Por que ilhas desertas são dominadas por cobras:vaidebet lucro

Crotalus catalinensis (uma cascavel sem guizo, endêmica da Ilha Santa Catalina, México)

Crédito, Marcio Martins

Legenda da foto, Durante cinco anos, brasileiro da USP catalogou 1.223 espécies encontradasvaidebet lucro986 ilhas ao redor do mundo

"Entre eles, a jararaca-ilhoa, que tem sido estudada nas últimas décadas por um grupovaidebet lucropesquisadores do qual eu faço parte, e a boca-de-algodão (Agkistrodon piscivorus) da ilha Seahorse Key, da Flórida, a que o Harvey vem se dedicando também há décadas."

Segundo Martins, não havia na literatura algo sobre os padrões gerais da ecologia e biogeografiavaidebet lucrocobras insulares. Por isso, eles resolveram fazer uma revisão sobre o assunto e iniciaram textos preliminares jávaidebet lucro2013. "Pouco depois disso, percebemos que seria muito interessante colocarvaidebet lucroum livro o conhecimento que já havia sido acumulado sobre as serpentes que vivemvaidebet lucroilhas, por meiovaidebet lucrocapítulos focandovaidebet lucrodiferentes espécies e sistemas ao redor do mundo. Passamos então a convidar pessoas que trabalham com esses ofídiosvaidebet lucrovárias partes do planeta para participarem da obra."

Crotalus catalinensis, (uma cascavel sem guizo, endêmica da Ilha Santa Catalina, México

Crédito, Marcio Martins

Legenda da foto, Pesquisadores classificam ilhasvaidebet lucrotrês tipos oceânicas, continentais antigas e continentais recentes

Os pesquisadores classificaram as ilhas estudadasvaidebet lucrotrês tipos - os mesmosvaidebet lucroque se dividem praticamente todas as do mundo: oceânicas, continentais antigas e continentais recentes. As primeiras ficam sobre a crosta oceânica e foram formadas principalmente por vulcanismo, as segundas são pedaçosvaidebet lucrorochas sobre a plataforma continental, que foram separadas do continente pela movimentação das placas tectônicas, e as terceiras são aquelas localizadas nas plataformas continentais e que surgiram com o fim da última glaciação.

Para simplificar, pode-se considerar as segundas e as terceiras como um mesmo tipo, consideradasvaidebet lucromaneira geral como continentais.

Martins diz que é importante ressaltar que a origem das serpentes dessas ilhas é muito diferente daquela das oceânicas. As cobras que vivem nelas, na maioria dos casos, são porções relictuais (remanescentes)vaidebet lucropopulações que eram amplamente distribuídas nas plataformas continentais expostas durante as glaciações do Pleistoceno (período que estendeuvaidebet lucro1,8 milhão a 11 mil anos atrás).

"Explicando melhor:vaidebet lucrocada período glacial do Pleistoceno, o mar retraía e expunha boa parte da plataforma continental", explica. "No pico da última glaciação (que foi - a própria glaciação, não o pico -vaidebet lucro110.000 a 10.000 antes do presente), por exemplo, o mar estava a 120 -130 m abaixo do nível atual."

Bothrops insularis (jararaca-ilhoa, da Ilha da Queimada Grande, Itanhaém, São Paulo)

Crédito, Marcio Martins

Legenda da foto, Das 986 ilhas que Martins e Lillywhite estudaram para a revisão que fizeram, 368 são continentais e 618 oceânicas

Nesses períodos, explica Martins, essas regiões expostas das plataformas eram cobertas por vegetação costeira e as espécies que ocorriam no litoral expandiam suas distribuições para esses novos habitats. Com o aquecimento da atmosfera e o consequente aumento do nível do mar, as montanhas da plataforma continental exposta durante a glaciação se tornaram ilhas e as populações que aí estavam ficaram presas nelas.

Nas pequenas, como Queimada Grande e Alcatrazes, na costavaidebet lucroSão Paulo, por exemplo, boa parte delas que ficou confinada acabou se extinguindo, restando apenas uma fauna relictual. Por exemplo, só duas na primeira e apenas três na segunda. Já nas grandes, ocorrem poucas extinções. Como na ilhavaidebet lucroSão Sebastião, que possui uma faunavaidebet lucroserpentes (22 espécies) quase tão rica quanto avaidebet lucrouma área equivalente do continente adjacente (cercavaidebet lucro25 a 30).

O que acontece nas oceânicas é bem diferente, no entanto. As populaçõesvaidebet lucrocobras, na maioria das vezes, são originadas por processosvaidebet lucrocolonização, pois são locais sem conexão atual com os continentes. "As serpentes colonizam ilhas usando a formavaidebet lucrodispersão conhecida como 'aquática passiva'", explica Martins. "Ou seja, pegam caronavaidebet lucro'balsas'vaidebet lucrovegetação, que são lançadas ao mar pelos rios. Na Amazônia, elas são chamadasvaidebet lucro'camalotes' (especialmente aquelas formadas por aguapé) ou periantã."

Como exemplo, ele cita a colonização das Pequenas Antilhas por cobras da família Boidae, do gênero Corallus - as jiboias arborícolas, e da família Viperidae, do gênero Bothrops - as jararacas, que deve ter se dado por meiovaidebet lucroilhasvaidebet lucrovegetação que foram lançadas ao mar na foz do Rio Amazonas e que foram levadas até lá por correntes marinhas, que fazem exatamente esse percurso, do noroeste da América do Sulvaidebet lucrodireção ao sul do Caribe. Também foi dessa forma que as serpentes colonizaram e se diversificaram nas Galápagos.

