'Mexer com a pós-graduação é mexer com o sistema todojogos multiplayerpesquisa no país', diz ex-presidente da Capes:jogos multiplayer
Após a reação negativa ao anúncio do bloqueio das bolsasjogos multiplayerpós-graduação na quarta-feira, 8, o atual presidente da Capes, Anderson Ribeiro Correia, relativizou o impacto da medida, afirmando que o bloqueio representa menosjogos multiplayer2% das "cercajogos multiplayer200 mil" bolsas que a Capes possui no Brasil e no exterior - e as que sofreram corte estavam ociosas. Outras 1.324 bolsas foram suspensas para análise.
O critério da ociosidade, porém, é controvertido, já que as bolsas deveriam seriam disponibilizadas no sistema da Capesjogos multiplayermaio. Baeta Neves explica que o fluxojogos multiplayerbolsas é constante à medida que mestrandos e doutorandos concluem os seus trabalhos, beneficiando os próximos estudantes na fila, e assim permitindo a continuidadejogos multiplayerprojetosjogos multiplayerpesquisajogos multiplayerprogramasjogos multiplayerpós no país.
"Os projetosjogos multiplayerbolsistas alimentam projetosjogos multiplayerprofessores, alimentam grandes projetosjogos multiplayerpesquisa. Mexer com a pós é mexer com o sistema todo", diz Baeta Neves.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista à BBC News Brasil.
jogos multiplayer BBC News Brasil - Qual é o impacto da suspensão das bolsas?
jogos multiplayer Abílio Baeta Neves - O impacto é imediato. Se você suspende a concessãojogos multiplayerbolsas, você prejudica imediatamente o sistemajogos multiplayerpós-graduação.
É preciso fazer uma distinção. Não é a Capes que concede as bolsas (de) pós. Ela destina cotas às universidades, com base nas quais as universidades organizam a dinâmicajogos multiplayersua pós-graduação. As cotas não são preenchidas apenas uma vez ao ano. Há um fluxo contínuojogos multiplayermestrado e doutorado, uma dinâmica contínuajogos multiplayeringressos ejogos multiplayerbenefício através das bolsasjogos multiplayermestrado e doutorado, e isso é muito importante.
Se um curso recebe informaçãojogos multiplayerque não pode repor suas bolsas, isso provavelmente vai ter um impacto para vários estudantes que estavam na expectativa. Por exemplo, um grupojogos multiplayerbolsistas concluiu seus estudosjogos multiplayermarço, mas agora bloquearam os recursos da universidade e o curso não pode escolher outros. Alguns estudantes vão ter que desistir, outros vão ter que espaçar mais ajogos multiplayerformação.
O sistema vive dessa capacidadejogos multiplayerreposição. Nesse sentido, já há um prejuízo para os programas. E também com relação à confiança no sistema todojogos multiplayerfomento. Se os jovens começarem a perceber que a formação com bolsa começa ficar muito incerta, isso faz com que comecem a repensar seus projetos. Se aqui esse caminho começa a se fechar, tenhojogos multiplayerpensarjogos multiplayeroutras oportunidades.
O impacto é verdadeiro e não é daqui a pouco, é logo, com forte prejuízo para os programas e para a dinâmica da pós-graduação.
jogos multiplayer BBC News Brasil - Que efeitos isso pode trazer para a pesquisa científica no Brasil?
jogos multiplayer Baeta Neves - Toda as áreas são cobertas pela pós-graduação, por mestrandos e doutorandos, que sustentam a atividadejogos multiplayerpesquisa no país. Os projetosjogos multiplayerbolsistas alimentam projetosjogos multiplayerprofessores, alimentam grandes projetosjogos multiplayerpesquisa. Mexer com a pós é mexer com o sistema todo.
As engenharias, por exemplo, com enorme impacto para processojogos multiplayerdesenvolvimento tecnológico, que afeta positivamente a nossa economia. A áreajogos multiplayersaúde, que tem inúmeros exemplosjogos multiplayerdissertações e teses fundamentais nos mais variados campos, como (o estudo do vírus causador da) zika, produzindo estudosjogos multiplayerreferência. Ou na área química, vemos que a Petrobras continua recorrendo às universidades brasileiras, porque sabe que tem um repertóriojogos multiplayerpesquisas que podem ser muito importante parajogos multiplayeratividade.
jogos multiplayer BBC News Brasil - O governo Temer também ameaçou cortes pesados à verba da Capes quando o senhor presidia a instituição. Como esses cortes foram contidos?
jogos multiplayer Baeta Neves - Nos últimos dois anos, houve ameaças semelhantesjogos multiplayercortes na Capes. Em meadosjogos multiplayer2018, se dizia que o orçamento tinha que ser bloqueado, inclusive para não ameaçar as perspectivas para esse ano. Bem. Não se fez esse corte. Inclusive o Conselho Superior da Capes escreveu uma carta, encaminhada ao ministro da Educação, sobre impacto que os cortes teriam se fossem implementados.
