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Por que igrejas evangélicas ganharam tanto peso na política da América Latina? Especialista aponta 5 fatores:bonus galerabet
Para o historiador americano Andrew Chesnut, autorbonus galerabetdezenasbonus galerabetlivros e artigos sobre o crescimento das igrejas pentecostais, a forte influência dos evangélicos na ascensão e quedabonus galerabetlíderes é uma das principais "tendências" da política atual do continente americano.
"Até no México, onde a população pentecostal é pequena,bonus galerabetapenas 8%, um partido político fundado por um pastor pentecostal ajudou a eleger o atual presidente do país, Andrés Manuel Lopez Obrador", disse Chesnut à BBC News Brasil.
"A influência política evangélica é uma das tendências políticas mais importantes das últimas quatro décadas no continente americano", completa o professor, que leciona na Virginia Commonwealth University e assina diversas publicações sobre o papel da religião na América Latina, entre elas o livro Born Again in Brazil: Pentecostal Boom and the Pathogens of Poverty.
Mas o que explica essa influência crescente da religião na políticabonus galerabetpaíses do continente? E por que igrejas evangélicas têm conseguido cada vez mais adeptos entre os latino-americanos?
Em entrevista à BBC News Brasil, Chesnut listou 5 fatores que ajudam a responder essas perguntas: a coesão ideológica dos evangélicos, o que facilitaria articulações políticas; o fatobonus galerabetos ritos das igrejas evangélicas serem mais "condizentes" com aspectos da cultura da América Latina; a adoçãobonus galerabetregras menos rígidas para a formaçãobonus galerabetsacerdotes, permitindo maior inserção nas camadas mais pobres; a criaçãobonus galerabetredesbonus galerabetapoiobonus galerabetcomunidades carentes; e a capacidadebonus galerabetecoar pensamentos compartilhados por setores conservadores da classe média e alta.
Crescimento das igrejas evangélicas - e a entrada delas na política
O continente americano tem vivido uma acentuada queda no númerobonus galerabetcatólicos, ao mesmo tempobonus galerabetque houve grande aumento na população evangélica.
Segundo o Pew Research Center, principal centrobonus galerabetpesquisa sobre religiões,bonus galerabet1900 a 1960, os católicos eram 94% da população da América Latina.
Mas esse percentual caiu drasticamente. Levantamentobonus galerabet2014 do mesmo instituto mostrou que 84% dos entrevistados cresceram como católicos, mas apenas 69% continuavam a se identificar como tal.
Em contraste, só 9% dos latino-americanos foram criados como evangélicos, mas 19% dizem seguir essa religião atualmente. No Brasil, o percentualbonus galerabetevangélicos é ainda maior:bonus galerabetacordo com pesquisa Datafolha, eles já são 29% dos brasileiros, enquanto os católicos deixarambonus galerabetser maioria para representar 50% da população.
Segundo Andrew Chesnut, que estuda o movimento pentecostal há 25 anos, uma característica importante acompanha o crescimento no númerobonus galerabetevangélicos no continente americano: o engajamento políticobonus galerabetlíderes e integrantes dessa religião.
O pesquisador destaca que os católicos são um grupo mais "heterogêneo", com segmentos ligados à esquerda e outros à direita. Essa pluralidade, na prática, dificultaria uma mobilização política coordenada.
"Dentro do catolicismo você tem setores conservadores, ligados ao Opus Dei, por exemplo, e mais progressistas, como os membros da teologia da libertação. Então, há mais diversidade e isso torna a tarefabonus galerabetfazer uma aliança católica mais difícil", explica.
"Já os evangélicos são mais homogêneos politicamente. Isso facilita a união e as alianças para eleger determinados políticos."
Bolsonaro, Camacho e... Trump
Os exemplos mais recentes e evidentes da força evangélica na política são a eleiçãobonus galerabetJair Bolsonaro e a quedabonus galerabetEvo Morales, na Bolívia. Os dois episódios contaram com apoio crucialbonus galerabetsetores evangélicos.
Na quedabonus galerabetMorales, uma figura ligada à ala mais conservadora da Igreja Católica e a lideranças evangélicas ganhou protagonismo: Luis Fernando Camacho.
