Embaixadachampionship 2024 23Jerusalém: o que o Brasil pode ganhar e perder se aproximandochampionship 2024 23Israel:championship 2024 23

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Legenda da foto, Logo após tomar posse como presidente da República, Jair Bolsonaro confirmou que pretende transferir a embaixada do Brasilchampionship 2024 23Tel Aviv para Jerusalém, seguindo os passos do presidente americano Donald Trump

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Legenda da foto, A forte guinada diplomática rumo anunciada por Bolsonaro pode ampliar parcerias com o governo israelense, mas também retrocessos nas relações com países árabes, segundo analistas e o setor produtivo brasileiro

Por outro lado, Israel é um polo tecnológico e o Brasil poderia, potencialmente, se beneficiar com parcerias que incluam transferênciachampionship 2024 23conhecimento científico. Irrigação para o setor agrícola, dessalinizaçãochampionship 2024 23águachampionship 2024 23áreaschampionship 2024 23seca e segurança cibernética para uso no combate ao crime organizado estão na mira do governo brasileiro.

Mas a guinada diplomática na presidênciachampionship 2024 23Bolsonaro não tem efeitos apenas na economia. Impacta, também, a forma como o Brasil é visto internacionalmente e, por consequência, as alianças políticas que conseguirá costurarchampionship 2024 23organismos internacionais, como na Organização Mundial do Comércio (OMC) e nas Nações Unidas (ONU). Atualmente, é com países árabes que o Brasil tem contadochampionship 2024 23votações internacionais importantes.

"Em todos os foros multilaterais, sempre que o Brasil precisa formar maioria, seja na OMC ou na ONU, ele negocia essa maioria com países da América Latina, que são 30 votos, com os da África, que são 50 votos e com os países do Oriente Médio, que são dezenas e dezenaschampionship 2024 23votos", explica o professorchampionship 2024 23Relações Exteriores da Fundação Getúlio Vargas Matias Spektor, que já foi pesquisador do Woodrow Wilson Centre,championship 2024 23Washington (EUA), e da Universidadechampionship 2024 23Oxford, no Reino Unido.

"A forte aproximação com Israel tem impacto econômico, mas também um custo político-diplomático."

Qual o pesochampionship 2024 23Israel echampionship 2024 23países árabes no comércio brasileiro?

Países árabes e o Irã respondem por quase 6%championship 2024 23todas as exportações brasileiras e cercachampionship 2024 2310% das exportações do setor agropecuário do Brasil. E a tendência, até pouco tempo, erachampionship 2024 23crescimento.

Em 2018, as trocas entre o Brasil e paíseschampionship 2024 23maioria islâmica somaram US$ 22,9 bilhões, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A balança é favorável ao Brasilchampionship 2024 23US$ 8,8 bilhões. Ou seja, exportamos mais do que importamos.

Mas é olhando para setores específicos, principalmente a agropecuária, que o peso das relações comerciais com nações muçulmanas fica mais claro: elas recebem cercachampionship 2024 2370%championship 2024 23todas as exportações brasileiraschampionship 2024 23açúcar (somados o refinado e o bruto), 46% do milhochampionship 2024 23grãos, 37% da carnechampionship 2024 23frango e 27% da carnechampionship 2024 23boi, conforme dados levantados pela BBC News Brasil junto ao MDIC.

"O Oriente Médio representava 5% das exportações do setor agropecuário brasileiro e hoje representa 10% das exportações. Ou seja, dobrou desde o ano 2000", ressalta Marcos Jank, presidente da Asia-Brasil Agro Alliance, entidade que reúne alguns dos maiores exportadores agropecuários brasileiros.

Já o comércio com Israel representa bem menoschampionship 2024 231% do comércio exterior brasileiro. E o Brasil compra mais do que vende. A balança comercial com Israelchampionship 2024 232018 fechouchampionship 2024 23déficitchampionship 2024 23US$ 847,8 milhões.

"O mercado árabe é muito mais importante economicamente para o Brasil. Do pontochampionship 2024 23vista puramente econômico, estamos beneficiando um país que importa poucochampionship 2024 23detrimentochampionship 2024 23um grupochampionship 2024 23países que importa muito", disse à BBC News Brasil o presidente da Associaçãochampionship 2024 23Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augustochampionship 2024 23Castro.

O presidente da Câmara Brasil-Israelchampionship 2024 23Comércio e Indústria, Jayme Blay, discorda. Ele argumenta que, emborachampionship 2024 23termoschampionship 2024 23volume o comércio entre os dois países seja inferior ao dos países árabes, tecnologias importadaschampionship 2024 23Israel tiveram impacto importantechampionship 2024 23setores da agricultura.

