Racismo é um problema econômico, diz diretorbetway sign upagência antipobreza da ONU:betway sign up
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up Umbetway sign upseus estudos, publicado neste ano, se baseiabetway sign upum levantamento regional realizado até 2015 apontando que brasileiros, bolivianos, mexicanos e outros (negros e indígenas) se sentem discriminadosbetway sign upseus próprios países. A média regional ébetway sign up17%, mas chegava a 30% no Brasil e a 40% na Bolívia, no início da década. Como se sentem discriminados? Ebetway sign upque maneira esse racismo afeta o desenvolvimentobetway sign upum país?
betway sign up Luis Felipe López-Calva - Eles se sentem discriminadosbetway sign updiferentes setores - quando vão procurar emprego, quando tentam ser partebetway sign upum grupo social. E existe um custo social e um custo econômico dessa discriminação: isso gera segregação. E a segregação gera polarização e, eventualmente, também pode levar ao conflito e a uma situaçãobetway sign upviolência.
Este é um problema muito sério do pontobetway sign upvista econômico e social. Se a pessoa está excluída do mercadobetway sign uptrabalho, não tem condiçõesbetway sign upcontribuir ao crescimento econômico,betway sign upgerar renda para seu lar. Essa discriminação gera desigualdade econômica e também faltabetway sign upprodutividade.
betway sign up BBC News Brasil - A pessoa se sente discriminada, não consegue trabalho, não aumenta a produtividade, o país não cresce e aumenta a violência?
betway sign up López-Calva - Correto. E é preciso atacar a discriminação, que é um problema ético e econômico. Isso passa, sem dúvida, pela educação e acho que os meiosbetway sign upcomunicação também têm papel importante. Eles reproduzem,betway sign upmuitos casos, padrõesbetway sign updiscriminação. As novelas, os programas mandam mensagens à sociedade. E acho que as mensagens podem serbetway sign upintegração,betway sign upcoesão. Outro tema importante é a legislação. Acreditamos nas ações afirmativas, acreditamos nas cotas como sistema para reverter padrões históricosbetway sign upexclusão.
betway sign up BBC News Brasil - Ou seja, cotas nas universidades e empresas, para negros, indígenas e minorias sexuais?
betway sign up López-Calva - Sim, claro. Deve existir uma legislação para que, primeiro, não exista discriminação e para fazer valerem as políticasbetway sign upação afirmativa.
betway sign up BBC News Brasil - O sr. prefere falarbetway sign upetapas,betway sign upciclos, mas ao contrário da primeira década deste novo século, hoje existem mais governosbetway sign updireita oubetway sign upcentro-direita na região e por isso talvez seja mais difícil implementar determinadas políticas sociais, não? Como no caso do governo Bolsonaro, no Brasil, por exemplo...
betway sign up López-Calva - Acho que existem dois assuntos aqui. Acho que existe uma coisa conjuntural, é que o perfil ideológico dos partidos passou a ser menos definido. Não é mais tanto o tema ideológico, mas de...
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up Personalismo?
betway sign up López-Calva - Sim,betway sign upliderança. Hoje, por exemplo, podem existir dois casos diferentes, como no caso do Brasil e do México (sob governo do presidentebetway sign upesquerda Andrés Manuel López Obrador).
Em princípio são dois governos que vêmbetway sign uptendências ideológicas muito diferentes, mas os dois são líderes muito fortes.
Esta é uma característica mais forte do que a própria ideologia. E acho quebetway sign upqualquer caso o que importa são as políticas concretas e não tanto o discurso. Acho que um argumento sólido contra a discriminação é o econômico. Independentementebetway sign upsua ideologia, todos os governos querem que a situação econômica do país vá bem, (...) porque é o que os leva a ganhar as eleições.
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, algo com reflexos no racismo e na violência. Como intensificar a integração social, combater o racismo?
betway sign up López-Calva - Acho que não é só um problema do Brasil.
Há estudos recentes e inovadores que mostram que a cor da pele explica a discriminaçãobetway sign upmuitas partes da América Latina. Há evidências disso no Peru, no México, no Brasil. É um problema regional que, historicamente, piora quando há desaceleração econômica e recessão. Nos períodosbetway sign upbonança,betway sign upauge, essas tensões se dissipam um pouco.
