Por que mais100 rodadas grátis betano70% dos casos100 rodadas grátis betanocâncer100 rodadas grátis betanomama no Brasil são diagnosticados100 rodadas grátis betanoestágio avançado:100 rodadas grátis betano

Para começar quimioterapia."

No início do ano, a Femama, que reúne 72 entidades filantrópicas que apoiam mulheres com câncer100 rodadas grátis betanomama, colocou no ar uma página intitulada "Relatos100 rodadas grátis betanoEspera", para que pacientes compartilhassem as dificuldades que tiveram para serem diagnosticadas e começarem o tratamento.

Entre as dezenas100 rodadas grátis betanomensagens está a100 rodadas grátis betanoCristiane,100 rodadas grátis betanoMangaratiba (RJ), enviada no dia 6100 rodadas grátis betanofevereiro.

Com mais ou menos adjetivos, as histórias são parecidas, e não por acaso: as deficiências do Sistema Único100 rodadas grátis betanoSaúde (SUS), na visão100 rodadas grátis betanomuitos especialistas, postergam diagnóstico e tratamento100 rodadas grátis betanomilhares100 rodadas grátis betanomulheres100 rodadas grátis betanotodo o Brasil e aprofundam as desigualdades entre ricas e pobres.

Para especialistas como o mastologista Rodrigo Gonçalves, pesquisador da Faculdade100 rodadas grátis betanoMedicina da Universidade100 rodadas grátis betanoSão Paulo (FMUSP), esse é um ponto central na luta do país contra o câncer100 rodadas grátis betanomama, que tem atingido - e matado - cada vez mais mulheres no Brasil.

Melhorar o acesso das mulheres ao SUS é uma das principais recomendações do paper Avaliação ética do rastreamento100 rodadas grátis betanocâncer100 rodadas grátis betanomama no Brasil para se fazer frente às estatísticas negativas.

O trabalho, que está sendo submetido a uma publicação internacional, é assinado por ele e outros três colegas: José Maria Soares Jr, professor da Faculdade100 rodadas grátis betanoMedicina da USP, Edmund Chada Baracat, pró-reitor100 rodadas grátis betanoGraduação da USP, e José Roberto Filassi, professor chefe do setor100 rodadas grátis betanomastologia da FMUSP.

O texto ressalta o número elevado100 rodadas grátis betanodiagnósticos da doença100 rodadas grátis betanoestágio mais avançado. A proporção passa100 rodadas grátis betano70%: 53,5% dos diagnósticos são100 rodadas grátis betanoestágio 2 e 23,2%100 rodadas grátis betanoestágio 3,100 rodadas grátis betanoacordo com os dados do Estudo Amazona, assinado por pesquisadores100 rodadas grátis betano19 instituições e que leva100 rodadas grátis betanoconta dados100 rodadas grátis betanopacientes atendidos pelas redes pública e particular.

Em países como Estados Unidos, por exemplo, 62% dos casos são detectados100 rodadas grátis betanoestágio inicial, quando os tumores ainda são localizados.

O paper dos pesquisadores brasileiros ressalta que, se tomadas apenas as mulheres com acesso à saúde privada, as proporções se invertem. A grande maioria recebe o diagnóstico no estágio inicial da doença.

Essa diferença, dizem, mostra como é "perverso" o sistema "dual"100 rodadas grátis betanosaúde no Brasil,100 rodadas grátis betanoque quem tem condições paga o sistema privado e quem não tem depende unicamente do SUS.

Quanto mais tardio o diagnóstico, menores as chances100 rodadas grátis betanosobrevivência da paciente e mais invasivo o tratamento - o número100 rodadas grátis betanosessões100 rodadas grátis betanoquimio e radioterapia e a necessidade da retirada da mama, a mastectomia.

Um ano do nódulo à cirurgia

Cristiane da Silva Abreu realizou uma mastectomia radical com esvaziamento axilar no dia 26100 rodadas grátis betanodezembro100 rodadas grátis betano2018, quase um ano depois100 rodadas grátis betanodescobrir um nódulo abaixo do mamilo.

Em busca100 rodadas grátis betanoum diagnóstico, no começo do ano passado ela procurou a ginecologista da rede privada com quem costumava fazer100 rodadas grátis betanoprevenção.

Sem plano100 rodadas grátis betanosaúde, a carioca separava pelo menos R$ 300 por ano para tentar fugir da fila do SUS, pagar a consulta com especialista e alguns exames.

