5 anos depois, o que aconteceu com as reivindicações dos protestos que pararam o Brasilbetnacjunhobetnac2013?:betnac
Tarifa do transporte público
No dia 6betnacjunhobetnac2013, o MPL (Movimento Passe Livre) se mobilizava contra o aumento das tarifasbetnacônibus, metrô e trensbetnacSão Paulo, repetindo manifestações que já haviam sido bem-sucedidasbetnaccidades como Florianópolis e Salvador. No dia seguinte, voltaram às ruas.
Fizeram ainda outros dois atos cada vez maiores. No dia 11betnacjunho, ônibus e agências bancárias foram depredadas por personagens novos, os black blocs. No dia 13, houve enfrentamento, e a Polícia Militar disparou bombasbetnacgás e balasbetnacborracha, deixando manifestantes e jornalistas feridos.
A revolta com a reação policial deu o fôlego que os protestos precisavam para ganhar o país, ao mesmo tempobetnacque levou à pulverização das reivindicações. "Não é pelos 20 centavos", diziam os cartazesbetnacreferência ao valor do aumento da passagembetnacSão Paulo, que à época subiria para R$ 3,20.
A reivindicação que deu origem a todo o processo inicialmente surtiu efeito, lembra o professor Cesar Jimenez-Martinez, da Universidade Brunel, na Inglaterra, que transformou as jornadasbetnacjunhobetnac2013, o papel da mídia e o impacto para a imagem do Brasilbetnactesebetnacdoutorado pela universidade britânica London School of Economics (LSE).
RiobetnacJaneiro e São Paulo, já no dia 19betnacjunho, foram as primeiras cidades a congelar o preço das passagens.
Um aumento ainda superior, porém, ocorreria no início do ano seguintebetnacSão Paulo, quando passou a custar R$ 3,50. Em 2015, pularia para R$ 3,80 e, no inicio deste ano, para R$ 4.
Manifestações posteriores contra os reajustes jamais conseguiram repetir a adesãobetnac2013. Sofia Salles, militante do MPL, pondera, contudo, que a inclusão,betnac2015, do transporte como direito social na Constituição e a criação do passe livre para estudantesbetnacSão Paulo durante a gestãobetnacFernando Haddad - benefício extinto por seu sucessor, João Dória - foram resultado da lutabetnac2013.
O então congelamento das tarifasbetnac2013 não foi, porém, suficiente para dar fim aos os protestos, que naquele momento já tinham ganhado outras motivações.
Poucos dias antes, milhares haviam passado a não apenas a apoiar o MPL, mas também foram às ruasbetnaccentenasbetnaccidades.
O marco inicial das megamanifestações no país inteiro foi o dia do pontapé inicial do torneio internacionalbetnacfutebol Copa das Confederações, no dia 15betnacjunho - uma espéciebetnacaquecimento para a Copa do Mundo, que ocorreria no ano posterior e já enfrentava grande oposiçãobetnacparte da população.
Dois dias depois, manifestantes subiram no telhado do Congresso Nacional,betnacBrasília, no que se transformariabetnacum dos momentos mais icônicos desta década. Além disso, transformaram locais como a Praça da Estação,betnacBelo Horizonte, e a avenida Rio Branco, no RiobetnacJaneiro,betnacum marbetnacgente.
Investimentos na saúde
"Desculpe o transtorno, estamos mudando o Brasil", diziam cartazes que podiam ser avistadosbetnacdiferentes cidades.
Não foram poucas as comparações entre os investimentos então sendo feitosbetnacestádios para a Copa com a situação da saúde do país.
Pressionados, o governo Dilma Rousseff e o Congresso tentaram responder às demandas.
A presidente fez um pronunciamento na TV prometendo e trazer mais médicos do exterior para melhorar o Sistema ÚnicobetnacSaúde (SUS), principalmente no interior do país. O resultado foi o programa "Mais Médicos", que teve como resultado a atraçãobetnacprofissionais cubanos ao Brasil, gerando críticas da classe médica.
Meses depois, o Congresso aprovaria e a petista sancionaria um projetobetnaclei destinando percentuais do pré-sal para a saúde e a educação.
