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Como softwares, apps e realidade virtual estão virando armas no combate a transtornos mentais:1x betano
A depressão afeta 322 milhões1x betanopessoas no mundo, segundo dados1x betano2015 da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, 11,5 milhões1x betanobrasileiros (cerca1x betano5,8% da população) são afetados - é o maior índice da América Latina e o quinto maior do mundo.
O uso do Deprexis para ajudar pacientes nesta situação simboliza a aplicação cada vez mais frequente da tecnologia por psicólogos e psiquiatras nas clínicas e universidades para o tratamento1x betanodistúrbios mentais e emocionais, como a síndrome1x betanoestresse pós-traumático e a ansiedade.
"Aplicativos, vídeos e programas são tecnologias cada vez mais usadas nesse tipo1x betanotratamento, mas é algo1x betanoque precisamos nos aproximar mais", disse à BBC News Brasil a psiquiatra e terapeuta cognitiva Melanie Ogliari Pereira, uma das fundadoras da Federação Brasileira1x betanoTerapias Cognitivo Comportamentais.
"Acho que o médico é muito conservador. Principalmente na psiquiatria, ainda vemos mais as dificuldades e os efeitos colaterais da tecnologia do que as possibilidades1x betanofazer o bem."
Programa só pode ser usado com prescrição médica
O Deprexis foi feito com base na Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) - um tratamento1x betanocurta duração que ensina técnicas específicas para atingir objetivos concretos1x betanomudança1x betanocomportamentos e nas experiências do paciente.
"Nossa mente avalia todas as situações pelas quais passamos, e o resultado dessa avaliação pode ser uma imagem, uma ideia, uma frase. É o que chamamos1x betanocognição. Essa espécie1x betanofala privada é que determina o que a gente sente e gera os comportamentos que temos", explica o psiquiatra e terapeuta cognitivo Irismar Reis, professor do Departamento1x betanoNeurociências e Saúde Mental da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e do Departamento1x betanoPsiquiatria e Ciências do Comportamento da McGovern Medical School na Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
"Quando você está deprimido, esse discurso privado é extremamente negativo e autoacusatório. Essa percepção negativa1x betanosi mesmo ou do mundo faz com que você se sinta mais triste ainda e se isole. Isso vira um circuito e se autoperpetua."
A terapia cognitiva, segundo ele, ensina habilidades e técnicas para lidar com esses pensamentos e comportamentos.
O programa1x betanocomputador, segundo seu fabricante, é usado para auxiliar neste tipo1x betanoterapia, mas deve ser prescrito por médicos, como se fosse um medicamento. Só com o número1x betanoregistro do profissional (CRM) é possível acessar o tratamento, que deve ser feito por cerca1x betanotrês meses. A licença para usar o produto custa R$ 990.
Ele não é o primeiro software do tipo no mundo, no entanto. Uma ferramenta australiana, Beating the Blues (Derrotando a Tristeza,1x betanotradução livre do inglês), já é usada1x betanoalguns países como complemento do tratamento1x betanodepressão e ansiedade. Mas não está disponível no Brasil.
Em janeiro, o Instituto Nacional para a Saúde e o Cuidado1x betanoExcelência, órgão ligado ao Ministério da Saúde britânico, recomendou o Deprexis como ferramenta complementar do tratamento1x betanodepressão com base1x betanoum estudo feito com mais1x betanomil adultos na Suíça e na Alemanha.
Em fevereiro, um estudo publicado no periódico científico Journal of Affective Disorders disse que o uso combinado do programa no tratamento reduziu mais os sintomas depressivos do que quando foram utilizada apenas sessões1x betanopsicoterapia.
"Na prática, o indivíduo entra no programa, e vai dando respostas às perguntas que ele coloca e descreve seus sintomas. A partir daí, recebe sugestões1x betanotécnicas1x betanoterapia, exercícios, informações sobre a doença", explica Reis.
O psiquiatra alerta, no entanto, para o fato1x betanoque o programa não substitui o acompanhamento1x betanoum terapeuta e1x betanoum psiquiatra, especialmente1x betanocasos1x betanodepressão mais profunda.
"Ele não resolve o problema sozinho, mas ajuda o paciente a se dedicar ao seu tratamento também no dia a dia. Nós, terapeutas, temos dificuldade1x betanofazer com que as pessoas façam determinadas atividades como 'dever1x betanocasa', algo que é muito importante."