É comum que as contas públicas não batam com o que a gente espera. Conhecemos issojogos multiplayeroutros períodos. O que é mais raro é não defender o orçamento, como se vê na reação do MEC e da Capes. É aceitar o corte, o contingenciamento, como se fosse natural e absolutamente absorvível, sem consequências para o sistema.
Quando foi anunciado o primeiro bloqueiojogos multiplayerorçamento no MEC,jogos multiplayermaisjogos multiplayerR$ 5 bilhões, o ministro (Abraham Weintraub) saiu falando coisas do tipo, "ah, tem muita balbúrdia, vamos cortarjogos multiplayerinstituições que têm balbúrdia".
Nos últimos dias o MEC passou a falar que é contingenciamento e a levantar a possibilidadejogos multiplayerrever (os cortes) se a reforma da Previdência passar, se a economia melhorar. Mas aceitar o bloqueio sem o mínimojogos multiplayerresistência é uma coisa muito estranha.
jogos multiplayer BBC News Brasil - À época, o senhor assinou a carta contra os cortes como presidente da Capes, o que gerou uma saia justa com o presidente Temer.
jogos multiplayer Baeta Neves - A repercussão dessa carta foi muito forte. Ela amplificou o conhecimento do problema, e do impacto que poderia ter. E isso acabou sendo positivo. Houve espaçojogos multiplayerdiálogo, com apoio do MEC, para rever a tendênciajogos multiplayercorte orçamentário. Naquela ocasião, o MEC apoiou a Capes. E construiu-se uma defesa do investimento que era necessário na agência.
jogos multiplayer BBC News Brasil - Como o senhor vê os cortesjogos multiplayercursosjogos multiplayerfilosofia e ciências sociais defendidos pelo governo?
jogos multiplayer Baeta Neves - Isso é preocupante. Não faz o menor sentido. Mesmo que se diga que é preciso investirjogos multiplayeráreas sensíveis para o desenvolvimento do país, é uma insanidade desconhecer que as humanas são sensíveis para o desenvolvimento do país. Que dependemos do conhecimento produzido nas humanidades. É uma bobagem.
São muitos exemplos. A questão da segurança, das migrações, da mobilidade urbana. Do envelhecimento da população - como é que eu resolvo isso sem nadajogos multiplayersociologia? O problema da democracia no país não precisajogos multiplayerciências humanas?
Com a revolução que está acontecendo nos meios digitais, e o impacto das redes sociais na construção dos embates políticos, eu não preciso? Essas coisas são alguns exemplos óbviosjogos multiplayerque precisamosjogos multiplayerreflexão construída a partirjogos multiplayerconhecimento das ciências sociais.
jogos multiplayer BBC News Brasil - O senhor vê um cunho ideológico motivando essas ações?
jogos multiplayer Baeta Neves - Há um exagero muito grande. Parece uma intençãojogos multiplayerproduzir um cenário ideológico reverso nas universidades. Acusa-se que universidades eram muito PT, muitojogos multiplayeresquerda, e agora têm que ser conservadoras. Esse pêndulo que vaijogos multiplayer8 a 80 não é bom para as universidades. A universidade deve poder gozarjogos multiplayerautonomia e ser responsável pela forma como organiza as atividades acadêmicas,jogos multiplayerpesquisa ejogos multiplayerformaçãojogos multiplayerrecursos humanos.
Isso vem no bojojogos multiplayerum conjuntojogos multiplayercríticas sobre universidade pública e ensino superior, como se tudo estivesse errado. Como se tudo tivesse que mudar, mas sem dizerjogos multiplayerque direção essa mudança deve ocorrer, qual é o projeto. Acho que temos que discutir seriamente uma nova política na universidade. Nem tudo está maravilhoso, as universidades precisamjogos multiplayeruma reforma.
Mas não há um debate consistente sobre isso, apenas críticas soltas, sem uma reflexão sistemática sobre as universidades ejogos multiplayerrelação com o desenvolvimento do país. Não pode ser uma nova política que simplesmente se apegue a uma crítica ideológica sobre esquerdismo nas instituições. O ensino superior é muito mais do que essa discussão. A sociedade precisa muito mais da universidade do que ela deixarjogos multiplayerserjogos multiplayeresquerda e virarjogos multiplayerdireita.
jogos multiplayer BBC News Brasil - Há quem veja nos cortes uma estratégiajogos multiplayerminar aos poucos a universidade pública. O senhor vê assim?
jogos multiplayer Abílio Baeta Neves - Eu não acho isso ainda. Ainda não tenho elementos para dizer que estájogos multiplayercurso um desmonte deliberado. Acho que é faltajogos multiplayerconhecimento mesmo. O governo precisa entender melhor do que se trata. As pessoas não sabem com o que estão lidando. Inclusive números não são apresentados corretamente.
