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Desnutrição, abusos e mortes fazem da Amazônia o pior lugar do Brasil para ser criança:fb12bet
"Casos como estes são recorrentes no município", lamenta a assistente social, cuja infância também foi marcada pela pobreza. Em Breves,fb12betacordo com dados do Sistemafb12betVigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), 37,7% das criançasfb12betaté cinco anosfb12betidade sofriamfb12betdesnutrição crônicafb12bet2018 — percentual bem maior que a média brasileira,fb12bet13,1%.
No Pará, 85% dos domicílios não têm acesso adequado à redefb12betesgoto, e 2.157 crianças morreram antesfb12betcompletar um anofb12bet2016. "Depois da escola brincava na rua mesmo, no meio das poças d'água", lembra Glinda. "Não senti faltafb12betpolíticas voltadas à cultura, esporte e lazer. Não dá pra sentir falta daquilo que não vivenciei."
Filhafb12betpai madeireiro e mãe sacoleirafb12betuma famíliafb12betbaixa renda com quatro filhos, ela viu o pai ficar desempregado depois que a madeireirafb12betque ele trabalhava fechou as portas,fb12bet2009. A família, que morava no centro da cidade, mudou-se para um bairro mais distante e passou a viverfb12betum pequeno cômodofb12betmadeira. Nesse período, sobreviveram basicamente da renda do Bolsa Família, que transfere R$ 89 por pessoa a famílias que vivem abaixo da linhafb12betpobreza, mais R$ 41 por criança ou adolescente, limitado a R$ 205 (cinco benefícios).
"As madeireiras fecharam por completo ou parcialmente, mas não tínhamos um plano B. Não estou defendendo o desmatamento, só que ninguém disse para o meu pai o que ele deveria fazer. Isso aconteceu com muitas famílias. Papai depois conseguiu outro emprego, mas outros não tiveram a mesma sorte."
Conseguiram, com muito esforço, manter os filhos na escola pública, e Glinda e os irmãos, quando adultos, estudaram também na Universidade Federal do Pará (UFPA). "Hoje, os filhos estão concluindo o ensino superior, outros formados, concursados, empregados. Todos da família têm renda própria", afirma, reconhecendo que, nas estatísticas da região, históriasfb12betsucesso como a dela são exceção.
4fb12bet10 crianças sãofb12betfamílias sem renda para cesta básica
Ao todo, 9 milhõesfb12betcrianças vivem na Amazônia Legal, região formada por Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima e parte dos Estadosfb12betMaranhão, Tocantins e Mato Grosso. Os indicadores apontam que,fb12bettodas as regiões do país, é ali o pior lugar do Brasil para ser criança, destaca relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Sãofb12betlá os mais altos níveis nacionaisfb12betmortalidade infantil.
Nos nove Estados da Amazônia Legal, cercafb12bet43% das crianças e dos adolescentes vivemfb12betdomicílios com renda per capita insuficiente para adquirir uma cesta básicafb12betbens, contra 34,3% da média nacional. Além disso, muitas meninas e muitos meninos amazônicos não têm atendidos seus direitos a educação, água, saneamento, moradia, informação e proteção contra o trabalho infantil.
Em 2016, 1.225 crianças morreram antesfb12betcompletar 1 ano no Estado do Amazonas. Além disso, desde 2010, os casosfb12betsífilis congênita diagnosticadosfb12betcrianças menoresfb12betum anofb12betidade cresceram 710%, segundo dados do ministério da Saúde reunidos pela Unicef. Foram 802 casos sófb12bet2017. A proporçãofb12betmães com acesso ao pré-natal foifb12bet46%, registrando um aumentofb12bet183% entre 2000 a 2016.
"A Amazônia é o pior lugar do Brasil para ser criança. Todos os indicadores sociais estão apresentando valores piores que a média brasileira e muitíssimo piores que os do sudeste do país. De criança fora da escola, vacinação, mortalidade infantil, acesso à água, saneamento", resume a coordenadora do Unicef na Amazônia Legal, Anyoli Sanabria. Ela explica que as crianças vivemfb12betum estadofb12bet"privação múltipla",fb12betque, alémfb12betviver na pobrezafb12bettermos financeiros, elas têm vários outros direitos violados que prejudicam não sófb12betqualidadefb12betvida, mas comprometem seu futuro e limitam seu desenvolvimento.
