Abolição da escravidãoaposta grátis na betano1888 foi votada pela elite evitando a reforma agrária, diz historiador:aposta grátis na betano

Crédito, The New York Public Library

Legenda da foto, Escravos trabalhamaposta grátis na betanouma plantaçãoaposta grátis na betanocafé no Brasil

Alencastro é hoje professor da Fundação Getúlio Vargas,aposta grátis na betanoSão Paulo. É também professor emérito da universidadeaposta grátis na betanoParis Sorbonne, onde lecionou por 14 anos, e autor do livro O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

aposta grátis na betano BBC Brasil - Como entender que o Brasil tenha sido o último país a abolir a escravidão nas Américas?

aposta grátis na betano Luiz Felipeaposta grátis na betanoAlencastro - O Brasil foi o último porque foi o que mais importou africanos - 46%aposta grátis na betanotodos que foram trazidos coercitivamente para as Américas. Esse volume assombrosoaposta grátis na betanoafricanos que chegou aqui acorrentado era considerado como uma propriedade privada. Isso cria uma dinâmicaaposta grátis na betanoque a propriedade escrava era muito importante. Muita gente tinha escravos. Nas cidades havia gente remediada que tinha um ou dois escravos. Os estudos mostram que a propriedade escrava no Brasil era muito mais difundida que na Jamaica ou no Sul dos Estados Unidos. Assim, muita gente, e não só os fazendeiros, achava que o país ia se arruinar se parasseaposta grátis na betanotrazer africanos. Quase tudo dependia do trabalho escravo e da chegada dos africanos.

O Haiti é um caso limite, porque é primeiro país americano que chega à independência, com uma revolução feita pelos escravos (iniciadaaposta grátis na betano1791). É a única insurreiçãoaposta grátis na betanoescravos que chega ao poder no mundo. Já nos outros paísesaposta grátis na betanovolta do Brasil, a escravidão não era importante. E era importante no Sul dos Estados Unidos.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Qual a diferença do processoaposta grátis na betanoabolição no Brasil e nos Estados Unidos,aposta grátis na betano1863?

aposta grátis na betano Alencastro - No Brasil, a escravidão não era como nos Estados Unidos. Lá, a escravidão era regional, no Sul. No restante do país, havia uma economia agrícola independente e movimentos abolicionistas. Já no Brasil a escravidão era nacional, no país inteiro, e não havia um setor camponês independente. Por isso, o abolicionismo não tinha como cresceraposta grátis na betanoregiões circunvizinhas às zonas escravistas. Como foi nos Estados Unidos? O norte do país, não escravista, elegeu Abraham Lincoln, do partido republicano, e que era contrário à expansão do escravismo nos novos territórios dos EUA e buscava uma solução negociada para extingui-lo nos estados onde ele existia. Isso causou a ruptura dos estados sulistas com a União. Ocorreu então uma guerra civil para acabar com a escravidão, uma guerra sangrenta, que traumatiza até hoje o país. Aqui não existia nenhuma parte do territórioaposta grátis na betanoque a escravidão fosse ilegal. Então, mesmo que houvesse 60 escravos no Amazonas na mãoaposta grátis na betanoalguns senhores, esse grupo fechava com o partido escravocrata no Parlamento. Havia uma espécieaposta grátis na betanounião nacionalaposta grátis na betanotorno do tráfico negreiro e da escravidão.

Crédito, The New York Public Library Digital Collections

Legenda da foto, Fotografiaaposta grátis na betanofamília escrava nos Estados Unidos, data desconhecida

aposta grátis na betano BBC Brasil - Já se disse que as grandes transformações do Brasil ocorreram sem participação popular, pelas mãos da elite política e econômica. A independência, a abolição, a República. Mas isso é verdade para a abolição?

aposta grátis na betano Alencastro - José Bonifácioaposta grátis na betanoAndrada, que era uma espécieaposta grátis na betanoprimeiro-ministro logo depois da independência do Brasil, mandou um projeto para a Assembleia Constituinte, prevendo a abolição progressiva do tráfico e da escravidão. Já naquele momento, a classe dirigente, o corpo da administração imperial tinham perfeita noçãoaposta grátis na betanoque manter o tráficoaposta grátis na betanoescravos criaria um impasse. Porque a Inglaterra deixara claro que só reconheceria a independência se o Brasil acabasse com o tráfico. E o governo inglês, nessa época, tinha uma importância enorme. Era como se fosse a ONU (porque garantia o reconhecimento diplomático internacional), o FMI (porque emprestava dinheiro para o governo) e a OIT (porque vetava a importaçãoaposta grátis na betanoafricanos, mão-de-obra essencial no Brasil) juntos, com uma força naval que desde a batalhaaposta grátis na betanoTrafalgar (1805) mandavaaposta grátis na betanotodos os mares.