Realidade virtual contra a síndrome1x betanoestresse pós-traumático
Pesquisadores brasileiros também já começam a testar os usos1x betanooutro tipo1x betanotecnologia, a realidade virtual,1x betanopacientes com transtornos mentais ou emocionais. Com a ajuda1x betanoóculos especiais e fones1x betanoouvido, o paciente é imerso1x betanoum ambiente digital e revive uma experiência ou situação que tenha lhe causado um trauma, ou seja, a origem1x betanouma fobia.
O psicólogo e pesquisador Christian Kristensen, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), estuda há cinco anos a melhor forma1x betanoaplicar esse método no combate à síndrome1x betanoestresse pós-traumático.
Normalmente, neste tipo1x betanotratamento, é pedido que o paciente relembre as memórias do episódio que originou o trauma, recontando com suas próprias palavras o que ele viveu.
"Se peço no consultório para uma pessoa acessar1x betanomemória, não tenho como controlar o que se passa dentro da cabeça dela. Com a realidade virtual, eu consigo ter maior controle da situação com as imagens e sons, saber ao que você está sendo exposto e intervir", disse à BBC News Brasil.
Kristensen explica que a tecnologia, hoje bastante associada ao mercado1x betanojogos e entretenimento, começou a ser aplicada1x betanotratamentos psicológicos nos Estados Unidos nos anos 1990 para ajudar veteranos1x betanoguerra a superar experiências traumáticas1x betanocombate.
Ao não encontrar pesquisas que investigassem1x betanoaplicação a traumas1x betanosituações vividas pela população1x betanogeral, como casos1x betanoviolência urbana, ele decidiu criar seu próprio projeto com esse objetivo.
O fato1x betanoa tecnologia ter ficado mais barata possibilitou1x betanoaplicação nestes tratamentos. O pesquisador explica que, há uma década, óculos1x betanorealidade virtual custavam cerca1x betanoUS$ 10 mil. "Hoje, com US$ 500, você compra um bom equipamento", disse.
Por enquanto, a pesquisa está focada1x betanofuncionários1x betanobancos que tenham sido vítimas1x betanoepisódios1x betanoassaltos a esses locais. O sistema está em1x betanoterceira versão, após alguns ajustes na qualidade do ambiente virtual apresentado aos pacientes.
Kristensen disse que, ao todo, oito pacientes já foram tratados com o auxílio da tecnologia. "Ainda não temos um número suficiente1x betanopacientes para saber se é um método superior ao atual e ainda precisamos fazer algumas análises dos resultados, mas eles apontam que a realidade virtual é ao menos tão eficiente quanto", afirmou.
O cientista diz que a mesma tecnologia já é testada1x betanomotoristas1x betanoônibus que sofreram algum tipo1x betanoviolência e espera que ela possa ser aplicada também a vítimas1x betanoagressões e abusos.
"Por enquanto, no Brasil, é algo que existe só nas universidades ou1x betanoalguns centros1x betanotratamentos1x betanofobias. Acredito que, nos próximos dez anos, vai ser algo acessível para o terapeuta usar no consultório a um custo relativamente baixo para tratar o estresse pós-traumático."
Uso1x betanoaplicativos e depoimentos1x betanoredes sociais contra o preconceito
Para a psiquiatra Melanie Pereira, os profissionais1x betanosaúde ainda utilizam pouco as ferramentas tecnológicas mais básicas já disponíveis para auxiliar os pacientes, como aplicativos1x betanosmartphone e até redes sociais.
"Algo que é muito forte hoje são os leigos, youtubers e formadores1x betanoopinião que falam sobre suas experiências. Quando eles são bem assessorados por profissionais, isso pode ser um grande serviço1x betanosaúde pública", afirma.
De acordo com Pereira, existem cerca1x betano5 mil aplicativos1x betanosaúde mental para smartphone1x betanodiversos tipos - desde os que ensinam técnicas1x betanomeditação como forma1x betanocontrolar a ansiedade até os que oferecem "quadros1x betanohumor" para que o terapeuta e o paciente possam monitorar a evolução dos sintomas.
Muitos deles são gratuitos, mas a maioria, ela diz, ainda não foi avaliada por pesquisadores e profissionais da área. Por isso, não é utilizada.
"Parece um questionamento básico, mas é algo do que precisamos nos aproximar mais. Problemas mentais estarão no topo dos problemas1x betanosaúde no mundo inteiro nos próximos dez anos", diz.
"E muito poucas pessoas que têm esses transtornos chegam aos nossos consultórios, especialmente por causa do preconceito. Se ficarmos mais próximos da tecnologia e orientarmos os pacientes a usá-la, mais confortáveis as pessoas se sentirão para procurar ajuda."
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