Bolsonaro presidente: General Mourão diz que temor pelo futuro da democracia é 'chorocef quinaperdedores':cef quina
Sobre a política externa, Mourão diz que o Brasil aceitaria participarcef quinauma ação militar para manutençãocef quinapaz na Venezuela se a ONU decidisse criar tal missão.
Na quarta-feira, Mourão deve se reunir com Bolsonaro para resolver "algumas questões". Os dois, segundo a programação, pousarãocef quinaBrasília na segunda-feira para dar início,cef quinafato, às negociações da transiçãocef quinagoverno.
A seguir, a entrevista à BBC News Brasil, e, ao fim, algumas perguntas respondidas pelo futuro vice-presidentecef quinainglês à BBC internacional.
cef quina BBC News Brasil - O sr. disse ao longo da campanha que não pretende ser um "vice decorativo" e pretende ter uma sala próxima à do presidente para trabalhar. De quais áreas o sr. pretende se ocupar?
cef quina General Hamilton Mourão - Quando o presidente Bolsonaro me convidou para ser o vice, ele me disse que eu teria outras tarefas, foi bem no começo da nossa campanha. Ao longo desse período, nós fomos afinando o nosso discurso.
Eu vejo que sou um assessor privilegiado. Privilegiado porque fui eleito junto com ele. Os demais assessores que forem escalados podem ser mandados embora a qualquer momento. Eu permaneço. Nós somos irmãos siameses.
Então, a minha visão é cooperarcef quinatudo aquilo que ele julgar necessário dentro do meu conhecimento, da minha expertise. Se pudermos coordenar alguns trabalhos, projetos que ele julgue necessário, eu estarei pronto pra isso.
Vou ocupar a área que a vice-presidência tem, que acho mais coerente, e estarei ali sempre próximo dele e irei apoiá-locef quinatodas as suas decisões.
cef quina BBC News Brasil - Essa coordenação inclui,cef quinaalguma forma, o Gabinetecef quinaSegurança Institucional ou isso permanece como está?
cef quina Mourão - Não, isso (o GSI) permanece como está. A coordenação que eu falo é, por exemplo, a gente poder montar pequenos conselhos para projetos que envolvam maiscef quinaum ministério onde a gente tenha uma formacef quinacontrolar o desenvolvimento desse projeto, reorganizar aquilo que for necessário e aí apresentar linhascef quinaação para que o presidente decida.
cef quina BBC News Brasil - Já existe algum plano específico neste sentido, algum conselho já planejado?
cef quina Mourão - Não. Nós temos aquele Conselhão (Conselhocef quinaDesenvolvimento Econômico e Social), né? Ele pode ser "explodido"cef quinapequenos conselhos. Isso é uma ideia que tanto o Paulo Guedes quanto eu temos.
cef quina BBC News Brasil - O presidente eleito já disse que não é simpático à ideiacef quinaprivatizar áreas estratégicas, como Petrobras ou Eletrobras, por exemplo. O que o senhor pensa do assunto?
cef quina Mourão - Sobre a Petrobras, o presidente Bolsonaro já disse que as áreascef quinarefino e distribuição poderiam ser privatizadas e eu concordo com ele.
Em relação à Eletrobras, tem que haver um estudo claro e, ser for possível, (privatizar) tudo que pode ser privatizado. Nós temos que ter, vamos dizer, não haver dúvida nisso aí.
cef quina BBC News Brasil - Houve uma sériecef quinamanifestaçõescef quinajornais estrangeiros e tambémcef quinaalguns artistas demonstrando preocupação com o futuro da democracia no Brasil. O que o sr. dizcef quinarelação a isso?
cef quina Mourão - Eu acho que isso é chorocef quinaperdedores. Esse grupo que esteve no poder por tanto tempo não admite um dos princípios básicos da democracia que se chama alternânciacef quinapoder. Então, ele não pode querer nos criticar como sendo antidemocratas.
E prestam um desserviço à nação no momentocef quinaque buscam com seus contatos internacionais apresentar o presidente Bolsonaro como um homem antidemocrata, com todos esses pejorativos que foram colocados.
Acho que muitocef quinabreve nós teremos que ir ao exterior e mostrar quem nós somos.
cef quina BBC News Brasil - O presidente eleito faloucef quinater um Itamaraty "livrecef quinaideologias". O que isso significa na prática?
cef quina Mourão - É um relacionamento entre os paísescef quinaEstado, nãocef quinagoverno. Nós tivemos muito aqui no passado recente relacionamentocef quinagoverno. "Ah, aquele governo me é simpático, eu vou me relacionar com aquele país".
O relacionamento tem que sercef quinaEstado. A gente sabe muito bem que os interesses entre os países ora coincidem, ora não. E nós temos que ter essa visão pragmática que sempre foi a característica do nosso Ministério das Relações Exteriores.
cef quina BBC News Brasil - A Embaixada na Coreia do Norte permanece, por exemplo?
cef quina Mourão - Eu acho que ela poderá ser deslocada para outro local. Mas essa é uma decisão posterior.
cef quina BBC News Brasil - Tanto o senhor quanto o presidente eleito já falaramcef quinauma aproximação com os EUA. Isso não esfriaria o relacionamento com a China, que é um parceiro comercial quase tão importante?
cef quina Mourão - Não. Nós temos que saber balancear. O Brasil tem que se apresentar como um "global partner", um "global trader", e não como um mero vendedorcef quinaquinquilharias.
