Consciência Negra: o que mudou na vida dos negros 22 anos após música clássica dos Racionais MC's:bullsbet whatsapp
As fontes dos dados não são citadas na letra.
Maisbullsbet whatsappduas décadas depois da músicabullsbet whatsappser lançada, a BBC News Brasil verificou pesquisas, estudos e dados públicos para saber se aquele cenário descrito pelos Racionais continua o mesmo. A reportagem conseguiu atualizar três dos quatro índices citados na música. A exceção foi o trecho sobre os jovens da periferia que já sofreram violência policial.
A cada quatro mortos pela polícia, três são negros
Em Capítulo 4, Versículo 3, os Racionais dizem que, nos anos 1990, a população negra era a maior vítima da letalidade policial. Segundo a letra, trêsbullsbet whatsappcada quatro mortos pelas forçasbullsbet whatsappsegurança eram negros.
O índice permanece o mesmo 22 anos depois do lançamento da música.
Recentemente, o Fórum Brasileirobullsbet whatsappSegurança Pública analisou 4.254 registrosbullsbet whatsappboletinsbullsbet whatsappocorrênciabullsbet whatsappmortes decorrentesbullsbet whatsappintervenções policiais entre 2015 e 2016, o que representa 78% do universo dos casos no período.
Segundo o estudo, 76,2% dos mortos pela polícia no Brasil eram negros (pretos e pardos). Ou seja, trêsbullsbet whatsappcada quatro vítimas eram negras no período analisado, exatamente o cenário descrito na letra dos Racionais. Os brancos representam 22,6% do total (963 pessoas).
Em números absolutos, o índice significa que, entre 2015 e 2016, ao menos 3.240 pessoas negras foram mortas pelas forças policiais do país - o número pode ser maior, pois o estudo não teve acesso a todos os casos do período.
Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum, esse dado se repete porque, embullsbet whatsappmaioria, as vítimasbullsbet whatsappoperações policiais continuam vivendo nos mesmos lugares.
"Isso acontece porque os lugares onde a polícia mata são os mesmos desde sempre, as periferias, vulneráveis não só à violência, mas também a coisas como renda per capita mais baixa, alta evasão escolar. O índice ser o mesmo até hoje é um reflexo do racismo estrutural. A violência policial é só mais um fator", diz.
A cada quatro horas, um negro morre violentamente
A música dos Racionais afirma que, a cada quatro horas, um jovem negro morre violentamentebullsbet whatsappSão Paulo.
Na épocabullsbet whatsappque ela foi composta, no final dos anos 1990, São Paulo vivia um período mais violento do que o atual - pelo menosbullsbet whatsapptermosbullsbet whatsappassassinatos.
Naquele ano, a taxabullsbet whatsapphomicídios no Estado erabullsbet whatsapp36 casos para cada 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência, levantamento do Institutobullsbet whatsappPesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileirobullsbet whatsappSegurança Pública. Em 2016, esse número foibullsbet whatsapp10,88 - uma queda 69%bullsbet whatsapp21 anos.
Segundo dados do DataSUS, do Ministério da Saúde, 749 jovens negros (de 15 a 24 anos) foram vítimasbullsbet whatsapphomicídio no Estadobullsbet whatsappSão Paulobullsbet whatsapp2016. Ou seja, 2,05 pessoas por dia - 0,34 a cada quatro horas, número bastante menor que o cenário da música.
Entre os brancos, o número é ligeiramente menor - 0,27 vítimas a cada quatro horas, segundo o DataSUS.
Por outro lado, um estudo do Fórum Brasileirobullsbet whatsappSegurança Pública mediu a vulnerabilidade à violência dos jovens negros e brancosbullsbet whatsapp15 a 29 anos por Estado. O indicador expressa a razão entre a taxabullsbet whatsappmortalidade por homicídio. Quanto maior o risco relativo, maior a proporçãobullsbet whatsappmortesbullsbet whatsappjovens negrosbullsbet whatsapprelação àbullsbet whatsappjovens brancosbullsbet whatsappum mesmo Estado.
Segundo a pesquisa, jovens negros têm 2,71 mais chancesbullsbet whatsappmorrer por homicídio do que os brancos no país como um todo -bullsbet whatsappSão Paulo, esse é número ébullsbet whatsapp1,6.
Em outros Estados, a proporçãobullsbet whatsappjovens negros assassinadosbullsbet whatsapprelação aos brancos é grande. Um dos exemplos é o Rio Grande do Norte, que hoje tem a pior taxabullsbet whatsapphomicídios do Brasil - 68 casos a cada 100 mil habitantes.
Um levantamento do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, entidade ligada ao Fórum Brasileirobullsbet whatsappSegurança Pública, analisou 4.221 homicídiosbullsbet whatsapppessoas entre 16 e 29 anos no Rio Grande do Norte entre 2015 e agostobullsbet whatsapp2018. Segundo a pesquisa, 89% das vítimas jovens eram negras.
Proporcionalmente, o Rio Grande do Norte tem mais negros que São Paulo, entretanto. No Estado nordestino, 69,7% da população se autodeclara preta ou parda; no Estado do Sudeste, esse número ébullsbet whatsapp39,2%. No Brasil como um todo, 55,7% da população se autodeclara preta ou parda; os brancos são 43,2%.