Na visãochampionship 2024 23Blay, um incremento da parceria poderá aumentar e diversificar a produção brasileira.

"O Brasil não produzia melão comercialmente até a décadachampionship 2024 2360. Com usochampionship 2024 23tecnologia israelense, passou a produzir a fruta no Vale do São Francisco. Hoje, é o segundo maior exportadorchampionship 2024 23melão do mundo", exemplificou.

Retaliações

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Legenda da foto, O mundo árabe responde por 27% das exportações brasileiraschampionship 2024 23carne bovina. Setor exportador teme retaliações diantechampionship 2024 23aproximação com Israel

Desde que Bolsonaro anunciou que seguiria os passoschampionship 2024 23Trump e transferiria a Embaixada do Brasilchampionship 2024 23Tel Aviv para Jerusalém, países árabes passaram a dar sinaischampionship 2024 23que retaliariam o Brasil comercialmente.

Isso porque a ocupaçãochampionship 2024 23Jerusalém é um dos pontos mais sensíveis no conflito árabe-israelense. O território é considerado sagrado tanto para a religião judaica quanto islâmica.

Israel considera Jerusalémchampionship 2024 23capital eterna e indivisível. Mas os palestinos reivindicam parte da cidade (Jerusalém Oriental) como capitalchampionship 2024 23seu futuro Estado. A posição da maior parte da comunidade internacional, inclusive da União Europeia e das Nações Unidas, é achampionship 2024 23que o statuschampionship 2024 23Jerusalém deve ser decididochampionship 2024 23negociaçõeschampionship 2024 23paz. Por isso, os países mantêm suas embaixadaschampionship 2024 23Tel Aviv, a capital comercialchampionship 2024 23Israel.

Marcos Jank, que representa setores exportadoreschampionship 2024 23frango e açúcar na Ásia, afirmou à BBC News Brasil que, após o anúnciochampionship 2024 23Bolsonaro, recebeu "recados"championship 2024 23importadoreschampionship 2024 23paíseschampionship 2024 23maioria muçulmana, como Malásia e Indonésia, alémchampionship 2024 23alertas das embaixadas brasileiras no Oriente Médio sobre possíveis cortes nas importaçõeschampionship 2024 23produtos do Brasil.

"Dependemos muito da exportação para paíseschampionship 2024 23desenvolvimento. Em 2000, 60% do que o Brasil exportava ia para Europa e Estados Unidos. Hoje, 70% vai para paíseschampionship 2024 23desenvolvimento. E as regiões mais dinâmicas têm sido Ásia e Oriente Médio", destaca.

"Por isso, o agronegócio ficou tão preocupado. Eu estouchampionship 2024 23Cingapura e tenho recebido recados diretos (de potencial retaliação), por e-mail e telefonema, alémchampionship 2024 23feedbackchampionship 2024 23embaixadas."

Segundo o presidente da Associaçãochampionship 2024 23Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augustochampionship 2024 23Castro, o setor produtivo que seria mais afetado por uma potencial retaliação seria ochampionship 2024 23frango, seguido pelochampionship 2024 23carne e ochampionship 2024 23açúcar.

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Legenda da foto, Setores que mais sofreriam com reduçãochampionship 2024 23exportações a países árabes são açucar, carne e frango, segundo a Associaçãochampionship 2024 23Comércio Exterior do Brasil

Mesmo assim, Castro avalia que dificilmente os países árabes conseguiriam, no curto prazo, substituir amplamente as importações brasileiras, já que há poucos países capazeschampionship 2024 23exportar na mesma quantidade e custo que o Brasil. Além disso, as alternativas existentes para as nações islâmicas também esbarramchampionship 2024 23conflitos geopolíticos.

O Brasil é o maior exportadorchampionship 2024 23carne halal, que segue as regraschampionship 2024 23abate do Islã. Se quisesse substituir a carne brasileira, o mundo árabe precisaria recorrer aos segundo e terceiro maiores exportadores: Estados Unidos e Austrália.

A questão é que os Estados Unidos, sob o governo Trump, foram os primeiros a transferir a embaixada para Jerusalém. E,championship 2024 23dezembro, a Austrália reconheceu oficialmente Jerusalém como capitalchampionship 2024 23Israel, embora não tenha transferidochampionship 2024 23embaixada para lá.

