'Vai se isolar': diaristas são dispensadas sem pagamentoonabet dusting powdermeio à crise do coronavírus:onabet dusting powder

Pessoa segura produtosonabet dusting powderlimpeza

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Trabalhadoras domésticas no Brasil estão sendo dispensadas sem pagamento por causa do coronavírus

"Não tem muito o que ser feito. Eu sou diarista, não tem como cobrar alguma coisa."

Diante da chegada do coronavírus ao Brasil, muitas faxineiras receberam esta semana a notíciaonabet dusting powderque não terão mais trabalho até que o medo e os riscos do novo vírus diminuam.

Diaristas são trabalhadores autônomos, sem compromisso, portanto não é ilegal demiti-los sem compensação. Já no sistemaonabet dusting powdermensalista, quem é demitido tem direito a verbas indenizatórias.

A BBC News Brasil ouviu relatosonabet dusting powderdiversas trabalhadoras, principalmente da capital paulista,onabet dusting powderque poucos foram os patrões que se dispuseram a continuar pagando as faxineiras durante o períodoonabet dusting powderdistanciamento social.

Os nomes nesta reportagem são fictícios - as trabalhadoras não quiseram se identificar com medoonabet dusting powderrepresálias ou porque, dianteonabet dusting powderqualquer queixa pública, as contratações futuras possam se tornar ainda mais incertas.

Para a grande maioria, isso significaonabet dusting powderuma hora para outra não ter renda para o básico, como aluguel e comida. "Vivíamos bem, porque diarista não ganha tão mal. Agora, vai apertar, não sei como vai ser", diz Carolina, que mora com o marido, jardineiro desempregado há um ano, e a filhaonabet dusting powderseis anos.

Sua renda mensal eraonabet dusting powderR$ 4 mil. "A preocupação maior agora é aluguel, água, luz. Pago R$ 850onabet dusting powderaluguel. Acabeionabet dusting powdercomprar um carro, estou pagando a prestação, R$ 700."

Carteira assinada

A súbita faltaonabet dusting powderrenda diante da pandemia é um trágico desfecho para muitas trabalhadoras (as mulheres são maioria absoluta entre os trabalhadores domésticos) que já amargaram perdaonabet dusting powderdireitos nos últimos anos.

De acordo com dados do Instituto Brasileiroonabet dusting powderGeografia e Estatística (IBGE),onabet dusting powder2018, 6,24 milhõesonabet dusting powderpessoas trabalhavam como domésticas, maior número desde 2012.

Desde 2016, o totalonabet dusting powderdomésticos com carteira caiu 11,2% e, sem carteira, subiu 7,3%. Desse totalonabet dusting powder6,24 milhõesonabet dusting powdertrabalhadores domésticos, 4,42 milhões não têm carteira assinada como é o casoonabet dusting powderCarolina.

A renda desses trabalhadores também vinha caindo: eraonabet dusting powderR$ 879 no último trimestreonabet dusting powder2018, 0,9% menosonabet dusting powderrelação a um ano antes.

Coronavírus: O que você precisa fazer? Lave as mãos, use um lençoonabet dusting powderpapel para tossir, evite tocar no seu rosto

Teresa*, 38 anos, por exemplo, trabalhava há dois meses como mensalistaonabet dusting powderSão Paulo e ia ser registrada com carteira assinada a partir do mês que vem, mas tudo mudou com a chegada do coronavírus.

Ela tinha trocado a vidaonabet dusting powderdiarista por mensalista justamente para ter mais segurança na relação trabalhista.

"Trabalhoonabet dusting powdercasaonabet dusting powderfamília. Me disseram que esse mês eles vão me pagar, mas no mês que vem já não mais. Vou ficar desempregada. Acho que a nossa área vai ser afetada demais. Muitos vamos ficar desempregados."

Ela mora sozinha com a filhaonabet dusting powderseis anos na zona sulonabet dusting powderSão Paulo, e diz que, agora, vai dependeronabet dusting powderconseguir bicos para conseguir sustentar as duas. "Me preocupa tudo: contasonabet dusting powderágua, luz, internet, filha para criar, aluguel, tudo sozinha."

A filhaonabet dusting powderteve as aulas suspensas por tempo indeterminado e estáonabet dusting powdercasa. Mesmo assim, a faxineira diz que pretende continuar a pagar os R$ 100 mensais do transporte escolar da menina. "Temos que pagar, é um transporte pequeno. É igual quando tem férias na escola e você continua pagando."