Ele atua como presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, uma entidade que reúne cercabonus galerabet200 instituições, entre associaçõesbonus galerabetmoradores, trabalhadoresbonus galerabetdireita e empresários. O comitê funciona na cidade mais populosa da Bolívia, Santa Cruzbonus galerabetla Sierra, e é chamadobonus galerabet"governo moral".
As constantes mençõesbonus galerabetCamacho ao "poderbonus galerabetDeus" e o costumebonus galerabetcitar trechos da Bíblia fizeram como que chegasse a ser chamado pela imprensa internacionalbonus galerabet"Bolsonaro boliviano".
Foi ele o principal articulador dos protestosbonus galerabetrua que culminaram na retirada do apoio da polícia e das Forças Armadas ao governo Morales. Camacho tem o costumebonus galerabetiniciar seus discursos com uma oração e, ao entrar no antigo Palácio do Governo,bonus galerabetLa Paz, poucas horas antes da renúncia do presidente, depositou uma Bíbliabonus galerabetcima da bandeira boliviana.
Para Chesnut, Camacho e Bolsonaro têm característicasbonus galerabetcomum.
"A Bolívia, é interessante, porque é um país mais predominantemente católico que o Brasil. Na faixabonus galerabet70% dos bolivianos ainda são católicos. Mas, na retiradabonus galerabetMorales do poder, vimos uma forte influência evangélica", avalia.
"Camacho é mais ou menos como Bolsonaro. Ele segue sendo católico, mas tem uma grande influência pentecostal e tem os pentecostais como grandes aliados. E o discurso dele é 100% pentecostal."
A senadora Jeanine Áñez, que se autoproclamou presidente interina da Bolívia após a saídabonus galerabetEvo Morales, segue a mesma linha. Ela entrou ao Paláciobonus galerabetGoverno,bonus galerabetLa Paz, erguendo uma enorme Bíblia e, atrásbonus galerabetum altar montado com velas e a imagembonus galerabetJesus crucificado, se empossou.
"Um aspecto importante do papel que a religião tem exercidobonus galerabetgovernos latino-americanos é a existênciabonus galerabetuma convergência entre os evangélicos e os católicos conservadores", diz Andrew Chesnut.
Embora os exemplos brasileiro e bolivianobonus galerabetinfluência religiosa na política sejam contundentes, o professor americano diz que a tendênciabonus galerabetcrescimento da força evangélica nos governos não é característica apenas da América Latina.
Segundo ele, o fenômeno teve início nos Estados Unidos, começou a ganhar força na América Latina na décadabonus galerabet80, com a ascensãobonus galerabetum pastor evangélico como presidente da Guatemala, e pode ser visto claramente hoje no governobonus galerabetDonald Trump.
De acordo com reportagem do jornal Washington Post, 61% dos pastores evangélicos dos Estados Unidos manifestaram, num levantamento, intençãobonus galerabetvotarbonus galerabetTrump na eleiçãobonus galerabet2016. E o presidente americano mantém relaçõesbonus galerabetproximidade com lideranças evangélicas famosas no país.
"Nos EUA, os evangélicos são uma das principais bases eleitoresbonus galerabetTrump", diz Chesnut. Segundo ele, um dos reflexos da aproximação do presidente americano com setores religiosos é a decisãobonus galerabettransferir a embaixada dos Estados Unidosbonus galerabetIsraelbonus galerabetTel Aviv para Jerusalém.
Bolsonaro chegou a anunciar que faria o mesmo, para atender ao pleitobonus galerabetgrupos evangélicos que se baseiambonus galerabetintepretações bíblicas para defender que Jerusalém deve ser "protegida" e habitada pelos judeus. O presidente brasileiro acabou, no entanto, decidindo abrir um escritório comercial na cidade, após forte pressãobonus galerabetpaíses árabes e do setor exportadorbonus galerabetcommodities, que temia retaliações comerciais.
"Uma das agendas importantes atuais para os evangélicos é o apoio a Israel", afirma o professor Andrew Chesnut.
E o que tornou as igrejas evangélicas tão atrativas para o público?
Além da coesão ideológica, que facilita a articulação política dos evangélicos, Chesnut lista quatro fatores que teriam contribuído para o sucesso do movimento pentecostal entre os latino-americanos. Um deles é o fatobonus galerabetas igrejas evangélicas adotarem ritos "mais condizentes com a cultura dos povos da região".
