Apicultor faz etanol a partirestrela betmel e dribla crise dos combustíveis:estrela bet
O mel vemestrela betseus apiários eestrela bet10 cidades da Bahia, Estado cuja produção éestrela bet3,5 mil toneladas ao ano, ou 9% da produção nacional, segundo dados referentes a 2016, os mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiroestrela betGeografia e Estatística (IBGE).
Reaproveitamento
O mel que chega ao entrepostoestrela betJordans é comercializadoestrela betmercadosestrela betcidades da região sudoeste da Bahia, e do volume produzido sempre acaba voltando para o apicultor entre 0,5 e 1%estrela betmel, chamadoestrela betdescarte.
"Eles voltam por pequenos defeitos, como uma embalagem que trincou e gerou riscoestrela betcontaminação, então, recolhemos para manter o controleestrela betqualidade do mel", disse.
Descartar mel no meio ambiente, conta o apicultor, é um risco às próprias abelhas, pois elas podem consumir o produto fermentado e acabar morrendo, o que prejudicaria a atividade.
Jordans é apicultor há quase 30 anos, mas o descarte só virou preocupação maior nos últimos dez anos, quando no entreposto aumentou seu movimento para 10 toneladas mensais.
Em 2012, ele contratou uma consultoria que o auxiliou a montar um projeto sobre aproveitamento do descarte para produzir extratosestrela betmel, como álcool etílico (conhecido como alimentício ou nobre) e, com isso, fazer cachaça ou aguardenteestrela betmel.
Enviado para a Fundaçãoestrela betAmparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), o projeto foi aprovado com verbaestrela betR$ 185.052,40 para o apicultor, que usou o dinheiro para comprar os equipamentos necessários ao processoestrela betprodução do álcool etílico.
O financiamento público ocorreu por meioestrela betuma proposta da fundaçãoestrela betabrir a pesquisa para empresas. A consultoria entrou como responsável técnica da pesquisa, já que o apicultor não é da área - é especialistaestrela betapicultura, com diversos cursos realizados, e tem formação técnicaestrela betadministração.
Produção caseira
Depois que conseguiu o financiamento da Fapesb, Jordans montou no entrepostoestrela betmel,estrela betsegunda casa, um pequeno laboratório para obtenção da aguardente. No processo químico, o descarte entraestrela betfermentação num tanqueestrela bet250 litros durante 5 a 15 dias.
Nesse período, ocorre a primeira destilação do álcool, que dura 24 horas. É daí que surge o álcool etílico, que rende por ano maisestrela bet600 litros, usado por Jordans para fazer aguardenteestrela betmel e comercializar por R$ 60 a garrafaestrela betmeio litro - valor cobrado ainda hoje.
Ele ainda usa a mesma aguardente para fazer licoresestrela betcafé e chocolate, o que lhe rende uma renda extra neste mêsestrela betjunho,estrela betmuitos festejos relacionados ao São Joãoestrela bettodo o Nordeste.
O financiamento da Fapesb durou até 2014, mas, apesarestrela betsatisfeito por estar produzindo álcool etílico e faturando mais, Jordans se sentia incomodado por ver que 30% do descarte não estava sendo aproveitado para nada. Ele decidiu continuar as pesquisas por conta própria, fazendo aguardente e estocando o que restava.
Até que,estrela bet2015, teve a ideiaestrela betenviar o produto restante para testes num laboratórioestrela betSalvador, que apontou que o líquido tinha graduação alcoólicaestrela bet80%, próximo às normas da ANP (Agência Nacionalestrela betPetróleo) para o etanol hidratado, utilizadoestrela betveículos - que deve ter 94,5%estrela betálcool.
"Fiz um teste com meu carro e funcionou", disse Jordans, informandoestrela betseguida que notou redução da potência do motor do veículo enquanto rodava.
"Ele perde força, sobretudoestrela betladeiras ou durante ultrapassagens, aí temestrela betpisar mais no acelerador. Com o álcool hidratado, da cana-de-açúcar, o carro faz 7 km com um litro, e com esse meu álcoolestrela betmel chega a 5 km", ele contou.