No fimbetnac2016, diante da grave crise econômica, o governo Michel Temer anunciou a criaçãobetnacum tetobetnacgastos para o governo federal, o que para muitos acabou limitando o avanço do investimento nessas áreas.
E mais recentemente, retirou alguns recursos dessas pastas para atender à reivindicação do caminhoneiros por diesel mais barato na recente greve que parou o país.
Combate à corrupção
À época, Dilma também fez uma reunião emergencial com governadores e prefeitos e propôs cinco pactos (pela saúde, educação, transporte, reforma política e responsabilidade fiscal), alémbetnacum plebiscito para uma constituinte da reforma política, bandeira defendida pelo PT. Esses, no entanto, nunca foram adiante.
Além dos pedidos por mais saúde, educação e segurança, tinha gente contra a Copa, contra a Olimpíada do Rio - que acabou transcorrendo normalmente, apesarbetnacprotestos às vezes violentos -, e contra a PEC 37, que limitava o poderbetnacinvestigação do Ministério Público.
Mas muitos foram protestar sobretudo contra a corrupção. "Junho foi uma catarse coletiva muitidimensional com muitos setores, com muitas pautas. Tem um claro conteúdobetnacfrustração com o ambiente politico,betnacraiva", observa a cientista política Esther Solano, professora da Unifesp, autorabetnacdiversos artigos sobre os protestos que marcaram o Brasil.
Como resposta do Congresso, deputados e senadores fizeram uma listabetnacprojetos que estavam parados ou tramitavam lentamente nas duas Casas. Alguns acabaram avançando e outros foram derrubados.
Foi aprovada, por exemplo, a Lei Anticorrupção, que pune empresas e permite acordosbetnacleniênciabetnaccasosbetnaccrimes contra a administração pública. Também passou uma proposta que define o que é organização criminosa e estabelece regras para acordosbetnacdelação premiada - usadosbetnaclarga escala a partirbetnac2014 na operação Lava Jato.
A PEC 37, porbetnacvez, não foi aprovada, como queriam os manifestantes, e membros do Ministério Público mantiveram a prerrogativabetnacconduzir investigações.
Câmara e o Senado aprovaram ainda o fim do voto secretobetnaccasobetnaccassaçãobetnacmandatobetnacparlamentar.
Outros projetos que ficando para trás no Congresso, como o que transforma corrupçãobetnaccrime hediondo e o que acaba com o foro privilegiado - que só seria alterado neste ano, mas pelo Supremo Tribunal Federal (STF); A corte determinou que apenas crimes cometidos no mandato seria julgados diretamente por ela.
A reforma política pedida também acabou não implementada. Para Solano, ainda é preciso mais pressão popular para forçar uma mudança desse quilate.
"Obviamente, uma reforma tão potente,betnacreestruturação do sistema que tire privilégiosbetnacuma casta política, não vai virbetnaccima. As camadas politicas elitizadas que se beneficiam desse sistema não vão querer autoimplodir o sistema", avalia Esther Solano.
Projetobetnaclei 'cura gay'
Assuntobetnacvoga à época, o projeto batizadobetnac"cura gay", defendido pela bancada evangélica, previa permitir tratamento psicológico para paciente com "transtornobetnacorientação sexual", o que é proibido, era alvo frequente das manifestações.
A proposta foi arquivada pelo então presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (MDB-RN), mas voltou a ser apresentadabetnac2016 e ainda hoje tramita na Casa.
O Congresso que acabou eleitobetnac2014 se mostrou ainda mais conservador. A bancada BBB - sigla para boi, bíblia e bala, englobando parlamentares ruralistas, religiosos e defensoresbetnacmais severidade na condução da segurança pública - é, hoje, uma força dentro das Casas.
As herançasbetnac2013
Para o historiador Lincoln Secco, professor da USP, "junhobetnac2013 foi uma ruptura na história do Brasil".
Iniciado pelo que o professor chamabetnac"esquerda autônoma", as manifestações atraíram também representantes da direita.
Os professores Solano e Jimenez-Martinez, porbetnacvez, salientam que junhobetnac2013 foi marcado pela ausênciabetnaclideranças oficiais ebetnacpauta especificabetnacreivindicação, o que dificultou a negociação com o setor público.