As áreas rurais e dispersas ficam,fb12betgrande medida, sem acesso ou com acesso limitado aos serviços básicos como saúde, educação e proteção social. Vulneráveis e desassistidas, essas populações — principalmente, crianças e adolescentes — enfrentam uma sériefb12betriscos, alerta a entidade.
'Sem social, não há ambiental'
A visãofb12beteducadores, agentesfb12betsaúde, ONGs e instituições dedicadas à infância ouvidas pela BBC News Brasil éfb12betque as crianças que vivem na Amazônia, nas cidades ou na zona rural, enfrentam uma quase que total escassezfb12betserviços públicos — à exceção das que vivem nas capitais. Eles alertam: não vai dar para salvar o meio ambiente sem preservar a população local, cada vez mais vulnerável e dependendofb12betbenefícios sociais.
"Sem social, não há ambiental", resume Caetano Scannavino, coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, que atua na Amazônia. "No mundo inteiro as questões da pobreza e do meio ambiente estão ligadas", afirma Scannavino, que diz que famílias pobres e sem assistência e serviçosfb12betsaúde são mais vulneráveis ao ilegalismo ambiental.
"Se eu tenho uma criança doente e eu precisofb12betdinheiro,fb12betremédio, e tem um madeireiro pedindo uma autorização para tirar uma árvore do meu lote, muito provavelmente eu vou estabelecer um acordo com ele, porque a vida do meu filho estáfb12betjogo. Situações como essa se repetem e impactam o meio ambiente e favorecem a cultura do ilegalismo."
Para serem efetivas, as políticas públicas para a infância na região precisam considerar as peculiaridades e desafios extras do chamado "fator amazônico": as meninas e os meninos vivem com suas famíliasfb12betuma região muito extensa territorialmente, mas pouco povoadafb12betcomparação às demais regiões. Em média, cada quilômetro quadrado da Amazônia é habitado por apenas cinco pessoas, enquanto quefb12betoutras regiões do País essa taxa éfb12bet48 habitantes por quilômetro quadrado.
Às vezesfb12betcomunidadesfb12betdifícil acesso vivem crianças indígenas, quilombolas, ribeirinhos, mas também mais e maisfb12betgrandes cidades — juntamente com populações tradicionalmente urbanas, afirma a Unicef no relatório "Agenda pela Infância e Adolescência na Amazônia".
A principal privação a que meninas e meninos amazônicos estão sujeitos é a faltafb12betacesso a saneamento. Enquanto a média nacionalfb12betcrianças e adolescentes sem esse direito estáfb12bet24,8%, na maioria dos Estados da Amazônia ela está próxima aos 50%, chegando a 89% no Amapá,fb12betdadofb12bet2017. A única exceção na região é Roraima, com 11,5%fb12betcrianças e adolescentes sem saneamento, segundo a Unicef.
"Os indicadores sociais mostram que as crianças na Amazônia têm maior riscofb12betmorrer antesfb12betum anofb12betidade efb12betnão completar o ensino fundamental. Além disso, a taxafb12betgravidez na adolescência é alta, e as meninas e os meninos na região estão vulneráveis às mais variadas formasfb12betviolência, incluindo o abuso, a exploração sexual, o trabalho infantil e o homicídio", afirma relatório da Unicef divulgadofb12betsetembro e que analisa os principais desafios para a infância na região.
Também é na Amazônia Legal que o assassinatofb12betjovens e adolescentes aumentafb12betritmo mais acelerado no país. Entre 2007 e 2017, o númerofb12bethomicídiosfb12betjovens cresceu acima da média nacionalfb12betquase todos os Estados que compõem a Amazônia Legal. Enquanto o homicídiofb12betjovensfb12bet15 a 19 anos aumentou 35,1% no Brasil na década, avançou muito mais no Acre (312,5%); Amapá (107%); Amazonas (117,8%); Maranhão (78,5%); Pará (94,1%); Roraima (112,8%); e Tocantins (222,3%). As exceções foram Mato Grosso (25,8%) e Rondônia (8,6%), segundo dados do Atlas da Violência, elaborado pelo Fórum Brasileirofb12betSegurança Pública.
"As altas taxasfb12bethomicídiofb12betadolescentes mostram que a vidafb12betmeninas e meninos das periferias é marcada por uma enorme faltafb12betoportunidades que os torna cada vez mais vulneráveis à violência letal. Alémfb12betmanter os investimentos na primeira infância, é necessário que o país invista igualmente na segunda décadafb12betvida", defende a Unicef no relatório "Agenda pela infância e adolescência na Amazônia".
