'Tecnologia permite destruir Amazônia mais rápido do que fizemos com a Mata Atlântica':flamengo e bangu palpite

Imigrantes japoneses derrubam árvore centenária no interiorflamengo e bangu palpiteSão Paulo

Crédito, Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

Legenda da foto, Só 3% da madeira derrubada na Mata Atlântica para dar lugar a fazendas foi aproveitada;flamengo e bangu palpitegeral, matas eram incendiadas e transformadasflamengo e bangu palpitepastos para prepará-las para a agricultura, assim como hoje ocorre na Amazônia

A árvore mais alta identificada, numa antiga fazendaflamengo e bangu palpitecacauflamengo e bangu palpiteCamacã (BA), foi um jequitibá com 58 metrosflamengo e bangu palpitealtura e tronco com 13,6 metrosflamengo e bangu palpitecircunferência - dimensões extraordinárias, mas aquém das árvores gigantes do bioma no passado, como um jequitibá na regiãoflamengo e bangu palpiteCampinas (SP) cujo caule alcançava 19,5 metrosflamengo e bangu palpitecircunferência no início do século 20.

Em entrevista à BBC News Brasil, Cardim diz que as condições que permitiram o desenvolvimento das árvores gigantes da Mata Atlântica não existem mais. Compartimentadas e cercadas por lavouras, muitas áreasflamengo e bangu palpitefloresta sobreviventes se despovoaramflamengo e bangu palpiteanimais - essenciais para a renovação das plantas - e sofrem com a invasãoflamengo e bangu palpiteespécies exóticas e alterações climáticas.

Ele diz acreditar, porém, que as próximas gerações conseguirão reconectar os fragmentos da floresta e trazer os bichosflamengo e bangu palpitevolta, garantindo a sobrevivência do bioma, ainda que sem a mesma riqueza original.

Cardim não nutre o mesmo otimismoflamengo e bangu palpiterelação à Amazônia - que, segundo ele, vive hoje, passo a passo, o mesmo roteiro da destruição da Mata Atlântica. Segundo o botânico, enquanto o desflorestamento da Mata Atlântica parece ter sido contido, a Amazônia sofre com a ação "de um arcoflamengo e bangu palpiteaventureiros que são incontroláveis" e fragmentarão o bioma antes que a sociedade se conscientize sobreflamengo e bangu palpiteimportância. "Hoje a tecnologia permite que a gente faça a destruição da Amazônia com a mesma velocidade, ou até mais rápido, do que fizemos na Mata Atlântica. Com nossas estradas, caminhões, motosseras, o ganhoflamengo e bangu palpiteescala é absurdo".

Confira os principais trechos da entrevista.

Reserva Natural Vale, no Espírito Santo

Crédito, Luciano Zandoná

Legenda da foto, Colarflamengo e bangu palpitebroméliasflamengo e bangu palpitetornoflamengo e bangu palpiteárvore na Reserva Natural Vale,flamengo e bangu palpiteLinhares, no Espírito Santo.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - O livro mostra que, ao contrário do que muitos pensam, a destruição da Mata Atlântica foi um processo bem recente. Como o bioma foi aniquilado tão rapidamente?

flamengo e bangu palpite Ricardo Cardim - Até 1890, o que estava mexido no Brasil era um pedacinhoflamengo e bangu palpitePernambuco, por causa do ciclo do açúcar no século 17, e do Rioflamengo e bangu palpiteJaneiro, por causa das fazendasflamengo e bangu palpitecafé. O resto era mata fechada, com índios dentro.

Parece incrível, mas a destruição da Mata Atlântica se deu mesmo no século 20. A grande cobiça era pelos húmus que fertilizaram o solo da Mata Atlântica ao longoflamengo e bangu palpitemilênios. A madeira era muito mais um empecilho do que um benefício. Só no final do processo, quando já tínhamos muito caminhão e transporte facilitado pelas ferrovias, que a madeira começou a ser aproveitada. Mesmo assim, o índiceflamengo e bangu palpiteaproveitamento da madeira foiflamengo e bangu palpitecercaflamengo e bangu palpite3%flamengo e bangu palpitetudo o que foi derrubado.