Nesse sentido, as músicasbonus galerabetlouvor e a maneira mais informal e diretabonus galerabetos pastores discorrerem sobre trechos da Bíblia cumpririam papel importante.
Outro aspecto listado pelo pesquisador são as redesbonus galerabetapoio criadas pelas igrejas evangélicas para intervirbonus galerabetproblemas das comunidades, como casosbonus galerabetalcoolismo, criminalidade e dependência química.
O terceiro fator seria o critério flexível para a formaçãobonus galerabetsacerdotes — os bispos e pastores.
"Uma grande vantagem que as igrejas pentecostais têm é que os pastores podem se casar e não há os mesmos requisitos educacionais. Um sacerdote católico é parte da elite latino-americana quanto ao nível educacional", diz.
"Essa facilidadebonus galerabetnão exigir uma extensa formação acadêmica nem o celibato permitiu uma entrada maior das igrejas pentecostais nas camadas mais pobres."
Além disso, o pesquisador destaca que setores conservadores da classe média e alta dos Estados Unidos e da América Latina passaram a ver suas posições ecoadas nas novas igrejas evangélicas. Entre essas agendas estão a preocupação com o ensino sexual nas escolas, o temor do que chamambonus galerabet"ideologiabonus galerabetgênero", e a posição firmemente contrária à flexibilizaçãobonus galerabetleis relacionadas ao aborto.
"Havia uma população que compartilhava desses valores: defendia uma agenda anti-LGBT, o antifeminismo e era contrária à legalização do aborto. Essas pessoas não tinham lideranças para representar essas perspectivas da maneira desejada", diz Chesnut.
E qual o impacto dessa influência religiosa na política?
Para o professor americano, o principal temor relacionado ao aumento da ingerência evangélica na política é obonus galerabetque líderes eleitos com o apoio desses setores acabem aprovando políticas públicas que, na prática, discriminem outros credos religiosos ou que signifiquem retrocessos na conquistabonus galerabetminorias.
"No caso da Bolívia, já vimos comentários racistas por parte da presidente interina. Lá, alguns setores pentecostais enxergam as religiosidades indígenas como satânicas ou pagãs", diz Chesnut.
No Brasil, o pesquisador diz perceber o riscobonus galerabetsurgimentobonus galerabetuma atmosferabonus galerabetintolerância contra religiõesbonus galerabetmatriz africana. Chesnut fala português e viveu vários anos no Brasil, onde pesquisou o impacto da religiosidade na sociedade e na política.
Ele lembra que,bonus galerabetagosto, a polícia do Riobonus galerabetJaneiro prendeu traficantes evangélicos integrantes do chamado "Bondebonus galerabetJesus", grupo acusadobonus galerabetpromover ataques a igrejasbonus galerabetmatriz africana ebonus galerabetexpulsar praticantesbonus galerabetcandomblé e umbanda das favelas da Baixada Fluminense.
"Há uma preocupaçãobonus galerabetque as religiões indígenas e afro-brasileiras possam sofrer perseguições com os pentecostais no poder. Grupos violentos podem se sentir impunes ou estimulados a agir dessa maneira", diz Chesnut.
Mas o historiador destaca que o fenômeno do crescimento das igrejas evangélicas vem acompanhadobonus galerabetum movimento bem diferente e que também pode vir a influenciar o cenário político do continente: o aumento no númerobonus galerabetpessoas que dizem não ter religião alguma.
"Além do crescimento das igrejas evangélicas, hábonus galerabetvários Estados dos EUA ebonus galerabetvários países da América Latina, inclusive no Brasil, um crescimento rápido das pessoas que não têm nenhuma filiação religiosa. No Brasil, eles já formam quase 10% da população", diz.
E as características desse grupo são opostas às que costumam definir os setores evangélicos e católicos conservadores. "Eles são mais jovens, sabemos que a tendência ébonus galerabetserembonus galerabetesquerda e mais liberais nos costumes. E estão crescendo quase tão rapidamente quanto os pentecostais."
Resta saber qual dos dois setores terá mais influência eleitoral nos próximos anos.
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