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'Vi corpos trazidosfree bet sem depositouma caçamba': a trágica história dos indígenas hostilizados por deputadofree bet sem depositoRoraima:free bet sem deposito
No ato, transmitido pela internet, Alves diz que vai livrar seu Estado da corrente, que restringe o acesso entre as cidadesfree bet sem depositoManaus (AM) e Boa Vista (RR).
"Se dependerfree bet sem depositomim essa corrente nunca mais vai deixar meu Estado isolado", afirma no vídeo. São os indígenas que fazem a manutenção diária do bloqueio, necessário para evitar acidentes com animais e pessoas dentro da reserva.
As hostilidades entre poder público e a etnia, entretanto, datamfree bet sem depositomuito antes. Segundo o Comitê Estadual da Verdade do Amazonas, a região contém centenasfree bet sem depositovítimas da ditadura enterradas clandestinamente.
Os Waimiri-Atroari quase desapareceram durante a abertura da rodovia BR-174:free bet sem depositopouco maisfree bet sem deposito3.000 indivíduos nos anos 1960, segundo dados da Funai, a população caiu drasticamente para 332 indígenasfree bet sem deposito1982,free bet sem depositoacordo com Stephen Baines, que percorreu todas as aldeias no início da década.
Hoje, são 2.009, segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA).
Na décadafree bet sem deposito1970, o posto do Jundiá,free bet sem depositoRorainópolis, era partefree bet sem depositouma região conhecida como "Terraplanagem" — graças à técnica usada ali na construção da BR-174.
Manoel Paulino foi chefefree bet sem depositocampo da Funai durante a abertura do trecho: suas memórias revelam o que a BR-174 esconde no local.
"Eu vi corpos dos índios trazidosfree bet sem depositouma caçamba e serem jogados no buraco da terraplanagem [em Jundiá, Rorainópolis]. Vi cinco caçambas com índios. Eu vim embora porque adoeci e pedi para ir embora", disse Paulino ao Comitê Estadual da Verdade do Amazonas,free bet sem deposito2012.
O comitê teve acesso a relatórios da Funai que reforçam a hipótese. Só entre 1972 e 1975, na primeira fase das obras, pelo menos 10 aldeias Waimiri-Atroari teriam desaparecido entre Santo Antôniofree bet sem depositoAbonari e as margens do rio Alalaú.
Tanto o Exército quanto a Polícia Federal não responderam à BBC News Brasil sobre o enviofree bet sem depositohomens à região. O deputado estadual Jeferson Alves não respondeu às solicitações da reportagem até a publicação do texto.
Em nota, a Funai afirmou que, "por meio da Frentefree bet sem depositoProteção Etno Ambiental Waimiri Atroari, atua permanentemente no local prestando apoio ao indígenas da região,free bet sem depositoconstante contato com a Polícia Rodoviária Federal e com a Polícia Federal".
Da 'pacificação' às incursões armadas
A relação dos Kinja — modo como os Waimiri-Atroari se denominam — com não indígenas nunca foi das melhores. Desde o século 19, eles batalharam com invasores interessados nas riquezasfree bet sem depositosuas terras.
A reserva tem maisfree bet sem deposito2,5 mil hectares oficialmente demarcados, mais que o dobro do municípiofree bet sem depositoSão Paulo, com castanhais, espéciesfree bet sem depositomadeiras nobres e, acimafree bet sem depositotudo, muitos minérios estratégicos como cassiterita, nióbio e pedras preciosas.
Por resistirem, os Kinja foram tachadosfree bet sem depositoagressivos e hostis. A má fama serviu para legitimar abusos, como revela o indigenista José Apoena Soaresfree bet sem depositoMeireles. Ele foi um dos que conduziu os trabalhos da Funai durante a construção da BR-174.