No meio da água, sem água
A 1500 quilômetrosfb12betBreves (PA) no municípiofb12betTefé (AM), com cercafb12bet60 mil habitantes na região do Médio Solimões, na Amazônia Central, nenhum aluno pode beber água na escola, apesarfb12betviverem na maior bacia hidrográfica do mundo. Coliformes fecais foram detectados na águafb12bettodas as 19 escolas do município, levando a frequentes casosfb12betgiárdia, lombriga e diarreias.
Também faltam banheiros e recursos para higiene pessoal, e qualquer tipofb12betsaneamento básico é praticamente inexistente. Em 52% das escolas nota-se a presença ostensivafb12betmoscas, segundo estudo realizadofb12bet2015 pelo Institutofb12betDesenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações que atuafb12betreservas na região da Amazônia central, e trabalha com uma comunidade estimadafb12bet13 mil pessoas.
"A qualidade da água é uma questão relevante para as crianças, as pessoas que moram na várzea não têm águafb12betqualidade para beber. Reflete principalmente a carênciafb12betserviços públicos, a faltafb12betenergia elétrica, que inibe tanto o bombeadorfb12betágua quanto tratamentofb12betágua", diz explica Maria Cecilia Gomes, engenheira ambiental e pesquisadora e coordenadora do programa qualidadefb12betvida do Institutofb12betDesenvolvimento Sustentável Mamirauá.
"Praticamente não existem esses serviços nas áreas rurais da Amazônia. A gente pode dizer que as condiçõesfb12betsaúde são bastante precárias, principalmente na disponibilidade e a qualidade da água. Às vezes a água está presentefb12betquantidade, mas está contaminada", afirma a pesquisadora, que cita que é comum a incidência na populaçãofb12betdiarreia relacionada a lombriga, giárdia, ameba.
Maria Mercês Bezerra da Silva, técnicafb12betenfermagem que atua no instituto há maisfb12bet20 anos, diz que, apesar da precariedade, hoje nota-se mais consciência da populaçãofb12betrelação a medidasfb12bethigiene pessoal, por exemplo, mas falta o reforço das políticas públicas que praticamente inexistem para muitas comunidades.
Mesmo quando estão na escola, a saúde das crianças estáfb12betrisco. Pesquisa "Avaliação do cenário WASH (água, saneamento e higiene)fb12betescolas urbanas e ruraisfb12betuma pequena cidade na Amazônia brasileira", publicadafb12bet2018 com dados referentes a 2015, mostrou que as escolasfb12betTefé não ofereciam condições sanitárias adequadas para seus alunos e não realizam manutenção periódicafb12betsuas instalações.
"As irregularidades documentadas incluem a faltafb12betsabão para lavar as mãosfb12bet84% das escolas, a presençafb12betvetoresfb12betdoenças e outros insetos, bebedouros e banheiros insuficientes e com manutenção insuficiente, inundações e entupimentosfb12betbanheiros, água potável contaminada com E. coli e faltafb12betmanutenção regularfb12betfossas sépticas. Com basefb12betnossos resultados, pode-se estimar que maisfb12bet9.000 estudantes no municípiofb12betTefé estão expostos a riscos resultantes das más condições sanitáriasfb12betsuas escolas".
A situação é ainda mais grave para as crianças indígenas, segundo a Unicef. Do total da população autodeclarada indígena do país, 46,6% vivem na Amazônia Legal, representando 1,5% da população da região. Enquanto o Brasil registra 14 óbitosfb12betmenoresfb12bet1 ano por 1.000 nascidos vivos. Entre os indígenas, na Amazônia, morrem aproximadamente 31,3 crianças menoresfb12betum ano para cada 1.000 nascidas vivas. "É fundamental priorizar investimentos e esforços naqueles gruposfb12betcrianças e adolescentesfb12betsituaçãofb12betmaior vulnerabilidade", defende a entidade.
Violência sexual e propostafb12bet'fábricafb12betcalcinhas'
"Gente, será que o Brasil não descobriu que o paraíso é aqui? Vocês têm uma ilha extraordinária. Eu vejo turista do mundo todo cruzando o mundo para ir para o Havaí, pra colocar um colarzinho e dançar hola. Vamos ver os turistas do mundo todo chegando aqui para dançar carimbó", disse,fb12betdiscurso no dia 18fb12betjulhofb12betBreves, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Naquele dia, Damares lançou o programa Abrace o Marajó, com o objetivofb12beterradicar o abuso e a exploração sexual e a violência contra a mulher no país. Cogitou, na ocasião, até criar um gabinete próprio na cidade.