Teresa diz que ouviuonabet dusting powdercolegas que também estãoonabet dusting powderisolamento, mas continuaram a receber as diárias dos contratantes. "Tinham que fazer isso pra todas. Porque a gente não tem culpa. Com o mundo parado, não arrumamos nada."

Maria*,onabet dusting powder46 anos, também não é registrada. Ela trabalhaonabet dusting powdercinco casas - pega ônibus e metrô todos os dias do Ipiranga para Moema, na zona sul, e ganha um totalonabet dusting powderR$ 2.800 por mês.

Na segunda-feira, ansiosa com a incerteza causada pela pandemia do novo coronavírus, ligou do trabalho para o filhoonabet dusting powder22 anos chorando.

"Falei: 'a mãe está preocupada pelo fatoonabet dusting powdertudo isso estar acontecendo e o que pode acontecer se eu precisar ficaronabet dusting powdercasa'. Entreionabet dusting powderpânico", conta ela, que teve tuberculose pleural no começo do ano.

Maria diz que comentou com um dos seus empregadores sobre o vírus e ele deu risadaonabet dusting powdersua preocupação. "Ele me disse: 'Não é para ficar preocupada, você não está limpando a casaonabet dusting powderpessoas que viajaram'", relata. "Mas eu sei que não é assim. O vírus espalha. Estão falando para ficarmos isolados."

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"No meu caso, eu não posso, porque se eu não for trabalhar, não ganho. Não vou ter como pagar minhas contas. Sou mãe solteira, meu filho tem 22 anos e está sem trabalhar. Vai quebrar minhas pernas."

Só umaonabet dusting powdersuas empregadoras a dispensou dizendo que pagaria a diária. Já outra mandou mensagem perguntando se Maria viria no dia seguinte. "Eu queria ouvir: 'Não venha, não, fiqueonabet dusting powdercasa que eu te pago. Esperei isso, mas não foi o que eu ouvi'."

'Não vou e não pagam'

Nair*, 30 anos, moraonabet dusting powderItaquaquecetuba, na região metropolitanaonabet dusting powderSão Paulo, mas limpa casas na zona oeste da capital quatro vezes por semana. Até quinta-feira, ela ainda não havia limpado nenhuma, nem recebido nada.

"Essa semana mesmo eu não fui nenhum dia. Elas falaram para eu não ir por causa do negócio do coronavírus. Por enquanto não fuionabet dusting powderduas. Não sei se aonabet dusting powderamanhã vai dispensar ainda. Não vou e não pagam, não. Essa semana, provavelmente, é isso aí", conta, desanimada. Ela veio da Bahia para São Paulo há 14 anos para trabalhar, estudou até a sétima série e criou até agora a filhaonabet dusting powder6 anos com o dinheiro das faxinas.

A diária varia entre R$ 165 e R$ 170, e é única renda da famíliaonabet dusting powderNair, que mora com o filho e o marido, pedreiro, que também recebe por dia e estáonabet dusting powdercasa há uma semana, com os serviços parados.

"Estou esperando para ver o que vai acontecer, para ver se eles me chamam", diz ela à BBC News Brasil, por telefone. "Estava esperando que essa semana eu ia fazer mercado, ia fazer açougue. Mas se não entra (dinheiro), fica difícil."

Não é que a vida fosse fácil antes do novo vírus, a começar pelas longas viagens para o trabalho. "Eu pego ônibus, depois pego trem, pego metrô e às vezes tenho que pegar mais um ônibus. São maisonabet dusting powderduas horas para ir, e duas horas para voltar. Se tiver qualquer coisa que atrapalhe leva três horas, porque o ônibus é muito ruim."

"Estou esperando para ver o que vai acontecer, para ver se eles me chamam."

O medo do vírus está mais próximoonabet dusting powderuma das entrevistadas pela BBC News Brasil. Jaqueline, 51, chegou ao trabalhoonabet dusting powderSão Caetano, na Grande São Paulo, às 8h desta segunda.

Às 9h,onabet dusting powderempregadora lhe dispensou, dizendo que o marido havia tido febre durante a madrugada. No dia anterior, Jaqueline tinha trabalhado na casa. Ela conta que entraonabet dusting powdercontato, sem proteção alguma, com superfícies que poderiam estar contaminadas.

