'Sobrevivi à leucemia e virei médica para salvar pessoas com a doença':aposta ganha 10 mil

A médica Marina Aguiar,aposta ganha 10 milseu consultório

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Marina Aguiar se formouaposta ganha 10 milMedicina e se especializouaposta ganha 10 miltransplantes para tratar pacientes com leucemia, doença que enfrentou e superou na adolescência

"Fiquei triste muitas vezes. Mas sempre tentava acreditar que tudo daria certoaposta ganha 10 milalgum momento", diz Aguiar. Ela considera que o diplomaaposta ganha 10 milMedicina é aaposta ganha 10 milmaior vitória contra a doença.

A descoberta do câncer

Durante o ensino médio, Aguiar tinha dedicação extrema aos estudos para passaraposta ganha 10 milodontologia na Universidade Federalaposta ganha 10 milGoiás (UFG). Ela foi aprovada no vestibular e começou o curso. Era marçoaposta ganha 10 mil2006. Em meio à alegria com o início da universidade, uma situação passou a preocupar a adolescente: as dores frequentes nas pernas.

"Fui a diferentes médicos, mas alguns diziam que eram dores psicológicas,aposta ganha 10 milrazão da minha preocupação com os estudos. Outros diziam que eram dores relacionadas à coluna. Cheguei a fazer fisioterapia para ver se melhorava", diz.

Os tratamentos indicados pelos médicos não trouxeram resultados. "Eu tinha feito vários exames que, a princípio, não deram alterados. Até que um dos resultados apontou que eu estava com anemia", lembra.

A jovem fez tratamento para a anemia, que não surtiu efeitos. Em agostoaposta ganha 10 mil2006, cinco meses após o início das dores, Aguiar fez uma ressonância magnética, que apontou alteração emaposta ganha 10 milmedula óssea.

Ela foi encaminhada a um hematologista, que a examinou e pediu exames mais aprofundados. No dia seguinte, o especialista chamou a mãeaposta ganha 10 milAguiar, a educadora física Keila Aguiar, e comunicou sobre a doença da jovem, que havia recém-completado 18 anos.

Aguiar foi diagnosticada com leucemia linfocítica aguda (LLA), doença na qual as células que normalmente se transformamaposta ganha 10 millinfócitos – glóbulos brancos que atuam na defesa do organismo – se tornam cancerosas e substituem rapidamente as células saudáveis da medula óssea. Desta forma, o paciente desenvolve anemia e fica com o sistema imunológico extremamente prejudicado.

"Descobri que as intensas dores que eu tinha na perna eram no fêmur, na região da coxa, que é uma área do corpoaposta ganha 10 milque também se encontra a medula óssea. Eram dores causadas pela leucemia", diz a jovem.

Marina Aguiar, usando uma touca, na épocaaposta ganha 10 milque tratava a leucemia

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, No início, tratamento contra a leucemia surtiu poucos resultados para Aguiar, e um médico chegou a desenganá-la

Conforme estimativa do Instituto Nacionalaposta ganha 10 milCâncer (Inca),aposta ganha 10 mil2019 devem ser diagnosticados 12,5 mil novos casosaposta ganha 10 milcânceraposta ganha 10 milpessoasaposta ganha 10 milzero a 19 anos. Desses, os mais frequentes são leucemia, tumores que atingem o sistema nervoso central e linfomas (no sistema linfático). Não há estimativas específicas para cada tipo da doença.

Segundo o DataSUS, foram registradas 831 mortes por leucemiaaposta ganha 10 milcrianças e adolescentes no Brasilaposta ganha 10 mil2017, dado mais recente.

A descoberta da doença deixou a mãe consternada. Ela conhecia pouco sobre leucemia e diz que, a princípio, chegou a pensar que pudesse ser uma sentençaaposta ganha 10 milmorte para a filha. "Comecei a chorar muito quando soube. Perdi o chão. Fiquei arrasada. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer com a minha filha", relembra a mãe.

A leucemia da jovem foi descobertaaposta ganha 10 milestágio avançado. Ela estava anêmica e frágil. A adolescente soube da doença quando a mãe retornou da consulta. "A princípio, a minha ficha não caiu. Só penseiaposta ganha 10 milprocurar o tratamento adequado", conta Marina Aguiar.