É preciso contar com uma perspectiva que integre, com a prosperidade como política. Não somente pensarbetway sign upcomo cresceremos mais, mas como aqueles grupos que são excluídos podem ser parte desse crescimento.
Tirar as barreiras, com as cotas, por exemplo, para que estes grupos se integrem. Ebetway sign upmaneira mais estrutural, (fazer com) que a educação seja menos segregada. Que a provisão universalbetway sign upserviços básicos, entre outras coisas, gere menos segregação. Se todos fossemos à escola pública, encontraríamos pessoas alibetway sign uptodas classes sociais ebetway sign uptodas as cores.
O problema é que essa segregação também começa desde a infância, quando uns vão para a escola particular e outros, para a escola pública. Há poucos espaçosbetway sign upencontro no social.
betway sign up BBC News Brasil - A educação pública deve ser fortalecida?
betway sign up López-Calva - Claro que sim. Ebetway sign upqualidade melhorada para que possa ser atraente para todos desde a educação básica à universidade. As pessoas (preferem a educação privada) porque a qualidade (da pública) foi afetada pela faltabetway sign uprecursos e outros motivos.
Melhorar a educação não é só importante porque melhora o ensino, mas porque atrai outros grupos. Nas sociedades europeias, do pontobetway sign upvista social, a educação ébetway sign upalta qualidade e pública. Todos passam pela mesma educação e este não é um tema menor na nossa região.
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up No Brasil, há hoje uma discussão polêmicabetway sign upse diminuir o papel das universidades públicas...
betway sign up López-Calva - Acho que é preciso focar na qualidade, o que se faz com esse dinheiro. Não necessariamente reduzi-lo, mas distribui-lobetway sign upmaneira que gere mais impacto na qualidade.
betway sign up BBC News Brasil - Ao mesmo tempo, existem os jovens "nem-nem" (que não estudam e não trabalham).
betway sign up López-Calva - Estamos falando sobre algo muito concreto que temos que entender: por que os jovens abandonam a escola e, segundo, por que não encontram emprego.
Na primeira parte, um dos possíveis motivos pelo qual se abandona a escola quando se percebe que a educação deixoubetway sign upser um mecanismobetway sign upmobilidade social ebetway sign upinclusão no mercado.
E temos que entender que tipobetway sign upeducação é necessária para ser usada no mercadobetway sign uptrabalho.
Sempre houve mudança tecnológica, mas a diferença agora é que ela é muito rápida. O que não podemos prever é que tipobetway sign uphabilidades e que tipobetway sign upeducação serão necessárias porque não sabemos qual será a próxima mudança tecnológica. Então, o que precisamos gerar não é só um certo conhecimento, mas sim uma certa capacidadebetway sign upse adaptar a um mercadobetway sign uptrabalhobetway sign uppermanente evolução.
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up Em um dos seus estudos, o sr. aponta e analisa o fatobetway sign upa América Latina ser a região mais violenta do mundo. Acha que este tema está vinculado à desigualdade social?
betway sign up López-Calva - Eu diria que sim, que existe uma relação entre a desigualdade e a violência, mas a desigualdade, definitivamente, não é o único determinante.
Há também a faltabetway sign upoportunidades, principalmente entre os jovens. Quando não as encontram, uma possibilidade é que os jovens escolham uma atividade ilegal.
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up A criminalidade.
betway sign up López-Calva - Claro. Mas acho que também passa por um problemabetway sign upgovernança. Ou seja, há um temabetway sign upfragilidade institucional: a impunidade.
É o fatobetway sign upque não existem mecanismosbetway sign upacesso à justiça, que parte desta criminalidade é capturada por certos poderes para se beneficiar e que não há mecanismobetway sign upgovernança para estes controles. Grande parte da violência está associada ao crime organizado.
Ou seja, é um problema econômico, por faltabetway sign upoportunidades, é um problema social, por faltabetway sign upcoesão ebetway sign updesigualdade, mas também é um problemabetway sign upgovernança, das instituições.
betway sign up BBC News Brasil - Grupos à direita têm defendido a redução da maioridade penal. Como o sr. avalia esta proposta?
betway sign up López-Calva - Acho que por um lado isso pode piorar um problema muito delicado que é a superpopulação nas cadeias, que gera, inclusive, muito mais criminalidade e marginalidade social,betway sign upvezbetway sign upresolvê-las. Não existe capacidade no sistemabetway sign upJustiça para processar (mais prisioneiros) e isso (a redução da maioridade penal) não vai resolvê-lo e vai gerar mais exclusão e discriminação.
