O que prevê para o Brasil professorbetsul picpayOxford que enxergou força políticabetsul picpayBolsonaro jábetsul picpay2016:betsul picpay
Power estuda o Brasil há maisbetsul picpay30 anos e é autorbetsul picpaydezenasbetsul picpaylivros e artigos sobre o sistema político brasileiro, entre os quais Democratic Brazil Divided (Brasil democrático e dividido) e The Political Right in Postauthoritarian Brazil (A Direita Política no Período Pós-autoritário Brasileiro).
Aindabetsul picpay2016, o professorbetsul picpayOxford já dizia considerar Bolsonaro competitivo e com chancesbetsul picpayvitóriabetsul picpaycontraste com boa parte dos analistas políticos que, até mesmo a poucos meses do pleito, previam uma "desidratação" da candidatura.
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Ele sustentava essa visão com o que via como crescimentobetsul picpayuma ondabetsul picpaydireita e uma revolta contra a "política tradicional" no Brasil, impulsionada pelos escândalosbetsul picpaycorrupção investigados pela Operação Lava Jato.
Power afirma que o PT contribuiu para a eleição do capitão reformado do Exército e declara que o partido terábetsul picpayse reformular se quiser ter relevância nacional.
Leia os principais trechos da entrevista:
betsul picpay BBC News Brasil - Bolsonaro convidou Sérgio Moro para ser ministro da Justiça e ele aceitou. Que consequências isso traz para a Lava Jato betsul picpay ?
betsul picpay Timothy J. Power - Acredito que, depoisbetsul picpayquatro anosbetsul picpaymanchetes e avanços na investigação Lava Jato, ao aceitar esse cargo no Ministério da Justiça, o juiz colocabetsul picpayrisco alguns pontosbetsul picpaylegitimidade dessas investigações. Então, me surpreende que ele tenha aceitado tão rapidamente esse convite. O PT vive dizendo, desde 2010, que a Justiça é parcial, que as investigações da Lava Jato tinham por objetivobetsul picpayacabar com as chances eleitorais do partidobetsul picpay2018.
Havia um obstáculo grande à eleiçãobetsul picpayBolsonaro que era a figura do ex-presidente Lula. Ele foi preso e foi um obstáculo removido por ação direta do juiz Moro. E Bolsonaro venceu. Se Haddad perdeu a eleição por 10 pontos, com Lula teria sido mais competitivo. Agora, poucos dias após as eleições, Moro aceita o convite para ser superministro da Justiça. Isso reforça a narrativa do PTbetsul picpayvitimização pela Lava Jato. Então, colocabetsul picpayrisco a legitimidade das investigações e prejudica os juízes e promotores que vão continuar com as apurações.
betsul picpay BBC News Brasil - betsul picpay E que mensagem Bolsonaro quer passar com a escolhabetsul picpayMoro?
betsul picpay Power - Bolsonaro é um político. Ele diz que não é, mas qualquer político quer chamar para o gabinete os nomes mais aprovados pela população. Poucas personalidades gozambetsul picpaymuita popularidade e é inegável que Moro é um dos nomes mais conhecidos do Judiciário. É natural que seja feita essa sondagem. Então, o que me surpreende não é o convite, é a decisãobetsul picpayMorobetsul picpayaceitar.
Bolsonaro ganhou a eleição porque existiam duas clivagens no eleitorado. Primeiro, uma rejeição a 'tudo o que está aí', do establishment, da classe políticabetsul picpaygeral. Ele se apresentava como outsider. Mas a segunda clivagem é o antipetismo, a rejeição ao partido e à figura do ex-presidente Lula. Para muitos antipetistas o Moro era um santo, um herói dessa luta contra o PT. Então, Bolsonaro está,betsul picpaycerta forma, consolidando esse laço antipetista.
betsul picpay BBC News Brasil - A nomeaçãobetsul picpayMoro não pode significar um fortalecimento da Polícia Federal e do Ministério Públicobetsul picpayinvestigaçõesbetsul picpaycorrupção?
betsul picpay Power - É uma hipótese. A Polícia Federal vinha ganhando muita autonomia nos últimos anos. Não precisabetsul picpaymais um impulso externo. O que Bolsonaro está fazendo ou promete fazer via medida provisória é juntar vários órgãos do governo federal, inclusive o COAF, para o superministério da Justiça.
O Moro é especializado na investigaçãobetsul picpaylavagembetsul picpaydinheiro. Mas acho que a Polícia Federal já está bem sem essa necessidade (de reforçobetsul picpayautonomia). A indicação do Moro tem um valor maior simbólico do que operacional.
betsul picpay BBC News Brasil - Que tipobetsul picpayinfluência a presençabetsul picpayMoro pode ter na relaçãobetsul picpayBolsonaro com os outros Poderes,betsul picpayespecial com o Judiciário e o Supremo?
betsul picpay Power - Estou tentando ver um lado positivo. Acho que a presença do Moro no governo poderia evitar duas coisas. Primeiro, pode vir a evitar ataques diretos à independência do Judiciário e ao Supremo, porque caberia à figura do Moro defender o Judiciário. E talvez possa mudar um pouco o tom do Bolsonarobetsul picpayrelação à polícia e à violência urbana no Brasil.
