A trajetória do PSB, o partido que quer lançar Joaquim Barbosa à Presidência:roleta geração midas
Quais origens? De onde veio o PSB?
Existem dois PSBs na história.
O primeiro partido surgiuroleta geração midas1932, no Rioroleta geração midasJaneiro. Era formado por delegados, interventores federais, integralistas e tenentistas - movimento político-militar que provocou uma sérieroleta geração midasrebeliões diante da situação política do país na décadaroleta geração midas1920.
Esse PSB ficou conhecido por pregar um "socialismo róseo", pois acreditava num convívio harmônico e conciliatório entre empregados e patrões. Seu programa trazia demandas trabalhistas que só viriam a ser consolidadas depois, como a jornada máximaroleta geração midastrabalhoroleta geração midasoito horas e a implementação da Justiça trabalhista gratuita.
Esse partido não durou muito. Foi extintoroleta geração midas1937, com a promulgação do Estado Novo pelo ditador Getúlio Vargas (1982-1954).
Além do nome, o PSB que surgiu uma década depois, pouco tinha a ver com o primeiro. Ele nasceu da Esquerda Democrática, uma ala autônoma da União Democrática Nacional (UDN), partido fundadoroleta geração midas1945 no bojo da abertura política promovida no fim da ditaduraroleta geração midasGetúlio Vargas.
A Esquerda Democrática tinharoleta geração midassuas fileiras intelectuais como Gilberto Freyre, João Mangabeira, Sérgio Milliet, Antonio Candido e Paulo Emílio Sales Gomes, todos simpatizantes do socialismo.
"O programa da Esquerda Democrática insistia na necessidaderoleta geração midasmudanças na estrutura agrária e na melhoria 'das condiçõesroleta geração midasvida das classes médias e pobres', na proteção aos pequenos comerciantes e agricultores e na supressãoroleta geração midasimpostos aos gênerosroleta geração midasprimeira necessidade'", escreve Maria Victoria Benevides, socióloga e professora da USP,roleta geração midastexto publicado pelo Centroroleta geração midasPesquisa e Documentaçãoroleta geração midasHistória Contemporânea da Fundação Getúlio Vargas.
"As propostasroleta geração midaspolítica salarial eram nitidamente progressistasroleta geração midasrelação à política oficial, pois pregavam não apenas o salário mínimo para o trabalhador, mas o 'salário mínimo justo, capazroleta geração midasassegurar ao trabalhador aroleta geração midasmanutenção eroleta geração midassua família e a educaçãoroleta geração midasseus filhos'", diz Benevides.
Emroleta geração midassegunda convenção,roleta geração midasagostoroleta geração midas1947, a frente decide se separar da UDN e se transformar num partido, o PSB.
"Nos anos 1950, o partido era formado principalmente por ex-trotskistas críticos ao modelo soviéticoroleta geração midasStálin, o que era um taburoleta geração midasparte da esquerda brasileira da época", explica o historiador Herbert Anjos, autor do livro Socialismo e Liberdade - Uma História do PSB.
Segundo ele, nesse período, a sigla não conseguiu se transformarroleta geração midasum "partidoroleta geração midasmassa", poisroleta geração midasatuação ficava restrita a uma classe média mais progressista e intelectual. Junto à classe trabalhadora, o PSB acabou ofuscado pelo PCB (comunista) e o PTB, que herdou o trabalhismoroleta geração midasVargas.
"A nossa grande diferença para o restante da esquerda da época é que nosso partido sempre acreditou no socialismo democrático, um socialismo que vem por meio da democracia e não pela tomada do poder", diz Carlos Siqueira, presidente do PSB.
Já nos anos 1960, os socialistas se aproximaram do então presidente João Goulart (PTB) eroleta geração midassuas propostasroleta geração midasreformasroleta geração midasbase, como a agrária. Em outubroroleta geração midas1965, um ano após o golpe militar que implantou uma nova ditadura, o PSB acabou extinto pelo Ato Institucional 2, que dissolveu todos os partidos, com exceção da governista Arena e do MDB,roleta geração midasoposição moderada.
