Evangélicos fazem ofensiva para dominar política externa do Brasil para África:truco apostado
Grupos Parlamentarestruco apostadoAmizade
A ofensiva evangélica na África é capitaneada pela bancada religiosa no Congresso. Em umatruco apostadosuas frentestruco apostadoatuação, deputados federais evangélicos passaram a presidir sete dos oito grupos parlamentarestruco apostadoamizade entre o Brasil e nações africanas.
Esses grupos têm o objetivotruco apostadoaproximar o Brasiltruco apostadonações estrangeiras e influenciar a agenda bilateral. É comum que o Executivo recorra aos grupos para tirar do papel acordos assinados com os países.
Deputados ligados à Universal lideram os grupos responsáveis por Angola, Cabo Verde, Moçambique, Camarões e Namíbia, e propuseram a criaçãotruco apostadoum grupo para o Malauí.
Um deputado da Assembleiatruco apostadoDeus preside o grupo que trata do Marrocos, e um congressista da Igreja Internacional da Graçatruco apostadoDeus está encarregado pelo Quênia. A exceção é a África do Sul, cujo grupo é presidido pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), sem laços com igrejas.
Defesa, cooperação técnica e ajuda humanitária
Nos últimos anos, a atuação da bancada evangélicatruco apostadorelação a nações africanas vem extrapolando assuntos religiosos, expondo um papel cada vez mais diversificado nas relações com o continente.
Deputados do grupo trabalharam pela aprovaçãotruco apostadoacordos entre o Brasil e países africanos nas áreastruco apostadodefesa, educação, cooperação técnica e serviços aéreos, e cobraram o governo a ampliar a ajuda humanitária ao continente.
Um dos congressistas engajados na ofensiva é o deputado federal Marco Feliciano (sem partido-SP). Fundador da Catedral do Avivamento, filiada à Convenção Geral das Assembleiastruco apostadoDeus no Brasil, Feliciano teve o primeiro contato com a África nos anos 1990, quando atuou como missionáriotruco apostadoAngola.
Ele diz à BBC News Brasil que a relação dos governos anteriores com líderes religiosos eratruco apostado"mera tolerância", ao passo que hoje há total sintonia.
"O governo Bolsonaro é um governo que se declara temente a Deus,truco apostadoconformidade com o mais profundo sentimento da nacionalidade brasileira", afirma Feliciano.
Num sinaltruco apostadoalinhamento com os evangélicos quanto à política para a África, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, viajou no início deste mês a cinco países africanos acompanhadotruco apostadotrês congressistas, dois deles pastores e membros da bancada: o próprio Feliciano e o deputado federal Márcio Marinho (Republicanos-BA). Completava a comitiva o deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ).
Feliciano diz que a viagem — na qual o grupo passou por Angola, Costa do Marfim, Nigéria, Cabo Verde e Senegal — foi "muito produtiva" e envolveu debates sobre economia, defesa, segurança e valores morais.
Ele diz que seu maior interessetruco apostadorelação ao continente diz respeito à religião. "Hoje a África é o localtruco apostadomaior expansão do cristianismo no mundo, isso merece minha especial atenção", afirma.
Na passagem pela capital angolana, Luanda, Feliciano foi tratado como celebridade na Igreja Catedraltruco apostadoAdoração e Promessa, ligada à Assembleiatruco apostadoDeus, onde pregou por maistruco apostadouma hora. Em um templo com capacidade para 5 mil pessoas, Feliciano chorou ao ser apresentado pelo pastor angolano Esmael Sebastião como "uma das pessoas mais influentes da nossa geração".
Ovacionado pelos fiéis, o deputado disse que a igreja havia mudado muito desdetruco apostadovisita anterior. "Vinte anos atrás, eu tinha que jogar fogo no povo, e agora é o povo que joga fogotruco apostadomim aqui", afirmou, inflamando ainda mais a multidão.
A Assembleiatruco apostadoDeus é uma das várias igrejas brasileiras operantes na África, onde a adesão a correntes neopentecostais têm crescido intensamente últimas décadas. A maior igreja brasileira no continente é a Universal, presentetruco apostado23 dos 55 países africanos.
O continente também é cobiçado por várias organizações missionárias brasileiras, entre as quais a Gideões Missionários da Última Hora, que tem operaçõestruco apostado11 países africanos e recebeu Bolsonarotruco apostadoseu último congresso,truco apostadomaio. Em seu site, o grupo descreve a África como o "continente mais perigoso do mundo", onde busca "levar a mensagemtruco apostadosalvação a um povo perdido, sem esperança e que não conhece a Jesus Cristo".