"Antigamente tínhamos só uma estratégiabetnacprotesto, que era o típico protesto verticalizado, organizado com uma pauta definida. Era muito mais fácil negociar com esses grupos, que tinha liderança, pauta definida, uma agenda definida. Agora você tem uma multiplicidadebetnacformasbetnacprotestos, além dos tradicionais, há os mais contemporâneos, espontâneos, sem liderança definida, mais fluidos e heterogêneos", diz a professora.
Os pesquisadores destacam como herança, porém, o importante papel que as redes sociais assumiriam para a organizaçãobetnacatos e também como plataforma para novos "porta-vozes"betnacdemandas difusas.
Nesse quesito, no entanto, Brasil não inovou. Essa era também a marcabetnacmanifestações contemporâneas, como a Primavera Árabe, que eclodiubetnac2011, e do movimento Occupy, que atraiu multidõesbetnacNova York ebetnacLondres no mesmo ano.
E esse modelo horizontalizado e apartidário se repetiu outras vezes como, por exemplo, com a ocupaçãobetnacescolas por estudantes secundaristasbetnacSão Paulobetnac2015 e com a greve dos caminhoneiros neste ano.
Polarização
Cinco anos depois dos megaprotestos, o Brasil se vê extremamente polarizado entre direita e esquerda.
Solano diz que, depoisbetnacjunho, nem todas as pautas foram atingidas, "mas o Brasil começou a ver pessoas falando mais sobre política".
O país também passou a assistir a grupos indo às ruas pedindo abertamente intervenção militar e defendendo pautas mais conservadoras.
Segundo a professora, "a política está na pauta, no centro do debate, só que muito mais canalizado pela direita". "Parece que os gruposbetnacdireita capturaram muito mais esse descontentamento", avalia.
Para o historiador Lincoln Secco, da USP, as JornadasbetnacJunho se estenderam nos anos seguintes,betnacespecial com protestos como os contra a Copa, as manifestaçõesbetnac2015 e o impeachment da presidente Dilma Rousseffbetnac2016. "(Esses eventos) foram uma continuidadebetnacjunho", opina.
O professor afirma que a direita capturou o movimento aindabetnac2013. "Junho começou como um protestobetnacesquerda, anti-institucional e com uma pauta definida (as tarifasbetnactransporte). A leitura da mídia e uma insatisfação da classe média com o PT transformaram junhobetnacum movimentobetnacdireita com uma pauta imprecisa: a crítica generalizada dos governos e dos serviços públicos", complementa.
Novos movimentos
A partirbetnac2013, grupos como o Movimento Brasil Livre, Vem para Rua e Revoltados On Line ganharam visibilidade por convocar, por meio das redes sociais, manifestaçõesbetnacdiferentes cidades. E,betnac2015, esses mesmos grupos participaram da organizaçãobetnacnovas manifestações, dessa vez pelo impeachmentbetnacDilma Rousseff, contra o PT e a favor da Lava Jato. A esse grupo se juntaram também os que pedem intervenção militar.
Mas a socióloga e historiadora Regina Helena Alves da Silva, coordenadora do CentrobetnacConvergênciabetnacNovas Mídias da UFMG (Universidade FederalbetnacMinas Gerais), observa que esses grupos e, principalmente, o que pensam e querem não aparecerambetnac2013.
"Em 2010 fizemos uma grande pesquisa sobre as eleições, e lá estavam os grupos que depois se organizaram como Vem pra Rua, Revoltados, etc. Em certa medida, a direita se organizabetnacrede e online há bastante tempo, existe uma infinidadebetnacgrupos e debates nessa direção que passam a produzir conteúdos para a distribuiçãobetnactodo o país", observa Regina Helena, citando que esse material tem conteúdo conservador e até moralista.
Ela diverge do colega da USPbetnacrelação à "captura" pela direita das JornadasbetnacJunho.
"2015 constrói a narrativabetnacque 2013 foi um movimento da direita, e claramente não foi. Podemos até verificar essa hipótese olhando pra multiplicidadebetnaccartazes nas ruas, pedindo reforma política, fim da Polícia Militar, transporte, justiça social, moradia, jornadabetnactrabalho, igualdade para mulheres e LGBTs, passe livre e Tarifa Zero, e questionando atos dos políticos", afirma a professora, que organizou o livro Ruas e Redes: Dinâmicas dos ProtestosBR.
