Tragédiaslot grupBrumadinho: O dilemaslot grupagricultorslot grupabandonar casa centenária onde nasceu e terra que era seu sustento:slot grup
"Aqui, minha mãe ganhou seus 11 filhos", diz ele, o mais novo dos irmãos. Hoje, quatro estão vivos.
A históriaslot grupsua família se mistura à do bairro, onde há ruas com os nomesslot grupseus parentes. Seu avô comprou terras ali no início do século 20, quando a Estradaslot grupFerro Central do Brasil, que ligava Rio, São Paulo e Minas, chegou à região. A estaçãoslot grupBrumadinho foi abertaslot grup1917.
"A gente brincavaslot grupdescer morroslot grupcarrinho, tudo a gente mesmo que construía", conta Helio. "Meu pai tirava leite da vaca aqui e, às 6h, tinha que estarslot grupBrumadinho para o trem levar tudo para Belo Horizonte. Estamos com o umbigo enterrado aqui. Sentimos muito ao ver o que era antes e o que veio depois."
Um quintalslot grupplantações - e memórias
"Isso aqui que você está vendo era tudo plantação", diz o agricultor e apicultor, apontando para o quintal, hoje tomado pelos rejeitos.
Também há ali o que restouslot grupuma casinha, onde a lama chega à metade da altura da parede. Era onde centrifugava o mel que produzia. "Tinha aqui uns 30 baldesslot grupmel, vários vidrosslot grupprópolis, embalagens. Tinha coisasslot grupque nem lembro mais."
Quem ensinou a ele e aos irmãos a técnicaslot grupapicultura foi a mãe, que a aprendeu na escola. Helio é aposentado, ganha pouco maisslot grupum salário mínimo e tinha na apicultura um complementoslot grupsua renda.
O quintal já teve várias funções para a família. Era onde seu pai curtia couro, e Helio e um irmão chegaram a ter um alambique. Desde criança, ajudava os pais com o trabalho nas plantações. "A gente sempre se alimentou do que plantava no terreno", diz ele.
A tardeslot gruppânico e a relação com a Vale
Até o rompimento da barragem, Helio não havia tido problemas com a Vale. "Eu era doido para ver como era lá dentro da mina. De um ponto alto, dava para ver a barragem. Era verdinha por cima. A princípio, não parecia que ia se desfazer", diz ele.
Há menosslot grupum ano, conta Helio, a empresa instalou sirenes no bairro, "mas não chegaram a explicar para a população para que serviria esse sistemaslot grupalarme". No diaslot grupque a barragem se desfez, as sirenes não soaram.
Quando ocorreu o rompimento, às 12h28, Helio estavaslot grupcasa. Dali a mais ou menos 20 minutos a lama chegaria ao bairro.
Ele recebeu a ligaçãoslot grupum sobrinho que trabalha para uma empresa terceirizada da Vale. "Tio, você está onde?", perguntou o rapaz. "Em casa", respondeu Helio. "Então, sai daí agora que a barragem se rompeu", disse o sobrinho.
Teve temposlot gruppegar documentos e a chave do carro. Do portão, já ouviu o barulho da avalanche, quebrando árvores pelo caminho.
Ao chegar num ponto mais alto da estrada, viu a lama levando carros, geladeiras, antenas parabólicas, restosslot grupconstruções.
Um futuro incerto
Helio ainda não sabe onde vai morar, mas diz querer ficar no bairro. Autoridades disseram a ele que pagariam um aluguel na região. Foi instruído a tomar vacinaslot gruphepatite para evitar a contaminação pela lama.
A Vale o informouslot grupque poderia voltar a morar naquela casa um dia, se quisesse, mas, para Helio, seria uma lembrança diária do que aconteceu.
"Quando abrir a janela da cozinha (que dá para onde ficava o Córrego do Feijão e onde está a lama hoje), vou ficar imaginando quem são as pessoas aí debaixo. Não quero isso, não. Mas acho que a gente tem que continuar a vida. A gente lamenta muito, mas a vida segue."
Até a publicação desta reportagem, Helio não sabia o valor da indenização que receberia.
Procurada para comentar a situação dos agricultores da região, a Vale disse que faria uma doação no valorslot grupR$ 50 mil para aqueles que moravam nos lugares onde a empresa previa que a lama chegaria, caso a barragem se rompesse, eslot grupR$ 15 mil para aqueles que desenvolviam atividades produtivas ou comerciais ali.
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