Caminho desimpedido
A viagem à África na companhiatruco apostadocongressistas evangélicos foi o últimotruco apostadouma sérietruco apostadoacenostruco apostadoErnesto Araújo à bancada religiosa. Em junho, ele recebeu o grupo no Itamaraty para um "Diálogo sobre Política Externa com Parlamentares Evangélicos" e,truco apostadodezembro, participou da Conferência Nacional da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional.
Diplomatas que não quiseram ser identificados disseram à BBC News Brasil que a África é a região do globo onde os evangélicos exercem mais influência na política externa brasileira hoje, pois a agenda do grupo no continente não se choca com atruco apostadooutras alas relevantes do governo.
Os evangélicos também têm grande interessetruco apostadorelação a Israel e vêm pressionando o governo a transferir a embaixadatruco apostadoTel Aviv para Jerusalém. Mas a medida é rejeitada por outro setor influente no governo, o agronegócio, que até agora conseguiu barrar a iniciativa.
A influência religiosa na política externa também se nota na nova postura do Brasiltruco apostadoórgãos internacionais. Em uma conferência da ONUtruco apostadomarço, o governo brasileiro se posicionou contra a citação ao direito ao acesso universal a serviçostruco apostadosaúde reprodutiva e sexualtruco apostadoum documento por entender que as expressões poderiam dar margem à "promoção do aborto".
Em outra conferência, na Hungria,truco apostadonovembro, o secretáriotruco apostadoAssuntostruco apostadoSoberania Nacional e Cidadania do Itamaraty, Fabio Mendes Marzano, defendeu que "liberdade religiosa não é somente o direitotruco apostadopraticar uma religião, mas o direitotruco apostadose manifestar, debater e defender a fé, e mesmotruco apostadotentar converter aqueles que não têm uma religião".
Marzano discursoutruco apostadoum evento contra a perseguiçãotruco apostadocristãos, bandeira promovida pelo presidente americano, Donald Trump, e abraçada pela atual gestão do Itamaraty.
Segundo o secretário, a conversãotruco apostadonão crentes não pode ser feita "pela força, mas lhes mostrando a verdade, a verdade real".
Questionado pela BBC News Brasil sobre o que seria essa "verdade real", o Itamaraty não respondeu. Em nota, o órgão disse apenas que o "Estado é laico, mas não é ateu". "O Brasil é país majoritariamente cristão e a defesa das minorias cristãs no mundo é parte essencial do interesse nacional", afirmou o ministério.
Aliança Itamaraty - Igreja Universal
Outros sinaistruco apostadoconvergência entre a agenda evangélica e o Itamaraty foram emitidos nos últimos meses, quando a Igreja Universal se envolveutruco apostadoconflitostruco apostadoAngola e São Tomé e Príncipe, duas ex-colônias portuguesas no oeste africano onde a denominação tem presença relevante.
Em São Tomé e Príncipe, um levante popular no iníciotruco apostadonovembro provocou a depredaçãotruco apostadovários templos da Universal e a mortetruco apostadoum adolescente. A crise foi desencadeada pela prisãotruco apostadoum pastor são-tomense a quem foram atribuídas denúnciastruco apostadoabusos da Universal contra funcionários africanos.
Semanas depois, um grupotruco apostadopastores da Universaltruco apostadoAngola rompeu os laços com a liderança brasileira da igreja, acusando-atruco apostadodesviar recursos para o exterior, discriminar funcionários locais e promover a esterilizaçãotruco apostadosacerdotes africanos. O grupo, que diz ter o apoiotruco apostado330 pastores e bispos angolanos da Universal, pediu a expulsãotruco apostadosacerdotes brasileiros para que a igreja passasse a ser liderada exclusivamente por angolanos.
Nos dois episódios, a Universal repudiou as acusações e disse ser vítimatruco apostadocampanhastruco apostadodifamação. Nos dois episódios, o Itamaraty reforçou a defesa da igreja.
No auge da crisetruco apostadoSão Tomé e Príncipe, o embaixador brasileiro no país interrompeu as férias para tentar apaziguar os ânimostruco apostadocongressistas são-tomenses, que ameaçavam cassar a licençatruco apostadooperação da igreja.
