'Ofensivo', 'racista' e 'paranoico': a visãoplataforma de casinolíderes indígenas sobre discursoplataforma de casinoBolsonaro na ONU:plataforma de casino

Bolsonaro se referiu várias vezes aos indígenas brasileiros ao defender as políticasplataforma de casinoseu governoplataforma de casinorelação à Amazônia e ao criticar o que ele considera uma ingerência indevidaplataforma de casinoestrangeiros na região.

Ele fez a primeira menção aos grupos ao se referir às queimadas na Amazônia, tema que ganhou o noticiário global nos últimos meses. Bolsonaro disse que "o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas" nesta época do ano, e que "existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parteplataforma de casinosua respectiva cultura e formaplataforma de casinosobrevivência".

Coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara diz que comunidades nativas fazem, sim, pequenas queimadas para abrir roças, mas que "o incêndio florestal (de larga escala) não é uma cultura dos povos indígenas".

"Ele utiliza essa informação sobre nossas queimadas para esconder todo o desmonte da política ambiental autorizado por ele", afirma Guajajara, que foi candidata a vice-presidente na chapa liderada por Guilherme Boulos (PSOL) na eleiçãoplataforma de casino2018, vencida por Bolsonaro.

A maioria dos incêndios que consomem florestas brasileiras nos últimos meses tem ocorrido foraplataforma de casinoterras indígenas. Por estarem mais preservadas, essas áreas retêm mais umidade e estão menos sujeitas a queimadas descontroladas.

Dados imprecisos

Ao citar os indígenas brasileiros na ONU, Bolsonaro usou dados que destoamplataforma de casinoinformaçõesplataforma de casinoórgãos do governo. O presidente disse que existem no Brasil "225 povos indígenas, alémplataforma de casinoreferênciasplataforma de casino70 tribos vivendoplataforma de casinolocais isolados". Segundo o IBGE, porém, há 305 povos indígenas no Brasil, e, segundo a Funai, há registrosplataforma de casino107 povos isolados.

Bolsonaro disse ainda que "o Brasil não vai aumentar para 20%plataforma de casinoárea já demarcada como terra indígena, como alguns chefesplataforma de casinoEstados gostariam que acontecesse" — mas não citou quais líderes teriam esse interesse, nem disseplataforma de casinoonde tirou a menção aos 20%.

Um dos trechos do discurso que causaram mais revolta entre os entrevistados foi a crítica que Bolsonaro fez ao cacique Raoni Metuktire, líder do povo caiapó reconhecido como um dos maiores ativistas da causa indígena no Brasil e no mundo.

Nas últimas semanas, um grupoplataforma de casinoantropólogos, ambientalistas e indígenas brasileiros propôs a indicaçãoplataforma de casinoRaoni ao Prêmio Nobel da Paz porplataforma de casinoatuaçãoplataforma de casinoprol da defesa do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas.

Segundo Bolsonaro, porém, Raoni é um exemploplataforma de casinolíderes que são usados "como peçaplataforma de casinomanobra por governos estrangeiros naplataforma de casinoguerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia".

"O discurso do presidente é uma ofensa muito grave aos povos indígenas. Ofende o reconhecimento e o trabalho que Raoni vem fazendo durante maisplataforma de casino40 anos na defesaplataforma de casinodireitos dos indígenas", rebate Yanukula Kaiabi Suiá, presidente da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix).

A associação representa os 16 povos indígenas que habitam o Território Indígena do Xingu (MT), entre as quais a etnia kalapalo, à qual pertence a indígena levada por Bolsonaro à ONU.

A presençaplataforma de casinoYsani Kalapalo na comitiva presidencial foi duramente criticada pelo representante da Atix e pelos outros líderes entrevistados, que destacaram a faltaplataforma de casinorepresentatividade da convidada no movimento indígena brasileiro.

Em carta divulgada após o anúncioplataforma de casinoque Ysani integraria a delegação presidencial, a Atix disse que "o governo brasileiro ofende as lideranças indígenas do Xingu e do Brasil ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantementeplataforma de casinoredes sociais com objetivo únicoplataforma de casinoofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil".

Ysani, que nasceu no Território Indígena do Xingu e hoje passa a maior parte do tempoplataforma de casinoSão Paulo, ganhou notoriedade com um canal no YouTube no qual expõe visões políticasplataforma de casinodireita e o apoio a posiçõesplataforma de casinoBolsonaro.

