A jornadafootball studio bet7kuma boliviana, do trabalho escravo à ocupaçãofootball studio bet7kSão Paulo:football studio bet7k

Boliviana Virginia Paulina

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, A boliviana Virginia Paulina,football studio bet7k38 anos, foi morarfootball studio bet7kuma ocupação depoisfootball studio bet7kser despejadafootball studio bet7kum apartamento

Na ocupação Prestes Maia, onde a boliviana Virginia mora, há estrangeirosfootball studio bet7kquase todos os andares. São 21 pavimentosfootball studio bet7kum prédio e novefootball studio bet7koutro, acessados apenas por escadas pois não há elevadores. O local tem 470 famílias - cercafootball studio bet7k2 mil moradores.

Virginia encara a ocupação como um refúgio, um local onde encontrou certa calma depois das agrurasfootball studio bet7kuma imigrante bolivianafootball studio bet7kSão Paulo.

Ela chegou ao Brasilfootball studio bet7k2001, quando tinha apenas 21 anos. "Era uma época difícil na Bolívia", conta. Deixou La Paz com a promessafootball studio bet7kque,football studio bet7kSão Paulo, trabalharia como empregada doméstica. Porém, a esperança caiu por terra quando, no primeiro dia na cidade, descobriu que ficaria presafootball studio bet7kuma oficinafootball studio bet7kcostura na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte.

Foi escrava por um ano, trabalhando sem receber salário e sem poder sair do local.

"O chefe da oficina me ameaçava, não deixava eu sair. Como eu não tinha visto, ele dizia que a Polícia Federal estava caçando bolivianos e que eu seria presa", conta, enquantofootball studio bet7kfilhafootball studio bet7kquatro anos pinta um desenhofootball studio bet7kum livro didático.

Virginia e seu marido tiveramfootball studio bet7kfugir da trabalho e da escravidão. Por anos, eles vagaram entre confecções da cidade, até abrir uma pequena oficinafootball studio bet7kcosturafootball studio bet7kum apartamento do Bom Retiro. Ficaram dois anos, mas o preço do aluguel era impraticável. "Ou a gente comia ou pagava o aluguel", diz Virginia.

Foram despejados.

Ocupação Prestes Maia

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, Na ocupação Prestes Maia, no centrofootball studio bet7kSão Paulo, vivem cercafootball studio bet7k2.000 pessoas

Burocracias do aluguel

Segundo Marcelo Haydu, coordenador do Institutofootball studio bet7kReintegração do Refugiado, o preço alto do aluguel na cidade é um dos principais fatores que têm levado estrangeiros para ocupações.

Em São Paulo, o valor médio por metro quadrado éfootball studio bet7kR$ 35,86 para locação,football studio bet7kacordo com o índice FipeZap. Isso significa que, para alugar uma casafootball studio bet7k30 m², por exemplo, seria preciso desembolsar R$ 1.075 por mês,football studio bet7kmédia.

Haydu cita outro fator: para locar um espaço, imobiliárias exigem fiador, seguro ou depósito antecipado. "Como um imigrante que chega no paísfootball studio bet7ksituaçãofootball studio bet7kvulnerabilidade consegue ultrapassar essa burocracia? Ele chega às vezes sem falar uma palavrafootball studio bet7kportuguês, com pouco dinheiro no bolso, sem documentos. Conseguir fiador já é difícil para brasileiros, imagina para eles", diz.

O resultado é que muitos estrangeiros acabam se instalandofootball studio bet7kocupações oufootball studio bet7kbairros da periferia da cidade, como Guaianases e Itaquera, no extremo leste. Nesses locais, eles negociam o aluguel diretamente com o proprietário, que normalmente não faz as mesmas exigências das imobiliárias da região central.

Casa ou comida

Virginia foi morar na ocupação Prestes Maia depois do despejo. Ali, seus custos são menores.

Situação parecida viveu o costureiro boliviano Adolfo Marma,football studio bet7k48 anos, que também trabalhoufootball studio bet7ksituaçãofootball studio bet7kescravidão antesfootball studio bet7kchegar ao prédiofootball studio bet7ksem-teto no centro. "Nossa renda éfootball studio bet7kR$ 1.400. Se você paga um aluguelfootball studio bet7kR$ 1.000, não sobra quase nada para comer", diz.

O costureiro boliviano Adolfo Marmafootball studio bet7kseu quarto na ocupação Prestes Maia

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, O costureiro boliviano Adolfo Marma tem renda familiarfootball studio bet7kR$ 1.400; ele diz que não consegue pagar aluguel fora da ocupação

A ocupação Prestes Maia é gerenciada pelo Movimentofootball studio bet7kMoradia Luta por Justiça (MMLJ), que cobra R$ 105 por família - o valor foi confirmado à BBC Brasil por outros moradores.

