'Se continuar assim, até o fim do ano perdemos o controle da cidade', diz prefeitafibonacci apostas desportivasBoa Vista, cidade que mais recebe venezuelanos:fibonacci apostas desportivas
No Brasil, o principal fluxofibonacci apostas desportivasimigrantes venezuelanos éfibonacci apostas desportivasRoraima, um dos dois Estados que têm fronteira com o país. Cercafibonacci apostas desportivas30 mil deles estãofibonacci apostas desportivasBoa Vista, cidadefibonacci apostas desportivasapenas 300 mil habitantes, bastante isolada do resto do país e que "não tem dinheiro nem estrutura" para lidar com a situação sozinha, segundo Teresa Surita.
Com o númerofibonacci apostas desportivasimigrantes chegando a 10% da população, os serviços públicos estão sobrecarregados. Os postosfibonacci apostas desportivassaúde acumulam longas filas e as escolas estão lotadas. Há quase 2 mil imigrantes morando na rua.
A crise tem gerado reclamações dos moradores e casosfibonacci apostas desportivasviolência e xenofobia contra venezuelanos.
A prefeita diz que a ajuda do Governo Federal não é suficiente e que a única formafibonacci apostas desportivasresolver a situação é ampliar a chamada interiorização - medida anunciada pelo Governo Federal para realocar imigrantesfibonacci apostas desportivasoutros lugares do país, mas que até agora, segundo Surita, só tirou 820 pessoas da cidade.
"Isso não é um problema municipal, é um problema federal, e ele tem que ser dividido com o resto do país", afirma ela.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Quais os números hojefibonacci apostas desportivasBoa Vista e como a cidade está sendo afetada?
fibonacci apostas desportivas Teresa Surita - Não sabemos exatamente quantas pessoas há porque o fluxo é muito grande. Chegamos a um número estimado,fibonacci apostas desportivasjunho deste ano,fibonacci apostas desportivas8% da população: 25 mil pessoas. Dessas, 2,3 mil estavam morando na rua. Isso tem muitos desdobramentos e interfere no dia a dia da cidade. A gente está fazendo a limpezafibonacci apostas desportivas64 pontos na cidade onde eles estão instalados, pedindo esmola. A gente está atendendo as pessoas no hospital, nas unidadesfibonacci apostas desportivassaúde, nas escolas. Mas chegou um pontofibonacci apostas desportivasque a gente tá precisando realmentefibonacci apostas desportivasreforço. Hoje já devemos ter passadofibonacci apostas desportivas30 mil pessoas.
Na Colômbia, a chegada das pessoas é por sete pontos ao longo da fronteira. Aqui, só temos uma entrada e uma cidade, que é Boa Vista, uma cidadefibonacci apostas desportivas300 mil habitantes. Não temos como assumir esse problema. Não temos nem dinheiro nem estrutura para isso. O que temos certeza é que, se continuar como está, até o fim do ano nós perdemos o controle da cidade.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - O que isso quer dizer?
fibonacci apostas desportivas Surita - Não vamos dar contafibonacci apostas desportivasatender todo mundo nas unidadesfibonacci apostas desportivassaúde, não vamos conseguir colocar as crianças na escola, vamos ter pessoas dormindo nas ruasfibonacci apostas desportivasum número tão alto que você não vai mais ter como trabalhar. Hoje você não resolve, enxuga gelo todo dia, mas administra. Se continuar nesse crescente você não tem como continuar mantendo nem isso. Porque o nosso problema não é mais abrigamento, a gente já tem dez abrigos, mas chegam mais pessoas do que a gente dá contafibonacci apostas desportivasconstruir. E as pessoas chegam precisandofibonacci apostas desportivasatendimento médico,fibonacci apostas desportivasremédio - nosso hospital está lotado. As crianças precisamfibonacci apostas desportivasalimentação. Existe uma crise humanitária por trás dessa situação. Então precisamosfibonacci apostas desportivasajuda.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - O governo federal não está assumindo seu papel?
fibonacci apostas desportivas Surita - O governo federal perdeu o papel que vinha tentando assumir. Perderam a noção (do que precisa ser feito) e deixaramfibonacci apostas desportivasfazer. Eles vieram para cá com uma medida provisória,fibonacci apostas desportivasfevereiro, para fazer abrigamento, hospitalfibonacci apostas desportivascampanha e interiorização. O abrigamento foi melhor do que eu imaginava, mas o hospitalfibonacci apostas desportivascampanha não aconteceu e a interiorização também não.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - A interiorização foi uma das principais medidas anunciadas para resolver a crise...
fibonacci apostas desportivas Surita - Não está acontecendo. A gente está no hemisfério norte, na capital mais distante do Brasil. Aqui você entra e não tem como sair. De estrada você chega até Manaus, mas para ir até Belém precisa pegar uma balsa. Então as pessoas acabam ficando aqui, porque é muito caro sair. E 73% da população que entra quer sair, mas não tem condições. A interiorização só acontece se a Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) aprovar. As regras que eles colocam é [de levar para o resto do país] as pessoas com maior escolaridade, menos doentes. Ela precisam ir para um lugar onde elas sejam abrigadas e tenham trabalho. Só que isso impossibilita, porque a maioria dos Estados e municípios não aceita receber essas pessoas. Então você ouve que foram cem pessoas para Brasília. Sim, mas aqui entram 500 por dia. Sabe quantas pessoas que foram realocadas desde que começou a interiorização,fibonacci apostas desportivasfevereiro, até hoje? 820.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Esse númerofibonacci apostas desportivas73% que querem sair veiofibonacci apostas desportivasonde?
