Bolsonaro 'tem razão' ao exigir desculpasbetnacional baixar app atualizadoMacron, mas foi 'inábil' na crise da Amazônia, diz ex-ministrobetnacional baixar app atualizadoLula:betnacional baixar app atualizado

Aldo Rebelo

Crédito, Felipe Corazza/BBC News Brasil

Legenda da foto, Rebelo: 'Acho que o Macron não tinha que se meter nessas coisas, não'
Macron, fotografado ao ladobetnacional baixar app atualizadoBolsonaro

Crédito, AFP

Legenda da foto, Macron, fotografado ao ladobetnacional baixar app atualizadoBolsonaro na reunião do G20, no Japão

Ao final da cúpulabetnacional baixar app atualizadoBiarritz, o G7 anunciou uma ofertabetnacional baixar app atualizadoUS$ 20 milhões para auxiliar no combate às queimadas. A resposta do líder brasileiro foi condicionar a aceitação a uma retratação do francês.

Rebelo concorda com a respostabetnacional baixar app atualizadoBolsonaro. "Acho que ele tá certo, acho que o Macron não tinha que se meter nessas coisas, não", afirmou Rebelobetnacional baixar app atualizadoentrevista à BBC News Brasil.

"Você não pode, como chefebetnacional baixar app atualizadoEstado, aceitar que outro país tente tratar o país que você dirige como se fosse um enclave, uma colônia. Com a Guiana Francesa ele faça o que ele quiser, com o Brasil, não", acrescentou.

Apesarbetnacional baixar app atualizadoconcordar pontualmente com a posturabetnacional baixar app atualizadoBolsonarobetnacional baixar app atualizadorelação a Macron, Rebelo também avalia que o Palácio do Planalto agravou a situação por incapacidadebetnacional baixar app atualizadolidar com a pressão. "Bolsonaro foi inábil ao não contornar essa circunstância."

ONGs estrangeiras

O ex-ministro, que ocupou as pastas da Secretariabetnacional baixar app atualizadoCoordenação Política e Relações Institucionais do Brasil (2004-2005), Esportes (2011-2015), Ciência e Tecnologia e Inovação (2015) e Defesa (2015-2016), fez a maior partebetnacional baixar app atualizadosua carreira no PCdoB, mas hoje está no Solidariedade. Rebelo faz eco ao discurso que militares e Bolsonaro repetem sobre a presençabetnacional baixar app atualizadoorganizações não governamentais na região amazônica. Ao mesmo tempo, admite que a presença delas é fruto do descaso do governo.

"O Estado abandonou. Aí, quem surge no lugar do Estado? As ONGs, claro. Você vai se queixar das ONGs quando você não cumpre seu papel? Ela (ONGs) faz um papel suplementar e vai querer tutelar, vai querer se meter. Pelos melhores e pelos piores motivos."

Fumaçabetnacional baixar app atualizadoincêndios na Amazônia pode ser vista do espaço

Crédito, NASA

Legenda da foto, Fumaçabetnacional baixar app atualizadoincêndios na Amazônia pode ser vista do espaço

Diz que a "liberdade"betnacional baixar app atualizadoatuação das ONGs no país não existebetnacional baixar app atualizadooutros lugares do mundo e menciona um episódio extremo na história da organização: "Uma vez, eles tentaram impedir uma experiência nuclear no Atolbetnacional baixar app atualizadoMururoa e uma canhoneira francesa destruiu o barco do Greenpeace. O Brasil não fez isso".

Na verdade, não foi "uma canhoneira". Em 1985, um navio da organizaçãobetnacional baixar app atualizadodefesa do meio ambiente estava ancorado na Nova Zelândia, preparando-se para zarparbetnacional baixar app atualizadodireção a Mururoa para protestar contra um teste atômico francês. Enquanto os ativistas trabalhavam, a explosãobetnacional baixar app atualizadoduas bombas rasgou o casco e afundou a embarcação, matando um fotógrafo que estava a bordo.

O inquérito sobre o caso apontou responsabilidade do serviço secreto da França na colocação das bombas e, meses depois, a conclusão levou à demissão do ministro da Defesa francês, Charles Hernu.

