade brasileira está começando a olhar para os profissionaisjogo de blazeenfermagemjogo de blazeforma diferente", diz Neri. "É preciso valorizá-los e melhorar suas condições para que possam trabalhar e viver com dignidade."

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