Como combate a mentiras sobre Marielle superou racha ideológico e pode antecipar guerra eleitoral nas redes:promo bwin
"Veremos uma disputa nas redes entre esquerda e direita e uma disputa das plataformas para mostrarem que papel podem exercer", afirma.
Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, afirmou na semana passada que as eleições no Brasil são uma das preocupações da rede social.
Para entender o que pode acontecer durante as eleições com base no que se viu das notícias falsas sobre Marielle e pensarpromo bwinpossíveis soluções, é preciso começar traçando uma linha do tempo.
Cronologia
As notícias falsas sobre a vereadora se difundirampromo bwinmaneira já tradicional nas redes: começaram no WhatsApp, aplicativopromo bwinmensagens fechado onde não é possível detectarpromo bwinorigem, e depois foram parar no Twitter e no Facebook. Também houve boatos publicadospromo bwinvídeos do YouTube.
"A construção do boato me pareceu sofisticada e planejada promo bwin . Foi uma pequena amostra do jogo sujo que veremos na campanha eleitoral deste ano", opina Pablo Ortellado, pesquisador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP.
Os boatos com diferentes textos, áudios, fotos e vídeo tentavam ligar Marielle ao tráficopromo bwindrogas. Depois do WhatsApp, as notícias falsas chegaram às redes sociais na noitepromo bwinquinta, 15promo bwinmarço, um dia após o assassinato da vereadora, e, com mais força, na manhãpromo bwinsexta, 16promo bwinmarço.
Um dos primeiros tuítes com uma notícia falsa sobre Marielle, identificado pela FGV-DAPP, foi às 10h45promo bwinsexta, 16. Um usuário reproduz um vídeo, sem qualquer relação nas imagens com Marielle, mas ligando "garotospromo bwinchinelo sem camiseta" ao Comando Vermelho e afirmando que Marielle era ex-mulher do traficante Marcinho VP. A informação é falsa.
No próprio dia 16, entrando na onda dos boatos, o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) e a desembargadora Marilia Castro Neves reproduziram e reiteraram as notícias falsaspromo bwinsuas páginas no Twitter e no Facebook.
Títulos noticiosos
A partir daí, observa Ortellado, da USP, "o principal vetorpromo bwindifusão foram os sitespromo bwinnotícias, inclusive os da grande imprensa, que publicaram matérias na noite do dia 16".
Isso porque alguns veículos da imprensa publicaram reportagens com títulos que relatavam as publicações do deputado e da desembargadora, deixando claro apenas no texto que as autoridades estavam replicando, na realidade, uma notícia falsa. "Assim, mesmo quando eram compartilhadas com intençãopromo bwinmostrar que as alegações eram absurdas, elas terminavam ajudando a difundir o boato, agora validado por uma autoridade do Judiciário", observa o pesquisador.
Para ele, "como uma parcela expressiva dos usuários" se informa somente pelos títulospromo bwinreportagens, eles "precisam ser informativos e completos". "Ou seja, não devemos supor que os leitores lerão a matéria completa."
Quando as notícias falsas vêm acompanhadaspromo bwinendereçospromo bwinsites –promo bwinveículos confiáveis ou não – "cria-se a ilusãopromo bwinque o boato tem alguma evidência", diz a pesquisadora Jieun Shin, da Universidade do Sul da Califórnia.
Ela estudou os padrões temporaispromo bwinboatos que circularam no Twitterpromo bwin2012, durante as eleições presidenciais americanas. Por meiopromo bwinsua pesquisa, chegou à conclusãopromo bwinque os boatos voltam às redespromo bwinépocas diferentes e com roupagens diferentes. E que sites colados às notícias falsas acabam dando maior respaldo a elas. "Quando as pessoas leem notícias ou histórias nas redes sociais, elas não costumam clicar no link ligado à postagem."