Apoena escreveu uma carta à presidência da autarquiafree bet sem deposito1975, relatando dificuldades. Nela, diz: "índios bandoleiros, maus, perversos, assim são hoje vistos os Waimiri-Atroari. Mas a verdade é que nós os tornamos assim aos olhos da opinião pública para justificarmos uma sériefree bet sem depositoerros".
Era um momentofree bet sem depositoforte tensão entre os Kinja e os militares.
O episódio mais grave ocorreufree bet sem depositonovembrofree bet sem deposito1974, quando o sertanista Gilberto Figueiredo e outros três servidores federais morreram no posto avançadofree bet sem depositoSanto Antôniofree bet sem depositoAbonari.
A partir dali, os militares subiram o tom: acionado, o 1º Batalhãofree bet sem depositoInfantariafree bet sem depositoSelva (BIS) foi encarregadofree bet sem depositoabrir caminho a qualquer custo.
Hoje professor na Universidadefree bet sem depositoBrasília (UnB), o antropólogo Stephen Baines foi um dos que testemunharam os conflitos. Ele foi à regiãofree bet sem deposito1975 seguindo a trilha do rio Alalaú, interessado no que acontecia durante a abertura da rodovia.
À BBC News Brasil, o professor lembra que havia uma políticafree bet sem deposito"portas fechadas"free bet sem depositorelação a civis, afastando-os dos pontos por onde o 1º BIS passava.
"Era muito difícil conseguir autorização para acompanhar [os Waimiri-Atroari]. Chefes da Funai e dos batalhões me criaram muitos problemas, tive atéfree bet sem depositosair do Brasil, e só voltei à regiãofree bet sem deposito1982, quando os Waimiri-Atroari haviam quase desaparecido", afirma Baines.
À época, o 6º Batalhãofree bet sem depositoEngenhariafree bet sem depositoCombate (BEC) e outros trabalhadores aguardavam enquanto o 1º BIS abria caminho.
Raimundo Pereira da Silva foi um dos que trabalhou na área,free bet sem deposito1971 a 1977. Ao Comitê Estadual da Verdade do Amazonas, relatou: "Um dia, vi passando 43 carros do [1º] BIS, cheiofree bet sem depositosoldados, jipes, carros camuflados. Lembro que eram 43 porque contei. Passaram dois aviões do BIS".
"Eu fiquei impressionado porque, antes do Exército entrar, a gente viu muito índio. Depois que [o BIS] entrou, nós não vimos mais índios", disse Silva.
O Comando Militar da Amazônia, responsável pelos batalhões que atuaram ali durante a abertura da rodovia, também não se posicionou sobre os possíveis crimes cometidos nos anos 1970.
Bombardeios
O depoimentofree bet sem depositoViana Womé Atroari, um dos sobreviventes da repressão, narra também bombardeios feitos pelo 1º BIS na região.
"Foi assim, tipo bomba, lá na aldeia. O índio que estava na aldeia não escapou ninguém. Ele veio no avião efree bet sem depositorepente esquentou tudinho, aí morreu muita gente", disse Viana no documentário AmazôniAdentro, exibido pela TV Brasil.
Os indigenistas Dorothy e Egydio Schwade, logo no início dos anos 1980, também ouviram relatos parecidos. O casal foi pioneiro na alfabetização dos Waimiri-Atroari, utilizando métodos inspiradosfree bet sem depositoPaulo Freire, por meio dos quais conheceram detalhes dos bombardeios.
"Tão logo tiveram confiançafree bet sem depositoaula, as perguntas se sucediam: 'Por que kamña (civilizado) matou Kiña (Kinja, os Waimiri-Atroari)?', 'O que é que kamña jogou do avião e matou Kiña?'", disse Egydio ao Comitê Estadual da Verdade do Amazonas.
À BBC News Brasil, o indigenista conta que os militares e a Funai dificultavam o acesso ao território. "Assim que soubemos dos massacres, documentamos tudo que pudemos, mas nossa presença deixoufree bet sem depositoser bem vinda", afirma Egydio.