Segundo, pode também gerar discriminação e criminalização da juventude. A redução da maioridade penal é o contrário do que se necessita. O que se necessita é uma maior inclusão econômica e social, fortalecimento do acesso à Justiça. O que acontece é que muitos dos que estão nos presídios não tiveram um julgamento.
betway sign up BBC News Brasil - Qual é abetway sign upopinião sobre a situação na Venezuela? O país enfrenta aumento da pobreza, da desnutrição infantil e a saídabetway sign upmaisbetway sign up3 milhõesbetway sign uphabitantes, segundo a Acnur. E os que ficaram sofrem com problemas como faltabetway sign upágua e criminalidade crescente.
betway sign up López-Calva - A Venezuela tem uma economia que é principalmente baseada no petróleo. Quando viubetway sign upcapacidadebetway sign upproduçãobetway sign uppetróleo ser limitada, os níveisbetway sign uprenda caíram. E isso os colocou num ciclobetway sign upcontração que começou a afetar a capacidadebetway sign upgerar serviços, o que acontecebetway sign upqualquer economia que entrabetway sign uprecessão.
E depois começaram as sanções econômicas dos EUA, que não são a causa estrutural, mas que colocaram muita restrição à recuperação. Estes fatores combinados pioraram a capacidade (do país)betway sign upoferecer serviços, bens básicos, refletindo-se no bem-estar da população.
Há dois temas importantes: apoiar os países receptores dos migrantes venezuelanos para que os incorporembetway sign upmaneira construtiva e produtiva e, segundo, no caso das Nações Unidas, ajudar a população venezuelana na Venezuela.
Há uma colaboração entre as agências da ONU e, obviamente, o Pnud participa.
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up É possível calcular quanto tempo vai demorar para que a Venezuela volte a ser não a 'Venezuela Saudita' e rica dos anos 1970, mas um país que pelo menos volte a atrair os habitantes que saíram?
betway sign up López-Calva - Dependebetway sign upvárias coisas. Segundo estimativas, a economia venezuelana tem, hoje, mais ou menos a metade do tamanho do que era há dez anos, e com uma inflação muito alta. No médio prazo, é muito importante diversificar a economia venezuelana. Mas no curto prazo, é preciso recuperar a capacidadebetway sign upprodução e exportação. A Venezuela continua tendo enormes reservas petroleiras.
É preciso que os mercados sejam reabertos e a dívida seja refinanciada. Obviamente, isso exige grandes recursos. E é aí que a comunidade internacional pode ter um papel importante.
betway sign up BBC News Brasil - O sr. também é autorbetway sign upartigos sobre a classe média. Na Argentina, por exemplo, ainda hoje, apesar da crise econômica, muitos ainda se definem como sendobetway sign upclasse média. O que é ser classe média, nabetway sign upopinião?
betway sign up López-Calva - O conceitobetway sign upclasse média tem diferentes definições. Para nós, a classe média corresponde àqueles lares ou indivíduos que têm nívelbetway sign uprenda suficiente para não permitir que caiam na pobreza quando acontece algo negativo e inesperado, como por exemplo, o desemprego, uma doença ou algum outro problemabetway sign upcasa.
Nós consideramos classe média os que têm esta capacidadebetway sign upsegurança econômica, o que lhes permite ser mais empreendedores ou mudar seus padrõesbetway sign upconsumo.
Aqueles que não têm este nívelbetway sign upsegurança econômica chamamosbetway sign upvulneráveis. E esse é o maior grupo populacional da América Latina. Ou seja, já não são pobres, mas também não podem ser consideradosbetway sign upclasse média.
Nosso argumento ébetway sign upque a América Latina é uma regiãobetway sign uprenda média, mas não é uma sociedadebetway sign upclasse média, embora aspire ser.
O Brasil vembetway sign upum processobetway sign upgrandes níveisbetway sign updesigualdade e pobreza, e o crescimento econômico dos primeiros 15 anos deste século o leva a um processobetway sign upredução da pobreza, crescimento da classe média, e também da classe que chamamos vulneráveis.
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up A chamada classe C.
betway sign up López-Calva - De fato, o que observamos no Brasil, a partirbetway sign up2015, com a desaceleração, é que muitos dos que já não eram pobres voltaram a cair na pobreza. E por isso, não os considerávamos classe média.