Nós temos que ter esse relacionamento buscando não só o relacionamento comercial mas, principalmente, o relacionamento estratégico com ambos os países, cada um com suas características.
cef quina BBC News Brasil - O presidente fez um discurso antes da eleição dizendo que pretendia ver ou poderia ver Fernando Haddad na cadeiacef quinaCuritiba. Também houve menções a "varrer os vermelhos" e outras coisas nessa linha. As coisas vão continuar nesse nívelcef quinatensão? O presidente tem algum motivo para falarcef quinaFernando Haddad na cadeia?
cef quina Mourão - O presidente foi muito claro no discurso que ele fez ontem na rede abertacef quinatelevisão, foi um discursocef quinaestadista colocando todas aquelas ideias que vão nortear a administração dele, principalmente a forma como ele enxerga o futuro do país e a própria pacificação do país. Ele foi muito claro nisso.
Em relação ao caso do Fernando Haddad estar na cadeia ou não, ele responde aí a uns trinta processos, mais ou menos. Se comprovarem que sejam verdadeiros, ou provarem realmente alguma culpa dele, ele terá que pagar. Mas, por enquanto, ele está apenas respondendo aos processos.
cef quina BBC News Brasil - Sobre pacificação: alguns aliados falamcef quina"kit gay" e outras coisas que já foram muito criticadas. Isso vai continuar? Essa pressãocef quinaredes sociaiscef quinarelação à comunidade LGBT, por exemplo...
cef quina Mourão - Na realidade, o que houve foi um projeto ideológico levado às escolas e você não pode querer ultrapassar os limites que a família estabelece dentro do seu lar. A forma como você educa seus filhos é uma prerrogativa...
Isso aqui não é um Estado totalitário. Na antiga União Soviética, os filhos eram retirados dos pais e eram educados pelo Estado, assim comocef quinaoutros países que viveram sob esse regime. Então, a escola precisa saber dos limites e o nosso Ministério da Educação,cef quinadeterminado momento, não entendeu isso.
cef quina BBC News Brasil - Mas no momentocef quinaque esse combate ao que vocês classificam como doutrinação na escola extrapola para, por exemplo, ameaças a homossexuais nas ruas isso não acende uma luz vermelha?
cef quina Mourão - Eu não vejo ameaça. Eu ando nas ruas e vejo casais homossexuais andandocef quinamãos dadas tranquilamente, sem problema nenhum, tenho amigos que assim são.
Essa é uma questãocef quinaescolhacef quinavida. Apenas ninguém deve procurar impor seu modocef quinavida aos outros. Vivacef quinavida, aquela velha frase, "viva e deixe viver".
cef quina BBC News Brasil - Vai haver algum movimento para transferir o ex-presidente Lula da Superintendência da PF?
cef quina Mourão - Ele tá cumprindo a pena dele lá na sala, digamos assim,cef quina"Estado maior" a que ele tem direito por ser ex-presidente, porque, na realidade, por não ter curso superior, ele poderia estar é numa prisão comum mesmo.
Mas,cef quinavirtudecef quinater sido ex-presidente... Algo que me envergonha muito e envergonha ao País, ter um ex-presidente preso por desviocef quinarecurso público.
cef quina BBC News Brasil - Em relação à flexibilização do acesso às armas, nós temos dados mostrando que,cef quina2008 para cá, quintuplicou o númerocef quinaarmas registradas, armas legais. Mesmo assim, a violência explodiu. Então, por que o acesso mais fácil a armas reduziria a violência a partircef quinaagora?
cef quina Mourão - Na realidade, esse aumento do númerocef quinaarmas legais foi uma viacef quinaescape que as pessoas encontraram dentro daquela sigla CAC - caçadores, atiradores e colecionadores. São essas as armas legais que estão aí.
O que o Bolsonaro tem colocado é o direitocef quinao cidadão ter armacef quinacasa. O porte da arma nas ruas entra na regracef quinateste psicotécnico e testecef quinatiro. Isso atinge muito a comunidade rural, onde a pessoa fica numa fazenda, num sítio, e tem que ter uma arma para se defender.
cef quina BBC News Brasil - O governo Bolsonaro defenderia uma medida que ampliasse a marcaçãocef quinacartuchos também para os vendidos aos civis?
cef quina Mourão - Eu acho importante isso aí, até porque facilita qualquer investigação que tenhacef quinaser feita por parte da polícia.
cef quina BBC News Brasil - O sr. já se manifestou contra uma intervenção militar na Venezuela. Se a ONU resolver compor uma forçacef quinamanutenção ou imposição da paz, o Brasil participaria?
cef quina Mourão - Sim. Pela posição que o Brasil ocupa aqui na América do Sul, pela importância que nós temos, pela vizinhança com a própria Venezuela, qualquer problema que esteja atingindo a Venezuela respinga aqui no nosso país.