A ordem era "limpa logo para a gente começar a colher o ouro verde", que era o café. Fizemos como aquele cara que herda uma fortuna e na mesma noite vai gastar tudoflamengo e bangu palpitefarra, e acorda pobre. Demoramos milharesflamengo e bangu palpiteanos para formar aquele solo, criar aquelas condições perfeitas, eflamengo e bangu palpitecinco ou dez anos, aquilo não existia mais. Os solos que a gente cultiva hoje só são cultiváveis por causa da tecnologia, porque já foram exauridos.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - Você destaca no livro a destruição das matasflamengo e bangu palpitearaucárias, na porção sul da Mata Atlântica. O que houveflamengo e bangu palpitepeculiar nesse processo?

flamengo e bangu palpite Cardim - A velocidade com que ocorreu. Essa é uma floresta que passa do século 19 ao 20 praticamente intacta. Brincava-se que era possível atravessar os Estados do Paraná eflamengo e bangu palpiteSanta Catarina nos galhos das araucárias,flamengo e bangu palpitetão grudadinhas que elas estavam.

Até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Brasil importava madeira - o que era surreal para um país que estava destruindo florestas adoidado para plantar café. Mas, quando a Primeira Guerra impede esse comércio, o mercado começa a lembrar a araucária - um pinheiro maravilhoso, muito fácilflamengo e bangu palpitecortar. Começa um saque da floresta voltado para a madeira como se nunca viu.

A araucária vira uma grande divisa. Todo mundo que quer ficar rico vai para a florestaflamengo e bangu palpitearaucária montarflamengo e bangu palpiteserrraria. Isso chega no auge nos anos 1950 e 1960. Cortavam tanta madeira que boa parte dela apodrecia antesflamengo e bangu palpiteser escoada para o mercado. Nos anos 1970, a floresta acabou. Houve uma quebradeira geral nas serrarias. Famílias que eram riquíssimas ficaram pobres.

A araucária simplesmente acabou. O que temos hoje são araucárias rebrotando, pequenas. O que sobrou hoje é uma sombra.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - O quão virgem era a Mata Atlântica antesflamengo e bangu palpite1500?

flamengo e bangu palpite Cardim - (O antropólogo) Darcy Ribeiro falava que havia entre 4 e 6 milhõesflamengo e bangu palpiteíndios vivendo aqui no território. Acho possível, mas não acho que o impacto deles na floresta foi tão grande quanto o historiador americano Warren Dean falouflamengo e bangu palpite"A ferro e fogo: a história da devastação da Mata Atlântica brasileira" (1996). Ele diz que não existia floresta intocada, porque os índios já tinham cortado aquilo pelo menos uma vezflamengo e bangu palpiteum milênio.

Eu acredito que os índios tinham capacidadeflamengo e bangu palpitealterar o meio, mas com ferramentas muito primitivas - machadosflamengo e bangu palpitepedra, fogo -, e também tinham populações muito pulverizadas. As coivaras que eles faziam para queimar e plantar roças não eram suficientes para gerar uma extensa derrubada. Acho que os índios deixavam as árvores grandes no meio da coivara e plantavam embaixo delas. E não acho que tenham conseguido trabalhar todo o território a pontoflamengo e bangu palpitealterá-lo.

Jequitibáflamengo e bangu palpiteCamacã

Crédito, Luciano Zandoná

Legenda da foto, O jequitibáflamengo e bangu palpiteCamacã, na Bahia, é considerado atualmente a maior árvore da Mata Atlântica, com 58 metrosflamengo e bangu palpitealtura e 13,6 metrosflamengo e bangu palpitecircunferência do tronco, medida a 1,3 metro do solo.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - Qual o cenário hoje para as árvores gigantes remanescentes da Mata Atlântica?

flamengo e bangu palpite Cardim - É terrivelmente ameaçado. A Mata Atlântica virou uma colchaflamengo e bangu palpiteretalhos. Sobrou um décimo do que ela era, e ainda por cima esse décimo é formado por vegetação secundária - por florestas que já foram queimadas, exploradas, derrubadas - e divididoflamengo e bangu palpite245 mil fragmentosflamengo e bangu palpitediferentes tamanhos. As árvores gigantes que sobraram nesses pedacinhos, especialmente nos menores, estão superameaçadas.

O clima local altera quando se derrubam florestas - basta lembrar que São Paulo era a terra da garoa, e hoje não temos mais garoa porque sumiu o verde dentro e no entorno da cidade. Os ventos, alterações ecológicas como a infestaçãoflamengo e bangu palpitecipós, uma sérieflamengo e bangu palpitedesequilíbrios ecológicos causados pela invasão do homem na floresta estão colocandoflamengo e bangu palpiterisco as poucas árvores gigantes que sobreviveram no bioma - tanto dentro da floresta quanto aquelas que estão isoladasflamengo e bangu palpitepastos, plantações, meios urbanos.