Quando a Inglaterra começou a pressionar mais fortemente, os dirigentes brasileiros cederam, prometendo acabar com o tráfico a médio prazo. Em 1831 é votado o fim do tráfico. Porém, sobretudo no Rio, eaposta grátis na betanomenor medida na Bahia e no Recife, se organizam redesaposta grátis na betanocomércio semiclandestinoaposta grátis na betanoescravizados africanos. Sóaposta grátis na betano1850, o comércioaposta grátis na betanoafricanos acabouaposta grátis na betanofato. Acabouaposta grátis na betanouma vez. Caiuaposta grátis na betano60 mil africanos desembarcadosaposta grátis na betano 1849 para 6 milaposta grátis na betano1851. Como? Porque houve um conchavo entre traficantes e governo. Se amanhã acabar o tráficoaposta grátis na betanococaína na Colômbia, não é porque o consumoaposta grátis na betanococaína acabou eaposta grátis na betanoum dia para o outro os policiais ficaram virtuosos.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Que conchavo foi esse?

Os traficantes foram prevenidos antes que o tráfico ia acabar e foram tirando o dinheiro. Houve uma negociação entre a classe dirigente (a administração imperial) e a classe dominante (os fazendeiros, as oligarquias regionais). O governo propôs uma leiaposta grátis na betanoimigração para trazer trabalhadores rurais, uma estradaaposta grátis na betanoferro na região cafeeira - porque o transporte era feitoaposta grátis na betanolomboaposta grátis na betanomula - e a redução das tarifasaposta grátis na betanoexportaçãoaposta grátis na betanocafé.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Depois que o tráfico acabou, qual passou a ser a estratégia do Império?

aposta grátis na betano Alencastro - Quando acaba o tráficoaposta grátis na betanoescravos, acaba a fonte externaaposta grátis na betanoreprodução do sistema escravista. Depois há a Lei do Ventre Livreaposta grátis na betano1871 (que declarou livres os filhosaposta grátis na betanomães escravas que nascessem a partir daquela data). Isso estanca outra fonteaposta grátis na betanoreprodução da escravidão, que é a reprodução demográfica interna. Dessa forma, houve uma estratégia gradualista para acabar com a escravidão.

Este gradualismo se resume nesta ideia: a escravidão acaba quando o último escravo morrer. Essa era a estratégia do Império. Aí ninguém perde dinheiro. Mas surge então o abolicionismo. É um movimento como as Diretas já!: Abolição já! Não tem que esperar até o último escravo morrer para acabar com a escravidão. Vamos abolir já, e sem indenização para os proprietáriosaposta grátis na betanoescravos. Joaquim Nabuco (político abolicionista) afirmou que o Brasil não tinha dinheiro para pagar pelos crimes que cometeu.

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, Luiz Felipeaposta grátis na betanoAlencastro, autoraposta grátis na betano'Trato dos Viventes', é um dos maiores especialistasaposta grátis na betanoescravidão

aposta grátis na betano BBC Brasil - Qual foi a participação do movimento abolicionista? E o povo, participou?

aposta grátis na betano Alencastro - O abolicionismo se acentuou na décadaaposta grátis na betano1880. Há importante liderança negra. Luís Gama, André Rebouças, José do Patrocínio, que se batiam nos tribunais e nos jornais. Esses são os heróis. Também há muita gente anônima que participou. Houve movimentos organizados para dar fuga a escravos, por exemplo. Aquiaposta grátis na betanoSão Paulo, havia o grupo do Antônio Bento, os Caifazes. Havia um grupoaposta grátis na betanoRecife, que ajudava os escravos a fugirem para o Ceará, onde a maioria dos municípios já não tinha mais escravos desde 1884 e onde os escravocratas eram minoritários. Já o Rioaposta grátis na betanoJaneiro era a província onde o escravismo era mais renitente. Em São Paulo, o oeste do Estado já estava apostando na imigração porque havia muita fuga, e a fuga é uma formaaposta grátis na betanorevolta, dos escravos comprados no Nordeste. Essas ações acentuaram a crise do escravismo.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Também se falavaaposta grátis na betanoreforma agrária, dar terras para os ex-escravos.