Bolsonaro propõe um tipobetsul picpayleibetsul picpayTalião para o país inteiro. O Moro vembetsul picpayoutra tradição. Pode ser que ele tenha um efeito positivo ao sentar à mesa com outros ministros do governo que adotam uma visão mais linha-dura com relação à atuação policial.
betsul picpay BBC News Brasil - Em 2016, o senhor já dizia que a candidaturabetsul picpayBolsonaro era competitiva, numa épocabetsul picpayque os outros especialistas não acreditavam que ele iria tão longe. Por quê?
betsul picpay Power - Os astros teriam que estar bem alinhados para Bolsonaro se eleger, mas eu acreditava e ainda acredito que o Brasil passa por uma tempestade perfeita: crise econômica muito prolongada, uma crise política que se tornou mais aguda com o impeachment, a crise da corrupção e a crise da segurança pública. Então, todos esses fatores levaram o Brasil a uma crise multidimensional.
Esse tipobetsul picpaycrise favorece o surgimentobetsul picpayuma pessoa que se apresente como outsider. Ele não é um outsider propriamente dito, é um deputado federal desde 1990. Mas,betsul picpaytermosbetsul picpaypolítica nacional, do Executivo, ele é um outsider. Se você era um eleitor brasileiro que queria mandar um basta para a classe política, não havia melhor opção que Bolsonaro.
betsul picpay BBC News Brasil - Mas uma parcela do eleitorado se identifica com as ideiasbetsul picpayBolsonaro.
betsul picpay Power - Sim, outro fator é a rejeição ao politicamente correto, à autocensura das pessoas, aos avançosbetsul picpaypolíticas sociais ebetsul picpaydireitos humanos dos últimos governos. Muitas pessoas se opunham a essas mudanças progressistas, mas não tinham uma voz para dizer isso. O Bolsonaro falava abertamente. Então, muitos eleitores afirmavam que Bolsonaro articulava politicamente o que eles pensavam silenciosamente. É a mesma coisa que os eleitores americanos diziam do Trump. Quando comecei a ouvir esses comentários no Brasil também, percebi que ele teria uma chancebetsul picpaytocar nesse pontobetsul picpayinsatisfação.
betsul picpay BBC News Brasil - O Brasil tinha o que os especialistas chamavambetsul picpaydireita envergonhada, uma direita que não se apresentava como tal publicamente, talvez por causa da memória recente da ditadura militar. Hoje, parece que temos uma direita orgulhosa. Como essa direita surgiu betsul picpay ?
betsul picpay Power - Primeiro, surgiu como uma reação à crisebetsul picpaysegurança pública. É a versão brasileira da mano dura que a gente observa na América Central, nas Filipinas ebetsul picpayoutros países. Isso torna mais legítimo o discurso anticrime. A nova direita acredita que são dois os grupos que prejudicam o Brasil: os criminosos e os defensores dos direitos humanos. Eles consideram os defensores dos direitos humanos como defensoresbetsul picpaybandidos. Esse é um discurso do Bolsonaro há muitos anos.
De certa forma, o Bolsonaro inovou esse discurso no Brasil e esses 50 deputados que o seguiram para a Câmara ecoaram esse discurso. Se tornou mais legítimo dizer isso. Segundo, é o backlash (reação negativa) a avançosbetsul picpaydireitos raciais,betsul picpayminoriasbetsul picpaygênero e direitos humanosbetsul picpaygeral. Essa rejeição a esses avanços se dava nas salasbetsul picpayjantar, mas Bolsonaro abriu caminho para expressar isso abertamente.
A nova direita, que tem voz no PSL e no Partido Novo, vai sentir liberdadebetsul picpayexpressar uma nova identidade. E o pontobetsul picpayreferência serão os 13 anosbetsul picpaygoverno do PT. Esses partidos vão se apresentar como a melhor manifestaçãobetsul picpayhostilidade a esse período.
betsul picpay BBC News Brasil - Bolsonaro mandou mensagens distintas nas suas primeiras manifestações após a eleição. Ele manteve a crítica forte ao PT e o ataque a parte da imprensa. Por outro lado, disse que vai defender a democracia e as liberdades. O que essas primeiras falas mostram sobre como será o futuro governo?
betsul picpay Power - De todas as candidaturas modernas à Presidência do Brasil, nunca houve uma pessoa menos controlada por marqueteiros do que Jair Bolsonaro. Ele não terceirizou a campanha dele como Lula fezbetsul picpay2002. Para entrar no mainstream da política brasileira, ele mudou o tom e os símbolos do PT com muito sucesso. Isso foi uma terceirização do petismo para marqueteiros. O Bolsonaro não passou por essa fase.
