Quanto mais cedo, melhor? O debate sobre a idade certa, os métodos e a avaliação na alfabetizaçãoapostas virtuais on linecrianças:apostas virtuais on line

Crianças escrevendo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A alfabetização é um dos temas que mais mobilizam educadores e geram discussões no âmbitoapostas virtuais on linepolíticas pública

O problema, aparentemente, persiste até a vida adulta: os analfabetos funcionais (pessoas com limitação para ler, interpretar textos, identificar ironia e fazer operações matemáticasapostas virtuais on linesituações da vida cotidiana) eram praticamente 30% da população entre 15 e 64 anos, segundo o Indicadorapostas virtuais on lineAnalfabetismo Funcionalapostas virtuais on line2018.

Esses debates ganharam um novo capítulo com o lançamento,apostas virtuais on linefevereiro, pelo Ministério da Educação (MEC), do programa Tempoapostas virtuais on lineAprender, que prevê açõesapostas virtuais on lineincentivo à alfabetização para as redes estaduais e municipais que aderirem. O MEC afirma que 3.231 municípios e Estados aderiram ao programa.

Em meio à pandemia do novo coronavírus, segundo a assessoriaapostas virtuais on lineimprensa do MEC, a plataforma gratuita onlineapostas virtuais on linepráticasapostas virtuais on linealfabetização do Tempoapostas virtuais on lineAprender voltada para pais e professores contabilizava 1 milhãoapostas virtuais on lineacessos até 30apostas virtuais on lineabril.

Abraham Weintraub no lançamento do projeto Tempoapostas virtuais on lineAprender

Crédito, Walterson Rosa/MEC

Legenda da foto, Abraham Weintraub no lançamento do projeto Tempoapostas virtuais on lineAprender, que prevê avaliaçãoapostas virtuais on linefluênciaapostas virtuais on lineleitura nas crianças

A proposta do programaapostas virtuais on linegeral, diz o MEC, é fazer um trabalhoapostas virtuais on line"aperfeiçoamento, o apoio e a valorização a professores e gestores escolares do último ano da pré-escola e do 1º e 2º ano do ensino fundamental (períodoapostas virtuais on lineque a alfabetização se dá na escola)", para melhorar os índicesapostas virtuais on linealfabetização do país.

No entanto, o programa é questionado por parte dos especialistasapostas virtuais on lineeducação particularmente pela intençãoapostas virtuais on lineavaliar a fluênciaapostas virtuais on lineleitura oral das crianças do 2º ano do ensino fundamental, por volta dos 7 ou 8 anosapostas virtuais on lineidade.

Na prática,apostas virtuais on linevezapostas virtuais on lineapenas aplicar uma prova escrita às crianças, a avaliação proposta pelo MEC contratará um aplicativo para gravar a leitura das crianças e medirapostas virtuais on linefluência, informa a assessoria do ministério.

'Ler é mais do que codificar o que está no papel'

"Acho muito ruim medir a fluênciaapostas virtuais on lineleitura — o erro disso é achar que a leitura é apenas decodificar o que está escrito no papel", opina Silvia Colello à BBC News Brasil.

"O que queremos é uma leitura reflexiva,apostas virtuais on lineler e se relacionar aos personagens,apostas virtuais on lineconsolidar o que está no texto. Ler um número Xapostas virtuais on linepalavrasapostas virtuais on lineum período não mede seu processamento mental do que foi lido. Às vezes as crianças leem e, quando você pergunta o que elas entenderam do texto, elas respondem: 'não sei, eu só estava lendo'."

O risco, opina ela, é que esse tipoapostas virtuais on linemensuração crie nas crianças resistência ou inibição à leitura, intenção oposta à desejada. "Porque tão importante quanto saber ler é gostarapostas virtuais on lineler e escrever."

Segundo Francisca Pereira Maciel, diretora do Centroapostas virtuais on lineAlfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da UFMG, a avaliação da fluênciaapostas virtuais on lineleitura tem gerado preocupação entre parte dos gestoresapostas virtuais on lineeducação nos municípios. "Acho um atraso se preocupar com a fluência", opina. "Já temos experiências passadas disso, que foram traumáticas, da épocaapostas virtuais on lineque um supervisor escolar fazia testesapostas virtuais on lineleitura oral com os alunos. Isso mede simplesmente a oralização, mas mais importante do que quantas palavras você lê por minuto é compreender o texto e fazer uso dele."