aposta grátis na betano Alencastro - A reforma agrária não estava na pauta da maioria dos abolicionistas. Foi uma radicalizaçãoaposta grátis na betanouma parte minoritária. André Rebouças, um engenheiro negro com muito prestígio, tinha um programa para criar um imposto territorial sobre as fazendas improdutivas e fundar cooperativasaposta grátis na betanopequenos camponeses. Nabuco, nos anos 1880, foi porta-voz dessas reinvindicações. Mas no final, a ideiaaposta grátis na betanoreforma agrária capotou.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Por quê?

aposta grátis na betano Alencastro - A maior parte do movimento republicano fechou com os latifundiários para trazer imigrantes que trabalhassem nas fazendas e não mexer na propriedade rural. Essa virada dos republicanos jogou Nabuco, Rebouças e outros no escanteio e os fez apoiar a monarquia até o fim. Depois disso, (no livro) Minha Formação (1900), Nabuco renegaaposta grátis na betanojuventude abolicionista e faz uma declaração monarquista que constitui uma das frases mais infames da história da política brasileira: "Tenho convicçãoaposta grátis na betanoque a raça negra por um plebiscito sincero e verdadeiro teria desistidoaposta grátis na betanosua liberdade para poupar o menor desgosto aos que se interessavam por ela, e que no fundo, quando ela pensa na madrugadaaposta grátis na betano15aposta grátis na betanonovembro (data da proclamação da República), lamenta ainda um pouco o seu 13aposta grátis na betanomaio".

Crédito, Museu Afro Brasil

Legenda da foto, André Rebouças defendia dar terras para os escravos que fossem libertos

aposta grátis na betano BBC Brasil - O projetoaposta grátis na betanoreformaaposta grátis na betanoRebouças e Nabuco poderia ter ido para frente?

aposta grátis na betano Alencastro - A relaçãoaposta grátis na betanoforças não era favorável. Não havia um movimento camponês a favor da reforma agrária, ou uma base popular lutando pelo o direito à terra. No final das contas, o Brasil é um dos únicos grandes países agroexportadores que nunca fez reforma agrária.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Além do campo, também havia muita escravidão nas cidades?

aposta grátis na betano Alencastro - Se você somar a proporçãoaposta grátis na betanoescravos do Rio com aaposta grátis na betanoNiterói, você tem uma concentração urbanaaposta grátis na betanoescravos que não existiuaposta grátis na betanonenhum outro lugar no mundo, só no Império Romano. No Brasil, a escravidão também tinha essa característica urbana,aposta grátis na betanouma escala que não ocorreu nas Américas. A escravidão marcava as cidades. Em 1849, o Rio tinha 260 mil habitantes, 110 mil dos quais eram escravos. Isso dá 42% da população.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Como foi o dia seguinte à abolição? O que aconteceu com os escravos que se viram livresaposta grátis na betano13aposta grátis na betanomaioaposta grátis na betano1888, mas sem compensações, sem apoio do Estado para começar uma vida nova?

aposta grátis na betano Alencastro - Na sequência da abolição, a mãoaposta grátis na betanoobra imigrante vai aumentando. Muitos ex-escravos ficam fora do mercadoaposta grátis na betanotrabalho na zona rural e,aposta grátis na betanoparte, nas cidades. Mesmo sendo brasileiros, os ex-escravos não tiveram cidadania plena, porque aaposta grátis na betanoquase totalidade era analfabeta, e o voto do analfabeto foi proibidoaposta grátis na betano1882, ainda no Império. Este ferrolho para excluir os negros livres e os ex-escravos também atingiu os brancos pobres e analfabetos, como é óbvio. Até 1985, quando o voto deles foi permitido.

aposta grátis na betano BBC Brasil - A escravidão foi um processoaposta grátis na betanomuita violência. Essa violência usada contra os negros acabou quando a escravidão chegou ao fim?

aposta grátis na betano Alencastro - A Constituição brasileiraaposta grátis na betano1824, no art. 179, proibiu punir crimes com castigo físico. A partir daquele momento, não se podia mais torturar - a inquisição portuguesa havia institucionalizado a tortura como prova, até a pessoa confessar. Vem então o Código Criminalaposta grátis na betano1830 que especifica no art. 30: se o condenado for escravo ele não vai para a cadeia, a pena é transformadaaposta grátis na betanoaçoite. Isso porque se o escravo fosse para cadeia, causaria uma perdaaposta grátis na betanomão-de-obra e dinheiro para o seu senhor. Assim, o escravo era açoitado publicamente, humilhado, torturado. Depois, semanas depois, quando estivesse reestabelecido (do açoitamento), o escravo voltava a trabalhar. Então, a tortura foi legal no Brasil até 1888, mas só para os escravos. Quando a abolição ocorre, a polícia já estava habituada a bater neles. Neles e nos brancos desfavorecidos. Como no caso do voto do analfabeto citado acima, os mecanismos da repressão escravista contaminam a sociedade inteira.