Por semana, Jordans produz cercaestrela bet50 litrosestrela betetanol, mas não vende nenhum - e nem poderia, porque seu produto não atende às normas da ANP. "Mas o que temestrela betamigo querendo que eu venda não dá nem pra contar. Para usoestrela betveículo, só no meu", declarou.
Mercado potencial
Se estivesse dentro das normas, Jordans até poderia comercializar seu álcool como produtor independente. Isso é permitido pela Resolução Nº 19,estrela bet15estrela betabrilestrela bet2015, da ANP, sobre as regras da produção, comercialização e especificação do etanol hidratado e o anidro, misturado à gasolina.
Mas oapiculto não pensaestrela betproduzir para vender. O objetivo dele, aproveitar todo o descarte do mel, já foi alcançado. O produto, que é uma fonteestrela betenergia limpa, vem sendo utilizado no carro que ele divide com a esposa eestrela betoutros dois da empresa, todos flex.
Durante a greve dos caminhoneiros, enquantoestrela betVitória da Conquista, assim comoestrela betoutras cidades do Brasil, já não havia combustível na maioria dos postos, Jordans "ostentava" 200 litrosestrela betetanolestrela betmelestrela betcasa - e levou parte do estoque às ruas para gravar um vídeo abastecendo seu veículo.
"Nós estamos aqui nesse momentoestrela betcrise no abastecimento, nós também temos essa dificuldade, mas estamos encontrando parcialmente a solução", dizia ele, antesestrela betdespejar 20 litros no tanque. "Dá até para sentir o cheirinhoestrela betmel."
A satisfação maior do apicultor é saber que o mel está sendo todo aproveitado. "É uma responsabilidade ecológica minha não realizar mais o descarte, não quero parar nunca mais com isso", acrescentou.
Aperfeiçoamentos
O etanol que o apicultor produz pode ser melhorado com algumas técnicas não muito difíceis para atender ao nívelestrela betexigência da ANP, no que se refere à graduação alcoólica, informa a engenheira química Sabrina Neves Silva.
"No casoestrela betprocessos físicos, uma redestilação poderia aumentar um pouco o rendimento", ela diz. "Contudo, o mais indicado seria uma destilação azeotrópica, diferente da destilação comum."
Em termos simples, a destilação azeotrópica consisteestrela betadicionar um terceiro componente à mistura álcool/água, que teria mais afinidade química com a água, extraindo esta substância do etanol.
"Jáestrela betprocessosestrela betseparação químicos, seria possível utilizar óxidoestrela betcálcio ou carbonatoestrela betpotássio, por exemplo", completa Sabrina, doutoraestrela betengenharia e professora do curso da Engenhariaestrela betEnergia da Universidade Federal do Pampa, no Rio Grande do Sul.
O engenheiro mecânico Lourenço Gobira Alves, doutorestrela betEngenharia Mecânica e professor e chefe do departamento do mesmo curso na Universidade Federal da Bahia (Ufba), acredita que o etanolestrela betmel funcione bem caso passe, antes, por esse processoestrela betmelhoria.
"Nas condições atuais, provoca redução da potência do motor e opera com maior dificuldadeestrela betcombustão", acrescenta, atestando o que o apicultor já vem sentindo na prática.
Outro problema que Gobira observa no etanolestrela betmel feito atualmente é a porcentagem altaestrela betágua, que faz o carro ter problemas na partida, principalmenteestrela betlocais com baixas temperaturas, como é o casoestrela betVitória da Conquista, conhecida pelo apelidoestrela bet"Suíça baiana", devido ao rigoroso frio.
"Talvez haja dificuldade para dar partida no motor pela manhã", comenta o engenheiro, para quem "uma iniciativa como esta,estrela betproduzir etanol a partir do mel, é muito mais que bem-vinda, temestrela betser explorada e conhecidos os seus limites."
"Quem sabe", reflete Gobira, "não vamos ter o meltanol".