No mesmo dia do diagnóstico, ela foi internadaaposta ganha 10 miluma unidadeaposta ganha 10 milsaúde públicaaposta ganha 10 milGoiânia, cidade onde nasceu e morava na época. O planoaposta ganha 10 milsaúde dela não cobria quimioterapia ou qualquer tratamento contra o câncer.

"O médico me disse que se eu demorasse mais uma semana para descobrir a doença, talvez não estivesse viva. Foi muito pesado passar por isso. Eu só pensava nos meus planos que teria que deixaraposta ganha 10 millado, como a faculdade que eu tinha acabadoaposta ganha 10 milcomeçar", diz.

As dificuldades com a quimioterapia

A jovem iniciou os procedimentosaposta ganha 10 milquimioterapia logo após ser internada. Entre agostoaposta ganha 10 mil2006 e abrilaposta ganha 10 mil2007, ela viveu entre o hospital eaposta ganha 10 milcasa. "A minha rotina mensal era passar sete dias fazendo quimioterapia, três diasaposta ganha 10 milcasa e logo voltar para o hospital para tomar antibiótico, para tratar diversas infecções que contraía por causa da baixa imunidade", diz Aguiar.

Nos primeiros dois mesesaposta ganha 10 miltratamento, os médicos notaram que os resultados eram pouco satisfatórios. Por isso, orientaram que Aguiar deveria passar por um transplanteaposta ganha 10 milmedula óssea. "Meus pais e meu irmão fizeram exames para ver se poderiam me ajudar, mas não eram compatíveis", diz a médica.

Os parentes iniciaram uma campanhaaposta ganha 10 milGoiâniaaposta ganha 10 milbuscaaposta ganha 10 mildoadores. A iniciativa mobilizou diversos moradores, mas nenhuma pessoa era compatível.

A jovem foi inscrita no Registro Nacionalaposta ganha 10 milDoadoresaposta ganha 10 milMedula Óssea (Redome), mas lá tampouco havia pessoas compatíveis. Só lhe restava esperar por tempo indeterminado até encontrar um doador.

Oito meses se passaram desde o início do tratamento. As quimioterapias foram finalizadas com resultados insatisfatórios, pois as células cancerosas continuavam na medula óssea da jovem. "Recebi alta hospitalar sem nenhuma expectativaaposta ganha 10 milcura. O médico que me acompanhava me disse que eu poderia fazer um tratamento mais simples, que hoje sei que não me curaria, era uma medida paliativa, só para me dar um pouco maisaposta ganha 10 miltempoaposta ganha 10 milvida."

Uma tentativaaposta ganha 10 milsalvar a filha

Logo que souberam que o tratamento não teve bons resultados, os pais se desesperaram. Diante da ausênciaaposta ganha 10 milpessoas compatíveis, decidiram seguir o conselhoaposta ganha 10 milum médico conhecido da família e gerar um novo filho.

Keila e o marido, o empresário Fernando Augusto Aguiar, recorreram à fertilização in vitro. Era o único método viável, pois a mãe, na época com 39 anos, tinha feito laqueadura depois do nascimento do filho caçula, 12 anos antes. "Quando descobri que ter mais um filho era um modoaposta ganha 10 miltentar salvar a Marina, não pensei duas vezes", diz a mãe.

O primeiro procedimento não deu certo. "Eu precisavaaposta ganha 10 milrepouso, mas como passava o dia inteiro com a Marina no hospital, enquanto o meu marido cuidava do nosso filho caçula, acabei não conseguindo seguir as orientações médicas", diz a educadora física.

Na segunda fertilização, a mãe passou mais tempoaposta ganha 10 milrepouso e engravidouaposta ganha 10 milgêmeos. "Foi uma alegria imensa, porque ali pensei que poderia salvar a minha filha", diz. A expectativa era tentar fazer o transplante por meio da coletaaposta ganha 10 milsangue do cordão umbilicalaposta ganha 10 milum dos recém-nascidos.

Os planos iniciais não deram certo, porque os bebês nasceram prematuros,aposta ganha 10 milnovembroaposta ganha 10 mil2007, com pouco maisaposta ganha 10 milseis mesesaposta ganha 10 milgestação. "O parto deles foi muito complicado. Como nasceram muito antes do previsto, não havia sangue suficiente para um possível transplante", diz Aguiar. Os recém-nascidos passaram 40 dias na UTI neonatal e receberam alta hospitalar.