Crédito, The New York Public Library Digital Collections

Legenda da foto, A tortura era proibida contra brancos; para os escravos, a punição era o açoite

aposta grátis na betano BBC Brasil - aposta grátis na betano Cercaaposta grátis na betano aposta grátis na betano 4,8 milhõesaposta grátis na betanoafricanos aportaram como escravos no Brasil. É muito mais queaposta grátis na betanoqualquer outro lugar no mundo. Nos Estados Unidos, foram menosaposta grátis na betano400 mil. Por que a vindaaposta grátis na betanoescravos para o Brasil foi tão grande?

aposta grátis na betano Alencastro - São vários fatores. Do pontoaposta grátis na betanovista da navegação, há um sistemaaposta grátis na betanocorrentes e ventos que aproxima muito o Brasil da África. A viagemaposta grátis na betanoida e volta para os portos brasileiros era 40% mais curta do que a dos navios saindo das Antilhas ou dos Estados Unidos, os quais enfrentavam turbulências na ida e na volta, quando atravessavam a zona equatorial. O Brasil também tinha mercadorias que eram trocadas por escravos, como tabaco e cachaça. Outro fator importante são as conexões do Brasil com os portos africanos. Quando a Corte portuguesa veio para cá, o Rioaposta grátis na betanoJaneiro se tornou a capital do império português - isso incluía Angola, Moçambique... Também havia bases mercantisaposta grátis na betanointeresse brasileiro lá - muito mais associadas ao Brasil do que a Portugal. Isso os americanos nunca tiveram. O negócio negreiro dos Estados Unidos era muito mais controlado pelos ingleses.

O terceiro fator é o boom do café, que aumentou muito o tráfico negreiro para o Centro-Sul do Brasil. Quem estava financiando issoaposta grátis na betanoúltima instância? O operário e a classe média inglesa, francesa, russa, que estavam tomando café mais frequentemente. O café do Brasil não tinha concorrência. A partiraposta grátis na betano1840, o Brasil vira o maior produtor mundialaposta grátis na betanocafé - e é o maior até hoje. Não foi assim com o ciclo do açúcar, que sofria concorrência das Antilhas.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Os próprios africanos participaram do comércioaposta grátis na betanoescravos, não?

aposta grátis na betano Alencastro - Os africanos desenvolviam comércioaposta grátis na betanoescravos localizado, limitado aos circuitos regionais das zonas econômicas africanas. A articulação desse comércio interno ao comércio Atlântico - que era um dos setores mais dinâmicos da economia mundial, com companhias formadas, com acionistas investindo pesado - criou uma demandaaposta grátis na betanoescravos que exacerbou o tráfico interno africano. Também houve a importaçãoaposta grátis na betanoarmas europeias, dando maior impacto aos conflitos internos, que eram os mecanismosaposta grátis na betanocriação mercantilaposta grátis na betanoescravos. O comércio atlântico negreiro era um comércio totalmente europeu e brasileiro. Nunca houve um navio africano vendendo escravo nos portos das Américas.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Como a escravidão explica o país e a sociedade que o Brasil se tornou?

aposta grátis na betano Alencastro - O tráfico negreiroaposta grátis na betanosi explica muita coisa. Explica a unidade nacional, por exemplo. Quem quisesse se separar do governo do Rioaposta grátis na betanoJaneiro, da Coroa, já sabia por antecipação que ia sofrer pressão da Inglaterra quando ficasse independente e teria que acabar com o tráfico. Quem estava melhor posicionado para moderar a pressão inglesa contra o tráfico transatlânticoaposta grátis na betanoafricanos? O governo do Rioaposta grátis na betanoJaneiro. Uma monarquia que tinha corpo diplomático bem plantado na Europa e era a única representante do sistema monárquico europeu nas Américas. A unidade nacional brasileira é um fenômeno inédito nas Américas. Falava-se a mesma língua. Mas da Patagônia até a Califórnia também se falava a mesma língua, o espanhol, e os quatro vice-reinos espanhóis se fragmentaram virando 19 países.