Para Samira Bueno, do Fórum Brasileirobullsbet whatsappSegurança Pública, diferençasbullsbet whatsapprenda e escolaridade dos negrosbullsbet whatsappSão Paulo podem influenciar na redução das mortes.
"Há diferenças entre os Estados que coincidem com outros indicadores - renda per capita, escolaridade etc. Em São Paulo esses indicadores são melhores. Temos que pensar a vulnerabilidade do jovem à violência como uma questãobullsbet whatsappacesso a direitos", diz.
Ainda assim, a pesquisadora diz que o perfil das vítimasbullsbet whatsapphomicídio e obullsbet whatsappmortos pela polícia são diferentes: há mais negros jovens entre os mortos pelas forçasbullsbet whatsappsegurança.
"Há uma seletividade da parte da polícia. É o estereótipo do criminoso, da figura que o sistema não vai conseguir corrigir. Lembremos do que disse um comandante da Rotabullsbet whatsappentrevista recentemente, que a abordagem policial tem que ser diferente na periferia e nos Jardins (bairro rico da zona oestebullsbet whatsappSão Paulo)."
Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros
Entre os dados citados na música dos Racionais, o único que reflete avanços na inclusão socialbullsbet whatsappnegros é o que se refere ao acesso ao ensino superior.
Na letra, o rapper Primo Preto diz que "nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros".
Segundo o IBGE,bullsbet whatsapp2018, 50,3% dos estudantes universitários eram negros - isso representa 1,14 milhãobullsbet whatsapppessoas. Os brancos são 48,2% da massabullsbet whatsappalunos. Essa foi a primeira vez na históriabullsbet whatsappque pretos e pardos ultrapassaram os brancos nas universidades.
O percentualbullsbet whatsappnegros com nível superior quase dobrou entre 2005 e 2015, fruto da políticabullsbet whatsappcotas implantadasbullsbet whatsappuniversidades públicas e programasbullsbet whatsappbolsas e financiamentos para estudantes pobres, como Prouni e Fies.
Em 2005, 5,5% dos jovens pretos ou pardosbullsbet whatsappidade universitária frequentavam uma faculdade. Dez anos depois, eram 12,8%. Apesar desse avanço, o número está muito aquém do da população branca, que subiubullsbet whatsapp17,8% para 26,5% no mesmo período.
Para Thaiane Rezende, mestrebullsbet whatsappciência política pela Universidade Federalbullsbet whatsappMinas Gerais e pesquisadora da área, o aumento do númerobullsbet whatsappuniversidades federais ebullsbet whatsappmatrículas no ensino superior também explica a melhora. "Em 2003, tínhamos 45 universidades federais,bullsbet whatsapp2015 eram 63. O númerobullsbet whatsappmatrículas também cresceu, saltandobullsbet whatsapp567,1 mil para 1.214.635 no mesmo período", diz, citando dados do Ministério da Educação.
Porém, diz, apesar da melhora, o objetivo ainda não foi alcançado, pois, além do acesso, a academia precisa repensar "práticas etnocêntricas". "Precisamos romper e desconstruir ideias e posturas monoculturais e etnocêntricas. A universidade e o conhecimento acadêmico precisam ser ocupados e transformados a partirbullsbet whatsappformulações e pesquisas feitas por intelectuais negros, indígenas", explica.
"A políticabullsbet whatsappação afirmativa será incompleta enquanto a academia não for radicalmente transformada a partirbullsbet whatsappuma perspectiva decolonial. A identidade e o referencial negro são fundamentais para essa políticabullsbet whatsappconhecimento que começa com acessobullsbet whatsappnegros a universidade, mas vai muito além", diz Rezende.
Além da universidade,bullsbet whatsappoutros índicesbullsbet whatsappeducação, a população negra ainda tem participação menor do que a branca, mesmo sendo maioria numérica no país.
No ensino médio, por exemplo, enquanto 75,7% dos brancos estão frequentando a escola, entre os negros essa taxa ébullsbet whatsapp62%. Os dados são do Anuário Brasileiro da Educação Básica, levantamento da ONG Todos Pela Educaçãobullsbet whatsapp2017.
A escolaridade média dos negros ébullsbet whatsapp10,8 anosbullsbet whatsappestudo, segundo a mesma pesquisa. Já os brancos estudam 12 anos,bullsbet whatsappmédia.
A pesquisadora Thaiane Rezende cita uma metáfora para explicar por que esses números seguem desiguais: "O regimebullsbet whatsappescravidão ocupa maisbullsbet whatsapptrês quartos da história do Brasil. Se o Brasil fosse um vovôbullsbet whatsapp100 anos, ele teria vivido maisbullsbet whatsapp75 anos sob o regimebullsbet whatsappescravidão. Dá pra imaginar que um vovôbullsbet whatsapp100 anos, que teve apenas os últimos 25 anos para se reorganizar a partirbullsbet whatsappuma lógica que reconhece a condiçãobullsbet whatsapphumanidadebullsbet whatsapppessoas negras, conseguiria cumprir esse deverbullsbet whatsappcasa facilmente?", questiona.
"O que quero dizer é que vivemos ainda sob os efeitos da construção escravocrata que dominou a maior parte da história do nosso país. Temos evidências qualitativas e quantitativas para afirmar que o racismo é estrutural na sociedade brasileira. Vivemosbullsbet whatsappum país onde a população negra tem as piores estatísticasbullsbet whatsapptermosbullsbet whatsappvários indicadores sociais e econômicos", completa.
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