HPV: por que vacinaçãoaposta casada appadolescentes contra vírusaposta casada apptransmissão sexual que causa câncer não avança no Brasil:aposta casada app

Vacinação

Crédito, Manuela Brandolff/Palácio Piratini

Legenda da foto, No ano passado, 900 mil vacinas 'encalhadas' foram liberadas para homens e mulheres fora na faixa etária alvo para que não estragassem

Países como a Austrália conseguiram reduzir a prevalência do HPV na população para cercaaposta casada app1% e estão pertoaposta casada apperradicar o cânceraposta casada appcoloaposta casada appútero. Em vizinhos como o Chile, a cobertura da vacina passaaposta casada app70%.

Em 2013, o Brasil fez uma grande parceira público-privada para nacionalizar o processoaposta casada appfabricação da vacina e, no ano seguinte, iniciou a campanha pelo SUSaposta casada appescolasaposta casada apptodo o país.

De lá para cá, contudo, a taxaaposta casada appcobertura para as duas doses, essenciais para a imunização, não passouaposta casada app50%. No ano passado, esse percentual chegou a 48,7%. A campanha deste ano começouaposta casada appmarço e, a partiraposta casada appsetembro, o SUS começa a aplicar a segunda dose.

Vírus do HPV na corrente sanguínea

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Legenda da foto, Altamente contagioso e muitas vezes assintomático, HPV não tem cura

Vacinar adolescentes é mais difícil do que imunizar as crianças, muitas vezes encaminhadas para o postoaposta casada appsaúde diretamente pelo pediatra, destacam médicos consultados pela BBC News Brasil.

Há a questão do receio dos efeitos colaterais – neste caso, alergias leves aos componentes do medicamento –, a mistura entre o "medoaposta casada appagulha" e a sensaçãoaposta casada appque a doença é algo distante e, no caso específico do HPV, a visão distorcidaaposta casada appalguns paisaposta casada appque a vacinação poderia dar início precoce à vida sexual dos filhos.

Para infectologistas e especialistasaposta casada appHPV, contudo, a principal razão para que o país esteja longe da metaaposta casada app80%aposta casada appcobertura foi a saída da vacinação das escolas.

Da escola para o postoaposta casada appsaúde

Em 2014, o lançamento da campanha foi feito nos colégios, onde aconteceram as rodadas da primeira dose – com coberturaaposta casada appmaisaposta casada app100%. Em setembro daquele ano, porém, a segunda rodadaaposta casada appimunização foi transferida para os postosaposta casada appsaúde, onde se mantém até hoje.

"É muito difícil levar o adolescente à salaaposta casada appvacinação", pondera Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileiraaposta casada appImunizações (SBIm).

As razões vão desde as particularidades da própria faixa etária, para a qual o câncer é uma realidade distante – e que, ao contrário das crianças menores, já consegue dizer "não" aos pais –, até as dificuldades práticas, como o horárioaposta casada appfuncionamento dos postosaposta casada appsaúde,aposta casada appgeralaposta casada appsegunda a sexta,aposta casada apphorário comercial.

Apesaraposta casada appnão ser obrigatória por lei, a maioria dos postos exige a presençaaposta casada appum responsável para vacinar o adolescente, diz Ballalai.

Lançamento da campanhaaposta casada appvacinação contra HPV,aposta casada appjaneiroaposta casada app2014

Crédito, Wilson Dias/Ag. Brasil

Legenda da foto, Distribuição pelo SUS começouaposta casada app2014, com a primeira dose aplicadaaposta casada appescolasaposta casada apptodo o país

Para que a cobertura chegue à metaaposta casada app80% estabelecida pelo Ministério da Saúde, que proporcionaria redução significativa dos casosaposta casada appcâncer e da incidênciaaposta casada appverruga genital, por exemplo, a imunização deveria voltar para as escolas, ela destaca, como fazem Austrália e Chile – este último, convidado da próxima Jornada Nacionalaposta casada appImunizações, organizado pela SBIm, para compartilharaposta casada appexperiência.

"Enquanto a vacinação não for para dentro da escola, a gente não vai aumentar a cobertura", concorda Rosana Richtmann, médica do Institutoaposta casada appInfectologia Emílio Ribas.

'Dificuldade operacional'

A coordenadora do Programa Nacionalaposta casada appImunizações (PNI) do Ministério da Saúde, Carla Domingues, afirma que o desempenho do Brasil estáaposta casada appacordo com a média globalaposta casada appcobertura contra o HPV, entre 50% e 70%, segundo ela.

Casos como o da Austrália são "exceções", porque "estão fazendo vacinação eminentemente nas escolas". A dificuldade para repetir a fórmula no Brasil, ela diz, passa pela faltaaposta casada appestrutura dos municípios, que têm a competênciaaposta casada appvacinar a população.

As secretarias municipaisaposta casada appsaúde, afirma, precisariamaposta casada app"equipes volantes" para ir às escolas, sem depender dos profissionais dos postosaposta casada appsaúde, que muitas vezes já trabalham além da capacidade.

"Muito município não tem dinheiro para fazer essas contratações e outros nem podem, por causa dos limites da Leiaposta casada appResponsabilidade Fiscal", ressalta.

Menina recebendo vacina

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Legenda da foto, 'É inaceitável a gente ainda ter morte por cânceraposta casada appcoloaposta casada appútero no Brasil, uma doença que se previne com vacina', destaca Fedrizzi

O Ministério da Educação (MEC) "já foi uma resistência, hoje não é mais", e atuaaposta casada appconjunto com a Saúde no âmbito do Programaaposta casada appSaúde na Escola. "A dificuldade é operacional mesmo", afirma a coordenadora.