Mas não é só. O tráfico também explica boa parte da diferença entre o Centro-Sul e o Nordeste do Brasil. O sucesso do primeiro não é porque teve mais espírito comercial. É por causa do café, mas também porque a rede negreira fluminense era mais extensa e mais eficaz na África que a dos negreiros pernambucanos ou baianos. Por isso, o café pode se expandir tanto.

aposta grátis na betano BBC Brasil - 130 anos é pouco tempo, só cercaaposta grátis na betanoquatro gerações. Mesmo assim, parece muito distante. Por que temos a impressãoaposta grátis na betanoque a escravidão é um passado tão longínquo?

aposta grátis na betano Alencastro - Eu conheci genteaposta grátis na betanoGoiás que falava do tempo da escravidão. E há depoimentosaposta grátis na betanoex-escravos colhidos no Paraná, nos anos 1950. Por que parece que é tão longe? Logo depois da abolição o assunto saiuaposta grátis na betanopauta. Salvo para se ensinar que a abolição foi uma generosidade da Coroa, do governo, da redentora princesa Isabel. Daí o motivo do movimento negro ter proposto a troca do 13aposta grátis na betanomaio pelo 20aposta grátis na betanonovembro (Dia da Consciência Negra), da princesa Isabel por Zumbi - numa luta política significativa. E depois veio também a imigração, criou-se uma outra história popular que não deixava muito espaço para a história dos afro-brasileiros.

aposta grátis na betano BBC Brasil - A abolição foi uma farsa?

aposta grátis na betano Alencastro - A abolição teve limites. Mas ela ocorreu, não foi farsa. Seria como dizer que a República foi uma farsa, que não acabou com a monarquia. A abolição acabou com a aberração gerada por um quadro institucional e legal que permitia uma pessoa ter como propriedade outra pessoa e seus descendentes,aposta grátis na betanomaneira perpétua. A abolição também não foi uma benevolência da princesa ou do governo. A monarquia já estava caindo, fez uma última manobra e caiu ao tentar captar a plataforma abolicionista para enfraquecer o movimento republicano

Crédito, The New York Public Library Digital Collections

Legenda da foto, 4,8 milhõesaposta grátis na betanoafricanos foram transportados para o Brasil e vendidos como escravos, ao longoaposta grátis na betanomaisaposta grátis na betanotrês séculos

aposta grátis na betano BBC Brasil - O senhor é defensor das cotas...

aposta grátis na betano Alencastro - O meu argumento das cotas é que elas são fundamentais para os negros, para os índios e para os pobres e os brasileirosaposta grátis na betanogeral. São elas que vão consolidar a democracia plena no Brasil, com acesso à educação e ao trabalho.

aposta grátis na betano BBC Brasil - Há quem defenda cotas por renda, não por cor...

aposta grátis na betano Alencastro - A cota social apareceu como um argumento substitutivo dos que não queriam apoiar a cota racial. Ninguém falavaaposta grátis na betanocota social no Brasil antes do movimento negro levantar a bandeira da política afirmativa racial - a favor dos negros e também dos índios, é importante lembrar. Trata-seaposta grátis na betanouma política baseada nas estatísticas étnicas dos Estados. Na região amazônica a proporçãoaposta grátis na betanojovensaposta grátis na betanoorigem indígena é importante, e as cotas favoreceram a entrada deles nas universidades federais.

O Supremo Tribunal Federal votou unanimemente pela constitucionalidade das cotas,aposta grátis na betano2012. Raras decisões do Supremo são unânimes. Juridicamente, a situação estava definida: os negros não sofrem descriminação legal, mas há mecanismos informais que os descriminam e desqualificamaposta grátis na betanoforma óbvia.

O censoaposta grátis na betano2010 mostrou que a maioria da população é negra. Esse dado deve ser bem observado pela maioria dos progressistas e por setores do movimento negro que consideram a política afirmativa como um instrumentoaposta grátis na betanofavor da diversidade. É muito mais do que isso. É um instrumentoaposta grátis na betanofavor da democracia, do funcionamento do Estado, que favorece o país inteiro. Achar que ela garante a diversidade é considerar que os negros são uma minoria, como nos Estados Unidos. Mas no Brasil eles são a maioria.

aposta grátis na betano BBC Brasil - O senhor também defende o ensinoaposta grátis na betanohistória da África nas escolas.

aposta grátis na betano Alencastro - A maioria das pessoas que chegaram aqui são africanos. É esse o dado que os professores têm que daraposta grátis na betanoreuniãoaposta grátis na betanopais e mestres, quando perguntam por que perder tempo com história da África. Ora, porque a África é mais importante para a formação do povo brasileiro do que a Ásia e boa parte da Europa e das Américas.