Bothrops insularis (jararaca-ilhoa, da Ilha da Queimada Grande, Itanhaém, São Paulo)

Crédito, Marcio Martins

Legenda da foto, Ilhas oceânicas têm a maioria se suas cobras originadas por processosvaidebet lucrocolonização

Das 986 ilhas que Martins e Lillywhite estudaram para a revisão que fizeram, 368 são continentais e 618 oceânicas, desde minúsculas, como Senkaku, no Japão, como 1.000 metros quadrados, até gigantes, como a da Nova Guiné, com 785.753 km², dividida por dois países, Papua Nova Guiné e parte da Indonésa.

Entre as primeiras, são exemplos no Brasil, Queimada Grande, São Sebastião e Santa Catarina, e no mundo, Grã-Bretanha (a maior do Reino Unido), Bornéu, Sumatra, quase todas as gregas e a maior parte das do Japão, incluindo as maiores delas.

Entre as segundas, estão as brasileiras Fernandovaidebet lucroNoronha, Trindade e Martim Vaz, e asvaidebet lucrofora Maurício, Okinawa, Havaí, Nova Zelândia, Sulawesi e Hispaniola (dividida entre República Dominicana e Haiti).

Os pesquisadores encontraram 718 espéciesvaidebet lucroserpentes nas continentais e 761 nas oceânicas, o que dá médiasvaidebet lucro6,1 e 4,8, respectivamente. "Além disso, descobrimos que existem regiões do globo que são hotspotsvaidebet lucrodiversidadevaidebet lucroserpentes insulares, com destaque para o Caribe, com 181 ilhas, entre elas Cuba e Hispaniola, e a região oriental, com maisvaidebet lucro200, onde se destaca o Arquipélago Malaio (que contém Bornéu, Sumatra e Nova Guiné).

"Também encontramos hotspotsvaidebet lucrofaunasvaidebet lucroserpentes insulares bem estudadas, como as da costa sudeste do Brasil, as do Caribe, as gregas e as do Japão", conta.

Bothrops insularis (jararaca-ilhoa, da Ilha da Queimada Grande, Itanhaém, São Paulo)

Crédito, Marcio Martins

Legenda da foto, Entre os exemplosvaidebet lucrocobras que são excelentes colonizadoras está jararaca comum do sudeste do Brasil

De acordo com Martins, embora a origem das serpentes das ilhas que se situam nas plataformas continentais seja muito distinta daquela das oceânicas, os padrões biogeográficos encontrados nesses dois tiposvaidebet lucrolocais não é muito diferente. "A riquezavaidebet lucroespécies nos dois tiposvaidebet lucroilhas, por exemplo, é explicadavaidebet lucrogrande parte por dois fatores principais: a área e a diversidadevaidebet lucrohabitas encontrada nelas (este último fator inferido pela altitude máxima)", explica. "Isso já era conhecido para as oceânicas, mas ainda não havia sido descrito para as continentais."

A presença e o sucesso das cobrasvaidebet lucroilhas não são por acaso, no entanto. De acordo com Martins, algumasvaidebet lucrosuas características fazem com que elas sejam especialmente hábeisvaidebet lucropersistir nas continentais evaidebet lucrocolonizar oceânicas. "As serpentes conseguem passar períodos muito longos sem se alimentar, até maisvaidebet lucroum ano sem comervaidebet lucrovárias espécies, por necessitarem pouca energia para viver", explica. "Isso torna possível que elas passem longos períodos à deriva nas balsasvaidebet lucrovegetação, aumentando a chancevaidebet lucroacabar aportandovaidebet lucrouma ilha."

Além disso, há muitas que possuem características que possibilitam crescimento populacional rápido, como, por exemplo, fecundidade e frequência reprodutiva altas. Isso possibilita o estabelecimentovaidebet lucropouco tempovaidebet lucrouma população viávelvaidebet lucroilhas, isto é, com poucas chancesvaidebet lucroextinção. O pequeno portevaidebet lucromuitas espécies também ajuda.

Essas cobras menores podem colonizar as muito pequenas, onde há relativamente poucos recursos. "Por fim, várias espécies comem diferentes tiposvaidebet lucropresas, o que facilita o estabelecimentovaidebet lucroambientes insulares, mesmo quando há poucos alimentos disponíveis, como é o caso da maioria das ilhas pequenas", acrescenta Martins.

Entre os exemplosvaidebet lucrocobras que são excelentes colonizadoras está a jararaca comum do sudeste do Brasil (Bothrops jararaca). "Adultos dessa espécie podem sobreviver com apenas uma ou duas presas por ano", diz Martins. "Além disso, ela possui alta fecundidade, com médiavaidebet lucrocercavaidebet lucro10 filhotes por ninhada, mas podendo chegar a maisvaidebet lucro30.

Como se não bastasse é generalistavaidebet lucrodieta, alimentando-se principalmentevaidebet lucrocentopeias, lagartos, anfíbios, aves e mamíferos. Isso certamente facilitou a persistênciavaidebet lucropopulações delasvaidebet lucrovárias ilhas continentais da costa sudeste do Brasil."

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