A pesquisadora sugere que veículospromo bwinimprensa ou agênciaspromo bwinchecagempromo bwinfatos não repitam "alegações falsas"promo bwintítulos. "Exemplo: Não diga 'Obama não nasceu no Quênia', diga 'Obama nasceu no Havaí", afirma, citando uma das notícias falsas que circularam sobre o ex-presidente americano.
Desmentidos
A boa notícia, segundo relatório da FGV-DAPP, é que a ondapromo bwindesmentidos posterior às notícias falsas superoupromo bwinpropagação.
A instituição analisou tuítes sobre Marielle da noite do dia 14 até a meia-noitepromo bwindomingo, 18promo bwinmarço. Na noitepromo bwinsábado, 17, os tuítes com desmentidos dos boatos alcançaram um pico e representaram quase o dobro dos tuítes que propagavam as notícias falsas, que acabaram minguando.
Levantamento do Monitor da USP mostra que uma reportagem do Aos Fatos, uma agênciapromo bwinchecagempromo bwinfatos, foi uma das mais compartilhadas na rede, com 30 mil compartilhamentos. A publicação dizia no título: "Não, Marielle não foi casada com Marcinho VP, não engravidou aos 16 e não foi eleita pelo Comando Vermelho".
Segundo Tai Nalon, jornalista e diretora do Aos Fatos, o site teve recordepromo bwinacessos com a publicação – um milhão só no fimpromo bwinsemana.
"Quando as notícias falsas estão restritas ao WhatsApp, não temos como saber para quem estão chegando. Temos dificuldadepromo bwinentender qual é o alcance das notícias falsas e, se checando as informações, vamos acabar dando mais evidência aos boatospromo bwinvezpromo bwinfazer o 'debunking' (quando se 'derruba' uma notícia falsa)", diz.
"A diferença é que, nesse caso, vimos que os boatos ultrapassaram todas as bolhas. As mensagens estavam sendo compartilhadas por WhatsApp epromo bwinoutras redes, e nós deduzimos que tinham relevância."
O relatório da FGV-DAPP mostra que, entre 14 e 18promo bwinmarço, o grupo que difundiu as respostas sobre notícias falsas e cobrou punições a quem difundia o conteúdo no Twitter era majoritário – 73% do total. O grupo que difundiu notícias falsas ou criticava aqueles que não protestam quando policiais morrem compunham 22% do total.
Marco Ruediger, da FGV, diz que o debate rompeu "a polarização muito tradicional da sociedade brasileira vista desde 2014" porque Marielle representava "temas e valores transversais". Para ele, um indicativopromo bwinque "parte do centro conservador não compra a 'agenda' mais radicalizadapromo bwinum setor da direita".
"A divisão dos partidos foi superada e a polarização perdeu terreno. Isso aponta que talvez uma das chaves para o sucesso eleitoralpromo bwinpropostas não é a insistência na polarização dos campos, mas sim a discussãopromo bwintemas transversais à sociedade brasileira, focadapromo bwinvalores", afirma.
Os dados também mostram,promo bwinacordo com ele, que os robôs e a propagaçãopromo bwinnotícias falsas têm um papel grande, mas não necessariamente vão hegemonizar a discussão durante as eleições. "Pode haver um levante contra a propagaçãopromo bwinnotícias falsas na medidapromo bwinque afeta valores mais porosos à sociedade brasileira."
Fábio Malini, coordenador do Laboratóriopromo bwinEstudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), diz que "houve uma sincronizaçãopromo bwinmuitas redações, blogs, sites alternativos, boa parte da classe política e os ótimos serviçospromo bwinchecagempromo bwinfatos (incluindo aí os colaborativos, feitos por usuários não jornalistas) para desmentir boatos, denunciar outros e ser mais pronunciativos quanto ao assassinatopromo bwinMarielle e Anderson".
Mas, segundopromo bwinanálise, as checagenspromo bwinfatos - emborapromo bwingrande quantidade, como ressalta o relatório da FGV - não penetraram nas bolhaspromo bwinpolarização política nas redes, tanto à esquerda quanto à direita. Segundo ele, os boatos minguaram mais por causa das denúncias feitas por usuários contra a desembargadora Marilia Castro Neves, que virou "arquétipo da mentira".
