'Ele morreu duas vezes': a batalhastarcodes pokerstarsuma mãe para tirar da internet 'fake news' que acusam filho mortostarcodes pokerstarsser traficante:starcodes pokerstars

Bruna Silva

Crédito, Câmara dos Deputados

Legenda da foto, Bruna Silva levou a camisa do uniforme escolar do filho, manchadastarcodes pokerstarssangue, para protestos, entrevistas, encontros com autoridades. Aqui, ela aparecestarcodes pokerstarsdepoimento à Câmara dos Deputados,starcodes pokerstarsjulhostarcodes pokerstars2018

Acusavam Marcosstarcodes pokerstarster envolvimento com o tráficostarcodes pokerstarsdrogas - o tom das mensagens dava a entender que isso justificaria uma execução. A postagem se espalhou como fogo.

"Não tive luto. Enterrei o Marcos e falei 'agora vamos combater esse fake news'. Uma mãe não pode ficarstarcodes pokerstarscasa vendo seu filho ser esculachado na internet. Graças a Deus eu limpei o nome dele. Só a gente sabe a dificuldade que é criar um adolescente aqui dentro sem ele virar traficante", diz Bruna.

Menino com uniforme escolar

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, 'Só a gente sabe a dificuldade que é criar um adolescente aqui dentro sem ele virar traficante', diz a mãestarcodes pokerstarsMarcos Vinícius

'Eles não viram que eu estavastarcodes pokerstarsuniforme, mãe?'

Este é o depoimentostarcodes pokerstarsBruna sobre o que aconteceu.

Eram 7h30 quando ela acordou, naquela manhãstarcodes pokerstarsquarta-feira, no apartamentostarcodes pokerstarsum cômodo onde mora a família, na Vila dos Pinheiros, uma das favelas do Complexo da Maré.

Ela costumava despertar o filho às 7h todos os dias, mas na noite anterior esquecerastarcodes pokerstarsacionar o alarme. Marcos se vestiu às pressas, mas quis passar na casastarcodes pokerstarsum amigo para que caminhassem juntos até a escola. Os dois acabaram perdendo o horário, e não foram à aula, diz Bruna.

"Lá para as 9h, o águia (helicóptero da polícia) entrou dando tiro. Naquele momento ninguém tinha dimensão do que estava acontecendo na comunidade. Achamos que o helicóptero tinha passado, dado tiros e pronto. Mas não, estava acontecendo uma operação", diz ela.

Complexo da Maré

Crédito, AFP/Getty

Legenda da foto, Naquela manhã, acontecia uma operação policial no Complexo da Maré que teve apoiostarcodes pokerstarsum helicóptero e dois blindados

Entidadesstarcodes pokerstarsdefesastarcodes pokerstarsdireitos humanos criticam o usostarcodes pokerstarshelicópterosstarcodes pokerstarsoperações. Já a polícia diz que eles são necessários para evitar confrontos.

Bruna segue com o relato, reproduzindo o que ouviustarcodes pokerstarsuma testemunha. "Eles correram e se esconderam. Quando o helicóptero passou, saíram. Mas aí toparam com um blindado [veículostarcodes pokerstarscombate usado por forçasstarcodes pokerstarssegurançastarcodes pokerstarsfavelas]." Segundo ela, os dois deram meia-volta, mas Marcos foi alvejado.

O objetivo da operação era combater o tráficostarcodes pokerstarsdrogas e cumprir mandadosstarcodes pokerstarsprisão. Naquele dia, suspeitosstarcodes pokerstarsenvolvimento com o tráfico foram mortos dentrostarcodes pokerstarsuma mesma casa. Ninguém foi preso.

A camisa, mochila e o caderno que Marcos Vinicius levava naquela manhã

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, A camisa, mochila e o caderno que Marcos Vinícius levava naquela manhã

Quando soube que ocorria uma operação, Bruna diz ter pensado: "E se o Marcos não estiver na escola? E se não deu tempostarcodes pokerstarsele chegar?" Ela ligou para o celular do filho, mas quem atendeu foi um amigo, que dizia que ele havia sido baleado e levado para uma unidadestarcodes pokerstarssaúde.

Marcos ainda estava vivo quando Bruna chegou. "Ele me falou, 'mãe, o blindado atiroustarcodes pokerstarsmim. Eles não viram que eu estavastarcodes pokerstarsuniforme?'"

