Aguapé, a 'praga verde' brasileira que é promessaroleta viciadasolução para rios poluídos:roleta viciada

Aguapé

Crédito, Natural Resources Wales

Legenda da foto, Natural da bacia amazônica, a aguapé é capazroleta viciadaretirar toxinas da água

Poderes despoluentes

A Eichhornia crassipes, ou aguapé, é uma bonita planta aquática flutuante, com grandes folhas redondas. Quando floresce, produz flores azul-arroxeadas.

Natural da bacia amazônica, até recentemente era vendida como planta ornamentalroleta viciadalojasroleta viciadajardinagem europeias, mas foi banida no continente por seu potencial nocivo ao meio ambiente.

Sabe-se há muito temporoleta viciadasua capacidaderoleta viciadaretirar toxinas da água. No entanto, tentativas anterioresroleta viciadautilização da planta para despoluir rios tiveram resultados desastrosos: experimentos fugiram do controleroleta viciadacientistas, e a planta passou a se proliferarroleta viciadaforma desenfreada nos locais onde foram feitos os estudos. O resultado disso foram rios entupidos, onde não se pode pescar, cheiosroleta viciadamoscas e impossíveisroleta viciadanavegar.

Cientista faz experimento com aguapé

Crédito, Natural Resources Wales

Legenda da foto, Pesquisadores britânicos e brasileiros estudam como usar o aguapé a serviço da conservação ambiental

Décadas mais tarde, uma parceria entre pesquisadores britânicos e brasileiros pode, finalmente, vir a reverter o impacto negativo do aguapé - e colocá-lo a serviço da humanidade.

Estudo Britânico: biorremediação

Recentemente, a revista científica Nature publicou um artigo detalhando os excelentes resultadosroleta viciadaum experimento com o aguapé feitoroleta viciadaum trecho do rio Nant-y-Fendrod,roleta viciadaSwansea, no Paísroleta viciadaGales, no Reino Unido.

Durante 240 anos, entre 1720 e 1960, a região foi um centro mundial na produçãoroleta viciadacobre. Uma grande quantidaderoleta viciadadejetos resultantes da atividade - 7 toneladasroleta viciadamaterial tóxico - foi abandonada no Valeroleta viciadaSwansea e acabou indo parar no rio, explicou Haris, coautor do estudo.

"Isso teve impacto na ecologia do rio, peixes e vegetação da área foram afetados." Entre as substâncias presentes na água estão zinco, níquel e cádmio. "Desde 1961, as autoridades locais tentam remover os dejetos, mas a água continua contaminada", disse o cientista.

Sob orientaçãoroleta viciadaHaris, o estudanteroleta viciadaPhD Jonathan Jones, que trabalha para o órgão ambiental Natural Resources Wales, propôs fazer um experimento usando biorremediação para despoluir o rio.

Biorremediação é o processo no qual se empregam organismos vivos (micro-organismos ou plantas, geralmente) para recuperar áreas poluídas. Nesse caso, o "remédio" usado seria o aguapé brasileiro.

Contando com recursos e tecnologiasroleta viciadaponta, os cientistas conseguiram acertar onde, no passado, seus colegas falharam. Para impedir a contaminação do ambiente pela espécie elienígena, a planta ficou contidaroleta viciadagaiolas e tanques. Instrumentosroleta viciadamediçãoroleta viciadaúltima geração foram usados para avaliar a composição da água.

Experimentoroleta viciadatrês estágios

O experimento foi feitoroleta viciadatrês estágios. O primeiro, no laboratório, usou água sintética onde havia sido adicionado o metal tóxico zincoroleta viciadaconcentraçãoroleta viciada4,5 miligramas por litro. Após sete horas na água, o aguapé removeu 50% do zinco. Após três semanas, a planta absorveu 90% do metal.

Aguapé

Crédito, Natural Resources Wales

Legenda da foto, Para impedir a contaminação do ambiente pela espécie, a planta ficou contidaroleta viciadagaiolas e tanques

No segundo estágio, a equipe repetiu o experimentoroleta viciadalaboratório, porém usando água retirada do rio Nant-y-Fendrod, contendo não só zinco, mas também outros metais.

Após sete horas, entre 20% e 30% do zinco havia sido removido. Após três semanas, quase 100% da substância havia sido removida (na água do rio a concentração do metal era cercaroleta viciada2 miligramas por litro).

O terceiro estágio foi feito no próprio rio. Aqui, foram utilizados dois métodos. "Colocamos a planta dentroroleta viciadagaiolas na água e permitimos que a água fluísse para dentro das jaulas. A água entrava e saía."

Aqui, após apenas alguns segundosroleta viciadacontato com a planta, foram removidos 10% do zinco e 15% do cádmio presentes no rio. "Isso demonstra remoção quase instantânea" do metal tóxico, ressaltou o pesquisador Jonathan Jones à BBC News Brasil.