"Limpo o banheiro, a maçaneta do banheiro, arrumo a cama deles… Até a escovaonabet dusting powderdente que ele deixaonabet dusting powderlado eu pego e guardo".

Mario Avelino

Crédito, Divulgacao

Legenda da foto, Presidenteonabet dusting powderInstituto Doméstica Legal defende que empregadores tenham 'bom senso' e diz que informais são invisíveis para o governo federal

"Na volta, entreionabet dusting powderdesespero, comecei a chorar. Tenho uma filha com diabetes e meu marido tem 62 anos. E se eu transmiti para eles, o que vai ser?"

Além disso, se tiver que ficaronabet dusting powdercasa porque o empregador foi contaminado, ainda não sabe se vai receber por isso.

"Se ele não estiver com o vírus, vou voltar a trabalhar. Mas se ele estiver com o vírus, não sei o que vai acontecer. Trabalho só na casa deles."

Seu marido, diz ela, trabalha consertando aquecedores e já está ficando bastanteonabet dusting powdercasa. "Uma hora o serviço vai acabar."

"Eu fico preocupada com a doença e com a situação que vai vir depois. Do trabalho, da gente não ter nada, dinheiro para comprar nada. A gente nunca passou por uma situação dessa. Vai ser muito difícil."

'Continue pagando'

Nas redes sociais,onabet dusting powderposts no Twitter e no Instagram, usuários têm compartilhado o pedido contrário: dispenseonabet dusting powderfaxineira ou empregada doméstica, mas continue pagando.

O presidente ONG Instituto Doméstica Legal, Mario Avelino, diz que os empregadores não são obrigados a fazê-lo, mas podem ter "bom senso".

No caso das mensalistas, sejam registradas ou não, o empregador pode tomar diferentes decisões que não prejudiquem o salário das empregadas ou que minimizeonabet dusting powderexposição: licença remunerada, antecipaçãoonabet dusting powderférias, afastamento com compensação posterior, reduçãoonabet dusting powderhorárioonabet dusting powdertrabalho ou pagamentoonabet dusting powdertransporte particular, por exemplo.

"O empregador está com a faca e o queijo na mão e tem várias alternativas, só não pode deixar o trabalhador desamparado sem remuneração."

Paulo Guedes fala no microfone, com slideonabet dusting powderapresentação atrás exibindo as palavras: 'Combate à pandemia'

Crédito, Andre Coelho/Getty Images

Legenda da foto, Na segunda-feira (16), o ministro Paulo Guedes anunciou medidas destinadas a injetar R$ 147 bilhões na economia

O caso das diaristas é diferente porque são trabalhadoras autônomas. "Você não pode obrigar o contratante legalmente, porque é uma profissional sem vínculo. Mas nada impede que haja uma conversa entre as partes, é uma relaçãoonabet dusting powderum para um", diz ele, que também defende que os empregadores dispensem e paguem as diaristas.

"A maioria tem uma ou duas diárias por semana e olhe lá. Vão sobreviveronabet dusting powderque forma?"

Esses trabalhadores não estão protegidos pelo governo, diz ele. O pacote emergencialonabet dusting powderR$ 147 milhões por conta do novo coronavírus anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, "protege quem já está protegido, quem já está na formalidade", excluindo os cercaonabet dusting powder40 milhõesonabet dusting powdertrabalhadores na informalidade, como as 2,5 milhõesonabet dusting powderdiaristas brasileiras.

O pacote será uma injeçãoonabet dusting powderrecursos principalmente por meio da redução temporária ou adiamentoonabet dusting powderimpostos e da antecipaçãoonabet dusting powderpagamentos que seriam feitos ao longo do ano a idosos e trabalhadoresonabet dusting powdermenor renda.

Para Avelino, uma solução possível seria que essas diaristas se cadastrassem como MEIs (microempreendedoras individuais), contribuindo para o INSS e garantindo proteção da Previdência Social eonabet dusting powdercasosonabet dusting powderdoença.

Há carênciaonabet dusting powderno mínimo 12 mesesonabet dusting powdercontribuição para ter auxílio-doença. Avelino defende que o governo derrube a carência caso o contribuinte seja infectado com coronavírus.

No entanto, com a pandemia e a paralisaçãoonabet dusting powderdiversos serviços, não é garantido que esses pedidos e cadastros sejam processados com a velocidade necessária para essas pessoas.

O mesmo vale para o Bolsa Família, que deve ser reforçado pelo pacote do governo federal.

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