Em outras ocupações, sem-teto pagam até R$ 400 mensais por uma vaga. Movimentosfootball studio bet7kmoradia dizem que o valor não se tratafootball studio bet7kaluguel, mas simfootball studio bet7kuma taxa que banca manutenção do edifício, limpeza e despesas com advogados.

Nesta quinta, a Polícia Civil afirmou que vai investigar a "cobrançafootball studio bet7kaluguel" por movimentos sociaisfootball studio bet7kmoradia.

"Há movimentos que são sérios, e que usam esse valorfootball studio bet7kforma correta. Mas há outros que realmente exploram os imigrantes, cobrando taxa sem dar nenhum retorno. É preciso separar quem é sériofootball studio bet7kquem não é", diz Haydu.

'Luta por moradia'

No 14º andar da ocupação da Prestes Maia, vive a famíliafootball studio bet7kAngela (nome fictício), peruanafootball studio bet7k50 anos. Ela e o marido vendem artesanato no centrofootball studio bet7kSão Paulo.

Quando procuraram alugar uma casa, empacaramfootball studio bet7kuma barreira inesperada: os locatários não aceitavam alugar um espaço para um casal com duas crianças pequenas.

"É muito estranho: dizem que seus filhos vão estragar a casa, vão fazer barulho, dão um montefootball studio bet7kdesculpas. Eu só conseguiria se pagasse mais caro", conta. Pagar maisfootball studio bet7kR$ 1.000football studio bet7kaluguel estava forafootball studio bet7kcogitação para uma família com uma renda mensalfootball studio bet7kR$ 1.500, "nos meses bons", diz Angela. Preferiram a ocupação.

Mulher na ocupação Prestes Maia, centrofootball studio bet7kSP

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, Na ocupação Prestes Maia, moradores pagam R$ 105 por uma vaga no edifício

"A situação dos imigrantes é muito parecida com a dos brasileiros que vão para ocupações. Eles não têm emprego formal e ganham pouco fazendo bicos. Com renda baixíssima, não conseguem acessar o mercado legalfootball studio bet7kaluguéis, que exige dinheiro e uma sériefootball studio bet7kburocracias", explica Diana Thomaz, doutoranda na universidade canadense Wilfrid Laurier.

Thomaz passou seis mesesfootball studio bet7kSão Paulo, pesquisando os motivos que levam refugiados e imigrantesfootball studio bet7kalta vulnerabilidade social a ocupações sem-teto.

Segudo ela, os estrangeiros chegam aos prédios sem entender do que é um movimento por moradia. "Eles querem apenas um local para ficar. Há alguns grupos que explicam didaticamente o que siginifica o movimento, mas nem todos os estrangeiros aderem à lutafootball studio bet7kforma assídua", explica.

Antesfootball studio bet7kentrar na ocupação Prestes Maia, todo morador passa por um "grupofootball studio bet7kformação" para entender como funciona o movimento. O MMLJ diz que a filafootball studio bet7kespera por uma vaga éfootball studio bet7kquatro meses.

Corredor na ocupação Prestes Maia

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, Moradores passam por "grupofootball studio bet7kformação" antesfootball studio bet7kentrar na ocupação Prestes Maia

Déficit habitacional

Segundo a prefeitura, São Paulo tem um déficit habitacionalfootball studio bet7k358 mil moradias. Famílias chegam a esperar décadas por uma unidade social.

Dados da prefeitura apontam que 46 mil pessoas moram nas 206 ocupações na cidade.

A prefeitura diz que apoia imigrantes, com emissãofootball studio bet7kdocumentos e vagasfootball studio bet7kabrigos. Eles também têm direito à auxílio-moradiafootball studio bet7kR$ 400, caso se encaixem nos critérios do benefício, como renda e situaçãofootball studio bet7kvulnerabilidade.

Segundo Fernando Chucre, secretário municipalfootball studio bet7kHabitação, as famílias estrangeiras do edifício Wilton Paesfootball studio bet7kAlmeida foram cadastradas e estão recebendo atendimento da prefeitura.

Família distante

Uma das 70 ocupações do centrofootball studio bet7kSão Paulo, na rua Cesário Motta Júnior, é quase integralmente formada por imigrantes africanos e haitianos.

Na porta, o angolano Alexandre Kikos,football studio bet7k38 anos, conta à BBC Brasil por que resolveu morar no local. "Eu pagava R$ 750 por uma casafootball studio bet7kItaquera. Era um preço muito alto, ainda mais depois que perdi o emprego", diz ele, que trabalhava como auxiliarfootball studio bet7kuma empresafootball studio bet7ktransportes.

Desempregado, Kikos hoje atua como porteiro da ocupação. Ele interrompe a entrevista para mandar uma mensagem parafootball studio bet7kmulher. "Ela ficoufootball studio bet7kAngola, junto com minhas duas filhas. Eu mandava dinheiro para elas, mas hoje não consigo mais", diz.

Faz dois anos que ele não vê a família.