Criança lendo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Para alguns educadores, é importante avaliar fluênciaapostas virtuais on lineleitura; outros acham que isso não medeapostas virtuais on linefato a compreensão do texto

Já João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, acha que, embora ainda não estejam claras quais serão as referências a serem usadas pelo MEC, "avaliar no fim do segundo ano dá uma ideiaapostas virtuais on linese a escola estáapostas virtuais on linefato alfabetizando".

Ele acha infundadas as críticas relacionadas à fluência. "Ler não é só isso (fluência), mas isso temapostas virtuais on lineser feito. A fluênciaapostas virtuais on lineleitura é uma habilidade importante, e há muita literatura (acadêmica) provando isso, com evidências sólidasapostas virtuais on linemuitos países desenvolvidos. A compreensão do texto é outra dimensão, e a fluência no texto é condição necessária para ela", diz ele.

Segundo o MEC, o intuito do exame é "oferecer às redes estaduais, municipais e distrital um indicador objetivoapostas virtuais on linedesempenhoapostas virtuais on linealfabetização eapostas virtuais on linefácil verificação da aprendizagem da leitura".

Em Sobral, cidade cearense que é considerada um dos principais casosapostas virtuais on linesucesso do Brasilapostas virtuais on linealfabetização e ensino fundamental, já é feito um exame oral da leitura das crianças do 1º e 2º anos do ensino fundamental, e as gravações são ouvidas por profissionais para avaliar a fluência dos alunos.

Mas, durante o teste, o examinador também faz perguntas às crianças a respeito do texto lido e seus personagens, para avaliar se elasapostas virtuais on linefato compreenderam o que leram, explica à BBC News Brasil Herbert Lima, secretárioapostas virtuais on lineEducaçãoapostas virtuais on lineSobral. Além disso, a cidade realiza testes escritos semestrais,apostas virtuais on lineportuguês e matemática, para todos os alunosapostas virtuais on linetodos os anos do ensino fundamental.

A questão da idade

Para além das discussões sobre avaliação, existe uma insegurança, entre parte dos pais e educadores, a respeito da expectativaapostas virtuais on linequando uma criança brasileira deve estar alfabetizada, explica Maria Alice Junqueira, coordenadoraapostas virtuais on lineprojetosapostas virtuais on linealfabetização do Cenpec (Centroapostas virtuais on lineEstudos e Pesquisasapostas virtuais on lineEducação, Cultura e Ação Comunitária). Isso porque diferentes documentos trazem diferentes diretrizes.

O Plano Nacionalapostas virtuais on lineEducação (PNE, aprovadoapostas virtuais on lineleiapostas virtuais on line2014 após três anosapostas virtuais on linedebate no Congresso) tem como meta "alfabetizar todas as crianças, no máximo até o 3º ano do fundamental, até 2024".

E a Política Nacionalapostas virtuais on lineAlfabetização, criada pelo governo Jair Bolsonaro, menciona a meta do PNE, mas cita também a "priorização da alfabetização no primeiro ano do ensino fundamental".

Enquanto isso, o projeto Tempoapostas virtuais on lineAprender prevê a avaliação para medir os resultados da alfabetização na 2ª série.

Criança escrevendo

Crédito, André Nery/MEC

Legenda da foto, Dados mais recentes,apostas virtuais on line2016, mostravam que apenas 45,3% das crianças do terceiro ano do ensino fundamental tinham aprendizado adequadoapostas virtuais on lineleitura e 66,1%apostas virtuais on lineescrita

"É possível alfabetizar no segundo ano? Sim,apostas virtuais on linetese. Boas escolas alfabetizam nessa idade. Masapostas virtuais on lineque realidade do Brasil estamos falando? Temos que lembrar que ainda não conseguimos alfabetizar direito nem no terceiro ano", diz Junqueira, citando os dadosapostas virtuais on line2016, da Avaliação Nacionalapostas virtuais on lineAlfabetização.

"Temos 1 milhãoapostas virtuais on linecrianças que não alcançaram o nível suficienteapostas virtuais on lineleitura. Ainda não conseguimos chegar nem na metaapostas virtuais on linealfabetizar no terceiro ano, que dirá no segundo ou no primeiro. Isso pode gerar uma frustração imensa."

E quanto à angústia comumapostas virtuais on linepais, se existe uma idade certa para seu filho estar alfabetizado? É ruim se ele demorar mais ou menos para se alfabetizar?