"Fiquei arrasada, porque o nosso maior objetivo era que o sangueaposta ganha 10 milum dos cordões umbilicais pudesse ajudar a minha filha", diz a mãe.

A expectativa seguinte era que um dos recém-nascidos, caso fosse compatível, doasse medula óssea à irmã. Quando as crianças completaram um ano, passaram por exames que apontaram que não eram compatíveis. "Quando soube disso, parece que um buraco se abriu sobre mim. Foi horrível saber que eu não conseguiria ajudar a minha filha", conta a mãe.

Marina Aguiar com a mãe, grávida na época

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Marina Aguiar com a mãe, que engravidou na esperançaaposta ganha 10 milque o bebê pudesse doar medula óssea para a filha e ajudá-la a superar câncer

Tratamentoaposta ganha 10 milmanutenção

Em abrilaposta ganha 10 mil2007, quando encerrou os mesesaposta ganha 10 milquimioterapia, Aguiar optou por não fazer o novo tratamento proposto pelo médico que a acompanhava e procurou outro especialista no Hospital do Cânceraposta ganha 10 milGoiás (HCG).

No HCG, ela conheceu o hematologista César Bariani. "Ele me fez ter esperançasaposta ganha 10 milque poderia me curar. Isso foi muito importante naquele momento", diz a hoje médica. O especialista deu início a um tratamento definido como uma intensa quimioterapiaaposta ganha 10 milmanutenção na paciente. O tratamento era mais fraco que o primeiro, e Aguiar não precisou ficar internada. Dessa vez, ela não perdeu todo o cabelo e nem teve fraqueza extrema.

"Muitos pacientes não aguentam chegar a essa segunda fase, quando não conseguem a cura no primeiro tratamento. Acredito que eu tenha conseguido porque era muito jovem", afirma. Ela deveria fazer o procedimento somente enquanto aguardava um doadoraposta ganha 10 milmedula. Uma das expectativas, no início da quimioterapiaaposta ganha 10 milmanutenção, era aguardar os examesaposta ganha 10 milcompatibilidade nos irmãos gêmeos dela.

No novo tratamento, ela conseguiu participar presencialmente das aulas do cursoaposta ganha 10 milodontologia. No tratamento anterior, teveaposta ganha 10 milentrar com recurso na Justiça para conseguir autorização para cursar as disciplinas a distância.

Aguiar conta que a preocupação com os estudos esteve presente desde o primeiro diaaposta ganha 10 milque foi internada para tratar a leucemia. "Não queria perder nenhum semestre", diz.

Na épocaaposta ganha 10 milque estudou a distância, colegasaposta ganha 10 milclasse a visitavam no hospital para ajudar a jovem com os conteúdos. "Mesmo internada e fazendo um tratamento muito agressivo, nunca reprovei", diz. Apesaraposta ganha 10 milfragilizada, ela reservava horários para estudar. Os professore iam até o hospital para aplicar as provas.

Ela concluiu os primeiros semestresaposta ganha 10 milOdontologia sem reprovaraposta ganha 10 milnenhuma disciplina.

Aprovaçãoaposta ganha 10 milMedicina

Enquanto fazia a quimioterapiaaposta ganha 10 milmanutenção, Aguiar decidiu que se tornaria médica. "Nos mesesaposta ganha 10 milque fiquei internada, me encantei pela medicina. Mas decidi,aposta ganha 10 milfato, que seguiria por essa área nesse começo da quimioterapiaaposta ganha 10 milmanutenção."

"Quando o doutor César Bariani me deu esperanças, enquanto o médico anterior tinha me dito que não havia mais alternativas, decidi que queria fazer medicina para que também pudesse dar esperanças para outros pacientes", diz ela.

Em dezembroaposta ganha 10 mil2007, a jovem prestou vestibular para medicinaaposta ganha 10 miluma universidade particularaposta ganha 10 milGoiânia. Foi aprovada. Os parentes se assustaram com a decisão. "Eles tinham medoaposta ganha 10 milque eu não tivesse preparo emocional para lidar com pacientes com leucemia. Achavam que eu poderia não conseguir."