Porbetnacvez, o Mídia Ninja, que se projetou ao cobrir os protestosbetnac2013 ao vivo e está no campo mais à esquerda do espectro político, continuou registrando manifestações e cenasbetnacviolência policial.
O Movimento Passe Livre, que iniciou os protestos, chegou a ter seu fim anunciado por um dos integrantes, mas voltou a funcionar.
"O MPL mudou muito. A gente costuma dizer que ele se reconstruiu por causa das mulheres. É um movimento embetnacmaioria feminino", diz Sofia Salles, integrante do grupo que foi às ruas, à época, com apenas 16 anos. Hoje, diz ela, o MPL prioriza a questão do transporte na periferia.
E novos movimentos, alguns deles reunindo pessoasbetnacdiferentes correntes e partidos, como o Agora! e o Livres, também foram criados.
Um novo junho?
Segundo os professores Solano e Jimenez-Martinez, o que difere 2013 do momento atual é que hoje há uma deterioração da economia e da política, cenário bastante distinto do que o país se encontrava naquela época, quando havia bastante otimismo,betnacespecial do resto do mundo,betnacrelação ao Brasil.
"A gente não pode pensar que o que está acontecendo agora (com recente a greve dos caminhoneiros) é 2013 outra vez porque a situação é muito diferente, o contexto é muito diferente", observa Jimenez-Martinez, lembrando que a popularidade da então presidente Dilma Rousseff estavabetnacalta havia cinco anos. Naquela época, ainda havia estabilidade política, e eram poucos os indicativosbetnacque uma tormenta econômica estava a caminho.
A greve dos caminhoneiros, diferentementebetnacjunhobetnac2013, já começou com uma pauta dispersa e abstrata, na qual os aumentos consecutivos do preço do combustível são vistos como resultado da corrupção e da tributação exagerada, avalia Secco.
Apesarbetnacacharem que, a partir da greve, há a possibilidadebetnacuma escalada dos protestos no país por meiobetnacsetores específicos ou categorias profissionais, os professores não veem um novo 2013 no horizonte próximo.
"Não acho que os caminhoneiros podem detonar um 'novo 2013', primeiro porque são frutobetnacformatosbetnacmobilização e ação muito antigos e conservadores, são dispersosbetnacdemandas e se mostraram claramente influenciados pelos donosbetnacempresas da área", avalia Regina Helena.
Esther Solano, porbetnacvez, acredita que as manifestações, com a proximidade do pleito, tendem a se partidarizar.
"Não acho que a gente consiga ter um novo junho. Foi uma congregaçãobetnacmuitas pautas e muitos grupos. Mas vai ser obviamente um climabetnacmaiores mobilizações, acho que serão mais partidárias porque teremos as eleições. Vamos assistir a mais manifestaçõesbetnacsetores,betnaccategorias profissionais como agora os petroleiros,betnacsetores mais à direita ou à esquerda, mas não acho que teremos um amálgamabetnacmuitos grupos indo (juntos) para rua", diz Solano.
Ela avalia ainda que, desde "o impeachment (de Dilma Rousseff) e da prisão do ex-presidente Lula, é muito difícil encontrar grupos com diferentes perspectivas, tendências, ideologias e preferências, juntos, num mesmo espaçobetnacrua".
Jimenez-Martinez, por outro lado, é menos categórico. Disse ter aprendido que "no Brasil não é possível prever o imprevisível".
Mas na visão do professor, o país deixou escapar uma grande oportunidadebetnacse transformarbetnacum líder mundial. A situaçãobetnacagora, diz, só reforça o desapontamento entre os que um dia sonharam com um futuro promissor para a naçãobetnaccurto espaçobetnactempo.
Solano tem uma opinião diferente. "Não exatamente acho que o país perdeu uma oportunidade. Oportunidadesbetnacmudanças são algo que a sociedade vai construindo continuamente. A mudança que estava se pedindo é tão estruturante que não poderia ter sido atingidabetnacum curto espaçobetnactempo."