Segundo a Polícia Civil, o caso seguestarcodes pokerstarsinvestigação na Divisãostarcodes pokerstarsHomicídios. Estão sendo colhidos os últimos depoimentos e laudos técnicos com as conclusões estão sendo aguardados para que a reprodução simulada do ocorrido seja marcada.

'Fake news me levou do luto à luta'

O menino foi levado a um hospital para ser operado, e Bruna foi para casa buscar roupas, pois pretendia se instalar lá com o filho. "Até aquele momento eu estava pensando, 'Bruna, calma, seu filho está vivo ainda'."

Quando chegoustarcodes pokerstarscasa, uma amiga lhe perguntou, "Bruna, você já olhou o Facebook?". Ela disse que não estava com cabeça para isso, mas ficou curiosa. Ao abrir a rede social, viu que muitas pessoas haviam compartilhado uma foto, supostamente do seu filho, com uma arma, como formastarcodes pokerstarsjustificarstarcodes pokerstarsmorte.

"Cuidei do meu filho com muito carinho, aí eles vão lá e matam. Não basta só matar, tem que difamar. Aí falei, 'eles querem briga, vou brigar'", diz Bruna.

Bruna Silva

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, "Cuidei do meu filho com muito carinho, aí eles vão lá e matam. Não basta só matar, tem que difamar. Aí falei, 'eles querem briga, vou brigar'", diz Bruna

As advogadas Evelyn Melo, Samara Castro e Juliana Durães chegaram ao caso por meio do gabinete do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), para quem Evelyn trabalha. Meses antes, as três haviam conseguido que a Justiça obrigasse o Facebook a retirar do ar informações falsas sobre a vereadora Marielle Franco, do mesmo partido, assassinadastarcodes pokerstarsmarçostarcodes pokerstars2018.

Elas assumiram também o casostarcodes pokerstarsMarcos. Numa força-tarefa, voluntários reuniram links para perfis e páginas que haviam compartilhado a foto. "Eram muitos", diz Evelyn. "As pessoas não fazem ideia que um simples compartilhamento pode acabar com uma família." As advogadas apresentaram as páginas à Justiça, que determinou que o Facebook apagasse as postagens.

Foi possível identificar postagens que foram importantes para a disseminação da foto, mas não se sabestarcodes pokerstarsonde partiu a corrente. Segundo Evelyn, entre os que compartilharam a foto, havia perfisstarcodes pokerstarspoliciais. O processo segue. As advogadas agora tentam identificar quem são as pessoas por trás dos perfis que postaram a imagem.

'Eu era uma mulher ativa'

Bruna ainda vive no mesmo apartamento, com o marido, ajudantestarcodes pokerstarspedreiro, e a filha, que hoje tem 13 anos.

"Ela também usou o Facebook para pedir que as pessoas não falassem do irmão dela sem conhecer. Hoje, ela entra pouco lá", diz a mãe.

Bruna, que é empregada doméstica, não está trabalhando. "Hoje ficou complicado para mim. Me prejudicou. Alémstarcodes pokerstarseu perder um filho, as pessoas não querem contratar uma pessoa que está processando o Estado."

Ela toma precauções ao sair na rua, pois se sente ameaçada. "Quando saio, é com cautela. Peço para o meu marido me levar até a saída da favela. Procuro despistar. Não só matam nossos filhos, matam a família. Eu era uma mulher ativa, tinha trabalho, podia entrar e sair da favela na hora que quisesse. Mas medo eu não tenho, medo me paralisa, eu não tenho tempo para medo. É só precaução."

Desinformação na favela

Casosstarcodes pokerstarsdifamação após uma morte violenta não são raros. Segundo Rene Silva, fundador do veículostarcodes pokerstarscomunicação voltado para favelas Voz das Comunidades, algo parecido com o casostarcodes pokerstarsMarcos aconteceu após a mortestarcodes pokerstarsEduardostarcodes pokerstarsJesus,starcodes pokerstarsdez anos, que foi atingido por um tiro na portastarcodes pokerstarscasa, no fim da tardestarcodes pokerstars2starcodes pokerstarsabrilstarcodes pokerstars2015, numa parte do Complexo do Alemão conhecida como Areal.

Em muitas favelas do Rio, tiroteios podem acontecer a qualquer momento do dia ou da noite, por isso, estar bem informado pode ser questãostarcodes pokerstarsvida ou morte.

O Voz das Comunidades informa seus leitores por gruposstarcodes pokerstarsWhatsapp sobre a localizaçãostarcodes pokerstarsoperações, para que eles não acabem na linhastarcodes pokerstarstiro.

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