O presidente citou diversas vezes a indígenaplataforma de casinoseu discurso, mas errou a pronúnciaplataforma de casinoseu nome: ele a chamouplataforma de casinoYzaní, embora o correto seja Yssâni.

Ao mencioná-la, Bolsonaro leu uma carta do Grupoplataforma de casinoIndígenas Agricultores, única organização indígena a se manifestar publicamenteplataforma de casinofavor da presençaplataforma de casinoYsani na comitiva.

O grupo disse que "o ambientalismo radical e o indigenismo ultrapassado e foraplataforma de casinosintonia com o que querem os povos indígenas representam o atraso, a marginalização e a completa ausênciaplataforma de casinocidadania".

A carta é assinada por supostos líderesplataforma de casinocomunidades favoráveis a mudanças na legislação sobre terras indígenas e a abertura dos territórios para a exploração econômicaplataforma de casinolarga escala.

Todos os líderes ouvidos pela BBC dizem que as posições chanceladas pelo Grupoplataforma de casinoIndígenas Agricultores são minoritárias entre os povos indígenas brasileiros, a maioria dos quais defende a preservação da floresta e os modosplataforma de casinovida tradicionais dos grupos.

Para O-é Kayapó, representante da Associação Floresta Protegida (AFP), entre as dezenasplataforma de casinomilhares que indígenas que vivem na bacia do Xingu, Ysani só tem o apoioplataforma de casinosua própria família.

"Ysani tem um pensamento muito ao contrário da maioria do povo que vive nas aldeias. Por ela ter crescido na cidade, acabou confundindo ou se perdendo entre as duas culturas branca e indígena", afirma.

Ela diz ainda que o Grupoplataforma de casinoIndígenas Agricultores é desconhecido pela grande maioria das comunidades.

'Homens das cavernas'

Em seu discurso, Bolsonaro disse ainda que "algumas pessoas,plataforma de casinodentro eplataforma de casinofora do Brasil, apoiadasplataforma de casinoONGs, teimamplataforma de casinotratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas".

Para O-é Kayapó, ao se referir aos indígenas como "nossos índios", Bolsonaro assume a mesma posturaplataforma de casinotutela que ele atribui às ONGs. "Nós não somos posse do presidente Bolsonaro."

Sônia Guajajara, da Apib, diz que a relação que Bolsonaro estabelece entre indígenas e homens das cavernas é "racista e revela seu desrespeito quanto aos diferentes modosplataforma de casinovida dos povos indígenas".

Para Marivelton Baré, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), entidade que representa 23 etnias no Amazonas, "é Bolsonaro quem ainda parece viver nas cavernas".

"Ele diz que nós queremos ingressar na sociedade, mas a gente já faz parte da sociedade, mas sem esquecer nossa cultura e sem buscar uma integração total. Nós lutamos pelo nosso modoplataforma de casinoser", afirma.

ONGs e riquezas minerais

Ao criticar as ONGs, Bolsonaro exaltou os depósitos minerais que estão nas terras indígenas e disse que a demarcação dessas áreas atenderia a interesses estrangeiros por impedir o Brasilplataforma de casinoexplorar essas áreas.

Ele disse que "o índio não quer ser latifundiário pobreplataforma de casinocimaplataforma de casinoterras ricas" e afirmou, sem citar fontes, que as terras indígenas Yanomami e Raposa/Serra do Sol são "as mais ricas do mundo".

"Isso demonstra que os que nos atacam não estão preocupados com o ser humano índio, mas sim com as riquezas minerais e a biodiversidade existentes nessas áreas", disse o presidente.

Para Baré, da FOIRN, o discurso do presidente é "paranoico". "As riquezas minerais sempre estiveram nos nossos territórios sagrados", afirma ele.

Marivelton diz ainda que as ONGs "são parceirosplataforma de casinotrabalho que nos ajudam a desenvolver atividades e respeitam nossa formaplataforma de casinoexistência".

"Bolsonaro deveria respeitar nossas escolhas sobre os grupos com quem queremos trabalhar. Ele só critica as organizações filantrópicas e não mostra nenhuma proposta alternativa para implementar políticas públicas para os povos indígenas", diz o representante dos povos indígenas rio-negrinos.

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