Nossa geração talvez seja uma das últimas a conseguir enxergar essas árvores gigantes, porque elas estão desaparecendo. E acho difícil que novas árvores desse porte surjam se a gente não reconectar os fragmentosflamengo e bangu palpitefloresta.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - É viável reconectar esses fragmentos, considerando as forças econômicas e políticas atuais? As paisagens na região parecem estar muito consolidadas.

flamengo e bangu palpite Cardim - Nasciflamengo e bangu palpite1978 e cresci numa casa que tinha telefoneflamengo e bangu palpitedisco, uma TV com bombril espetadoflamengo e bangu palpitecima e meu pai assinando jornal. O mundo mudou muito, e não sóflamengo e bangu palpitetecnologia,flamengo e bangu palpitevisão do planeta, sociedade. As crianças estão vindo com outro olhar sobre a natureza. Tenho muita féflamengo e bangu palpiteque elas vão causar uma revolução, e a tecnologia vai resolver muitos problemas, produzindo muito alimento sem precisarflamengo e bangu palpitegrandes territórios. Vai chegar o momentoflamengo e bangu palpiteque vamos conseguir ter a harmonia entre o conforto moderno e o modoflamengo e bangu palpiteprodução econômico, e conseguiremos restabelecer parte do território natural.

Em 2100, teremos a Mata Atlântica reconectada, sobrevivendo,flamengo e bangu palpiteharmonia com as cidades e as atividades agrícolas. Sou otimista.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - A Mata Atlântica será capazflamengo e bangu palpitese regenerar sozinha?

flamengo e bangu palpite Cardim - Se o ser humano desaparecesse da Terra neste instante, a Mata Atlântica iria recompor todo seu espaço. O que a atrapalharia são as plantas invasoras. Trouxemos muitas plantas estrangeiras. Quando você traz algoflamengo e bangu palpitefora, isso pode prejudicar enormemente quem já estava aqui antes. Vemos isso no parque Trianon (em São Paulo) e na Floresta da Tijuca (no Rioflamengo e bangu palpiteJaneiro).

A floresta abandonada, sem ser manejada, iria virar um híbridoflamengo e bangu palpiteMata Atlântica com Pinus elliotti (pinheiro nativo da América do Norte), com palmeira seafortia (espécie australiana), com jaqueiras (oriundas da Ásia), e isso poderia comprometer grande parte da bidiversidade até chegar num pontoflamengo e bangu palpiteequilibrio. Teríamos uma floresta mais pobre do que aquela que os portugueses encontraramflamengo e bangu palpite1500.

Transporteflamengo e bangu palpitemadeira por balsas no rio Uruguai, na região Sul

Crédito, Ricardo Cardim

Legenda da foto, Balsas usadas para escoar madeira no rio Uruguai, na região Sul; mesma técnica é usada atualmente para transportar madeira pelos rios amazônicos.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - O geógrafo Altair Sales costuma dizer que os trechos remanescentesflamengo e bangu palpiteCerrado são como fotografias do passado, porque muitas das interações entre insetos, plantas e animais que permitiram o desenvolvimento daquelas paisagens deixaramflamengo e bangu palpiteexistir à medida que o bioma foi sendo degradado - e que no futuro aquelas paisagens desaparecerão. Isso se aplica à Mata Atlântica?

flamengo e bangu palpite Cardim - Sim. Temos hoje na Mata Atlântica florestas que são relíquias, restosflamengo e bangu palpiteuma era quando tínhamos macacos muriquis andandoflamengo e bangu palpitegalhoflamengo e bangu palpitegalho do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, quando tínhamos antas, varasflamengo e bangu palpitequeixadas e catetus, onçasflamengo e bangu palpitetodos os lugares.

Os bichos são fundamentais para plantar e polinizar a floresta. Nos anos 1930, o homem chegou à mata metralhando os bichos, caçava tudo o que via por ali. A vegetação tropical é intimamente ligada a seus bichos, uma evoluiu com o outro, com complexas interações que a gente nem imagina ainda.