fibonacci apostas desportivas Surita - É um número da própria Acnur. E a gente comprova no nosso mapeamento. Eles querem seguir, mas não têm como. Eles preferem países que falam espanhol, que é a língua deles. Então eles irem para outros países ajudaria muito. Ou irem para um lugar que tem emprego.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - O Governo Federal diz que tem repassado dinheiro. Em abril, a Casa Civil disse que foram R$ 78 milhões repassados para Boa Vista, para incrementar o atendimentofibonacci apostas desportivassaúde. E que repassou R$ 793 mil para abrigos e 82 toneladasfibonacci apostas desportivasalimentos. Isso não é suficiente? Como foi usado o dinheiro?
fibonacci apostas desportivas Surita - Nós [o municípiofibonacci apostas desportivasBoa Vista] não recebemos um tostão (desses valores). R$ 793 mil para o abrigo não é nada e esse valor não vem para a prefeitura. Todo o recurso para abrigamento é para o Exército. Eu já gasteifibonacci apostas desportivasrecurso próprio maisfibonacci apostas desportivasR$ 1 milhão. Para limpeza da cidade, para o atendimento assistencial, para ajudar o Exército na montagem dos abrigos - com iluminação pública, terraplanagem, drenagem pra poder instalar. O que eu recebi foi um [outro] dinheiro, que ainda não foi totalmente liberado, para comprar 50 salasfibonacci apostas desportivasaula provisórias - que estamos no processofibonacci apostas desportivascompra.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - E os R$ 78 milhões para a saúde?
fibonacci apostas desportivas Surita - Não sei como o governo está fazendo essa contabilização. Não posso dizer que nunca chegou porque não sei se o governo do Estado recebeu. Mas a prefeitura não recebeu. A gente não recebe dinheiro, e eu nunca pedi dinheiro também. O que eu quero, na verdade, é o apoio para dar conta dessa situação.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - E qual seria a solução?
fibonacci apostas desportivas Surita - A única formafibonacci apostas desportivasresolver,fibonacci apostas desportivasnos ajudar hoje é diluir esse númerofibonacci apostas desportivaspessoas para fora daqui. E isso não é xenofobia, isso é para poder atender as pessoasfibonacci apostas desportivasuma forma decente. Isso não é um problema municipal, é um problema federal, e ele tem que ser dividido com o resto do país. Porque os abrigos não estão mais dando conta. Há muita gente do ladofibonacci apostas desportivasfora,fibonacci apostas desportivasbarracas, pessoas que não têm nada. E dentro dos abrigos, temos uma sériefibonacci apostas desportivasdificuldades. Por exemplo, é muito comum você encontrar criança com diarreia, há o problema do surtofibonacci apostas desportivassarampo.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - É possível realmente atribuir os surtos à entrada das pessoas?
fibonacci apostas desportivas Surita - Elas que trouxeram. Isso foi comprovado, porque era uma doença erradicada no Brasil. Não é que as taxas da nossa vacinação são deficitárias. A Colômbia está tendo o mesmo problema. O problema é que as pessoas já chegam com a doença. E você tem que tratar aqui. Hoje aumentou o númerofibonacci apostas desportivassarampo, temos 268 casos notificados, 80 sendo investigados e 148 casos confirmados.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Elas não poderiam ser vacinadas?
fibonacci apostas desportivas Surita - A gente tem batido muito na tecla da vacinação na fronteira. Mas a gente vai vacinar na fronteira e não é obrigatório. Então as pessoas atravessam e vacina quem quer. Aí para ser feita a interiorização, é obrigada a vacinação, mas para chegar aqui não é.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - A prefeitura pediu para o governo federal para que a vacinação seja obrigatória?
fibonacci apostas desportivas Surita - O governo brasileiro é soberano para exigir isso ou não. Então é uma decisão do governo. Eu fiz o pedido para o presidente (Michel Temer), para o ministro anterior (José Serra, da pastafibonacci apostas desportivasRelações Exteriores), para o ministro atual (Aloysio Nunes), para Acnur, para quem você imaginar. Eles dizem que é justo, que precisa ser feito. Mas não acontece.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Na prática isso não ia impedir as pessoasfibonacci apostas desportivasentrar?
fibonacci apostas desportivas Surita - Temos um posto da Anvisa na fronteira, que poderia vacinar quem quer entrar.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - A soluçãofibonacci apostas desportivaslevar as pessoas para os outros Estados não seria só empurrar o problema? Porque outros lugares teriam mais condiçãofibonacci apostas desportivasreceber?
fibonacci apostas desportivas Surita - Qualquer lugar tem mais oportunidade do que Boa Vista. Aqui nós não temos indústria. Não tem geraçãofibonacci apostas desportivasemprego. A gente não tem energia, a nossa energia vem da Venezuela, a gente sofre quedafibonacci apostas desportivasenergia todo dia. Hoje estamos sem internet. Se a gente tivesse emprego, a imigração não seria um problema, porque temos poucas pessoas vivendo aqui.