No caso da Argentina é diferente. Como diz o Banco Mundial, é um país que caiu na armadilha da renda média desde cima. A Argentinabetway sign up1950 era um paísbetway sign uprenda alta. Mas a renda começou a se deteriorar até chegar a um nível médio. E a pobreza na Argentina, devido à situação macroeconômica, aumentou, segundo dados oficiais. Então, aquela classe média daquele momento era, na verdade, uma classe vulnerável, que está caindo numa situaçãobetway sign uppobreza diantebetway sign upuma situação macroeconômica adversa.
É importante diferenciar os dois grupos - os que têm a segurança econômica e aqueles que diantebetway sign upqualquer situação voltam a cair na pobreza.
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up Como o sr. disse, nos primeiros 15 anos, que foram os governos do PT, no Brasil, ocorreu uma inclusão dos que eram pobres e passaram a ser classe C, movimento que começou a recua ainda nesse período. Como administrar a frustração dos que voltam a ser pobres? Ou melhor, como evitá-la?
betway sign up López-Calva - Não quero associar aos governos, mas sim ao ciclo macroeconômico. Claro quebetway sign uptoda a América Latina foram realizadas políticas públicas que mudaram e certamente os governos anteriores tiveram políticasbetway sign updistribuição. Mas na verdade dois terços da redução na pobreza no continente forambetway sign upfunção do mercadobetway sign uptrabalho.
betway sign up BBC News Brasil - Resultado do ciclobetway sign upboom das commodities.
betway sign up López-Calva - Exatamente. O ciclo macroeconômico favorável ajudou todos na região, incluindo o Brasil. Houve um processo importantebetway sign upmudança nas políticas públicas para, primeiro, a redistribuição, e, segundo, o ciclo macroeconômico foi favorável.
E isso teve muita importância no caso do Brasil onde,betway sign upfato, houve uma enorme saída das pessoas da pobreza. Um grupo deste setor, diante da desaceleração da economia a partirbetway sign up2015, está voltando a cair na pobreza. E acho que existem somente dois mecanismos para evitar essa frustração, recuperando o crescimento econômico e um esforçobetway sign uppolítica pública para compensá-los por esse choque. Como? Com maior esforço fiscal para fornecer serviços públicos e esforço para manter programasbetway sign upsubsídios.
betway sign up BBC News Brasil - betway sign up Mas como fazer para equilibrar a questão fiscal e manter ou ampliar programas sociais?
betway sign up López-Calva - É um forte dilema. Acho que é preciso fazer um esforçobetway sign upinclusão produtiva. Ou seja, entender as restrições que estes lares - sob riscobetway sign upcair na pobreza - enfrentam para gerar renda. Se é um problemabetway sign upparticipação no mercadobetway sign uptrabalho, se é porque as empresas não geram emprego, oubetway sign upinformalidade.
Ou seja, além do esforço para manter os subsídios, é preciso ver outros itens também. E também é indiscutível, e deve ser destacada, a mudançabetway sign uptodos os organismos internacionais, como FMI e Banco Mundial, que passaram a dar espaço para proteger as políticasbetway sign updistribuiçãobetway sign uprenda.
betway sign up BBC News Brasil - Isso está previsto no acordo que a Argentina assinou com o Fundo Monetário Internacional.
betway sign up López-Calva - No acordo com a Argentina, com o Equador. Ou seja, não é a questão fiscal, mas como entender a inclusão produtiva. Porque parte da recuperação econômica não tem a ver somente com ciclos globais.
betway sign up BBC News Brasil - Isso está ligado também, nabetway sign upopinião, às medidas internas?
betway sign up López-Calva - Tem a ver com a possibilidadebetway sign upincluir os grupos excluídos que não podem contribuir para o crescimento econômico, porque estão fora do mercadobetway sign uptrabalho ou porque têm empregos precários. Mulheres que não podem participar do mercadobetway sign uptrabalho porque não têm, por exemplo, creches.
Ou seja, são restrições que os governos podem tentar entender e atacar. (...) É preciso dar mecanismos para que os lares sejam protegidosbetway sign upeventos negativos, com previdência social, acesso universal à saúde, alimentação escolar e, na medida do possível, mecanismosbetway sign upseguro desemprego. Tudo o que possa permitir que quando ocorra um evento negativo os lares estejam protegidos contra isso.
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