Acho que estão relativizando a importância do ensino superior com essa fixação na história do esquerdismo nas universidades. Isso prejudica a compreensão do papel mais amplo, mais importante e mais sério que cumpre para o desenvolvimento e para a sociedade.
Mas, neste momento, é preciso cuidar do orçamento, e para que esses cortes não façam desmoronar o que temos, não comprometam essencialmente a vida nas universidades públicas e a formaçãojogos multiplayerrecursos humanos. Senão, daqui a pouco, vamos ver que nosso desenvolvimento está sendo travado porque não temos recursos humanos para encaminhar alternativas.
jogos multiplayer BBC News Brasil - O senhor presidiu a Capes durante o governo FHC e depois no governo Temer. Como a agência evoluiu nesse período?
jogos multiplayer Baeta Neves - A Capes se transformou na agência federal mais importante no apoio a formaçãojogos multiplayerrecursos humanos do país. É a agência que sustenta a pós-graduação no país, e é a pós-graduação que sustenta a pesquisa no Brasil. É fundamental para a manutençãojogos multiplayeruma atividadejogos multiplayerpesquisa saudável e produtiva no Brasil.
Para se ter uma ideia, a Capes hoje tem um orçamento três vezes maior que o do CNPq. Então, é uma agência muito importante. Se tem suas políticas comprometidas, isso prejudica o sistemajogos multiplayerpós-graduação ejogos multiplayerpesquisa científica do Brasil como um todo.
A agência também é responsável pelos esforçosjogos multiplayerinternacionalização da pós-graduação e da pesquisa do país. E é central para a avaliação da pós-graduação. Então, ela fomenta, ela avalia, ela promove a internacionalização. Sem a Capes, o nosso sistema não funciona.
jogos multiplayer BBC News Brasil - Como o senhor se sente vendo esse contingenciamento hoje?
jogos multiplayer Baeta Neves - Já passamos por tantas situações que não foram as mais desejáveis. Eu diria que o momento repete outras situações que foram vistas quase como uma ameaça ao sistema. Eu nem diria que esse é o momento pior.
É preciso lembrar do governo Collor, que extinguiu a Capes quando entrou. Depois, foi preciso fazer um trabalho muito grandejogos multiplayerseu próprio governo para recriar a agência. Houve outros momentosjogos multiplayerbloqueiojogos multiplayerrecursos muito fortes. No primeiro ano do segundo governo Dilma, houve um corte da ordemjogos multiplayer75% no orçamento destinado às atividadesjogos multiplayerpós-graduação que eram mantidas pela Capes da ordem.
Crises e bloqueiosjogos multiplayerorçamento a gente conhece. Mas a gente também conhece o diálogo entre universidades, pró-reitores, coordenaçãojogos multiplayercursos com a Capes para que se busque soluções, e isso é importante estabelecer imediatamente.
jogos multiplayer BBC News Brasil - A reduçãojogos multiplayerrecursos pode trazer prejuízos à imagem internacional do país?
jogos multiplayer Baeta Neves - O Brasil tem cooperações e participajogos multiplayerprojetos com muitos países. É um parceiro internacional importante para muitos países e universidades. Claro que os nossos parceiros internacionais sempre têm uma dúvida se as coisas no Brasil terão continuidade, ou experimentarão rupturas.
Duas coisas têm preocupado hoje internacionalmente. A primeira são as manifestações do governo sobre reduzir recursos para as humanidades. Pesquisadores dos mais variados lugares estão se movimentando para questionar, inclusive há um enorme abaixo-assinado mostrando forte preocupação com esse tipojogos multiplayerrestrição (maisjogos multiplayermil acadêmicosjogos multiplayerinstituições como Harvard, Yale e Oxford assinaram o documento).
Se não forem superados, esses bloqueiosjogos multiplayerorçamento também vão acarretar uma preocupação internacional muito forte pelo impacto que tem. A capacidade do Brasiljogos multiplayercontinuar parceirojogos multiplayeriniciativas internacionais vai ficar muito restrita, e isso é muito ruim para o país no cenário atual,jogos multiplayerque as pesquisas cada vez mais são globais e é importante ter parcerias para fazer pesquisasjogos multiplayerimpacto.
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