Os filhos dele são os únicos assessores dele. É uma política familiar. Então, o Bolsonaro não tinha muita orientação e instrução por marqueteiros. Ele agia com base na forma como ele percebia o clima da campanha. Em momentos, ele recuava e elogiava as instituições e a Constituição. Em outros momentos, usava um tom mais agressivo quando se dirigia ao público. É o mesmo tom esquizofrênico do Donald Trump. O que ele fala no comício, retira no dia seguinte. Acho que teremosbetsul picpaynos acostumar com esse comportamento daqui para frente.
betsul picpay BBC News Brasil - Pelo que se viu até agora, há algum indíciobetsul picpayque Bolsonaro vá moderar seu tom? Ou vai manter o discurso inflamado?
betsul picpay Power - Acho que a população gostabetsul picpaypolíticos mais autênticos, então, quem erra bastante e é intuitivo não é necessariamente uma pessoa que não vai ter aprovação popular. Ele ganhou com folga a eleição e ele vai ser, ao meu ver, um presidente popular e bem avaliado nos primeiros anos.
O que as pessoas admiram no Bolsonaro é o estilo, a comunicação direta, a faltabetsul picpayautocensura. Bolsonaro hoje não deve nada a nenhum cacique partidário. Quem é o presidente do PSL? Quem é o presidente da Câmara que vai condenar o que Bolsonaro disser? Acho que ele vai manter o estilo intuitivo. Vai errar pelo caminho, mas também tende a crescerbetsul picpaypopularidade com essa autenticidade.
betsul picpay BBC News Brasil - E o que se pode esperar da relação entre Bolsonaro e Congresso?
betsul picpay Power - Acho que Bolsonaro vai terceirizar a relação com o Congresso para alguns políticos profissionais que ele já está convidando para compor o gabinete. Ele deve se limitar a falar diretamente com a população. A gente já viu esse estilo com outros presidentes. Ronald Reagan era assim. Ele era bom comunicador, falava com a população e focavabetsul picpayprincípios bem básicos: família, segurança, soberania nacional. Mas no dia-a-diabetsul picpaypolítica pública nua e crua, Bolsonaro não deve mexer.
Acho que vai ter uma bifurcação na aprovação do governo e do presidente. As pessoas vão começar a distinguir umabetsul picpayoutra. Uma coisa é o presidente,betsul picpaypessoa ebetsul picpayfala com a nação. Outra coisa é o desempenho do governo e a relação com o Congresso. No primeiro mandato, Lula tinha aprovação 10 a 15 pontos percentuais maior que a aprovação do governo. Com o Reagan era a mesma coisa. Vejo um caminho parecido com Bolsonaro.
betsul picpay BBC News Brasil - Para aprovar reformas impopulares, ele vai terbetsul picpaylançar mão dos mecanismos tradicionaisbetsul picpaynegociação, do toma lá, dá cá?
betsul picpay Power - Eu não vejo alternativa. A classe política pode tolerar essa esquizofrenia durante alguns meses ou um ano. A luabetsul picpaymel funciona durante um tempo, mas pode ser que (sem estímulos) os líderes do Congresso se recusem a aprovar reformas radicais, como a reforma da Previdência.
betsul picpay BBC News Brasil - Qual vai ser o papel do PT agora, como oposição?
betsul picpay Power- Existem dois caminhos. Um deles é o voltado para o passado: focar no impeachment, a que eles chamambetsul picpaygolpe, e na prisão do Lula. A idabetsul picpayMoro para o Ministério da Justiça confirma para eles a visãobetsul picpayque a Justiça era parcial e eles podem se atrair pela teoria conspiratória. Seria um caminho ruim para o partido. É muito difícil se recuperarbetsul picpayum discurso voltado para o passado.
O outro caminho é olhar para o futuro. PT tembetsul picpaypassar por um períodobetsul picpayautocrítica e reflexão para lidar com o antipetismo no eleitorado. Fora do Nordeste, o PT quase não existe como força eleitoral. Ele tem que se perguntar: 'vamos voltar a ser um partido nacional ou vamos ser um partido regional baseado no Nordeste?'.
betsul picpay BBC News Brasil - Cid Gomes e Ciro Gomes dizem que o PT elegeu Bolsonaro. Faz sentido essa afirmação betsul picpay ?
betsul picpay Power - O Bolsonaro, durante todo o anobetsul picpay2018, estava rezando para ter um segundo turno com o PT. Conseguiu e venceu. Se ele tivesse qualquer outro adversário no segundo turno seria uma eleição muito mais competitiva.
Haddad conseguiu 45%betsul picpayvotos, fruto da rejeição a Bolsonaro e da presença do PT no Nordeste. Mas qualquer outro candidato, especialmente um candidato nordestino, como Ciro Gomes, teria chances maiores no segundo turno.
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