A jornadaannabelle very scaryuma boliviana, do trabalho escravo à ocupaçãoannabelle very scarySão Paulo:annabelle very scary
Na ocupação Prestes Maia, onde a boliviana Virginia mora, há estrangeirosannabelle very scaryquase todos os andares. São 21 pavimentosannabelle very scaryum prédio e noveannabelle very scaryoutro, acessados apenas por escadas pois não há elevadores. O local tem 470 famílias - cercaannabelle very scary2 mil moradores.
Virginia encara a ocupação como um refúgio, um local onde encontrou certa calma depois das agrurasannabelle very scaryuma imigrante bolivianaannabelle very scarySão Paulo.
Ela chegou ao Brasilannabelle very scary2001, quando tinha apenas 21 anos. "Era uma época difícil na Bolívia", conta. Deixou La Paz com a promessaannabelle very scaryque,annabelle very scarySão Paulo, trabalharia como empregada doméstica. Porém, a esperança caiu por terra quando, no primeiro dia na cidade, descobriu que ficaria presaannabelle very scaryuma oficinaannabelle very scarycostura na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte.
Foi escrava por um ano, trabalhando sem receber salário e sem poder sair do local.
"O chefe da oficina me ameaçava, não deixava eu sair. Como eu não tinha visto, ele dizia que a Polícia Federal estava caçando bolivianos e que eu seria presa", conta, enquantoannabelle very scaryfilhaannabelle very scaryquatro anos pinta um desenhoannabelle very scaryum livro didático.
Virginia e seu marido tiveramannabelle very scaryfugir da trabalho e da escravidão. Por anos, eles vagaram entre confecções da cidade, até abrir uma pequena oficinaannabelle very scarycosturaannabelle very scaryum apartamento do Bom Retiro. Ficaram dois anos, mas o preço do aluguel era impraticável. "Ou a gente comia ou pagava o aluguel", diz Virginia.
Foram despejados.
Burocracias do aluguel
Segundo Marcelo Haydu, coordenador do Institutoannabelle very scaryReintegração do Refugiado, o preço alto do aluguel na cidade é um dos principais fatores que têm levado estrangeiros para ocupações.
Em São Paulo, o valor médio por metro quadrado éannabelle very scaryR$ 35,86 para locação,annabelle very scaryacordo com o índice FipeZap. Isso significa que, para alugar uma casaannabelle very scary30 m², por exemplo, seria preciso desembolsar R$ 1.075 por mês,annabelle very scarymédia.
Haydu cita outro fator: para locar um espaço, imobiliárias exigem fiador, seguro ou depósito antecipado. "Como um imigrante que chega no paísannabelle very scarysituaçãoannabelle very scaryvulnerabilidade consegue ultrapassar essa burocracia? Ele chega às vezes sem falar uma palavraannabelle very scaryportuguês, com pouco dinheiro no bolso, sem documentos. Conseguir fiador já é difícil para brasileiros, imagina para eles", diz.
O resultado é que muitos estrangeiros acabam se instalandoannabelle very scaryocupações ouannabelle very scarybairros da periferia da cidade, como Guaianases e Itaquera, no extremo leste. Nesses locais, eles negociam o aluguel diretamente com o proprietário, que normalmente não faz as mesmas exigências das imobiliárias da região central.
Casa ou comida
Virginia foi morar na ocupação Prestes Maia depois do despejo. Ali, seus custos são menores.
Situação parecida viveu o costureiro boliviano Adolfo Marma,annabelle very scary48 anos, que também trabalhouannabelle very scarysituaçãoannabelle very scaryescravidão antesannabelle very scarychegar ao prédioannabelle very scarysem-teto no centro. "Nossa renda éannabelle very scaryR$ 1.400. Se você paga um aluguelannabelle very scaryR$ 1.000, não sobra quase nada para comer", diz.
A ocupação Prestes Maia é gerenciada pelo Movimentoannabelle very scaryMoradia Luta por Justiça (MMLJ), que cobra R$ 105 por família - o valor foi confirmado à BBC Brasil por outros moradores.
Em outras ocupações, sem-teto pagam até R$ 400 mensais por uma vaga. Movimentosannabelle very scarymoradia dizem que o valor não se trataannabelle very scaryaluguel, mas simannabelle very scaryuma taxa que banca manutenção do edifício, limpeza e despesas com advogados.