"O projeto é unir todos os ministérios pra agora. As crianças do Marajó têm pressa. Inclusive eu estava conversando com a minha assessoria se há a possibilidadefb12beteu ter um gabinete aqui no Marajó. Eu sei o que é violência contra criança. Fui estuprada aos seis anos e fui barbaramente agredida por um homem hospedado na minha casa", disse a ministra, ao participarfb12betaudiência pública sobre o tema na cidade.
"Por que os pais exploram [as crianças]? É por causa da fome? Vamos levar empreendimentos para a ilha do Marajó, vamos atender às necessidades daquele povo. Uns especialistas chegaram a falar para nós aqui no gabinete que as meninas lá são exploradas porque não têm calcinha. Não usam calcinha, são muito pobres. E perguntaram 'por que o ministério não faz uma campanha para levar calcinhas para lá?'", questionou. "Nós temos que levar uma fábricafb12betcalcinhas para a ilha do Marajó, gerar emprego lá, e as calcinhas saírem baratinhas para as meninas", disse a ministra,fb12betdiscurso disponível no Youtube.
A ministra escolheu Marajó para lançar o programa nacional porque a região é emblemática quando se trata da exploração sexual infantil. A fama começoufb12bet2006, quando denúncias revelaram uma redefb12betexploração sexualfb12betcrianças e tráficofb12betdrogas no municípiofb12betPortel (PA), vizinhafb12betBreves, que envolvia vereadores, empresários, autoridades policiais, servidores públicos. Historicamente, os casosfb12betexploração sexual comercial na região ocorrem com o consentimento ou não dos pais, seja na área urbana, rural ou nos rios,fb12betbalsas.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirmou que a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente estará contribuindo com ações para a prevenção e o enfrentamento das violações aos direitosfb12betcrianças e adolescentes da região, com especial atenção ao abuso e a exploração sexual.
Além disso, informou que estão sendo firmadas parcerias com as prefeiturasfb12betSoures e Breves para a realizaçãofb12betcapacitação dos atores do Sistemafb12betGarantiafb12betDireitos,fb12betprofissionais da educação, da saúde e da segurança, "ainda durante este mêsfb12betnovembro". Aindafb12betacordo com a pasta, "está prevista para dezembro uma grande açãofb12betparceria com a iniciativa privada para a distribuiçãofb12betbrinquedos e material educativo para alertar pais, responsáveis, crianças e adolescentes acerca do abuso e da exploração sexual".
"A exploração sexual infantil, infelizmente, é uma mazela social encontradafb12betdiferentes municípios da região marajoara Ocidental, destacando-sefb12betPortel, Melgaço, Curralinho, Chaves, Afuá, Muaná e no municípiofb12betBreves que é considerado o mais bem estruturado e que concentra o maior númerofb12bethabitantes", explica estudo da pesquisadora Jacqueline Tatiane da Silva Guimarães, doutorafb12beteducação e mestrefb12betServiço Social pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Ela destaca que a exploração sexual, violência, educação precária, fome e dentre outros problemas fazem parte da vida dessas infâncias. "O quadrofb12betpobreza atinge diretamente a infância marajoara, que se torna alvofb12betexploração, violência e assédios, tendo os seus corpos vistos como simples forçafb12bettrabalho e mercadoria."
Para além das calcinhas, vulnerabilidade econômica e a pobreza das famílias parecem ser os elementos mais determinantes para a faltafb12betproteção das crianças contra este tipofb12betcrime. A economia do Marajó é marcada historicamente por atividades predatóriasfb12betmatérias-primas, que geraram renda concentrada na mãofb12betpoucos extraem riqueza sem gerar bem-estar para a população, como a exploração da borracha e da madeira, deixando um rastrofb12betdesemprego que perdura até hoje.