Eu não sei mais o pensar, o que oferecer. Eu conversei com o presidente, conversei com o (ministro da Casa Civil Eliseu) Padilha que precisamos urgentefibonacci apostas desportivasuma solução. Ele disse: estamos falando com todos os Estados, mas ninguém quer receber. Só que [essa resposta] não é uma solução. E a gente não tem escolha.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Qualfibonacci apostas desportivasposiçãofibonacci apostas desportivasrelação ao fechamento da fronteira?
fibonacci apostas desportivas Surita - A posição não é a favor ou contra o fechamento. É o que pode e o que não pode. Somos um país democrático. Temos acordos internacionais, somos signatáriosfibonacci apostas desportivasum processo globalfibonacci apostas desportivasreceber os imigrantes. É um discussão que não cabe a nós. O que que a prefeitafibonacci apostas desportivasBoa Vista pode opinar nisso? Se o Brasil é signatário e temos que receber essas pessoas, precisa ter a estrutura para isso. Outra coisa: como que a gente vai fechar a fronteira para essa miséria dessas pessoas que chegam. É uma crise humanitária. Você não vai ser humano nessa situação?
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Há quem defenda.
fibonacci apostas desportivas Surita - O que acontece com as pessoas que estão aqui, num Estado isolado, longefibonacci apostas desportivastudo, com dificuldadefibonacci apostas desportivassair... Elas estão se sentindo agredidas, porque elas estão vendo o númerofibonacci apostas desportivaspessoas que chega todos os dias, ficando nas ruas... Você já não consegue irfibonacci apostas desportivasalguns lugares da cidade, porque só têm pessoas pedindo. Por exemplo, você vai ao banco ou no supermercado e tem dezenas, centenasfibonacci apostas desportivaspessoas na porta. É natural essa reação, que não é uma reaçãofibonacci apostas desportivasxenofobia, é uma reação de: "gente, alguém tem que fazer alguma coisa".
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Você disse que não é uma questãofibonacci apostas desportivasxenofobia, mas já houve vários casosfibonacci apostas desportivasviolência contra Venezuelanos.
fibonacci apostas desportivas Surita - Você tem casos. Mas uma pesquisa da Acnur mostra que você tem 28%fibonacci apostas desportivasviolência, mas 60%fibonacci apostas desportivassolidariedade. Então você vai encontrar as duas coisas, mas a xenofobia e a violênciafibonacci apostas desportivasum número menor - por enquanto. Temos feito o que a gente pode. Por exemplo, nós não separamos (as pessoas no atendimento do serviço público). A ordem é: nenhuma agressão, a gente vai atender no serviçofibonacci apostas desportivassaúde, não tem fila separada, toda criança que precisar ser matriculada vai ser matriculada, não vai ter sala separada.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Há brasileiros que ficam sem atendimento?
fibonacci apostas desportivas Surita - Já acontece. Principalmente na saúde. Então a fila tá muito grande, se tiver que sobrar, vai sobrar brasileiro e venezuelano. E é onde eles reclamam, entendeu? Então um caso gravíssimo que aconteceu foi do nascimentofibonacci apostas desportivasuma criança, e a mãe, venezuelana, ocupou um leito do hospital. E uma brasileira chegou e queria tirar a venezuelana, porque ela se acha no direitofibonacci apostas desportivasocupar aquele leito. É muito complicado.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - Ouvindo relatos da situação tem-se a impressãofibonacci apostas desportivasque todo mundo que entra é muito pobre, com baixa escolaridade e necessidadefibonacci apostas desportivasassistência. Mas um estudo da FGV apontou que os venezuelanos não indígenas que migram para Boa Vista tem uma média educacional maior do que a população local.
fibonacci apostas desportivas Surita - Muito pouco. A maioria das pessoas que ficam aqui tem nível básicofibonacci apostas desportivasensino ou não tem formação. São pessoas que o serviço público tem que atender. As pessoas que tem mais escolaridade vão para outros lugares. Elas têm condiçãofibonacci apostas desportivasentrar e comprar uma passagem. Um caso que acompanhei foifibonacci apostas desportivasum advogado que chegou e foi ser estagiário num escritório. Ele ganhava um salário mínimo por mês. Ele juntou, comprou passagens e foi embora para o Paraná com a família.
fibonacci apostas desportivas BBC News Brasil - E qual a perspectivafibonacci apostas desportivasrelação à eleição?
fibonacci apostas desportivas Surita - É o que mais me preocupa. Daqui a seis meses sai o presidente, esses abrigos que oferecem três refeições diárias vão acabar. Como vamos ficar? Tanto no governo do Estado, como no governo Federal, com trocafibonacci apostas desportivasministros, tem uma parada natural. E aqui as pessoas estão chegando... e a crise na Venezuela não vai terminar.