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Ex-policiais feridosgreenbets partnersserviço enfrentam depressão e sequelas após serem aposentados por invalidez:greenbets partners
"Como policial, eu me sentia feliz por poder combater o crime e proteger direitos e deveres da sociedade. Eu me sentia útil", lembra.
"Hoje, eu só choro. Estou vivo ainda, mas a minha vida foi desmantelada", diz. "Eu não posso ver as pessoas na rua, o rosto da minha mãe, dos meus sobrinhos. Sou fanático por cinema, mas não posso ver um filme."
'Legiãogreenbets partnersmutilados'
Em meio à ampla comoção gerada pelas mortesgreenbets partnerspoliciais no Rio - só neste ano, já foram maisgreenbets partners60 vítimas fatais - há um grande contingentegreenbets partnerspoliciais feridos que conseguem sobreviver e são frequentemente esquecidos pela sociedade.
Em 2017,greenbets partnersacordo com os cálculos da Comissão da Análise da Vitimização Policial, 163 PMs foram mortosgreenbets partnersserviço ougreenbets partnersfolga no Rio.
Já o númerogreenbets partnersferidos chegou a 784, o maior desde 2003. Somando os dados dos últimos cinco anos, 3.342 policiais da Polícia Militar do Estado do Riogreenbets partnersJaneiro (PMERJ) sofreram ferimentos - alguns tiveram lesões mais leves e puderam voltar ao serviço, enquanto outros ficaram com danos permanentes, casogreenbets partnersVaz.
"Você tem uma legiãogreenbets partnersmutilados, paraplégicos, tetraplégicos, pessoas sem uma parte da cabeça, quegreenbets partnersrepente se veemgreenbets partnerscama, dependendogreenbets partnerssondas, fraldas, cadeiras higiênicas", diz o coronel Fábio Cajueiro, presidente da Comissão da Análise da Vitimização Policial e à frente da Diretoriagreenbets partnersAssistência Social da PMERJ.
A comissão acompanha as baixas na corporação há 24 anos e diagnostica "décadasgreenbets partnersabandono". Em quase um quartogreenbets partnersséculo, foram 3.397 policiais mortos e 15.236 feridos, nos cálculos da comissão, que contabiliza todos os casosgreenbets partnersmortes ou ferimentos não naturais, sejamgreenbets partnersconfrontos ou acidentesgreenbets partnerstrânsito.
"São pessoas no calor da juventude. Pela idade média, a maioriagreenbets partnersmortos e feridos na PM são pessoas que teriam ainda 20 anosgreenbets partnersserviço pela frente", afirma. "Imagina o custo que isso representa na folhagreenbets partnerspagamento do Estado no longo prazo", diz o coronel.
Nos cálculos da comissão, as baixas que a polícia sofreu nos últimos 24 anos custaram R$ 2,32 bilhões aos cofres públicos - isso sem contabilizar gastos com próteses, medicamentos, fisioterapia, injeções e internação hospitalar, entre outros.
"É um custo que o Estado e a PM estão tendo e que poderia ser evitado com investimentosgreenbets partnersprevenção. Em uma estrutura melhor para a polícia,greenbets partnersleis mais duras para coibir a impunidade. E, obviamente,greenbets partnersinvestimentos sociais", afirma. "Estamos empilhando corpos e mentes perturbadas. Isso é muito grave."
'Em segundo plano'
Rodrigo Vaz era lotado na UPP dos morros do Adeus e da Baiana, no Complexo do Alemão. Como policial, diz, foi um "combatente". Hoje, só consegue ir sozinho da sala para o quarto e do quarto para a sala. Passou a ser quase totalmente dependentegreenbets partnerssua mãe, Regina Vaz, que largou o trabalho para cuidar dele.
"O Estado não se importa nem um pouco", diz Regina. "Quando me entregaram ele na saída do hospital, eu pensei que continuariam por perto me ajudando. Levou uns seis meses para cair a ficha que eu estava sozinha com elegreenbets partnerscasa. Ninguém ia me procurar", conta ela.