No Arquipélago do Marajó, estão concentrados os municípios mais pobres do Estado do Pará e do Brasil, com o menor PIB per capita do Estado. O rendimento mensal das famílias girafb12bettorno das vendas do açaí e mandioca na feira do agricultorfb12betBreves, juntamente com benefícios sociais, segundo estudo das pesquisadoras Avelina Oliveirafb12betCastro e Maria Angelica Motta-Maués, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
"Na cidade, só 6,1%fb12betdomicílios têm esgotamento sanitário adequado. A água é distribuída só quatro horas por dia, e não para todos os bairros. Por isso, uma cena comum é ver as crianças dedicando parte do dia a levarfb12betbaldes a água que tiram diretamente do Rio Parauaú, o principal da cidade, ou dos caminhões-pipa", diz a pesquisadora Jacqueline Guimarães, da UFPA. "A realidade da infância está intimamente ligada à realidade das famílias marajoaras, que refletem nas crianças as condiçõesfb12betvida que estão sendo submetidas, a faltafb12betemprego, baixa escolaridade", diz,fb12betartigo. "As crianças acabam por não ter seu desenvolvimento garantido, pois as crianças no Marajó têm seus direitos violados porque suas famílias estão sendo violadas, efb12betluta diária acaba sendo pela própria sobrevivência."
Por que a riqueza dos grandes empreendimentos não chega às crianças?
A exploração da riqueza da região e os grandes empreendimentos, diferentemente do que pode supor o senso comum, têm tornado mais pobres e desprotegidas as vidas das crianças da Amazônia.
Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pelo Centrofb12betPesquisa Aplicadafb12betDireitos Humanos e Empresas da Fundação Getúlio Vargasfb12betSão Paulo (FGV CeDHE), com o apoio financeiro do Fundo Nacional para Criança e o Adolescente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, aponta diversos impactos e violações nos direitos das crianças e adolescentes, analisando os casos das usinasfb12betBelo Monte,fb12betAltamira (PA), Jirau e Santo Antonio,fb12betPorto Velho (RO), e faz uma associação direta das obras com o aumento dos casosfb12betviolaçãofb12betdireitos das crianças.
Um exemplo é o casofb12betAltamira, quefb12bet2017 tornou-se o município com a maior taxafb12bethomicídio do Brasil — 114 homicídios para 108.382 habitantes —, atestando um crescimento da violência social associado ao processofb12betimplantaçãofb12betBelo Monte e à expansão rápida, desordenada e mal planejada da cidade, aponta o estudo.
Dados da Polícia Civil apontam que Altamira tinha taxa por 100 mil habitantesfb12bet52 homicídiosfb12bet2009, último ano antes do início das obras, explica um dos coordenadores do estudo, pesquisador Assisfb12betCosta Oliveira, professor do campus Altamira da UFPA e doutorando pela Universidadefb12betBrasília (UnB).
"Um fluxofb12betmilharesfb12betpessoasfb12betfora da cidade, buscando emprego direto ou indireto nas obras com perfil majoritariamente masculino, e que reconfigurou as dinâmicasfb12betconvivência efb12betconflito social", diz Oliveira. Quando as obras terminaram, muitos ex-trabalhadores permaneceram no municípiofb12betsituaçãofb12betociosidade e desemprego, levando,fb12betalguns casos, que também entrassem no mercado do tráficofb12betdrogas para conseguir renda. "Os danos sociais estão muito menosprezados na implantação das grandes obras e empreendimentos."
Também atraiu moradores para Altamira o alagamento do rio Xingu, decorrente do barramento da Belo Monte no município. Enquanto todas essas pessoas se mudavam para lá, não houve nenhum reforço prévio ou contrapartidafb12betinvestimento a maisfb12betsegurança pública, por exemplo, para proteger a população local.
O que se viu, no estudo dos casosfb12betBelo Monte, Jirau e Santo Antônio, foi um aumento vertiginosofb12betcasosfb12betabuso e exploração sexual no períodofb12betimplantação dos empreendimentos, que mantém patamar elevado, ainda que menor, quando os empreendimentos começaram a funcionar. "No caso do abuso sexual, constatou-se que existe um aumentofb12betdenúncias aos órgãos públicos, mas existiu uma demora/dificuldadefb12betjudicialização e punição dos acusados, muitas vezes decorrentes da inexistênciafb12betinformações sobre a localização dos mesmos."
Também houve um aumentofb12betdemanda por reconhecimentofb12betpaternidade e pensão alimentícia quando as obras terminaram e os funcionários começaram a ir embora, "diretamente ligada às relações afetivo-sexuaisfb12betfuncionários das obras com adolescentes e mulheres da região, com correlato descompromissofb12betprover o sustento econômico aos seus filhos".