Para Araujo e Oliveira, do Instituto Alfa e Beto, um ano é "mais do que suficiente para alfabetizar uma criança". Ele opina que, ao final do primeiro ano do fundamental, se a criança não tiver uma noção "razoávelapostas virtuais on lineortografia e fluência, os pais devem cobrar a escola".

Já as demais estudiosasapostas virtuais on linealfabetização consultadas pela BBC News Brasil opinam que não existe uma idade única tida como ideal — e que a alfabetização deve ser vista como um processoapostas virtuais on lineerros e acertos, com estratégias que podem começar na educação infantil e que devem se estender até os 8 anosapostas virtuais on lineidade (3º ano do fundamental),apostas virtuais on lineque as crianças podem ter ritmos distintos entre si.

Formalmente, o processoapostas virtuais on linealfabetização começa na 1ª série do fundamental, por volta dos 6 anos. Na educação infantil, para criançasapostas virtuais on line2 a 5 anos, os especialistas recomendam expor as crianças a situações que envolvam o letramento: professores lendo diariamente livros diferentes com as crianças, mostrando às crianças com qual letra seus nomes começam (e perguntando, por exemplo, "e que outras palavras será que começam com essa mesma letra?") ou aproveitando passeiosapostas virtuais on lineclasse para observar placas ou avisos.

"São formasapostas virtuais on linedar uso social à leitura e à escrita", afirma Maciel, do Ceale.

Além disso, "a leitura mediada (por um adulto), com livrosapostas virtuais on linebons autores e bons ilustradores, também é uma imersão nas práticas letradas", diz Junqueira, do Cenpec. "E é importante que esse adulto converse com a criança sobre o livro, estimulando-a a entender o enredo, a responder sobre os personagens e a conhecer diferentes tiposapostas virtuais on linetexto (poesia, prosa etc)."

O perigo, porém, é forçar esse processo cedo demais na educação infantil, afirmam alguns. "Tem acontecido muito na educação públicaapostas virtuais on linese antecipar a prática (de alfabetização), algo que massacra as crianças", opina Maria Alice Junqueira.

Mãe e filha lendo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, No contato com os livros e as letras, as crianças vão desenvolvendo interesse pela leitura

De volta a Sobral (CE), a cidade inicia práticasapostas virtuais on linealfabetização no último ano da educação infantil, por meioapostas virtuais on linebrincadeiras e atividadesapostas virtuais on lineidentificaçãoapostas virtuais on lineletras e sílabas, explica o secretário Herbert Lima. "Até somos criticados por alguns teóricos que acreditam que estamos antecipando (o processo), mas na rede privada várias crianças já leem e escrevem algumas palavras por volta dos cinco anos, então achamos importante (desenvolver essas práticas)."

E os pais?

Em casa, principalmente no atual momentoapostas virtuais on lineconfinamento, ler juntos à noite e conversar sobre o que foi lido é uma formaapostas virtuais on linecriar crianças interessadas na leitura, dizem os especialistas.

Jogos e brinquedos com letras também servem para despertar a curiosidade das crianças mesmo antesapostas virtuais on lineelas aprenderem a ler e a escrever, já que permitem que as crianças associem às letras a seus próprios nomes ou aosapostas virtuais on linepessoas próximas.

"As crianças hoje já nascemapostas virtuais on linemeios letradas — a leituraapostas virtuais on linehistórias, a ida ao mercado ou a receitaapostas virtuais on linebolo já são vivências fundamentais", diz Silvia Colello. "Meus filhos aprenderam o alfabeto com ímãsapostas virtuais on linegeladeira com letras, com os quais eles brincavam enquanto eu estava na cozinha. Sem ser nada forçado. Em larga escala, se todas as crianças tiverem essas experiênciasapostas virtuais on lineleitura e escrita, elas verão sentido (na alfabetização)."

E quanto a sinaisapostas virtuais on linealerta a quais pais devem ficar atentos na alfabetização?

Para Maria Alice Junqueira, do Cenpec, é bom prestar atenção se as crianças até os 6 ou 7 anos não estão interessadas nas letras ou na forma como os nomes são escritos, por exemplo.

"Ela presta atenção nas histórias lidas, nas placas na rua? Se não estiver, é bom começar a trazer essas práticas e convidá-las a discutir livros ou a escrever juntos uma mensagem para um parente no WhatsApp, por exemplo."

Dito isso, alguns especialistas afirmam que erros devem ser visto com naturalidade.

