O que representam as fugaspresos ligados ao PCC no Paraguai e no Acre:

Carropolíciafrente a presídioonde fugiram 76 pessoas ligadas ao PCC

Crédito, AFP

Legenda da foto, Após fuga, 30 agentes e o diretor do presídio no Paraguai foram presos

Por outro lado, ele diz que será um "grave erro" se o governo aceitar ou der publicidade a casos como esses.

"Seria um erro negociar. Não se faz tratativas com o crime organizado. Quando houve tratativas entre o Estado e a máfia na Itália não deu certo. O crime se sentiu mais forte e declarou guerra", afirmou.

Buraco do ladoforapresídio no Paraguai

Crédito, AFP

Legenda da foto, Buraco por onde teriam fugido presospenitenciária no Paraguai

Já Bruno Paes Manso, pesquisador do NúcleoEstudos da Violência da USP e um dos autores do livro A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil (Ed. Todavia), vê as fugas como algo natural e que ainda não é possível dizer se foram coordenadas.

"Nesses 25 anosPCC e quase 40 anos da facção Comando Vermelho o objetivoquem está preso é fugir. As fugas são muito valorizadas e algumas vezes custam caro, por conta da engenharia e até pagamentopropina para funcionários", afirmou.

O pesquisador da USP conta que a novidade nesta fuga do Paraguai é haver pela primeira vez um resultado claro da presença do PCC no sistema penitenciário do país. Ele explica que a facção paulista tem uma leiturasegurança públicaguerra contra o sistema ecrescer nas brechas do sistema, com uma atuação considerada violenta.

"Já o Paraguai", aponta Manso, "tem relação mais orgânica com o crime, como a vendacigarros para contrabando ou até mesmomaconha". Isso ocorre, explica ele, porque essa economia informalvenda, incluindo armas e outros produtos, gera muitos empregos e faz com que os chefes dessas estruturas sejam bem reconhecidos.

"Agora, o PCC chega com uma posturaguerra ao sistema. E eles tentando aprender lidar com isso. É um grupo forjado na segurança, na guerra antissistema tentando dominar o crimeum país onde o sistema eraconjunto com política e mercado", afirmou o pesquisador da USP.

Facçãoexpansão

De acordo com o jurista Maierovitch, o PCC atua hoje 22 Estados brasileiros e possui cerca30 mil membros. SóSão Paulo, são 8 mil. Para ele, isso demonstra uma "expansão impressionante" e um indicativoque o grupo pode se tornar uma organização tão poderosa a pontoser considerada uma máfia.

Na avaliação dele, após a ondaataques que promoveu2006, o PCC ganhou mais força e "se tornou uma organização pré-mafiosa". "Hoje, tem controleterritório, social e difunde o medo, alémpoder ter influência eleitoral, assim como teve a Marcha da Sicíliafavor do partido da Democracia Cristã na Itália", afirmou.

Para ele, apesaruma transnacionalidade das atividades do PCC, como Paraguai, Bolívia e alianças com colombianos, ainda falta uma atuação maioroutros países para que o grupo seja considerado,fato, uma máfia. Mas, acrescenta, o PCC "caminha a passos largos" para se tornar uma organização mafiosa e talvez não tenha atingido esse nível porque não tem o "intelecto necessário".

Policiais atuandobuscafugitivos no Paraguai

Crédito, AFP

Legenda da foto, Paraguai mobilizou Forças Armadas para reforçar segurançapresídios após fugamassadetentos ligados ao PCC

"Hoje, a máfia mais forte é a 'Ndrangheta calabresa, que foi descoberta operando na bolsaFrankfurt. O que o PCC tem hoje nessa dimensão? O que deve ser feito para evitar chegar nesse ponto é atacar a economia do crime organizado. Precisamais policiais infiltrados para saber onde o PCC lava dinheiro para sufocá-lo", afirmou.

Já Bruno Paes Manso não acredita que isso deva acontecer com o PCC. Um dos entraves, no pontovista dele, é a dificuldade do grupo fazer alianças nos cargos políticos e instituiçõesmaior representatividade pública.

"Uma máfia demanda uma conivência das instituições. E eu tenho um certo ceticismoaté que ponto eles têm isso, apesarter poder financeiro para corromper agentes do Estado. O PCC é visto hoje como o grande inimigo brasileiro. No Brasil, querem que os bandidos morram, sejam exterminados e quando um parlamentar é visto facilitando a vida da facção costuma ser escorraçado", afirmou.

O pesquisador da USP afirma que a situação é diferente, no entanto,relação às milícias. Isso porque esses grupos, segundo ele, têm capacidadeinfluenciar moradores e fazerem o discursopropiciar mais segurança, alémuma maior capacidadeinfluenciar na política.

"A máfia iria mais para o lado das milícias. Acho que esse seria o caminho mais brasileiro porque o PCC é mais uma federação que regulamenta a compra e vendadrogas. Já as milícias têm o discursocombate ao crime, mas também ganham dinheiro com ele. Elas possuem uma propostaEstadopermanente combate ao crime, mas que lucra muito com ele", afirmou.

Os dois especialistas concordam, no entanto, que a saída é sufocar as finanças e diminuir as margenslucro para que as facções tenham menos poder.

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"O PCC tem investidovendas para fora do país. Ele tem acesso a exportação via portoSantos e consolidou receitas no Paraguai, alémter expandido para outros lugares", disse Bruno Paes Manso.

Para Maierovitch, é necessário entender a dimensão financeira do PCC, não negociarforma alguma e evitar confrontos políticos ou divulgações. Ele cita especialmente a fala do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que,uma publicação no Twitter disse que se os fugitivos do PCC "voltarem ao Brasil, ganham passagem sóida para presídio federal."

"Não se responde ao crime. O que se viumusculatura do PCC hoje é algoum gigante. Esse tipobravatafacção não se responde, mas se age. Podem ser pessoas inexpressivas fugindo. Essa atitude é um populismo equivocado apenas para mostrar para a população e jogar para torcida", afirmou o desembargador aposentado.

Línea

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