Também se reduziram após uma "nuvempromo bwincriminalização" - ameaçaspromo bwinprocessos a quem estava espalhando as notícias falsas. Esses dois fenômenos serviram como ponte entre os desmentidos e as bolhas polarizadas mais que a própria checagempromo bwinfatos.
Malini diz que, por isso, "é preciso criar pontes" com veículos nas redes que não possuam, necessariamente, "uma linha editorial que não se socorre no princípio da imparcialidade". "Eles hoje representam grandes audiências, e não é possível deixá-lospromo bwinforapromo bwinum pacto informativo. É preciso pontificar aí nesse terreno", afirma.
Pesquisa Datafolha realizada no Riopromo bwinparceria com o Fórum Brasileiropromo bwinSegurança Pública mostrou que notícias falsas sobre Marielle chegaram à maioria dos entrevistados – o boatopromo bwinque era casada com Marcinho VP, por exemplo, alcançou 60%. Mas a maior parte das pessoas conseguiu identificar as notícias como falsas. No caso do boato sobre Marcinho VP, 45% do total dos entrevistados haviam identificado a notícia como falsa, 6% como verdadeira e 9% não sabia avaliar.
A pesquisa também mostrou uma tendência um pouco maior, por partepromo bwinquem era favorável à intervenção federal no Rio,promo bwinavaliar os boatos como verdadeiros. Foram entrevistadas 1.012 pessoas nos dias 20 ao 22promo bwinmarço, com margempromo bwinerropromo bwin3 pontos percentuais para mais ou para menos.
Mas o fatopromo bwinque os desmentidos superaram os boatospromo bwinquantidade não significa que veremos a mesma coisa durante as eleições, repletaspromo bwin"propostas mais granulares" e com vários candidatos, observa Ruediger. "A difusãopromo bwininformações não vai ser centralizadapromo bwinum único caso, então a identificaçãopromo bwinnotícias falsas não vai ser tão fácil", afirma.
Além disso, as campanhas políticas têm um preparo prévio, diferentemente do que aconteceu com o assassinatopromo bwinMarielle, uma notícia inesperada. "Acho que as tentativaspromo bwintodos os campospromo bwinmanipularem com informações falsas ou enviesadas o debate político vão ser mais sofisticadas."
A publicação no Facebook com maior compartilhamento, ainda segundo análise do Monitor, grupo da USP, era uma da página Ceticismo Político, promovendo o posicionamento da desembargadora que associou Marielle ao tráficopromo bwindrogas. A página, segundo reportagem do jornal O Globo, tinha ligação com o MBL (Movimento Brasil Livre). O MBL nega.
No fimpromo bwinsemana, o Facebook retirou a página do Ceticismo Político do ar – seu criador tinha um perfil falso na rede social, o que viola suas normas.
O grupo da FGV também monitorou os tuítes sobre Marielle associados aos presidenciáveis. Até quarta, 21, ou seja, uma semana depois do crime, a instituição identificou 156,8 mil postagens no Twitter associando Marielle aos possíveis candidatos, "com notável presençapromo bwinreferências ao único dos principais candidatos que não se manifestou – Jair Bolsonaro". O levantamento não detalha o teor dos tuítes.
Um assessor do deputado federal do PSL afirmou ao jornal Folhapromo bwinS.Paulo que ele não se pronunciaria sobre o assassinatopromo bwinMarielle porquepromo bwinopinião sobre o fato "seria polêmica demais", provocando reação nas redes.
Foram 80,9 mil publicações mencionando Bolsonaro ou seus filhos políticos e a vereadora – quase um quintopromo bwintodo o debate sobre o deputado naquela semana. Temer e Lula também foram objetopromo bwintuítes associados a Marielle, com 34,4 mil e 44,2 mil, respectivamente.