Então, tudo aquilo que nós pudermos fazer para buscar uma solução que pacifique a Venezuela, que ela volte a entrar no rumocef quinaum sistema democrático como nós entendemos, acho que a gente tem que participar.
Confira a seguir respostascef quinaMourão às questões feitas pela repórter Camilla Costa para a BBC internacional, traduzidas do inglês:
cef quina BBC - General, qual o recado que o senhor tem a dar para aquelas pessoas que temem a voltacef quinaum governo autoritário no Brasil?
cef quina Mourão - Vamos mostrar a eles, com exemplos, que não somos gente autoritária. Acreditamos na democracia, acreditamos na justiça para todos. Respeitaremos a Constituição, as instituições e vamos proteger a todos, independentementecef quinasua crença, seu gênero, oucef quinasuas opções sexuais. Vamos governar para todo o Brasil.
cef quina BBC - Isto me leva à próxima pergunta: o que o senhor tem a dizer às diversas minorias como os negros brasileiros, os LGBTs, que temem que seus direitos sejam ameaçados por um governo Bolsonaro e temem que o discursocef quinaJair Bolsonaro esteja legitimando a violência contra eles.
cef quina Mourão - Primeiramente, tenho a lhe dizer que os negros não são minoria no Brasil, eles representam, se não me engano, a maioria do povo brasileiro. Então eles não são parte desse problema.
E sobre as pessoas que têm outra opção, opção sexual, elas têm seus direitos garantidos pela Constituição. Todos seus direitos estão garantidos, portanto não têm nada a temer.
Essas pessoas poderão viver suas vidas do mesmo jeito que fazem agora. Elas terão na verdade mais espaço, pois haverá crescimento econômico, e haverá mais emprego. Então estas pessoas serão felizes, não haverá nenhum problema para elas.
cef quina BBC - Mas muitos dizem que o discursocef quinaJair Bolsonaro já tem legitimado violência contra eles nas ruas. O senhor acredita que isto seja algo que já esteja acontecendo?
cef quina Mourão - Acredito que este seja um problema para a polícia. Se alguém está sendo ameaçado por outros ou mesmo sendo atacado por mais alguém, isto deve ser competência da polícia fazer seu trabalho. Essas pessoas (agressores) devem ser detidas e encaminhadas a julgamento e, se forem consideradas culpadas, devem ir para a prisão.
cef quina BBC - Quando um candidato à Presidência fala sobre limpeza da oposição, como é possível esperar que o Brasil seja unido?
cef quina Mourão - Isto foi retórica política, retóricacef quinacampanha. No discurso que fez ontem, Bolsonaro foi claro e direto sobre seus objetivos. O principal é unir o Brasil. Nós viemos do Exército e nosso patrono, Caxias, foi um pacificador, portanto é dessa maneira que pretendemos agir.
cef quina BBC - Jair Bolsonaro e o senhor já defenderam a aberturacef quinaáreas da Amazônia para atividades comerciais, novas áreas. Estas propostas não colocamcef quinarisco a maior floresta que existe no mundo?
cef quina Mourão - Não, nós já estamos protegendo a Amazônia há muito tempo. Minha família, do ladocef quinameu pai, vive na região amazônica, eu mesmo estive baseado na região por cinco anos. Conheço muito bem aquela parte do Brasil. Nós vamos proteger a Amazônia.
cef quina BBC - Quais serão as políticas do novo governocef quinarelação à Amazônia?
cef quina Mourão - Serão políticas ambientais,cef quinaconformidade com as leis ambientais. As leis serão obedecidas. Nós temos a expansão da fronteira com a área destinada à agricultura, então temos que olhar muito cuidadosamente para isso.
cef quina BBC - Essa também é uma região estratégicacef quinafronteira para o Brasil, como isso será tratado?
cef quina Mourão - O Exército está presente nas fronteiras há muito tempo. Eu tenho uma boa experiência na fronteira, comandei a 2ª Brigada Geralcef quinaInfantaria que é baseadacef quinaSão Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Estado do Amazonas, portanto sei bem o que e como fazer na áreacef quinafronteira.
Temos batalhões baseadoscef quinatornocef quinatodos os principais pontos (ao longo da fronteira), temos também brigadas, o que temos que fazer é colocar outras agências do governo na área. É isso que temos que fazer.
cef quina BBC - Muitas pessoas acreditam que o Exército brasileiro não tem sido capazcef quinapoliciar uma fronteira tão extensa, principalmente no que diz respeito ao tráficocef quinadrogas que é feito na área. É preciso que se tenha uma nova política específica para área?
cef quina Mourão - Não acho que seja preciso. O tráfico na região amazônica é feito por formiguinhas. O grosso do tráfico vem através da Bolívia e Paraguai. Este é maior problema que temos atualmente.
O tráfico na Amazônia representa apenas uma pequena ameaça. A fronteira fica tão distante dos pontoscef quinavenda que o custo para eles acaba sendo muito alto.
*Colaboraram Camilla Costa, da BBC News Brasilcef quinaSão Paulo, e Katy Watson, da BBC News
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