De luxo modernista a ocupação precária: a históriabetano vmaisbetano vmeio século do prédio que desaboubetano vSão Paulo:betano v
Para o arquiteto Francesco Perrota-Bosch, o desabamento do Wilton Paesbetano vAlmeida também é uma "tragédia arquitetônica".
"Ele era um ponto fora da curva na arquitetura, era um prédiobetano vvanguarda. Era um projeto com muita influência do minimalismo do Mies van der Rohe (arquiteto alemão) embetano vfase americana. Mas a principal referência era o edifício Lever House,betano vNova York, do escritório SOM (Skidmore, Owings e Merrill)", diz ele à BBC. "A fachadabetano vvidro dele marcou uma época, precisou ser importada porque não era feita no Brasil."
Era justamente essa fachadabetano vvidro que fazia a ocupação do edifício por pessoas sem moradia ser diferente das outras pela cidade, segundo o arquiteto Gustavo Cedroni, do escritório Metro, que fez um projetobetano vintervenção urbana no Largo do Paissandu,betano v2014.
"Normalmente, os prédios ocupados têm janelas pequenas e são fechados, você não vê o que acontece. Ali, não. Justamente por ser envidraçado, era possível ver a ocupação lá dentro. Era um prédio icônico, numa esquina importante do centro da cidade", diz ele à BBC Brasil.
A arquiteta Nadia Somekh, professora emérita da Faculdadebetano vArquitetura e Urbanismo Mackenzie e integrante do Conselhobetano vArquitetura e Urbanismo do Brasil, afirma que o desabamento do Wilton Paesbetano vAlmeida é uma "perda enorme" para o patrimônio históricobetano vSão Paulo. "Fora a tragédia como um todo, o prédio era um marco da arquitetura modernistabetano vSão Paulo", diz ela. "É preciso pensarbetano vuma política habitacional mais consistente para a cidade e que preserve o nosso patrimônio histórico. É simbólico que este edifício venha abaixo justo no 1ºbetano vmaio, com essa desvalorização do trabalho no país."
Uma reportagem da Folhabetano vS. Paulobetano vjaneirobetano v2017 dizia que o Edifício Wilton Paesbetano vAlmeida foi a leilãobetano v2015, no valorbetano vR$ 21,5 milhões, mas não houve interessados.
O local abrigou durante 23 anos a sede da Polícia Federalbetano vSão Paulo e, até 2009, uma agência do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Aindabetano vacordo com a Folha,betano v2012, a Secretariabetano vPatrimônio da União cedeu o prédio para a Unifesp, que instalaria ali o Institutobetano vCiências Jurídicas. Mas o projeto não vingou, assim como outro que pretendia transformar o localbetano vum polo culturalbetano vparceria com o Sesc (Serviço Social do Comércio).
Igreja luterana destruída
Ao lado do edifício funcionava uma centenária igreja luterana, a Martin Luther, que também era tombada.
O pastor Frederico Ludwig, 61, há 20 anos à frente da igreja fundada por imigrantes alemães, diz que ela ficou 80% destruída. "Sobrou praticamente só o altar e a torre", afirma ele à BBC Brasil.
Ludwig conta que a igreja havia sido reformada recentemente,betano vobra com custo totalbetano vR$ 1,3 milhão.
"O prédio estava inclinado havia pelo menos 20 anos, quase um metro pra frente. A gente chamou as autoridades várias vezes e não deubetano vnada. Agora estamos assim, vamos recolher os escombros. As pessoas da ocupação eram pessoas boas - claro que tem um ou outro que não, mas a maioria era. Nós fazemos trabalho com pessoasbetano vsituaçãobetano vrua e eles vinham à igreja", diz o pastor. "Não questionamos a invasão, mas as condiçõesbetano vque as pessoas viviam. Tinha esgoto a céu aberto e no verão era enxamebetano vmosquito."
Do glamour à degradação
Em 2015, o repórter da BBC Brasil Felipe Souza esteve no Wilton Paesbetano vAlmeida para fazer uma reportagem para a Folhabetano vS. Paulo. Em seu relato, ficam registrados recados na parede, um entra e sai constantebetano vpessoas e, apesarbetano vum segurança na porta, nenhuma dificuldade para entrar e circular pelo edifício.
"Na época, subi os 24 andares do prédio sem ser identificado, como se tivesse interessadobetano vmorar no local."
Ele conta que o cartaz mais evidente na entrada listava uma sériebetano vregrasbetano vconvivência, como a proibição do usobetano vbebidas alcoólicas e drogas dentro do prédio. Naquele ano, cada morador pagava entre R$ 150 a R$ 200 por mês para morar na ocupação. Os líderes do movimento diziam que a taxa servia para fazer a manutenção e limpeza do prédio. Os valores mais recentes ficavambetano vtornobetano vR$ 400.
"Apesar da taxa, todos os andares eram ocupados por lixo produzido pelos moradores e entulho deixado durante a desocupação da Previdência. Era possível encontrar roupas, preservativos, seringas, embalagens plásticas e muitos móveis amontoados pelos andares. Havia vazamentos nas tubulaçõesbetano vágua e as paredes e janelas tinham pichações."
Cada piso era habitado por maisbetano vdez famílias e tinha uma rotatividade muito alta, segundo o repórter. "As pessoas não pagam ou fazem muita bagunça e a gente pede para que elas saiam", disse a ele uma das administradoras do local naquele ano.
"Ainda assim, a maior parte dos banheiros estava alagada e com as paredes completamente mofadas. Ratos, baratas e aranhas eram vistos com frequência. A fiação, assim comobetano vtodo o prédio era exposta devido às ligações clandestinas feitas pelos moradores", conta Souza. Segundo os moradores contaram ao jornalista, a energia era desviadabetano vsemáforos da região. Havia tantos moradores que alguns aproveitavam para oferecer serviços, como cabeleireiros, manicure e vendabetano vgeladinho.
Entre os moradores, também havia taxistas, vendedores, garotasbetano vprograma e motoboys. Ao serem questionados, eles contavam diferentes motivos para morar na ocupação, como a proximidade com o trabalho e alternativa a morar nas ruas. Mas era unânime o relatobetano vque nenhum deles tinha condiçõesbetano vpagar um aluguel.