Na Mata Atlântica, temos hoje a figura da floresta vazia, da floresta zumbi, como a do Parque Trianon, que não tem como se renovar. Para que a sementeflamengo e bangu palpiteum jatobá germine, ela temflamengo e bangu palpiteter a dormência quebrada pelo intestino da anta. Sem anta, isso não acontece mais, a semente cai no chão e não germina. Os mecanismos estão profundamente comprometidos tanto no Cerrado quanto na Mata Atlântica.

Por isso, quando formos investir para reconectar os fragmentos, precisamos procriar os bichos para que eles possam voltar a transitar e reabilitar a floresta.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - Em vezflamengo e bangu palpitehomogênea, a Mata Atlântica é descrita no livro como um bioma com múltiplas faces. O quão diversa é a formação?

flamengo e bangu palpite Cardim - As pessoas tendem a pensar que a Mata Atlântica é aquele tapetãoflamengo e bangu palpitefloresta, como na Serra do Mar. Pensam que só ocorre no litoral, sem saber que ela vai até o Paraguai. Ela era realmente extensa. Outra coisa interessante é a diversidadeflamengo e bangu palpitepaisagens.

Na Mata Atlântica, podemos encontrar desde a restinga arenosa, um areial com ilhasflamengo e bangu palpitebromélias, cactos, pequenos arbustos, pitangueiras, verdadeiros jardins prontos - não é à toa que Burle Marx se inspirava nessas paisagens -, a camposflamengo e bangu palpitealtitude, comoflamengo e bangu palpiteItatiaia, ou na Serra dos Órgãos, que são campos com plantinhas no topo, até florestas monstruosas como as que existiram no norte do Paraná e no sul da Bahia.

Ela tem maior biodiverisade, comparativamente, do que a Amazônia, porque ela concentra diversas paisagens e espécies num território relativamente pequeno, graças à proximidade do oceanoflamengo e bangu palpitealguns pontos e do relevo, que é bastante movimentado e cria diferentes condições para a vegetação.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - Já tivemos perdas irreparáveisflamengo e bangu palpiteespéciesflamengo e bangu palpiteárvores gigantes na Mata Atlântica?

flamengo e bangu palpite Cardim - Suspeito que sim. Por exemplo, a peroba-rosa encobria centenasflamengo e bangu palpitequilômetrosflamengo e bangu palpiteflorestas. Ela foi tão cortada, sobrou tão pouco, que nos faz questionar o quanto sofreuflamengo e bangu palpiteersoão genética a pontoflamengo e bangu palpitese tornar viável. Uma doença talvez seja capazflamengo e bangu palpitematar todas as restantes. São os últimos moicanos. Tenho a sensaçãoflamengo e bangu palpiteque muitas árvores da Mata Atlântica são os últimos moicanos.

Nas expedições que fiz durante a produção do livro, tinha o objetivoflamengo e bangu palpitever a floresta original, mas acho que não consegui. A grande verdade é essa. Eu vi florestas que podem ter sido próximas daquilo, mas fiquei com a sensaçãoflamengo e bangu palpiteque não existe mais a floresta original, que meu tataravô possa ter visto quando estavam abrindo as fazendas.

Onças pintadas mortasflamengo e bangu palpiteSanta Catarina

Crédito, Remanescentes da Mata Atlântica

Legenda da foto, Caçadaflamengo e bangu palpiteonças pintadasflamengo e bangu palpiteSanta Catarina, no começo do século 20; quando despovoadaflamengo e bangu palpiteanimais, Mata Atlântica se torna incapazflamengo e bangu palpiterenovar a vegetação original.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - Quando se critica o desmatamento no Brasil, alguns representantes do agronegócio costumam citar a destruição das florestas na Europa e reivindicar o direitoflamengo e bangu palpitefazer o mesmo por aqui. Como seria nossa sociedade se a Mata Atlântica não tivesse sido destruída?

flamengo e bangu palpite Cardim - Esse argumento é tão hediondo como falar que, já que houve o Holocausto na Alemanha, podemos fazer um aqui também. A Europa hoje está preocupadíssimaflamengo e bangu palpiterestabelecer suas florestas e nunca mais vai restabelecer do jeito que era, porque as matas lá vêm sendo derrubadas desde a época romana.