Os amigos buscam animar Vaz e fazê-lo sairgreenbets partnerscasa. "Mas ir para a rua me magoa mais. Fico tristegreenbets partnersouvir o barulho das pessoas e não poder ver", lamenta o ex-soldado. "Se eu pudesse voltar a enxergar, eu seria o homem mais feliz do mundo."
Abandono dos feridos
A situaçãogreenbets partnersVaz ecoa outros casos como o dele. De acordo com o policial reformado André Rios, policiais aposentados por invalidez sofrem com a escassezgreenbets partnersrecursos, com faltagreenbets partnersassistência e com entraves legais e burocráticos para ter acesso a benefícios.
"Ficamosgreenbets partnerssegundo plano", diz Rios, que ficou paraplégico após ser atingido por quatro tirosgreenbets partners2003, depois que bandidos fecharam seu carro para um assalto e o identificaram como policial.
"Para cada um que morre, uns seis policiais ficam gravemente feridos. O impacto é enorme, e o gasto que a administração pública tem com isso é astronômico", diz ele, que virou um forte defensor dos direitosgreenbets partnerspoliciais feridos e está prestes a se formargreenbets partnersDireito.
De acordo com a PMERJ, os policiais são vítimas do mesmo cenáriogreenbets partnersviolência que os demais cidadãos fluminenses - com o agravantegreenbets partnersque, quando um agentegreenbets partnerssegurança é identificado como tal, o criminoso busca eliminá-lo.
Em nota, a corporação afirma que uma das ações principais para reduzir os danos aos policiais é trabalhar para ampliar o policiamento ostensivogreenbets partnersuma maneira geral e, assim, "dar mais segurança aos cidadãos e aos policiais".
Entre as ações tomadas neste sentido, a Polícia Militar cita a aquisiçãogreenbets partnersnovas viaturas, o retorno do Regime Adicionalgreenbets partnersServiço (uma espéciegreenbets partnershora extra oficial) e treinamentos específicos voltados para reduzir comportamentos que podem colocar policiaisgreenbets partnersrisco - como, por exemplo, um curso voltado para treinar o porte veladogreenbets partnersarmas durante horáriosgreenbets partnersfolga. "Além disso, todos os policiais militaresgreenbets partnersunidades da Região Metropolitana estão autorizados a utilizar seus coletes balísticosgreenbets partnersdiasgreenbets partnersfolga", diz a nota da PMERJ.
Décimo ferido da equipegreenbets partnersum ano
Raphael Cabral foi contemporâneogreenbets partnersRodrigo Vaz no cursogreenbets partnersformação policial, trocando o terno e gravata que usava para vender colchõesgreenbets partnersuma loja pela farda azul da PM. "Eu ganhava bem, mas não ia conseguir fazer aquilo a vida inteira. Achei que na polícia eu poderia fazer diferença para a sociedade."
Assim como Vaz, Cabral acabou trabalhandogreenbets partnersuma UPP, a da Vila Cruzeiro. E, assim como o amigo, também saiu precocemente, após ter a perna esquerda amputada. Em janeiro do ano passado, foi atingido por uma granadagreenbets partnersconfronto com traficantes na favela, e só sobreviveu porquegreenbets partnersequipe o socorreu e estancou o sangramento com um torniquete mesmo sob intensa trocagreenbets partnerstiros. Sobrou "só um palmogreenbets partnersperna", conta ele.
"Em menosgreenbets partnersum ano, eu fui o décimo da equipe (de 23 pessoas) a ser ferido. Tinha tiroteio pelo menos três vezes por dia", diz Cabral, que à época tinha 28 anos. Ele completou seus seis anosgreenbets partnerspolícia no hospital.
"Foram 25 dias internado, cinco cirurgias, três paradas cardíacas, doze bolsasgreenbets partnerssangue e quatro colôniasgreenbets partnersbactéria", enumera.
Cabral foi pentacampeão cariocagreenbets partnerstaekwondo e ensinou a luta para maisgreenbets partners200 crianças na primeira UPPgreenbets partnersque foi lotado, no Morro do São João, na zona norte do Rio. "Naquela época, ainda tomávamos café com os moradores e dávamos aulasgreenbets partnersprojetos sociais", lembra ele. "O meu melhor chute era a perna esquerda". A perna foi substituída por uma prótese.