O que restou do PSB se dividiu entre o MDB e a luta armada, segundo o historiador Herbert Anjos.
Vinte anos depois e com o fim do regime militar,roleta geração midas1985, o PSB ressurgiu pelas mãosroleta geração midaspolíticosroleta geração midasesquerda, como Roberto Amaral e Jamil Haddad, eroleta geração midasintelectuais, como o filólogo Antônio Houaiss e o escritor Rubem Braga.
Na época, Houaiss, que depois virou presidente da sigla, definiu o que seria o PSB dali para frente: "Um partidoroleta geração midasmassas, que afastava o elitismo e a imagem ligada a intelectuais, mas que também retomaria ideais da experiência anterior com uma ideologia mais nítida". A ideia era ocupar um espaço entre a esquerda e o centro - algo entre o PT, tido mais à esquerda, e o PMDB da época, ao centro.
O fator Arraes
Até hoje, o PSB é fortemente identificado com a famíliaroleta geração midasMiguel Arraes (1985-2005), avôroleta geração midasEduardo Campos. Porém, Arraes entrou no partido apenasroleta geração midas1990, quando já havia sido governadorroleta geração midasPernambuco, cassado e exilado pela ditadura militar como um "esquerdista".
O pernambucano deu um empurrão na trajetória do PSB, poisroleta geração midasinfluência no Nordeste ajudou a eleger prefeitos, deputados e governadores. Seu peso foi tamanho que o PSB ficou com famaroleta geração midaspartido que só se dava bem na região e não conseguia deslanchar no resto do país.
"O partido tinha essa imagemroleta geração midas'nordestinizado', porque o Arraes fez muitas coisas boas no sertãoroleta geração midasPernambuco, como levar água, poço artesiano, energia elétrica", diz o deputado federal Júlio Delgado, líder do PSB na Câmara.
O partido fez oposição ao governoroleta geração midasFernando Henrique Cardoso e participouroleta geração midasduas chapasroleta geração midasLula à Presidência, emplacando José Paulo Bisol como candidato a vice -roleta geração midas1994, o deputado gaúcho deixou a campanha após denúnciasroleta geração midasusoroleta geração midasemendas parlamentares para benefícioroleta geração midasseu reduto político.
Arraes apoiou Lula nas duas ocasiões.
Em 2002, quando o petista finalmente venceu, o PSB chegouroleta geração midasterceiro lugar com Anthony Garotinho, tendo 18% dos votos (15 milhõesroleta geração midaseleitores).
Nos anos seguintes, o PSB orbitou as gestões petistas, ocupando vários ministérios. Eduardo Campos, por exemplo, foi ministro da Ciência e Tecnologia por maisroleta geração midasdois anos.
O fator Eduardo Campos
Miguel Arraes costumava dizer que não gostaria que seus filhos entrassem na política. Seu neto, no entanto, acabou sendo visto como seu sucessor político.
Eleito governadorroleta geração midasPernambucoroleta geração midas2007, Campos conseguiu se destacar ao levar uma sérieroleta geração midasobras para o Estado, como o Portoroleta geração midasSuape. Ele era próximoroleta geração midasLula, o que lhe garantiu financiamento para seus projetos. Em 2013, ao finalroleta geração midasseu segundo mandato, Campos tinha 53%roleta geração midasaprovação dos pernambucanos, o maior índice entre os governadores do país.
Por outro lado, foi citado pela Polícia Federal como suspeitoroleta geração midaster recebido propina da Odebrecht. Seu sucessor e herdeiro políticoroleta geração midasPernambuco, o atual governador Paulo Câmara, também do PSB, é investigado no STF no âmbito da Operação Lava Jato. Ele nega irregularidades. Geraldo Júlio, outra criaroleta geração midasCampos e prefeito do Recife, também foi citadoroleta geração midasdelações.