No inícioaposta ganha 10 mil2008, ela trancou o cursoaposta ganha 10 milodontologia e ingressou na faculdadeaposta ganha 10 milmedicina. Por causa da quimioterapiaaposta ganha 10 milmanutenção, ela combinou com os diretores da nova universidade que faltaria alguns dias da semana para fazer o tratamento.

O curso particular foi pago pelo pai da jovem. "Mesmo com algumas dificuldades, porque o cursoaposta ganha 10 milmedicina custa caro, ele me apoiou", relata.

Marina Aguiar segura os gêmeos, irmãos dela, quando bebês

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Bebês nasceram prematuros e não puderam auxiliar no tratamento da irmã

A cura da leucemia

Marina se dividia entre as aulasaposta ganha 10 milmedicina e o tratamento contra a leucemia. No inícioaposta ganha 10 mil2009, quase dois anos após começar a quimioterapiaaposta ganha 10 milmanutenção, a jovem estava sem esperanças. Depois que ela descobriu que os irmãos – Pedro Augusto e Davi Augusto Aguiar, hoje com 11 anos – não eram compatíveis, ela não tinha nenhum outro possível doadoraposta ganha 10 milmedula. O médico disse que ela teria que parar com o tratamento, pois seu organismo não suportaria.

Quando ela suspendeu o tratamento, fez novos exames, que apontaram que não havia mais células cancerosas emaposta ganha 10 milmedula óssea. Porém, por ser um tratamentoaposta ganha 10 milmanutenção e mais fraco que o primeiro, as chancesaposta ganha 10 mila leucemia voltar eram consideradas altas.

"Depois que terminei a manutenção, passei a realizar exames semanais, para que qualquer retorno da doença fosse descoberto logo no início. Com o tempo, esses exames se tornaram quinzenais, depois mensais, trimestrais e assim foi indo. Os anos foram passando e a doença nunca retornou", diz a médica.

Hoje, ela é considerada curada. "É preciso esperar 10 anos, depois do fim do tratamento, para atestar a cura".

Ela classifica aaposta ganha 10 milcura como um milagre. Evangélica, Aguiar faz uma cerimônia religiosa todos os anos, desde o fim do tratamento, para comemorar. "Tenho certezaaposta ganha 10 milque a atenção dos médicos que acreditaram na minha cura e a minha fé foram fundamentais", diz.

Em dezembroaposta ganha 10 mil2013, ela se formouaposta ganha 10 milmedicina. "Foi uma emoção muito grande". Ao concluir o curso, ela fez dois anosaposta ganha 10 milresidênciaaposta ganha 10 milclínica médica, na qual há estudos sobre diferentes áreas da profissão, e mais dois anosaposta ganha 10 milresidênciaaposta ganha 10 milhematologia, para cuidar, principalmente,aposta ganha 10 milpacientes que também lidam com a leucemia.

A especializaçãoaposta ganha 10 milhematologia foi feita no HCG, onde ela tinha feito o tratamento contra a leucemia por dois anos. "Fui a primeira residenteaposta ganha 10 milhematologia no hospital. Foi muito importante para mim trabalhar ali. No começo, os médicos tinham receio e pensavam que poderia me prejudicar emocionalmente, por eu ter me tratado ali. Mas eu sempre disse que tinha certezaaposta ganha 10 milque queria ficar ali", diz.

"Trabalhei no HCG por dois anos, durante a minha residência. Deu tudo certo. Muitos funcionários, que me acompanharam como paciente, ficaram felizesaposta ganha 10 milme ver como médica", relata.

No início deste ano, ela concluiu a especializaçãoaposta ganha 10 miltransplante. Aguiar planeja, até o começoaposta ganha 10 mil2020, fazer o seu primeiro transplanteaposta ganha 10 milmedula óssea,aposta ganha 10 milum paciente que ela acompanha no hospital particularaposta ganha 10 milque trabalha desde abril,aposta ganha 10 milBrasília.

A intençãoaposta ganha 10 milauxiliar os pacientes até onde puder, que ela tem desde que decidiu cursar medicina, é algo que a médica carrega consigo. "Sempre quero dar o meu máximo para poder ajudar. Sei que nem todas as vezes vai ser possível, mas sempre quero ter a certezaaposta ganha 10 milque fiz tudo o que pude", afirma.

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