Favelas serão as grandes vítimas do coronavírus no Brasil, diz líderesportebet brasilParaisópolis:esportebet brasil
Ele é um dos líderes e fundadores do G-10 das Favelas, bloco que reúne empreendedores sociais das principais comunidades do país: Rocinha (RJ), Rio das Pedras (RJ), Heliópolis (SP), Paraisópolis (SP), Cidadeesportebet brasilDeus (AM), Baixadas da Condor (PA), Baixadas da Estrada Nova Jurunas (PA), Casa Amarela (PE), Coroadinho (MA) e Sol Nascente (DF).
"Estou muito preocupado. Tem muita gente ligando para mim, líderesesportebet brasilcomunidades, chorando", diz Rodrigues,esportebet brasilentrevista à BBC News Brasil concedida por telefone.
Ele cita o exemploesportebet brasilsituações gritantes como aesportebet brasilfavelas do Complexo do Alemão, no Rio,esportebet brasilque os moradores denunciam estar há 12 dias sem água, impedidosesportebet brasilhigienizar-se adequadamente contra o novo vírus.
O presidente da união dos moradores diz que, desde a semana passada, cresceu muito o númeroesportebet brasilcasos suspeitosesportebet brasilParaisópolis, bem como relatosesportebet brasilmoradores que continuam trabalhando, circulandoesportebet brasilônibus e metrôs cheios pela capital, ouesportebet brasiltrabalhadores informais que foram dispensadosesportebet brasilsuas atividades, sem renda, e estão desempregados até que a crise do coronavírus passe.
"69% das pessoas que trabalhamesportebet brasilParaisópolis trabalham na áreaesportebet brasilserviços: babá, zelador, porteiro. São as pessoas que mais vão sofrer. Tem muita gente que trabalha com aplicativo, com Uber, e logo vão pararesportebet brasilcircular. O que vai ser dessas pessoas?", questiona.
Para Rodrigues, as medidas do governoesportebet brasilcombate ao coronavírus têm ignorado a realidade das favelas, que pedem socorro, alerta.
"Daqui a pouco vai aparecer um número gigante [de casos confirmadosesportebet brasilcovid-19], não sóesportebet brasilParaisópolis masesportebet brasiloutras favelas do país, e vão fazer da favela uma grande vilã. Só que a favela é a grande vítima", afirma.
"O que pode acontecer é que vão crescer tanto os casos nas favelas que eles vão trancar as favelas, bota o Exército, ninguém sai e ninguém entra. E a gente está gritando socorro, para que alguém nos ajude, mas até o momento estamos sendo ignorados."
Leia os principais trechos da entrevista.
esportebet brasil BBC esportebet brasil N esportebet brasil ews Brasil - Como você viu o assunto coronavírus se desenvolver na favela nos últimos dias?
esportebet brasil Gilson Rodrigues - Assim como no Brasil inteiro, a gente tem ouvido falar na televisão sobre um vírus que está chegando e que a princípio não é para criar pânico, que seria controlado e é uma coisa para a qual o Brasil estaria se preparando.
Então começou a acontecer, mas o que a gente percebeuesportebet brasilParaisópolis? A gente percebeu que, a partiresportebet brasilsexta passada, começou a aumentar o númeroesportebet brasilpessoas nas unidades básicasesportebet brasilsaúdeesportebet brasilParaisópolis, e na AMA [Assistência Médica Ambulatorial, serviço da Prefeitura].
A gente começou a notar um número grandeesportebet brasilpessoas vindo, e as pessoas alegando que esses sintomas, que seriam da gripe, mas até então todo mundo tranquilo, é uma coisa que o governo tem buscado tranquilizar, fazer quarentena. O governo tem anunciado ali as políticas que seriam a política geral para a população.
Mas as unidades básicas começaram a colocar muitas pessoasesportebet brasilquarentena, a partiresportebet brasilsexta-feira começam-se os testes e os resultados só devem sair dali a dez dias, e as pessoas ficam 14 diasesportebet brasilcasa.
É esse momento que a gente está vivendo: dezenasesportebet brasilpessoasesportebet brasilcasa aguardando esse resultado, mas com sintomas e devem ficaresportebet brasilcasa.
esportebet brasil BBC News Brasil - E como está a populaçãoesportebet brasilrelação ao vírus?
esportebet brasil Rodrigues - Na comunidade, no geral, as pessoas ainda não estão conscientes da situação real do vírus. Tivemos um finalesportebet brasilsemana cheioesportebet brasilfestas, cheioesportebet brasilaniversários, cheioesportebet brasilatividades, o que pode agravar ainda mais a situação.