A influênciaroleta geração midasEduardo Camposroleta geração midasPernambuco criou o que o cientista político Adriano Oliveira, professor da Universidade Federalroleta geração midasPernambuco, chamouroleta geração midas"eduardismo"roleta geração midasentrevista recente à BBC Brasil: Campos tinha eleitoresroleta geração midastodas as faixas sociais no Estado, era carismático e tinha capacidaderoleta geração midasaglutinar pessoasroleta geração midasvárias vertentes, tanto que elegeu seu sucessor mesmo depois do acidente que o matou.
Desde 2000, o PSB parecia estar a caminhoroleta geração midasse tornar um dos partidos mais importantes do país, poisroleta geração midasforça eleitoral vinha crescendo continuamente. Em 2000, o partido elegeu 133 prefeitos, a maior parteroleta geração midasPernambuco. Nas eleições seguintes, o número subiu para 174. Em 2008, novo aumento, para 310. Finalmente,roleta geração midas2012, 440 prefeitos eleitos.
As eleiçõesroleta geração midas2012 marcam o auge eleitoral do partido. Naquele ano, o PSB foi a sigla que mais cresceu,roleta geração midastodos os quesitos - tantoroleta geração midasnúmeroroleta geração midasprefeituras, comoroleta geração midasvotos eroleta geração midaseleitores a serem governados. Alémroleta geração midasPernambuco, o partido passou a ter grande peso no Piauí, Ceará, Paraíba, Minas Gerais, São Paulo. Também conseguiu conquistar prefeiturasroleta geração midascidades grandes, como Fortaleza, Recife e Belo Horizonte, e se tornou o quarto maior partido do paísroleta geração midasnúmeroroleta geração midaspopulação governada, atrás apenasroleta geração midasPT, PMDB e PSDB.
Em 2016, entretanto, a trajetóriaroleta geração midasascensão do PSB foi interrompida pela morteroleta geração midasCampos. Pela primeira vezroleta geração midas16 anos, o partido perdeu influência e elegeu 26 prefeitos a menos que na eleição anterior.
Pragmatismo x ideologia
Uma das críticas que se faz ao PSB atual é o fatoroleta geração midasele ter deixado parteroleta geração midassua ideologia na gaveta dianteroleta geração midasum projeto maiorroleta geração midaspoder. Isso criou uma aparente dicotomia: enquanto o grupo tem nomes bastante identificados com a esquerda, como a senadora baiana Lídice da Mata, também há políticos como o atual governadorroleta geração midasSão Paulo, Márcio França, aliado do PSDB há anos.
"Eduardo Campos viu que precisava chegar a outros setores da sociedade para conseguir fazer do PSB um partido nacional. Por isso, abriu o partido para pessoas que não eram muito próximasroleta geração midasnossas bandeiras", diz o deputado federal Júlio Delgado.
Presidente da sigla, Carlos Siqueira concorda com essa visão, e diz que o PSB teveroleta geração midas"fazer um saneamento para tirar essas pessoas".
Em 2014, após a morteroleta geração midasCampos, o partido optou pela ex-senadora Marina Silva, vice na chapa, para a corrida presidencial, mas ela não chegou ao segundo turno.
Após o impeachmentroleta geração midasDilma, a sigla fez parte da baseroleta geração midasapoioroleta geração midasTemer. Mas quando a reforma trabalhista chegou à Câmara, houve um racha. Parte da bancada do PSB, inclusiveroleta geração midaslíder, a deputada Tereza Cristina, era a favor das mudanças. Outro setor era contra, dizendo que a reforma prejudicava os trabalhadores e, apoiá-la, seria negar as raízes do PSB. Resultado: 14 parlamentares votaram favor da medida e 16, contra.