Ela destaca, contudo, que elevar a cobertura da vacina continua entre as prioridades do PNI e que a pasta mantém diálogo com os municípios, além das campanhas para esclarecer e alertar a população sobre a importância da imunização.

O desempenho aquém do esperado fez com que, no ano passado, 900 mil vacinas destinadas à população-alvo – meninas entre 9 a 14 anos e meninos entre 11 a 14 anos – quase vencessem.

Para evitar que isso acontecesse, diz Domingues, o SUS ampliou a idade máxima para imunização gratuita e vacinou homens e mulheresaposta casada appaté 26 anos.

O casoaposta casada appsucesso da Austrália contra o HPV

A Austrália é o primeiro candidato a erradicar o cânceraposta casada appcoloaposta casada appútero nas próximas décadas,aposta casada appacordo com a International Papillomavirus Society (IPS), organização internacional que reúne médicos especialistasaposta casada appHPV.

A campanha começouaposta casada app2007, com vacinaçãoaposta casada appmeninas nas escolas. Cinco anos depois, a incidênciaaposta casada appverrugas genitais na população já havia reduzidoaposta casada app90%, destaca o médico brasileiro Edison Natal Fedrizzi, membro do IPS.

Gráfico

Em 2013, os meninos foram incluídos na campanha e,aposta casada app2015, a incidênciaaposta casada appHPV entre mulheresaposta casada app18 a 24 anos despencouaposta casada app22,7%, registrado dez anos antes, para 1,1%.

"É inaceitável a gente ainda ter morte por cânceraposta casada appcoloaposta casada appútero no Brasil, uma doença que se previne com vacina", destaca o especialista.

A imunização dos adolescentes, ele destaca, tem três grandes benefícios. Primeiro, a resposta imunológica é melhor que a dos adultos – a partir dos 15 anos, a recomendação éaposta casada appnão apenas duas, mas três doses. A probabilidadeaposta casada appexposição prévia ao vírus, poraposta casada appvez, é pequena – e a vacina é inócua nos casosaposta casada appque a pessoa já está contaminada.

Depois, o custo para o sistemaaposta casada appsaúde,aposta casada appforma geral, é menor.

Nesse sentido, deve-se levaraposta casada appconta também o chamado "efeito da proteçãoaposta casada apprebanho" – quanto mais jovens se imunizarem antes do início da vida sexual, o nívelaposta casada appcontágio das novas gerações tende a ser menor e o vírus tende a circular menos, diminuindo a prevalência do HPV.

Assim,aposta casada appforma indireta, a vacinação também diminuiria a incidência do câncer, poupando,aposta casada appúltima instância, recursos do SUS.

Datapic

"Por isso que vacinar os meninos (incluídos no ano passado no programaaposta casada appimunização) também é essencial, porque eles são vetoresaposta casada apptransmissão", destaca o especialista.

À frente do Projeto HPV, no hospital universitário da Universidade Federalaposta casada appSanta Catarina (UFSC), Fedrizzi destaca o caso bem-sucedidoaposta casada appFlorianópolis,aposta casada appque as secretariasaposta casada appsaúde e educação se juntaram para trazer a vacinaçãoaposta casada appvolta para as escolas e conseguiram cumprir a metaaposta casada app80%aposta casada appcobertura.

"Diante do problema para mobilizar as equipes (dos postosaposta casada appsaúde) para irem às salasaposta casada appaula, Floripa criou o 'diaaposta casada appa escola ir ao posto'", diz ele.

'Os antivacina não são problema no Brasil'

A vacina distribuída no Brasil é quadrivalente. Ela imuniza contra dois tipos do vírus do HPV consideradosaposta casada appalto risco, o 16 e 18, apontados como responsáveis por 70% dos casosaposta casada appcânceraposta casada appcoloaposta casada appútero, e contra os dois tiposaposta casada appbaixo risco responsáveis por 90% das verrugas genitais, o 6 e 11.

É fornecida gratuitamente para meninas com idade entre 9 e 14 anos e para meninos entre 11 e 14 anos. Na rede privada, cada dose custa por voltaaposta casada appR$ 200.

A vacina do SUS é da marca Gardasil, produzida pelo laboratório Merck Sharp and Dohme (MSD)aposta casada appparceria com o Instituto Butantan. O acordo fechado pelo Ministério da Saúdeaposta casada app2013 com a empresa americana prevê transferênciaaposta casada apptecnologia para que o Brasil, nos próximos anos, se torne autossuficiente na produção do medicamento.

Ele praticamente não apresenta efeitos colaterais, diz Fedrizzi, por se trataraposta casada appuma vacina recombinante – que não usa, por exemplo, o vírus atenuado na composição, mas partes do organismo.

Apesaraposta casada appcasos sem relação com a vacina terem provocado alguma reação contrária a ela no início da campanha,aposta casada app2014, o impacto das pessoas "antivacina" na baixa cobertura é pequeno, afirma o médico.

O episódioaposta casada appparalisiaaposta casada apptrês meninas vacinadasaposta casada appBertioga (SP) naquele ano, que chegou a assustar alguns pais, comprovadamente não estavam ligados à imunização, destaca Fedrizzi.

"Esse não é um problema nosso. Uma pesquisa recente mostra que, na França, 41% da população desconfia das vacinas. No Brasil, esse percentual éaposta casada app4%. A questão aqui é outra", concorda Ballalai, da Sociedade Brasileiraaposta casada appImunizações.

"O único efeito colateral (mais significativo) pode ser psicossomático", destaca Richtmann, infectologista do Emílio Ribas, referindo-se ao "medoaposta casada appagulha", que pode fazer com que alguns adolescentes passem mal.