No experimento final, a equipe usou uma técnica que permite o monitoramento ainda mais preciso do comportamento do aguapé na natureza. "A água foi transferida do rio, por meioroleta viciadacanos, para tanques contendo aguapés. Nòs monitorávamos a água antesroleta viciadaentrar no tanque e depois, ao sair. Essa técnica tem potencial para uso na vida real, fora do laboratório", disse Parvez Haris.

Em segundosroleta viciadaexposição ao aguapé dentro do tanque, cercaroleta viciada4% do zinco e 5% do cádmio haviam sido removidos da água. O mesmo ocorreu com vários outros metais, entre eles, manganês, arsênico e chumbo.

A equipe explica, no entanto, que essa fase do experimento - embora tenha acontecido no verão britânico - foi feita sob temperatura ambiente muito baixa, o que afetou o desempenho do aguapé (longe das condiçõesroleta viciadaseu habitat natural, os trópicos).

Eles ressaltam que esse, obviamente, não seria o caso no Brasil, onde a quantidaderoleta viciadapoluentes removida deverá ser maior.

Além disso, explicam, quando aplicada na natureza, a técnica envolveria o represamento temporário da água para dar tempo ao aguapéroleta viciadaagir.

Um estudo diferente dos anteriores

Segundo Haris, o experimento britânico foi únicoroleta viciadaalguns aspectos. Primeiro, porque o potencial despoluidor do aguapé nunca havia sido testadoroleta viciadapaísesroleta viciadaclima frio, disse.

Aguapé

Crédito, Natural Resources Wales

Legenda da foto, Parceria com pesquisadores do Brasil pode viabilizar teste da técnicaroleta viciadagrande escalaroleta viciadarios do país

Segundo, por investigar com máxima precisão o comportamento do aguapéroleta viciadavários ambientes e situações, do laboratório ao rio.

"Este estudo,roleta viciadapequena escala, visou demonstrar um conceito,roleta viciadaque a ideia funciona. Feito isso, você pode repetí-laroleta viciadagrande escala", disse Haris. E é aqui que entramroleta viciadacena pesquisadores brasileiros.

Parvez Haris está buscando formar uma parceria com pesquisadores do Brasil para testar a técnicaroleta viciadagrande escalaroleta viciadarios do país.

"No Brasil, essa planta é considerada um grande problema. Várias usinasroleta viciadaenergia (hidrelétrica)roleta viciadarios brasileiros tiveramroleta viciadaser fechadas por causa dela", disse o cientista. "Estouroleta viciadadiscussões com um pesquisadorroleta viciadaSão Paulo."

Parceria entre Reino Unido e Brasil

"Estamos nos namorando", disse o pesquisadorroleta viciadaquestão, Alcides Lopes Leão, da Unesp. "Ele caminhouroleta viciadaum lado, e eu,roleta viciadaoutro, estamos fechando os caminhos."

Como parte da parceria, explicou Leão, o experimentoroleta viciadaHaris seria replicadoroleta viciadalarga escala no Brasil.

Primeira fase

"Ele fará a biorremediação, ou seja, usará a planta para remediar poluição. Após esse processo, é preciso dar um uso a essa planta. Eu e a minha colega Ivana Cesarino, aqui da Unesp, entraríamos nessa fase do projeto."

Segundo os pesquisadores, cercaroleta viciada80% dos metais tóxicos absorvidos pelo aguapé ficam armazenados na raiz da planta. E agora? O que fazer com o aguapé contaminado?

"Queimar não pode, porque você vai liberar aquele material tóxicoroleta viciadavolta na atmosfera", diz Leão.

Segunda fase

O plano dos paulistas é o seguinte: a equipe da Unesp receberia o aguapé contaminado. Sob os cuidadosroleta viciadaIvana Cesarino, a planta sofreria um processoroleta viciadafermentação.

"A fermentação vai produzir o álcool, o etanol 2G,roleta viciadasegunda geração", disse Leão. Desse processo, sobraria o bagaço do aguapé.

Quem pega o bastão agora é o próprio Leão.

Terceira fase

"Esse bagaço restante eu uso para gerar produtos plásticos, como o conduit, que você usa por exemplo para encapar fio que vai dentro das paredes. Ou seja, vamos imobilizar os metais tóxicos dentro desse material, que não tem contato com a espécie humana."

A ideia é evitar a contaminação do meio ambiente com essas toxinas. "Assim fecha-se o ciclo", concluiu o pesquisador.

Futuros clientes

Da represaroleta viciadaAmericana, atualmente tomada por aguapés, até o rio Tietê, poluído por níquel, cromo e vários outros metais pesados, não faltam oportunidades para experimentos com a nova técnica no Brasil, disse Alcides Leão.

"Estamos buscando financiamento para uma proposta conjunta", disse.

Uma vez feito o experimento, o próximo passo seria oferecer a técnica a empresas brasileiras. "A própria Sabesp poderia ser um cliente", disse Leão.