No caso do frango, Castro afirma que a União Europeia poderia,championship 2024 23médio prazo, tentar ocupar o vácuo deixado pelo Brasil. Ainda assim, seria custoso para os países árabes, já que o frango brasileiro é mais barato.

Quanto ao açúcar, produtores temem perdas a médio e longo prazo, mas também não acreditam que seja possível uma substituição completa do produto brasileiro.

"Não vejo, no curto prazo, um substituto imediato para o açúcar brasileiro. De uma forma estrutural, o Brasil responde por 50% do comércio mundialchampionship 2024 23açúcar", ressalta Paulo Robertochampionship 2024 23Souza, coordenadorchampionship 2024 23competividade internacional da maior associaçãochampionship 2024 23usineiros do Brasil, a União da Indústria da Canachampionship 2024 23Açucar (Unica).

Ele afirma, porém, que a médio prazo, Tailândia, Índia e União Europeia podem se movimentar para substituir parte do que hoje é exportado pelo Brasil aos países árabes.

"O relacionamento nosso com os países árabes é intenso echampionship 2024 23longa data, então qualquer coisa que venha a criar ruídos ou tensão obviamente que preocupa", diz Souza, que foi presidente da Copersucar, maior cooperativa brasileirachampionship 2024 23açúcar e etanol.

Transferêncoachampionship 2024 23tecnologia e cooperação com os EUA

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Legenda da foto, Decisãochampionship 2024 23mudar embaixada brasileira para Jerusalém é vista como gestochampionship 2024 23aproximação com Trump. Brasil esperaria,championship 2024 23troca, acesso a mercados americanos e acordos na áreachampionship 2024 23segurança

Analistas afirmam que, apesar do riscochampionship 2024 23perdas econômicas, principalmente no setor agropecuário, a aproximação com Israel também pode trazer oportunidades.

Até porque, ao se juntar a Trump no reconhecimentochampionship 2024 23Jerusalém como capitalchampionship 2024 23Israel, o governo brasileiro dá sinaischampionship 2024 23aproximação com os Estados Unidos, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil. E espera, obviamente, retornos do governo americano.

"O motivo dessa mudança (em relação a Israel) diz respeito à intenção do governo Bolsonarochampionship 2024 23realinhar a política externa brasileira no sentidochampionship 2024 23criar aproximação com o presidente americano Donald Trump. Sempre que há uma mudança muito fortechampionship 2024 23relação ao passado há custos, mas também benefícios", diz Matias Spektor, professorchampionship 2024 23Relações Internacionais da FGV.

"A expectativa do governo é que Trump faça concessões ao Brasil que incluem acesso ao mercado americano, investimentos americanos no Brasil, intercâmbio na áreachampionship 2024 23segurança, vendachampionship 2024 23armamentos para o Brasil, cooperação na áreachampionship 2024 23segurança cibernética echampionship 2024 23controlechampionship 2024 23fronteiras."

Já a principal expectativa quanto a Israel envolve transferênciachampionship 2024 23tecnologia. "O Brasil pode importar sistemas educacionais e tecnologia na áreachampionship 2024 23medicina, telecomunicações, e tecnologiachampionship 2024 23informação, alémchampionship 2024 23firmar parcerias para pesquisas sobre Parkinson, Alzheimer e câncer, que são áreaschampionship 2024 23destaquechampionship 2024 23Israel", defende o presidente da Câmara Brasil-Israelchampionship 2024 23Comércio e Indústria, Jayme Bray.

Mas o presidente da Associaçãochampionship 2024 23Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augustochampionship 2024 23Castro, lembra que o próprio poderchampionship 2024 23comprachampionship 2024 23tecnologia, pelo Brasil, depende do setorchampionship 2024 23exportação,championship 2024 23especial do agronegócio, que responde por parcela importante das receitas brasileiras.

"O Brasil tradicionalmente nunca se envolveu politicamente (no conflito árabe-israelense) a pontochampionship 2024 23ter impacto econômico. O comércio com os árabes na áreachampionship 2024 23commodities é muito relevante, e o Brasil não deveria criar bases para que, amanhã, países árabes deixemchampionship 2024 23comprar."

Cooperação contra crime x ameaças extremistas

Uma aproximação com Israel que inclua a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém também parece ser uma "facachampionship 2024 23dois gumes" na áreachampionship 2024 23segurança. Por um lado, há uma expectativa por parte do governochampionship 2024 23transferênciachampionship 2024 23tecnologia israelense na áreachampionship 2024 23defesa e, sobretudo,championship 2024 23segurança cibernética.