Desta vez, a mamografia mostrou uma alteração do tipo bi-rads 4 na mama, que indica suspeita100 rodadas grátis betanomalignidade e necessita100 rodadas grátis betanobiópsia para confirmação.

Por conta da região delicada100 rodadas grátis betanoque se encontrava o nódulo, o procedimento precisava ser cirúrgico - e não apenas por meio100 rodadas grátis betanouma punção -, com retirada e reconstituição do mamilo.

Isso foi100 rodadas grátis betanomarço. Abril, maio, junho, julho, agosto... A espera durou 6 meses - e poderia ter sido maior.

Cristiane decidiu acionar um cunhado que trabalhava na Secretaria100 rodadas grátis betanoSaúde100 rodadas grátis betanoMangaratiba e que intercedeu por ela junto à secretaria da pasta, que transferiu seu caso para o hospital federal Cardoso Fontes.

"Fiz a biópsia e, na saída do procedimento, a médica alertou que muito provavelmente eu precisaria fazer a mastectomia."

Foram mais três meses até a cirurgia, que retirou a mama esquerda e parte do músculo peitoral. A reconstrução da mama seria delicada, demandaria uma série100 rodadas grátis betanoenxertos - e, por isso, ela decidiu que não faria.

O relato100 rodadas grátis betanoCristiane é o que abre este texto. Ao contrário do que a mensagem econômica nas palavras pode sugerir, ela é uma dessas pacientes que tiram energia das dificuldades.

Dando risada, contou na conversa por telefone com a reportagem que, para fazer valer a isenção ao IPTU à qual tem direito, já que passou a ser considerada portadora100 rodadas grátis betanodeficiência após a cirurgia, chegou a "invadir" a prefeitura100 rodadas grátis betanoMangaratiba.

"Fui no gabinete do prefeito e mostrei minha cicatriz", diz a funcionária pública, hoje com 47 anos.

Cristiane não precisou fazer quimioterapia, como pensava100 rodadas grátis betanofevereiro100 rodadas grátis betano2019. Por recomendação médica, entretanto, tem100 rodadas grátis betanoacompanhar100 rodadas grátis betanoperto a outra mama. Até hoje, porém, não conseguiu uma consulta.

"Liguei no começo do ano e disseram que a agenda100 rodadas grátis betano2019 já estava fechada."

Mais100 rodadas grátis betano60 dias entre diagnóstico e tratamento

Para as pacientes do SUS, a espera para realização100 rodadas grátis betanouma biópsia - fundamental para entender o tipo100 rodadas grátis betanocâncer e as possibilidades100 rodadas grátis betanotratamento - leva entre 75 e 185 dias, conforme os dados citados no trabalho100 rodadas grátis betanoGonçalves.

O intervalo entre o diagnóstico do câncer100 rodadas grátis betanomama e o primeiro tratamento no SUS leva mais100 rodadas grátis betano60 dias100 rodadas grátis betanomais100 rodadas grátis betano50% dos casos,100 rodadas grátis betanoacordo com os dados reunidos pelo Painel-Oncologia, do Instituto Nacional100 rodadas grátis betanoCâncer (INCA) até 2017. Os números100 rodadas grátis betano2018 apontam uma proporção ligeiramente menor, mas há um volume grande100 rodadas grátis betanocasos sem informação (cerca100 rodadas grátis betano7%), ou seja,100 rodadas grátis betanoque não se sabe o intervalo do diagnóstico ao tratamento.

A médica mastologista Maira Caleffi, presidente voluntária da Femama e chefe do serviço100 rodadas grátis betanomastologia do Hospital Moinhos100 rodadas grátis betanoVento,100 rodadas grátis betanoPorto Alegre, lembra que uma lei aprovada100 rodadas grátis betano2012 determina um prazo máximo100 rodadas grátis betano60 dias para início do tratamento após o diagnóstico.

"Os gestores públicos já estão usando os 60 dias como indicador100 rodadas grátis betanoeficiência, cobram dos hospitais - mas, como tudo no Brasil, as coisas demoram a mudar."

Agora, a entidade faz campanha pela aprovação da "Lei dos 30 dias", que estabelece um prazo máximo100 rodadas grátis betanoum mês para que a mulher consiga ser diagnosticada. O projeto passou pela Câmara100 rodadas grátis betanodezembro do ano passado e está parado no Senado.

Caleffi conta que o PL já entrou e saiu da pauta algumas vezes e que agora está parado na Comissão100 rodadas grátis betanoFinanças e Tributação.