Mas, voltando à Amazônia, Rebelo acredita que não seria necessário apelar para atos tão extremos, mas defende "fiscalizar" e "conter" a atuação das organizações não governamentais. "Não podemos ter territórios tutelados por organizações privadas", afirma.

'Incapacidade muito grande'

Sobre a ondabetnacional baixar app atualizadocríticas que recaiu sobre o Brasil nas últimas semanas tendo como centro a questão amazônica, Rebelo diz que a pressão internacional sobre a região sempre existiu e um acirramento seria previsível, mas a reaçãobetnacional baixar app atualizadoBolsonaro piorou as coisas.

"O governo subestimou (a questão). É um governo com uma incapacidade muito grandebetnacional baixar app atualizadoler a situação internacional. Afastou as principais cabeças do Itamaraty, as pessoas com maior capacidadebetnacional baixar app atualizadoleitura dessa geopolítica complicada e colocou pessoas primárias. O rapaz, lá, que ele escolheu como chanceler (Ernesto Araújo) é um homem que trabalha com categorias incapazesbetnacional baixar app atualizadofazer a leitura dessa situação."

Um ativista protesta durante manifestação convocada por intelectuais e artistas contra a destruição da floresta amazônica

Crédito, AFP

Legenda da foto, Protestosbetnacional baixar app atualizadodefesa da Amazônia aconteceram no Brasil ebetnacional baixar app atualizadooutras partes do mundo

Rebelo menciona as repetidas vezesbetnacional baixar app atualizadoque o ministro das Relações Exteriores e algunsbetnacional baixar app atualizadoseus assessores discorreram sobre um suposto conflito cultural entre Ocidente e forças contrárias. "Como eles acham que tem uma guerrabetnacional baixar app atualizadocivilizações no mundo, eles são surpreendidos quando o coração do Ocidente, que são a França, Alemanha, os nórdicos e os ingleses, se aliam numa pressão contra eles."

Sobre os interesses que estariam guiando a pressão estrangeirabetnacional baixar app atualizadorelação à Amazônia, o ex-ministro diz que sempre existiram e são previsíveis. "Aquilo é um terreno minado, um terreno difícil. E eles se aproveitaram da inconsequência, da inabilidade, da incapacidade do governobetnacional baixar app atualizadotomar as providências para conter esse conflito potencialbetnacional baixar app atualizadotorno da Amazônia."

O que poderia ser feito, então, pelo presidente para evitar que a crise chegasse ao atual patamar? Segundo Rebelo, Bolsonaro precisaria ter mudadobetnacional baixar app atualizadoretórica. "Demonstra que nós estamos abertos a proteger e a cooperar. Chamar os países vizinhos também. Essa era uma alternativa, ampliar a cooperação."

Outra linhabetnacional baixar app atualizadoação, defende ele, é ampliar os investimentosbetnacional baixar app atualizadoprojetosbetnacional baixar app atualizadopesquisa com universidades e institutos já existentes na região amazônica para qualificar a presença brasileira e, ainda assim, conseguir atrair cooperação estrangeira que não seja apenas interessadabetnacional baixar app atualizadoditar como o Brasil deve lidar com seu próprio território.

Números do Inpe

Sobre o debatebetnacional baixar app atualizadotorno dos dadosbetnacional baixar app atualizadodesmatamento divulgados pelo Instituto Nacionalbetnacional baixar app atualizadoPesquisas Espaciais (Inpe), Rebelo opina que os números são críveis, mas que é preciso separar o que é desmatamento legal ou ilegal. E lamenta que o governo Bolsonaro tenha decidido partir para o confronto, duvidando publicamente dos dadosbetnacional baixar app atualizadouma escaladabetnacional baixar app atualizadoenfrentamentos que culminou na demissão do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão.

"(O governo) poderia ter chamado a diretoria do Inpe e submetido a um escrutínio, a uma sabatina. Isso o governo pode fazer, dizer 'olha, o Inpe vai explicar isso (os números)betnacional baixar app atualizadoum comitê,betnacional baixar app atualizadoum grupobetnacional baixar app atualizadotrabalho. Mas preferiram fazer pelo confronto."