Por outro, há temorchampionship 2024 23que o Brasil venha a ser alvochampionship 2024 23grupos radicais islâmicos, se tomar o partidochampionship 2024 23Israel no conflito com a Palestina.

"Quando surgiu essa ideiachampionship 2024 23que o Brasil poderia dar essa guinada diplomática, um dos alertas veio da missão das Nações Unidas no Líbano, da qual o Brasil faz parte. Integrantes da missão disseram que um dos riscos que o Brasil corre ao fazer isso (transferir a Embaixada para Jerusalém) échampionship 2024 23ataques a soldados brasileiros ouchampionship 2024 23embaixadas do Brasil naquela região do mundo", afirma Matias Spektor, da FGV.

Mas a parceria com Israel parece atender às preocupações internas com segurança. O uso, por exemplo,championship 2024 23dados e imagenschampionship 2024 23satélites israelenses poderia ajudar no combate ao crime organizado - uma das prioridades do atual ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Na Olímpiadachampionship 2024 232016 no Riochampionship 2024 23Janeiro, o satélite Eros-B,championship 2024 23Israel, com capacidadechampionship 2024 23mostrar objetos com menoschampionship 2024 2370 centímetros sobre a superfície, foi usado para reforçar a segurança. Além disso, Israel doou tecnologia para a criação do Centro Integradochampionship 2024 23Comando e Controle, usado para compartilhamentochampionship 2024 23informaçõeschampionship 2024 23inteligência entre órgãos federais e estaduais durante os Jogos.

Crédito, Tomaz Silva/Agência Brasil

Legenda da foto, Israel transferiu tecnologia ao Brasil na áreachampionship 2024 23segurança durante a Olimpíadachampionship 2024 232016, no Riochampionship 2024 23Janeiro

"O governo quer ampliar a cooperação com Israel, principalmente na áreachampionship 2024 23ciência e tecnologia, com ênfase na segurança cibernética. Trata-sechampionship 2024 23fazer controle por satélites das fronteiras e ter tecnologia para interceptar comunicaçõeschampionship 2024 23organizações criminosas", explica Spektor.

Jayme Blay confirma que o setorchampionship 2024 23segurança cibernética deve ter espaço prioritário nas novas relações entre Brasil e Israel. "Segurança foi sempre um item umbilicalmente ligado à vida nacional israelense e a cibernética é chave para a sobrevivênciachampionship 2024 23Israel, por isso houve grande investimentochampionship 2024 23tecnologia nesse setor".

Apoio políticochampionship 2024 23organismos internacionais

Se o governo Bolsonaro confirmar a forte guinada diplomática nas relações com Israel e o Oriente Médio, possivelmente haverá mudanças no xadrezchampionship 2024 23organismos internacionais, como a ONU e a OMC.

Nos últimos anos, o Brasil vinha se alinhando com países latino-americanos, africanos e árabeschampionship 2024 23votações multilaterais. Agora, poderá perder algumas dezenaschampionship 2024 23votos, por exemplo,championship 2024 23disputas comerciais.

Crédito, Wilson Dias/Agência Brasil

Legenda da foto, Brasil pode perder votos árabeschampionship 2024 23organismos internacionais, mas ganhar apoio dos EUA para ser parte da OCDE. Em missões brasileiraschampionship 2024 23países árabes, há temorchampionship 2024 23que soldados brasileiros virem alvo

"Existe um riscochampionship 2024 23isolamento do Brasil, já que existe um entendimento hoje, na comunidade internacional,championship 2024 23que a pior maneirachampionship 2024 23encaminhar o conflito árabe-Israel é você dar razão absoluta a um ladochampionship 2024 23detrimento do outro", afirma Matias Spektor.

O professorchampionship 2024 23Relações Internacionais destaca, no entanto, que o Brasil pode tentar se utilizar da proximidade maior com os Estados Unidos para concluir o processochampionship 2024 23entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo que reúne as maiores economias do mundo.

"Esse é um processo que depende fortemente do apoio cerrado dos norte-americanos", destaca Spektor.

Entre perdas e ganhos, analistas dizem que dois elementos cruciais permitiram que o Brasil mantivesse até hoje boas relações tanto com Israel quanto com países árabes: reputação e confiança. O desafio será alcançar um equilíbrio que não deteriore as parcerias firmadas com ambos os lados.

"A reputaçãochampionship 2024 23um país é como a reputação das pessoas. Ela leva muito tempo para ser construída e é muito facilmente destruída", define o professorchampionship 2024 23Relações Internacionais da FGV.