Nesta quinta, a Polícia Civil afirmou que vai investigar a "cobrançaannabelle very scaryaluguel" por movimentos sociaisannabelle very scarymoradia.
"Há movimentos que são sérios, e que usam esse valorannabelle very scaryforma correta. Mas há outros que realmente exploram os imigrantes, cobrando taxa sem dar nenhum retorno. É preciso separar quem é sérioannabelle very scaryquem não é", diz Haydu.
'Luta por moradia'
No 14º andar da ocupação da Prestes Maia, vive a famíliaannabelle very scaryAngela (nome fictício), peruanaannabelle very scary50 anos. Ela e o marido vendem artesanato no centroannabelle very scarySão Paulo.
Quando procuraram alugar uma casa, empacaramannabelle very scaryuma barreira inesperada: os locatários não aceitavam alugar um espaço para um casal com duas crianças pequenas.
"É muito estranho: dizem que seus filhos vão estragar a casa, vão fazer barulho, dão um monteannabelle very scarydesculpas. Eu só conseguiria se pagasse mais caro", conta. Pagar maisannabelle very scaryR$ 1.000annabelle very scaryaluguel estava foraannabelle very scarycogitação para uma família com uma renda mensalannabelle very scaryR$ 1.500, "nos meses bons", diz Angela. Preferiram a ocupação.
"A situação dos imigrantes é muito parecida com a dos brasileiros que vão para ocupações. Eles não têm emprego formal e ganham pouco fazendo bicos. Com renda baixíssima, não conseguem acessar o mercado legalannabelle very scaryaluguéis, que exige dinheiro e uma sérieannabelle very scaryburocracias", explica Diana Thomaz, doutoranda na universidade canadense Wilfrid Laurier.
Thomaz passou seis mesesannabelle very scarySão Paulo, pesquisando os motivos que levam refugiados e imigrantesannabelle very scaryalta vulnerabilidade social a ocupações sem-teto.
Segudo ela, os estrangeiros chegam aos prédios sem entender do que é um movimento por moradia. "Eles querem apenas um local para ficar. Há alguns grupos que explicam didaticamente o que siginifica o movimento, mas nem todos os estrangeiros aderem à lutaannabelle very scaryforma assídua", explica.
Antesannabelle very scaryentrar na ocupação Prestes Maia, todo morador passa por um "grupoannabelle very scaryformação" para entender como funciona o movimento. O MMLJ diz que a filaannabelle very scaryespera por uma vaga éannabelle very scaryquatro meses.
Déficit habitacional
Segundo a prefeitura, São Paulo tem um déficit habitacionalannabelle very scary358 mil moradias. Famílias chegam a esperar décadas por uma unidade social.
Dados da prefeitura apontam que 46 mil pessoas moram nas 206 ocupações na cidade.
A prefeitura diz que apoia imigrantes, com emissãoannabelle very scarydocumentos e vagasannabelle very scaryabrigos. Eles também têm direito à auxílio-moradiaannabelle very scaryR$ 400, caso se encaixem nos critérios do benefício, como renda e situaçãoannabelle very scaryvulnerabilidade.
Segundo Fernando Chucre, secretário municipalannabelle very scaryHabitação, as famílias estrangeiras do edifício Wilton Paesannabelle very scaryAlmeida foram cadastradas e estão recebendo atendimento da prefeitura.
Família distante
Uma das 70 ocupações do centroannabelle very scarySão Paulo, na rua Cesário Motta Júnior, é quase integralmente formada por imigrantes africanos e haitianos.
Na porta, o angolano Alexandre Kikos,annabelle very scary38 anos, conta à BBC Brasil por que resolveu morar no local. "Eu pagava R$ 750 por uma casaannabelle very scaryItaquera. Era um preço muito alto, ainda mais depois que perdi o emprego", diz ele, que trabalhava como auxiliarannabelle very scaryuma empresaannabelle very scarytransportes.
Desempregado, Kikos hoje atua como porteiro da ocupação. Ele interrompe a entrevista para mandar uma mensagem paraannabelle very scarymulher. "Ela ficouannabelle very scaryAngola, junto com minhas duas filhas. Eu mandava dinheiro para elas, mas hoje não consigo mais", diz.
Faz dois anos que ele não vê a família.