"Eles dizem que não tem dinheiro (no sistema público100 rodadas grátis betanosaúde para garantir o diagnóstico100 rodadas grátis betano30 dias)", diz a médica, que defende pautas100 rodadas grátis betanointeresse das pacientes com câncer100 rodadas grátis betanomama há 26 anos.

Nódulo100 rodadas grátis betano14 centímetros

A gaúcha Katia Lopes recebeu o primeiro diagnóstico100 rodadas grátis betanocâncer100 rodadas grátis betanomama aos 28 anos,100 rodadas grátis betano2006. A cidade100 rodadas grátis betanoTramandaí, onde vive, não tem médicos especialistas. Assim, ela fez todo o tratamento100 rodadas grátis betanoPorto Alegre, a uma hora e quarenta100 rodadas grátis betanoônibus.

Foi uma maratona.

Para as sessões100 rodadas grátis betanoquimioterapia - que começaram cerca100 rodadas grátis betano8 meses depois100 rodadas grátis betanoela sentir o nódulo no seio -, acordava100 rodadas grátis betanomadrugada para chegar a tempo ao ponto100 rodadas grátis betanoonde saia o transporte disponibilizado pela prefeitura, que partia às 4h30 da manhã.

Em 2015, quase dez anos depois da primeira mastectomia radical, ela sentiu um nódulo na outra mama. O fato100 rodadas grátis betanojá ser paciente oncológica não fez diferença na fila100 rodadas grátis betanoespera do SUS: foram três meses até que conseguisse se consultar com a mastologista que a acompanhava.

Outro diagnóstico100 rodadas grátis betanomalignidade. O nódulo cresceu rápido e, quando ela foi operada,100 rodadas grátis betano22100 rodadas grátis betanojaneiro100 rodadas grátis betano2017, o tumor media 14 centímetros.

Em 2006, a médica deu encaminhamento na prefeitura para que Katia fosse submetida a um teste genético.

O procedimento ajudaria a medir o risco100 rodadas grátis betanoela desenvolver câncer na outra mama ou100 rodadas grátis betanooutras partes do corpo, mas até hoje não foi liberado.

Katia conseguiu se aposentar por invalidez depois da primeira mastectomia, que foi bastante invasiva. Recentemente, entretanto, o pente fino que o INSS vem fazendo sobre aposentadorias por invalidez e auxílio doença cortou o benefício.

Ela entrou na Justiça, mas perdeu a causa.

Há 6 meses procura emprego, "alguma coisa que não seja pesada", já que sente dores quando força o movimento dos braços.

Seu advogado tenta garantir na Justiça um auxílio100 rodadas grátis betanomeio salário mínimo por mês, que ela espera para ajudar a pagar as despesas100 rodadas grátis betanocasa, com quem mora com o filho,100 rodadas grátis betano25 anos.

'Fura fila'

As histórias100 rodadas grátis betanoCristiane e Katia, que foram diagnosticadas jovens, antes dos 50 anos, não são casos raros: 41,1%100 rodadas grátis betanotodos os casos100 rodadas grátis betanocâncer100 rodadas grátis betanomama no país atingem mulheres até essa idade, conforme os dados do Estudo Amazona, citados no trabalho do médico Rodrigo Gonçalves.

Nos EUA, por exemplo, o percentual100 rodadas grátis betanodiagnósticos até os 54 anos100 rodadas grátis betanoidade (parâmetro adotado pelo National Cancer Institute) é100 rodadas grátis betano30,4%.

O mastologista afirma que ainda "não existe nenhuma explicação sólida sobre os motivos100 rodadas grátis betanotermos mais mulheres jovens com câncer no Brasil", mas chama atenção para o fato100 rodadas grátis betanoque as diretrizes para o rastreamento da doença estabelecidas pelo Ministério da Saúde recomendam a mamografia100 rodadas grátis betanomulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos.

"O Brasil está copiando as recomendações100 rodadas grátis betanorastreamento100 rodadas grátis betanopaíses desenvolvidos - e que não atendem a 41% da população afetada pela doença", ressalta.

A sugestão dele e dos colegas, entretanto, não é reduzir a idade100 rodadas grátis betanorastreamento - que representaria um custo elevado para o sistema100 rodadas grátis betanosaúde sem necessariamente trazer benefícios na mesma proporção -, mas melhorar o acesso das mulheres ao SUS, especialmente aquelas com nódulos palpáveis e lesões suspeitas.

Nesses casos, eles recomendam que as pacientes tenham prioridade na fila para consulta e exames - o que já acontece100 rodadas grátis betanohospitais públicos como o Pérola Byington,100 rodadas grátis betanoSão Paulo, exemplifica o médico.