Tanto a Constituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelecem que os direitos das crianças e adolescentes devem ser considerados prioridade absoluta, destaca o estudo. "O que significa que devem ter primazia na formulaçãofb12betpolíticas sociais,fb12betproteção e no atendimentofb12betserviços públicos, conforme prevê o artigo 4, parágrafo único, do ECA".
Enquanto integrantes da sociedade, as empresas também são responsáveis por fazerfb12betparte na responsabilidade pela proteção dos direitosfb12betcrianças e adolescentes, alerta o estudo. Mas, nos casosfb12betBelo Monte, Jirau e Santo Antônio, a análise dos 891 documentos que compõem os processosfb12bettomadafb12betdecisão mostrou que os direitos das crianças e adolescentes só foram consideradosfb12bet64 documentos, na etapafb12betlicenciamento ambiental.
Quais são as soluções sugeridas?
Para melhorar a vida das crianças na Amazônia, destaca a pesquisadora Jacqueline Guimarães, da UFPA, é preciso que as entidades que trabalham com a criança e adolescente realizem um trabalho conjuntofb12betformafb12betrede, tendofb12betmente que cada região tem suas peculiaridades.
"Não basta a simples existênciafb12betEscolas, Conselhos Tutelares, Conselhofb12betDireito da Criança e adolescente, Centrosfb12betReferênciafb12betAssistência Social. É fundamental a realizaçãofb12betaçõesfb12betdiálogos e agendas que se comuniquem e articulem entre as diferentes instituições que pretendem proteger a infância".
Na visão da Unicef, é fundamental identificar e acompanhar a dispersão das populações indígenas e ribeirinhas, que emigramfb12betsuas terras para as periferias das cidades. Em muitos casos, esses fluxos migratórios acontecemfb12betrazão da implantaçãofb12betgrandes obrasfb12betinfraestrutura - que, por um lado, desalojam populações e, por outro, geram empregos, oufb12betbuscafb12betoutras oportunidadesfb12bettrabalho, por questõesfb12betsaúde, por causafb12betconflitos fundiários oufb12betbuscafb12beteducação. "A maioria da população indígena jovem já se encontra na periferia das médias e grandes cidades da região".
Outro caminho, defende a Unicef, é fortalecer a capacidade dos municípios, que representa o poder público mais próximo da população, para atuarfb12betcontextosfb12betgrandes complexidades sociais, econômicas, sociais e geográficas, como a Amazônia. "Em muitos lugares, as instâncias municipais, estaduais e federal na Amazônia Legal não são capazesfb12betgarantir e realizar sozinhas os direitos, especialmente das populações vulneráveis. Por isso, União, Estados e municípios precisam investir na formação e qualificação permanente dos serviços e agentes públicos. Isso pode ser feito por meiofb12betparcerias com universidades e escolasfb12betgoverno e gestão, e demais instituições públicasfb12betpesquisa e ensino".
Para o coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, que atua na Amazônia, Caetano Scannavino, é preciso discutir um modelo econômico efb12betdesenvolvimento que, alémfb12betgerar riqueza, beneficie a população localfb12betmaneira sustentável."
"Ao longo dessas décadas, desmatamos o equivalente a duas Alemanhas para que 63% dessas áreas fossem ocupadas por pastosfb12betbaixíssimas produtividade, níveis africanos. Estamos desmatando para ficar mais pobres? Não para substituir por algo eficiente, que poderia gerar inclusão e desenvolvimento para todos e não só para a geração atual, mas para a frente", diz ele que, para isso, defende uma somafb12betesforçosfb12bettodos os setores da sociedade: governo, academia, ONGs e movimentos sociais, seguindo modelosfb12betiniciativas que já funcionam na região,fb12betpequena escala. "Isso que precisa ser debatido. Há décadas se extrai recursos da Amazônia, e as pessoas não estão mais ricas. Estão mais pobres porque não melhorou o péfb12betmeia, e a floresta não tem mais a riqueza que tinha antes".
A assistência social Glinda, moradorafb12betBreves, tem visão parecida sobre o futuro das riquezas naturais da regiãofb12betque ela nasceu. "A florestafb12betpé gera lucros pra uns e prejuízos pra outros", diz. "Esse é o nosso grande problema, eles a veem sob o olhar da ganância. Mas o aqui o povo existe e resiste".
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