Bombeirosbetnacional baixar app atualizadoPorto Velho combatem chamasbetnacional baixar app atualizadoRondônia

Crédito, EPA

Legenda da foto, De janeiro a 19betnacional baixar app atualizadoagosto, quantidadebetnacional baixar app atualizadofocosbetnacional baixar app atualizadoincêndio no Brasil é 83% maior que no ano passado, segundo o Inpe

'Desorientação momentânea'

Falandobetnacional baixar app atualizadomodo mais amplo sobre a política brasileira, Rebelo atribui a eleiçãobetnacional baixar app atualizadoBolsonaro a uma "desorientação momentânea, um lapso" do país.

"Nós tivemos a campanha dura contra o PT, contra o Lula, a campanha era exatamente para afastar do poder essa corrente, esses partidos. Os erros cometidos facilitaram o caminho dos adversários, mas quando apareceu a eleição, o que sobrou foi o Bolsonaro. Acho que (o presidente) não esperava e não estava preparado para esta missão, que é uma missão muito difícil, abetnacional baixar app atualizadogovernar o Brasil."

"Nessa eleição recente", diz, "era possível ter encontrado uma alternativa que pudesse ser apoiada pelo PT, mas o PT preferiu afirmar o seu protagonismo,betnacional baixar app atualizadopresença na cena política, ou como governo ou como líder da oposição. E o país paga o preço por isso."

Outro erro atribuído pelo ex-ministro ao partido do qual foi aliado foi obetnacional baixar app atualizado"apostar tudo"betnacional baixar app atualizadofazer "concessões" a setores como o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal. "Principalmente o Judiciáriobetnacional baixar app atualizadoprimeiro grau. Hoje, um juizbetnacional baixar app atualizadoprimeiro grau acha que pode mais no país do que o presidente da República. Um promotor acha que pode mandar no prefeito, no governador, no Congresso, nas Forças Armadas e no presidente da República, no Supremo."

Disputa entre Mourão e Villas Bôas

Sobre a presençabetnacional baixar app atualizadotantos militares na estrutura do governo, Rebelo, que comandou a pasta da Defesa, diz enxergar o riscobetnacional baixar app atualizadoque "as Forças Armadas se confundam com o governo". Atribui, no entanto, pretensão política apenas a determinados setores, particularmente aos militares da reserva.

A posição confronta, no entanto, com dois episódiosbetnacional baixar app atualizadoparticular. O primeiro,betnacional baixar app atualizado2015, quando o então general da ativa Hamilton Mourão - atual vice-presidente da República - criticou a presidente Dilma Rousseff abertamente. "Foi uma coisa isolada. Não só isolada, mas completamente isolada", diz Rebelo.

Em 2018, no entanto, outro episódio envolvendo um militar da ativa marcou a crise política que se arrasta no país: o tuíte do general Eduardo Villas Bôas, então comandante do Exército, na vésperabetnacional baixar app atualizadoum julgamento sobre o processo contra o ex-presidente Lula, que foi visto como uma pressão - ou ameaça, até - ao Supremo Tribunal Federal, responsável por julgar a questão.

Com bom trânsito entre os militares, Rebelo diz que o caso sempre foi "mal interpretado".

"Aquilo foi uma coisa para dentro da instituição, não foi uma coisa para fora. Havia ali uma disputa. O Mourão disputou a liderança do Exército com o Villas Bôas. Aquele atobetnacional baixar app atualizadoindisciplina dele foi um ato político, talvez já estivesse pensandobetnacional baixar app atualizadolances futuros da política. E havia, naquele momento, o riscobetnacional baixar app atualizadoquebra da hierarquia,betnacional baixar app atualizadouma coisa muito mais grave que pudesse acontecer do que o tuíte do Villas Bôas. Foi uma antecipação para impedir que coisas mais graves pudessem acontecer. E (a interpretação dada à mensagem) é uma forma tambémbetnacional baixar app atualizadoabsolver os erros e os pecados do Supremo."

Rebelo diz não acreditar que um tuíte do general mudasse a decisão do Supremo - "estava tomada", diz. "Agora, é preferível atribuir o resultado ao tuíte do general do que à faltabetnacional baixar app atualizadoconvicção do Supremo na defesa da Constituição."

"O Judiciário brasileiro vai pagar um preço muito caro pelabetnacional baixar app atualizadomilitância política."

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