"Do século passado para cá, mudou muito o referencial teórico e o que sabemos sobre alfabetização", afirma Silvia Colello. "As novas práticas estimulam o aluno a se arriscar na escrita, mesmo que cometa erros. E se o professor corrigir tudo, acaba inibindo o aluno nesse processo. (Mas) os pais ficam angustiados ao verem seus filhos serem alfabetizadosapostas virtuais on lineum jeito diferente do que eles mesmo foram."

Sendo assim, diz ela, é aceitável que um texto rudimentarapostas virtuais on linealunos no início da alfabetização volte para a casa sem ter tido seus erros ortográficos corrigidos pelo professor. A ideia, diz ela, é não tornar o processo opressivo para os alunos,apostas virtuais on linemodo a não desestimulá-los da leitura e da escrita.

"No Brasil, até pouco tempo atrás, aprender a ler e escrever era conseguir escrever o próprio nome. Mas vimos que só o domínio do sistema não dá conta. Acho mais importante que ela se arrisque a escrever uma cartinha para o papai noel, mesmo sem saber ainda escrever direito", prossegue Colello.

Lousa e giz

Crédito, Marcos Santos/USP Imagens

Legenda da foto, Discussão sobre estratégiasapostas virtuais on linealfabetização ganhou corpo com ênfase do MEC no método fônico

"Já vi crianças com a letra maravilhosa, mas que não sabiam direito o que estavam copiando na lousa. É por isso que temos um analfabetismo funcional tão grande: são pessoas que passaram pela escola, mas não se tornaram usuárias da língua escrita."

A disputa dos métodos

E quanto aos métodosapostas virtuais on linealfabetização? Essa é outra discussão que ganhou corpo com a atual gestão do MEC, ante defesas do método fônico, centrado na relação entre as letras e os sons da fala (em outras palavras, da relação entre grafemas — os símbolos gráficos que usamos na escrita — e os fonemas, que são os sons produzidos na fala desses símbolos).

A Política Nacionalapostas virtuais on lineAlfabetização do governo cita a consciência fonêmica como um dos seis componentes essenciais à alfabetização que serão fomentados ao longo da execução do plano.

O Instituto Alfa e Beto também utiliza esse métodoapostas virtuais on lineseus projetos. "Geralmente, eles (métodos fônicos) beneficiam todos os tiposapostas virtuais on linealunos, mas são particularmente mais eficazes com alunos com dificuldadesapostas virtuais on lineaprendizagemapostas virtuais on lineleitura e escrita", explica o site da organização. "Cada vez mais os métodos fônicos mostramapostas virtuais on lineeficácia na alfabetização e ganham destaque com o respaldo da ciência."

Mas a ênfase do MEC nesse modelo tem levantado críticas.

Para Silvia Colello, ao focar no entendimento dos fonemas, "o método fônico é um jeito mais rápidoapostas virtuais on linemostrar resultados e reduzir o analfabetismo, mas gera um uso mecânico da língua, que não é o que queremos".

Francisca Maciel acredita que os atrasos brasileiros na alfabetização vão além da metodologia usadaapostas virtuais on linesala. Para ela, é preciso equacionar outros problemas que dificultam o processoapostas virtuais on lineaprendizagem dos alunos nos primeiros anos do ciclo fundamental: a rotatividadeapostas virtuais on lineprofessores, a descontinuidadeapostas virtuais on lineprojetos nas redes municipais, as deficiências na formação docente e o acesso inconstante a bons livrosapostas virtuais on lineliteratura nas bibliotecas escolares.

"Não é um problemaapostas virtuais on linemétodos, como o governo propôs. Se fosse, não teríamos analfabetos no mundo, porque bastaria aplicar um método ou outro. O tempo todo,apostas virtuais on linesalaapostas virtuais on lineaula, professores usam princípiosapostas virtuais on linediferentes métodos. O que não dá é para achar que um método vai ser a chave", opina.

Voltando ao exemploapostas virtuais on lineSobral — que tem 95%apostas virtuais on lineseus alunos do 5º ano com conhecimento adequadoapostas virtuais on lineportuguês, contra 56% da média brasileira, segundo a Prova Brasil 2017 —, a cidade não adota formalmente nenhum métodoapostas virtuais on lineensino, relata Herbert Lima, mas sim extrai práticasapostas virtuais on linediferentes métodos que os educadores considerem adequados para prática e para cada faixa etária.

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