Se tivéssemos encontrado outros meiosflamengo e bangu palpiteproduzir riqueza, através da educação, da tecnologia, teríamos agora um patrimônio maravilhoso. Não sou contra a exploraçãoflamengo e bangu palpitemadeira. Sem a madeira, não teríamos orquestras, por exemplo. Eu adoro móveisflamengo e bangu palpitemadeira nobre. Mas, se tivéssemos exploradoflamengo e bangu palpiteforma sustentável, poderíamos ter móveisflamengo e bangu palpitejacarandá pelo resto da vida.

Teríamos um potencial gastronômico inacreditavelmente grande, como alguns já começaram a perceber, como (o chef) Alex Atala. Teríamos muito potencial no ramo da biotecnologia,flamengo e bangu palpitemedicamentos. E tambémflamengo e bangu palpiteturismo, pois é impossível ficar indiferente diante dessas árvores gigantes. É como alguém diante da pirâmideflamengo e bangu palpiteQueóps.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - O processoflamengo e bangu palpitedestruição da Mata Atlântica é comparável ao que hoje enfrenta a Amazônia?

flamengo e bangu palpite Cardim - A grande sacada desse livro é mostrar que fizemos uma coisa na Mata Atlântica nos últimos 100 ou 150 anos que é exatamente igual ao que estamos fazendo hoje na Amazônia. O que muda é a proporção, por causa da extensão da Amazônia e a tecnologia. Hoje a tecnologia permite que a gente faça a destruição da Amazônia com a mesma velocidade, ou até mais rápido, do que fizemos na Mata Atlântica. Com nossas estradas, caminhões, motosseras, o ganhoflamengo e bangu palpiteescala é absurdo.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - Quais foram as etapas da destruição da Mata Atlântica que agora se repetem na Amazônia?

flamengo e bangu palpite Cardim - Primeiro, criar uma motivação econômica para um acesso à floresta. Na época (dos presidentes) Costa e Silva e Médici, nos anos 1970, começa a surgir a ideia da terra sem homens da Amazônia para o homem sem terras do Nordeste. Esse caminho para o interior da Amazônia, que começa com a rodovia Transamazônica, tem como paralelo a entrada das ferrovias no seio da Mata Atlântica por causa do café. A ferrovia entrava e rasgava a Mata Atlântica - vem o eixoflamengo e bangu palpitepenetração, saem estradas vicinais para saquear a floresta e aproveitar a terra.

É o que está ocorrendo hoje na Amazônia: primeiro vem o cara saquear madeira, depois se faz a queimada para aproveitar o solo, o fogo fertiliza aquela terra e planta-se capim para que o gado pisoteie os entulhos da floresta. Com dois ou três anos, aquela floresta desaparece e vira carbono, e aí entra a soja. No nosso caso, era o café que entrava. Temos registrosflamengo e bangu palpiteCampinas (SP),flamengo e bangu palpite1840, da presença do gado entre ruínasflamengo e bangu palpiteárvores colossais da Mata Atlântica. Era um modoflamengo e bangu palpitedomar a terra para o café.

Ricardo Cardim

Crédito, Ricardo Cardim

Legenda da foto, Ricardo Cardim visitou seis Estados para a produção do livro; na Bahia, encontrou alguns dos poucos trechos remanescentes com exemplares centenáriosflamengo e bangu palpitepau-brasil

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - Seremos capazesflamengo e bangu palpitefrear o desmatamento na Amazônia?

flamengo e bangu palpite Cardim - Sou otimista quanto à Mata Atlântica, mas não quanto à Amazônia. Acho que não vai dar tempo. A Amazônia vai ser fragmentada antes que as gerações futuras consigam entender a importância dela.

Existe lá um arcoflamengo e bangu palpiteaventureiros -políticos, grileiros - que são incontroláveis. Eles vão fragmentar a floresta antes que a gente consiga mudar a sociedade.

flamengo e bangu palpite BBC News Brasil - As tecnologias e a legislação para evitar o desmatamento também não avançaram?

flamengo e bangu palpite Cardim - Com certeza, mas ainda acho que são fracas perante o que está acontecendo lá. O que houveflamengo e bangu palpiteRondônia é emblemático. A floresta do Estado sumiuflamengo e bangu palpitedez anos. E hoje a última fronteira é o Estado do Amazonas, porque o Pará já foi muito detonado.

Estão derrubando por mais que coloquemos multas. Tem muita gente lá que não tem nada a perder e vai fazer isso acontecer. Talvez, daqui a 40 anos, alguém faça um livro como este que eu fiz contando como a Amazônia foi destruída.