"Depois da morteroleta geração midasEduardo Campos, o partido dá uma guinada à direita", diz o historiador Herbert Anjos. "Mas o desgasteroleta geração midasTemer e a pressão das bases internas faz ele dar um pequeno giro à esquerda novamente. O pragmatismo eleitoral acaba deixando a ideologiaroleta geração midaslado, como aconteceu com muitos partidos no Brasil."
Nesse braçoroleta geração midasferro, os defensores da fidelidade à raiz ideológica do partido levaram a melhor e vários parlamentares deixaram a legenda dianteroleta geração midasuma ameaçaroleta geração midasexpulsão - Tereza Cristina entre eles. Hoje, o partido faz parte da oposição.
"Somos um partido socialista, o PSB não deve negar suas raízes", disse à BBC Brasil o ex-deputado Beto Albuquerque, pré-candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul. "Quando surge um conflito entre o capital e trabalho, nossa tendência é sempre olhar para o trabalho. Há partidosroleta geração midassobra para olhar o capital."
"O problema do Brasil não é Bolsa Família, mas o 'bolsa empresário'. Os governos do PT criaram esse sistemaroleta geração midasfinanciamentos com juros subsidiados, que ajudaram meia dúziaroleta geração midasempresários próximos a eles."
Agora, Joaquim Barbosa
Neste ano, a legenda não tinha candidato para presidente. Até que apareceu Joaquim Barbosa, que se filiou no último dia estipulado pela Justiça Eleitoral.
Barbosa surge como possível candidato carregando uma imagemroleta geração midasluta contra a corrupção, perfil criado durante o julgamento do mensalão, que condenou petistas históricos à prisão pela primeira vez. Agora, desponta no cenário eleitoral no momentoroleta geração midasque políticos e partidos tradicionais são alvoroleta geração midasdenúncias, processos e prisões.
A seis meses da eleição, a pontuação do ex-ministro nas pesquisas é melhor que aroleta geração midasEduardo Campos às vésperas do pleitoroleta geração midas2014. Em agosto daquele ano, o pernambucano era o terceiro colocado, com 9%.
Barbosa ainda não confirmouroleta geração midascandidatura, mas vem conversando com líderes partidários para fechar um programaroleta geração midasgoverno. Na economia, tem se mostrado a favorroleta geração midasprivatizaçõesroleta geração midassetores menos estratégicos - energia e petróleo estariam fora. Oficialmente, o projeto partidário do PSB prega a "gradual e progressiva socialização dos meiosroleta geração midasprodução".
No campo social, Barbosa é mais próximo da esquerda - no STF votou a favor das cotas raciaisroleta geração midasuniversidades, do abortoroleta geração midascasoroleta geração midasanencefalia eroleta geração midaspesquisas com células-tronco.
O deputado Júlio Delgado relata uma conversa que teve com o ex-ministro sobreroleta geração midaspostura diante da ideologia do PSB: "Ele disse o seguinte: sou um pouquinho maisroleta geração midascentro que vocês, vocês são 7 e eu sou 6".
Para Mauro Paulino, diretor do Datafolha, a origem pobreroleta geração midasBarbosa eroleta geração midasimagem anticorrupção, criada com o julgamento do mensalão, podem ajudá-lo a vencer. "Uma vez fizemos uma pesquisa qualitativa, que mostrava que o eleitor brasileiro buscava um candidato que fosse uma mistura da origemroleta geração midasLula e com a culturaroleta geração midasFernando Henrique", diz.
Porém, Paulino acredita que, para ser vitorioso, Barbosa terároleta geração midasfazer alianças para aumentar seu temporoleta geração midasexposição na TV - o PSB tem direito a apenas 1 minuto e 23 segundos por dia.
O deputado Delgado afirma que, após a última pesquisa Datafolha, o PSB foi procurado por siglas à esquerda e à direita. "Está todo mundo querendo se pendurarroleta geração midasJoaquim Barbosa", diz.
*colaborou Amanda Rossi