Soluções
É possível aprender com um caso como o das notícias falsas sobre Marielle, pensando na campanha eleitoralpromo bwin2018. Pesquisadores dão sugestões sobre como governo, imprensa e leitores podem combater as notícias falsas.
A pesquisadora americana Jieun Shin, da Universidade do Sul da Califórnia, aprendeu com seus estudos sobre a campanha presidencial nos Estados Unidos. Ela diz que, a longo prazo, os governos devem investir na promoçãopromo bwin"alfabetização midiática", ou seja, dar à população noções e conhecimento sobre meiospromo bwincomunicação e novas tecnologias, alémpromo bwin"enfatizar a reflexão crítica, especialmente para jovens consumidores".
Quando os boatos sobre Marielle estavam circulando, o Conselho Nacionalpromo bwinJustiça publicou no Facebook dicaspromo bwincomo identificar notícias falsas: "Não tem fonte? Não repasse", "Pesquise outra fonte", "Leia a notícia inteira", "Estápromo bwindúvida? Não repasse".
Marco Ruediger, da FGV, diz que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deve ampliar e fortalecerpromo bwincapacidadepromo bwinmonitoramento das redes sociais durante as eleições, "estabelecendo parcerias mais amplas com gente da sociedade civil".
Ele mesmo participapromo bwinum grupo criado pela corte no ano passado para estudar a influência das redes sociais no pleito. "O TSE precisa ter regras mais claras para a difusãopromo bwinnotícias falsas", afirma, "mas com muito cuidado para não invadir a liberdadepromo bwinexpressão".
Para Ruedigar, no caso das notícias falsas sobre Marielle, "o mais significativo foi que ninguém se calou". "Teve uma quantidade enormepromo bwininfluenciadores, celebridades, políticos, partidos se manifestando contra essas notícias falsas e extremamente toscas. O engajamento e o fato das pessoas não se calarem e colocarem determinados limites sobre o que é razoável e o que não é foi algo muito importante. Não foi censura, foi uma exposiçãopromo bwinalta transparência."
Para Tai Nalon, do Aos Fatos, o jornalismo precisa se atentar ao fatopromo bwinque "a indústria das 'fake news' se apropriou da linguagem jornalística, transformando a linguagem da propaganda e da desinformaçãopromo bwinuma semelhante ao do jornalismopromo bwinqualidade".
"Eles 'hackearam' a linguagem do jornalismo e se utilizam disso para propagar informações com arespromo bwincredibilidade. O jornalismo talvez tenha que se diferenciar pensandopromo bwinnovas formaspromo bwinapresentar a informação."
Malini, da Ufes, faz uma reflexão sobre as notícias falsas que poderemos ver circular durante as eleições.
"Sempre onde existir política, haverá o rumor. Por motivos simples: a política se move na incerteza, nos arranjos, nas negociações, no jogopromo bwinpresença e ausência. Não acredito então que a notícia, iniciada como rumor, e depois confirmada ou não como verdadeira vá desaparecer. E muito menos a desinformação criada ao redor delas pelas militâncias", afirma.
"Creio que teremos eleições tóxicas. Isso vai acabar criando um certo afastamento do eleitor médio das redes sociais. Por conseguinte, os sites com linhas editoriais mais dentro da polarização tradicional eleitoral (sobretudo no segundo turno) devem continuam ganhando no númeropromo bwinviralidades, apesar da descoberta, dia a dia, que esta é artificializada por causapromo bwin'bots' humanos, contas anônimas com funçãopromo bwinreplicar mensagens", acrescenta.
"Tanto a acusação preliminarpromo bwinquem havia matado Marielle e Anderson eram milicianos, quanto as trágicas notícias falsas caça-cliques relacionando a vereadora a bandidos são produtos da mesma dinâmica: a alta carga viral emocional que recebemos com tantos vídeos, fotos, gifs, textos e lives sobre o caso. Nosso maior dos aprendizados é tentar reduzir a ansiedade e manter equilíbrio emocional, mesmo que existam fluxospromo bwinraiva, indignação e medo."