"Eu já tinha aceitado que morreriagreenbets partnersbreve. Sabia que mais cedo ou mais tarde uma daquelas munições ia me acertar. Por eu estar conformado, perder uma perna não foi nada para mim", diz.
Auxílio-invalidez seletivo
Cabral teve uma boa notícia nesta semana: foi, enfim, publicada no Diário Oficial do Estado do Riogreenbets partnersJaneiro a autorizaçãogreenbets partnersseu auxílio-invalidez, um pagamento mensalgreenbets partnersR$ 3 mil.
Ele diz que o auxílio vai lhe dar "uma vida mais digna", mas está longegreenbets partnerscompensar a perdagreenbets partnersum membro "nessa guerra que ninguém ganha", diz.
Já Rodrigo Vaz ainda não obteve o mesmo benefício e está lutando na Justiça.
O motivo é que Cabral é um casogreenbets partnersamputação, enquanto Vaz levou um tiro na cabeça. A lei 6.764 garante o auxílio por invalidezgreenbets partnerscasosgreenbets partnersparaplegia, tetraplegia ou amputações, mas não para outros tiposgreenbets partnersferimento.
"A lei é mal feita", diz o coronel Cajueiro. "Se você for feridogreenbets partnerscombate e perder um dos membros, ou se tornar cadeirante, recebe o auxílio. Mas se ficar com um buraco na cabeça, tiver convulsões, precisar substituir parte da calota cranial com próteses caríssimas, não recebe", critica.
Em 2014, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio adicionou um parágrafo à lei que,greenbets partnerstese, estende o benefício a outros casosgreenbets partnersinvalidez física ou mental permanente. Mas a Procuradoria-Geral do Estado questionou a constitucionalidade da mudança, que está suspensa até que tribunais superiores deliberem a respeito.
'S.O.S. Veteranos'
Diante da solidão que se impõe aos inativos por invalidez, muitos buscam apoiogreenbets partnersredes sociais ou gruposgreenbets partnersWhatsApp - como o "S.O.S. Veteranos", que tem quase 80 ex-policiais afastados permanentemente. São cegos, amputados, lesionados na cabeça, tetraplégicos e paraplégicos, diz André Rios.
"As interações são importantes porque as pessoas ficam muito sozinhas", diz. "No início, ficam totalmente perdidas. Não sabem como proceder. Estão entrandogreenbets partnersum mundo novo. Quem é solteiro acha que nunca mais vai arrumar mulher, quem é casado teme pelo futuro do relacionamento. Mas quando veem os outros casos, entendem que há vida após o ferimento. Veem que dá para encarar."
Rios, Cabral e Vaz não perderam o orgulho da profissão, mas mudaram, cada um àgreenbets partnersmaneira, seu olhar sobre a atividade policial no Rio.
"É uma guerra muito injusta. A polícia não tem subsídios, não tem material humano nem bélico para viver essa guerra. Estamosgreenbets partnersguerra, mas ninguém assume", diz Rios.
Vaz sente mágoagreenbets partnersrelação a um Estado que "não dá condições para a polícia trabalhar" e "não dá subsistência" quando policiais ficamgreenbets partnersestado como o dele. Aos mais jovens, aconselharia não entrar para a polícia. "A sociedade é hipócrita, não merece os policiais que tem. São homens guerreiros que dãogreenbets partnersvida para ela. As pessoas não os reconhecem."
Já Cabral diz ter desistido do Brasil. Depoisgreenbets partnerster a perna amputada, passou por três outras situaçõesgreenbets partners"quase-morte" - incluindo a fugagreenbets partnersum arrastão na avenida Brasil, e disparos contra seu carro ao entrargreenbets partnersuma favela por engano seguindo indicações do GPS. Agora, faz planosgreenbets partnerssair do Brasil com a família. Para ele, ficar é estar "na fila da morte".
"O meu filhogreenbets partners4 anos repete diariamente que quer ser policial. Apesargreenbets partnerseu ser apaixonado pela PM, não o incentivo. Ele pode ser policialgreenbets partnersoutro país", diz Cabral. "Essa sociedade não merece o trabalho do policial. Não sabe o preço que nós pagamos."
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