Ao divulgarem suas descobertas, os dois foram expulsos da reserva pela Funai,free bet sem depositodezembrofree bet sem deposito1986.
Os relatos ao longo dos anos levantaram suspeitas, nunca comprovadas, da utilização da arma química napalm (um conjuntofree bet sem depositolíquidos inflamáveis, conhecido após seu uso durante a Guerra do Vietnã) contra os indígenas.
Décadas depois, a jornalista Memélia Moreira revelou mais detalhes. Em depoimento à Comissão Estadual da Verdadefree bet sem depositoSão Paulo, narroufree bet sem depositoviagem pelos igarapés amazônicos até o postofree bet sem depositoSanto Antônio do Abonari, nos anos 1970.
"Eu vi que tinha uma coisa não natural, boiando... não era bem um tubo, mas parecia que erafree bet sem depositonapalm. E eu vi a marca, eu conhecia a marcafree bet sem depositoum dos fabricantesfree bet sem depositonapalm, era Tordon", afirmou a jornalista.
"Peguei e botei na minha mochila e vim-me embora, não troquei uma palavra sobre, porquefree bet sem deposito1974 a gente já sabia que eles [militares] tinham usado napalm no Vale do Ribeira, na Guerrilha do Araguaia, e nos Nambikwaras", disse Memélia à Comissão da Verdade paulista.
Pela gravidade das denúncias, o Ministério Público Federal intercedeu. O MPF no Amazonas entrou com uma ação civil pública contra o Estado brasileiro pelos crimes contra os Waimiri-Atroari. Em 1ª instância, a Justiça Federal reconheceu,free bet sem depositodecisão liminar, os crimes contra os indígenas.
A decisão ainda determinou que a União enviasse cópiasfree bet sem depositoarquivos do 6º Batalhãofree bet sem depositoEngenhariafree bet sem depositoConstrução e do 1º BIS "que digam respeito aos fatos discutidos no processo, relativos ao períodofree bet sem deposito1967 a 1977".
O Tribunal Regional Federal da 1ª Região derrubou esta primeira decisão e mandou o casofree bet sem depositovolta à 1ª instância. O processo estáfree bet sem depositoandamento na 3ª Vara Federal do Amazonas, com a convocaçãofree bet sem depositotestemunhas, coletafree bet sem depositoprovas e oitivas com os indígenas, sem nova sentença pela Justiça.
Procurada pela BBC News Brasil, a Funai disse que a Advocacia-Geral da União (AGU) é quem responde ao caso. A AGU, porfree bet sem depositovez, disse que a União e a Funai ainda não foram intimadas no processo.
A espera por um desfecho se soma ao recente casofree bet sem depositoagressão contra a etnia, pelo deputado Jeferson Alves. A Justiça Federal determinou o enviofree bet sem depositoreforço do Exército e da Polícia Federal às terras Waimiri-Atroari, para proteção dos indígenas.
Após o fechamento da reportagem, o deputado Jeferson Alves enviou nota à BBC News Brasil,free bet sem depositoque afirma que a BR-174 "é responsável pelo tráfegofree bet sem depositopessoas e logístico entre o Brasil e a Venezuelafree bet sem depositoforma direta, bem como, por escoamento, entre o Brasil e a Guiana Inglesa e demais países do norte da América do Sul".
"Tendofree bet sem depositovista à singularidade da malha rodoviáriafree bet sem depositocomento, toda e qualquer turbação ou soluçãofree bet sem depositocontinuidade no seu trecho, por obra das intempéries climáticas ou através da ação humana, é fatorfree bet sem depositoefetivo prejuízo para os cidadãos, acarretados pela demora na já penosa viagem."
O deputado afirmou ainda quefree bet sem depositonenhum momento ele ou qualquer membrofree bet sem depositosua equipe, agrediu ou usoufree bet sem depositoviolência contra os Waimiri-Atroari.
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