E, na visita recente a Angola, o ministro Ernesto Araújo deu uma entrevista à rede portuguesa RTP na qual elogiou a Universal e defendeu a atuação da igreja no exterior.
Segundo Araújo, a igreja "fez a diferença para melhor" para milhõestruco apostadopessoas e é "uma entidade extremamente importante no Brasil". Questionado sobre o processo judicial que a Universal enfrentatruco apostadoAngola, disse não querer "interferirtruco apostadoeventuais investigações, apenas acompanhar a situação para que no quadro normativo e legal angolano haja um tratamento equitativo da igreja".
O diplomata da Universal para a África
A agenda política da Universal na África é liderada pelo deputado federal Márcio Marinho (Republicanos-BA). Bispo da igreja, Marinho viajou a São Tomé e Príncipe durante a crise recente e acompanhou Ernesto Araújo no giro africano.
Negro e no quarto mandato como deputado federal, ele preside os grupos parlamentarestruco apostadoamizade com Angola, Cabo Verde e Moçambique e é hoje o principal interlocutor do Congresso brasileiro com a Comunidadetruco apostadoPaísestruco apostadoLíngua Portuguesa (CPLP),truco apostadocujos encontros esteve duas vezes só neste ano.
Boa partetruco apostadosua atuação no Congresso diz respeito a temas africanos. Em 2013, por exemplo, ele propôs ao Itamaraty que negociasse com a União Africana a instalaçãotruco apostadouma missão diplomática da organização no Brasil. Na Comissãotruco apostadoRelações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Marinho foi o relatortruco apostadouma sérietruco apostadoprojetostruco apostadocooperação entre o Brasil e países africanos, entre os quais Angola, Benin, Moçambique e Etiópia.
Atuante nos bastidores, o deputado evita se pronunciar publicamente sobretruco apostadoatuaçãotruco apostadorelação à África. Desde o início novembro, a BBC News Brasil lhe enviou vários pedidostruco apostadoentrevista sobre o tema, mas não foi atendida.
'Simbiose sem precedentes'
Para o cientista político Mathias Alencastro, pesquisador do Centro Brasileirotruco apostadoAnálise e Planejamento (Cebrap), hoje baseado no Institutotruco apostadoCiências Sociaistruco apostadoLisboa, a investida evangélica na política externa brasileira não é nova, mas atingiu no governo Bolsonaro uma "simbiose sem precedentes".
"Antes havia uma relaçãotruco apostadointeresse (entre evangélicos e o Itamaraty), mas tambémtruco apostadoconflitos", diz Alencastro, especialistatruco apostadopolítica africana.
Ele afirma que gestões anteriores fizeram concessões ao grupo — como a entregatruco apostadopassaportes diplomáticos a líderes religiosos —, mas tinham o cuidadotruco apostadonão se vincular com a açãotruco apostadoigrejas brasileiras no exterior.
Para Alencastro, a nova postura do governo potencializa situaçõestruco apostadoconflito. "A próxima crise com uma igreja evangélica brasileira na África será uma crise do Brasil, porque o Brasil se tornará indissociável das igrejas", afirma o pesquisador.
Ele diz que os evangélicos "estão fazendo o que sabem, ocupar os vazios das instituições", enquanto as empreiteiras brasileiras reduzem suas operações no continente e o governo federal prioriza outras regiões.
A política brasileira para a África chegou ao auge no governo Lula, quando o então presidente fez 33 viagens a países africanos e abriu 19 embaixadas no continente.
Países africanos se tornaram beneficiáriostruco apostadodezenastruco apostadoacordostruco apostadocooperação com o governo brasileiro, e empreiteiras nacionais ampliaram seus investimentos no continente amparadas por empréstimos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A agenda começou a perder fôlego no governotruco apostadoDilma Rousseff, que não tinha o mesmo interessetruco apostadoLula pela África, e sofreu outro baque com o fim da dobradinha entre as construtoras e o BNDES, dinamitada pelas denúnciastruco apostadocorrupção da Lava Jato.
Alencastro diz que, agora, os evangélicos ocupam canais construídos nos governos anteriores numa tentativatruco apostado"tomar conta, como vêm tomando aqui (no Brasil)". "É um projetotruco apostadoexpansão".
Ele afirma que a influência do grupo na relação do Brasil com a África já ultrapassou as fronteiras da religião. "Hoje, o melhor caminho para brasileiros que queiram investir na África passa pelos evangélicos".
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