Segundo o mastologista Luiz Henrique Gebrim, diretor do Pérola Byington, 70% das mulheres com câncer diagnosticadas no SUS palparam o nódulo - é o que os médicos chamam100 rodadas grátis betano"self detected cancer" ("câncer autodetectado").

"Elas não precisam100 rodadas grátis betanomamografia, precisam100 rodadas grátis betanoexame clínico e biópsia", concorda.

Na unidade, que recebe os casos já triados, as pacientes são submetidas à biópsia no mesmo dia da consulta com o especialista. Detectado100 rodadas grátis betanoestágio inicial, a mortalidade do câncer100 rodadas grátis betanomama cai100 rodadas grátis betanoaté 30%.

"Nós economizamos mais (porque reduzimos os tratamentos100 rodadas grátis betanoalta complexidade) e salvamos mais gente."

Com apoio da fundação americana Susan Komen, o hospital está replicando seu modelo100 rodadas grátis betanooutros Estados. Segundo Gebrim, já foram treinados cerca100 rodadas grátis betano100 médicos100 rodadas grátis betanocidades como Manaus, Belém e Teresina.

A diretora geral do Instituto Nacional100 rodadas grátis betanoCâncer (Inca), Ana Cristina Pinho, respondendo a questionamentos da reportagem enviados ao Ministério da Saúde, afirmou que as áreas técnicas do instituto e a pasta defendem a hierarquização dos casos, para que as lesões suspeitas sejam verificadas100 rodadas grátis betanoforma mais célere, e diz que a diretriz para o fast track já existe no SUS.

"Na prática ele não funciona a contento,100 rodadas grátis betanomaneira organizada, estruturada. Não é isso que a gente vê. Precisa que a rede esteja funcionando mais adequadamente, e esse é um trabalho a ser feito", disse, por telefone.

Segundo ela, já existem protocolos100 rodadas grátis betanoencaminhamento rápido nos casos suspeitos para investigação diagnóstica na atenção primária, que é100 rodadas grátis betanocompetência dos municípios.

"Nada disso é possível sem o envolvimento dos gestores municipais e estaduais. O SUS, na100 rodadas grátis betanoconcepção, é um sistema tripartite, que funciona necessariamente100 rodadas grátis betanorede. Se a rede não funciona, o sistema não vai funcionar."

Aumento da mortalidade

Questionada sobre o aumento da mortalidade do câncer100 rodadas grátis betanomama no Brasil, que muitos especialistas consideram100 rodadas grátis betanoparte reflexo da dificuldade100 rodadas grátis betanoacesso100 rodadas grátis betanomuitas mulheres ao SUS, a diretora geral do INCA aponta outras razões - a maior longevidade do brasileiro, o aumento no número100 rodadas grátis betanocasos e100 rodadas grátis betanouma melhor "qualificação e apuração das bases100 rodadas grátis betanodados".

"A incidência do câncer100 rodadas grátis betanomama está aumentando na população, mas por quê? Porque a nossa população está vivendo mais. Então é um processo natural. A gente está seguindo a tendência no mundo. Isso mostra avanços,100 rodadas grátis betanoum modo geral, para a saúde da população, proporcionado pela cobertura universal (do sistema100 rodadas grátis betanosaúde)."

Segundo ela, "a tendência é que a mortalidade, pelo menos durante um período, aumente. E, a partir100 rodadas grátis betanoum determinado momento, ela comece a reduzir, na média."

Ana Cristina Pinho também ressalta que a mortalidade,100 rodadas grátis betanoforma geral, não aumentou100 rodadas grátis betanomaneira proporcional ao aumento da incidência, e que ela chegou a cair100 rodadas grátis betanoalgumas regiões.

No lançamento da Campanha Outubro Rosa deste ano, a página do Ministério da Saúde destaca que a mortalidade no país está abaixo da média global,100 rodadas grátis betanolinha com a100 rodadas grátis betanopaíses como Estados Unidos, Reino Unido e França, mas não menciona que ela está crescendo.

O indicador passou100 rodadas grátis betano9,15 por 100 mil habitantes para 12,11 por 100 mil entre 1980 e 2016 - alta100 rodadas grátis betano32% -, conforme os dados da International Agency on Research on Cancer (Iarc), ligada à Organização Mundial100 rodadas grátis betanoSaúde. A mesma base mostra que os países citados pela pasta100 rodadas grátis betanoseu site têm reduzido a mortalidade desde meados dos anos 90.

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