E temos, durante a semana. uma situaçãoesportebet brasilmuitas pessoas relatando casos e indo para as unidades básicasesportebet brasilsaúde e a AMA. Mas o que temos percebido? Que o governo tem tomado medidas para minimizar a crise, mas esses planos que o governo tem colocado são planos que não atingem ou não beneficiam a favela como um todo.
esportebet brasil BBC News Brasil - Que tipoesportebet brasilplano?
esportebet brasil Rodrigues - Por exemplo, fazer quarentena na favela, ou isolamento, é uma coisa praticamente impossível. Como é que você vai isolar uma pessoa que moraesportebet brasiluma casa com um cômodo ou dois e tem dez pessoas na família? É orientado a ficar 14 diasesportebet brasilisolamento. Vai ficaresportebet brasilisolamento onde? Em que condições? Isso não é diferenteesportebet brasiloutras favelas no Brasil.
Daqui a pouco vai aparecer um número gigante, não sóesportebet brasilParaisópolis masesportebet brasiloutras favelas do país, e vão fazer da favela uma grande vilã. Só que a favela é a grande vítima. Só que eles esquecem que quem está dentro das casas das patroas que viajaram para fora do país é o povo da favela.
Quem está trabalhando nas casasesportebet brasilfamília, quem está sendo as babás, quem está cuidando dos filhos são as pessoas da periferia. Quem são os trabalhadores do Morumbi? São as pessoasesportebet brasilParaisópolis.
E agora, no Brasil,esportebet brasilParaisópolis, a gente percebe um grande númeroesportebet brasilpessoas que estão ou trabalhando com seus patrões por conta do vírus, ou que estão sendo dispensadas para ir para casa sem os seus salários, o que é uma demissão.
Ou seja, quando passar a crise, eu te ligoesportebet brasilnovo. E essa pessoa sai sem nenhuma condiçãoesportebet brasilse manter pelos próximos meses. É uma situaçãoesportebet brasilcalamidade.
O que vai acontecer? Essas pessoas e as que já estavam desempregadas, e as crianças que estão sem escola, elas vão passar fome, literalmente. O que o governo vai fazer, provavelmente, é fechar tudo. E se fechar tudo, como é que os desempregados, o pessoal da favela, vão viver, vão comer? É um estadoesportebet brasilcalamidade pública. A situação vai gerar um estrago social tão grande que deve ser a maior criseesportebet brasildesemprego no país.
Masesportebet brasilvezesportebet brasilter um plano específico para as favelas, que é o que a gente quer agora, estão criando um plano para deixar os pobres morrerem. É isso que está acontecendo. Se você não cria um plano para as periferias do país inteiro, é optar por deixar o pobre morrer à própria sorte.
esportebet brasil BBC News Brasil - Que tipoesportebet brasilrecomendação é mais difícil seguir na favela?
esportebet brasil Rodrigues - Como é que você fala para as pessoas que elas têm que se higienizar? Higienizaresportebet brasilque forma? Tem que usar álcool gel. O álcool gel é impossívelesportebet brasilcomprar, não tem dinheiro nem para comer, como é que vão comprar álcool gel?
O que está se desenhando no Brasil, que parece planejado, é deixar os pobres morrerem. E vai acontecer uma situaçãoesportebet brasilguerra civil. Porque se as pessoas começam a passar fome, tudo fechado, sem perspectiva, e sem apoio do governo, o que vai acontecer? As pessoas vão tomar as ruas, vai haver saques.
Isso não é só nas favelas, é no Brasil inteiro. É preciso criar um plano específico para as famílias das favelas. Nós acabamosesportebet brasilfalar sobre o impacto das favelas na economia do Brasil, as favelas movimentaram R$ 120 bilhões. O que vai ser do comércio local? 21% da população que trabalha na comunidade trabalha no comércio local. Ele vai viver do quê? Se não criam alternativas para o empreendedor, o empresário, e o empreendedor local, que está com o nome sujo, que apoio eles vão ter? Na verdade estou sentindo é que estamos sendo completamente ignorados. Em vezesportebet brasilmelhorar as condições, estão piorando.
esportebet brasil BBC News Brasil - Que condições?
esportebet brasil Rodrigues - Vira e mexe falta águaesportebet brasilalgumas regiões aqui, por períodos curtos. No Morro do Alemão faz 12 dias que falta água. Eu estou representando o G-10, o bloco das favelas que estão preparando e dialoga com o Brasil inteiro. A doresportebet brasilParaisópolis é a dor do Alemão.
esportebet brasil BBC News Brasil - O governo anunciou hoje, ainda sem muitos detalhes, um auxílio mensalesportebet brasilR$ 200 para os trabalhadores autônomos. Qualesportebet brasilopinião?
esportebet brasil Rodrigues - Um paiesportebet brasilfamília que precisa sustentaresportebet brasilfamíliaesportebet brasiluma favelaesportebet brasilestadoesportebet brasilcalamidade; precisa se alimentar,esportebet brasilremédio. Com R$ 200 é uma vergonha, é pouco, mas ok, para os autônomos. E os desempregados? Tem 11 milhõesesportebet brasildesempregados no Brasil, todos nas favelas. Como eles vão viver?
esportebet brasil BBC News Brasil - O principal grupoesportebet brasilrisco para o coronavírus são os idosos. Qual a situação dos idosos nas favelas?
esportebet brasil Rodrigues - Eles estão completamente expostos. É onde mais vai se registrar casos, vai ser nas favelas. Porque como é que um idoso vai entraresportebet brasiluma situaçãoesportebet brasilisolamentoesportebet brasiluma casa com dez pessoas e dois cômodos? Esse isolamento é um isolamento para "gringo ver", para rico. O pobre não tem condiçãoesportebet brasilfazer. Vamos ter muitas perdas nas favelas, infelizmente.
Primeiro que as pessoas ainda não estão conscientizadas, não entenderam que a situação é gravíssima. E segundo que também não se pensou uma comunicação específica para esse público.
Essas pessoas que estão no metrô, nos ônibus, amontoadas por aí, elas são as pessoas que estão se contaminando e vindo para a favela, contaminando todo mundo. Não é a pessoa que está indo para o restaurante sentar com cinco metrosesportebet brasildistância entre as mesas. Não é o cara que está usando álcool gel, não é o cara que está fazendo home office.
As grandes dificuldades onde mais vai ter casos e onde mais vai ter mortes são nas periferias do Brasil, por um descaso. Porque estão deixando a população mais carente, mais vulnerável, que mais precisariaesportebet brasilajuda à míngua neste momento. Nem entendeu ainda o está acontecendo.
esportebet brasil BBC News Brasil - Como tem sidoesportebet brasilcomunicação com as outras lideranças das favelas?
esportebet brasil Rodrigues - Temos nos falado bastante por causa do G-10, que são os blocosesportebet brasillíderes empreendedores das favelas. E as favelas estão, deixa eu ver como falar...esportebet brasilcalamidade pública. Se o governo está decretando calamidade pública no Brasil, nas favelas é ainda pior.
Primeiro pela faltaesportebet brasilconhecimento; segundo pela contaminação que está rolando porque as pessoas estão circulando; terceiro porque, a partir da semana que vem as pessoas que estão começando a ficar doentes não vão ter atendimento. Não vão conseguir circular, não vão ter alimento, remédio.
Não estão tendo acesso a esse conjuntoesportebet brasilserviços e informações que a pessoa mais instruída tem. Eu falei há pouco com uma liderança do Alemão e essa liderança chorou. Porque estão literalmente colocando os pobres para morrer.
O que pode acontecer é que vão crescer tanto os casos nas favelas que eles vão trancar as favelas, bota o Exército, ninguém sai e ninguém entra. Hojeesportebet brasildia é uma situação que infelizmente se vive, é assim.
E a gente está gritando socorro, para que alguém nos ajude, mas até o momento estamos sendo ignorados. R$ 200 é pouco, a realidade da favela é outra.
esportebet brasil BBC News Brasil - Como está o climaesportebet brasilParaisópolisesportebet brasilrelação à doença?
esportebet brasil Gilson Rodrigues - As informações demoram mais para chegar e para as pessoas entenderem. Hoje, se você vieresportebet brasilParaisópolis as ruas estão lotadas, mesmo com tantos casos suspeitos. Não está tendo comunicação específica para a favela, mas o coronavírus já chegou lá.
Quantas mortes podem acontecer nas favelas que nem vão aparecer nas estatísticas? Nós, por nossa decisão, decidimos fechar os projetos sociais, a União dos Moradores está com horário reduzido.
Isso devia ser uma ação do governo para preservar a vida das pessoas. Estão preocupados com economia, não estão preocupados com gente. Eu também estou preocupado com a economia, mas precisamos pensar na segurança do cidadão,esportebet brasilcomo estruturar a economia para que as pessoas sofram menos. Uma economia sem gente, sem povo, não serve para nada.
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