'Marielle tinha potencial para ser deputada, senadora, presidente da República', diz Benedita da Silva, 1ª vereadora do Rio negra e da favela:roleta demo gratis
"Se ainda é difícil para uma mulher negra, favelada, ocupar esses espaços, você não sabe como foi naquela época. Para começar, eu era a única dos 33 vereadores que não tinha carro oficial, porque diziam que o carro não podia subir a favela, e eu morava no Chapéu da Mangueira", lembra.
"Depois, eu, casada, era objetoroleta demo gratiscerto tiporoleta demo gratisviolência sexual dos colegas, que ficavam apostando para ver quem sairia primeiro comigo. Você passa quatro anos tentando provar que é inteligente, que é capaz, que não é um objeto sexual."
Para a deputada, mesmo com tantas dificuldades e preconceitos que mulheres negras enfrentam, não será preciso esperar mais uma década para que outra Marielle conquiste esse espaço político.
Marielle, segundo levantamento feito pela BBC Brasil, era uma das 32 vereadoras negras entre 811 eleitos para esse cargo nas capitais do Brasilroleta demo gratis2016.
"Estamos trabalhando para não ter isso, para não ficar contando nos dedos quantas negras e negros têm representatividade. Não quero fazer parte da estatística dessa forma", diz por telefone à BBC Brasil. A deputada integra a comissão parlamentar que acompanha a investigação da morteroleta demo gratisMarielle.
"Não podemos conviver com 3 parlamentares negras num universoroleta demo gratis500 deputados. Temos que ter nosso lugarroleta demo gratisfala, não queremos que falem por nós. Queremos ter mais mulheres negras ocupando espaçosroleta demo gratisevidência."
Em 2015, a deputada foi acusada pelo Ministério Público do Rio num processoroleta demo gratisimprobidade administrativa enquanto era secretária estadualroleta demo gratisAssistência Social e Direitos Humanos no governoroleta demo gratisSérgio Cabral, por supostas fraudesroleta demo gratisconvênios entre a Fundação Darcy Ribeiro (FUNDAR) e ONGs com o Ministério da Justiça. O processo ainda não foi julgado e Benedita, que afirma ser inocente e ter todas as provas que comprovam isso, segue com seus bens bloqueados.
Ataque à negritude
Chorando algumas vezes, Benedita lembra que esteve no mesmo palanque que Marielle no Dia da Mulher,roleta demo gratis8roleta demo gratismarço, e diz que "essa execução dela" tem um peso muito grande neste momento do país.
"Pensa, era uma mulher negra, da favela e lésbica, que lutava por direitos humanos. Há um esforço quase sobrenaturalroleta demo gratisquem é da favela, como diziam antigamente, para ser alguém na vida, para lutar pelo que acredita. É essa pessoa que executaram. Poderia ter sido eu, ou uma outra jovem idealista."
Segundo a deputada, a caminhada políticaroleta demo gratisMarielle estava apenas começando. "Ela estaria numa chapa do PSOL ao governo do Rio como vice, ela tinha potencial para alcançar ser deputada, senadora, presidente da República."
Benedita vê semelhanças entreroleta demo gratistrajetória e aroleta demo gratisMarielle, que conta ter conhecido ainda garota, quando fazia trabalhos sociais na favela da Maré, onde a vereadora cresceu.
"É essa históriaroleta demo gratisuma mulher da favela, sem muita esperança, que num determinado momento consegue sairroleta demo gratislá para defenderroleta demo gratiscomunidade. Sabemos como ninguém defender nossa comunidade, como lidar com as injustiças, sabemos como funcionam essas ocupações militares lá, sabemos que não têm resultado positivo, que o que a gente precisa éroleta demo gratisintervenção social, não do Exército. Por isso ela acompanhava a intervenção federal no Rio", afirma, lembrando que Marielle era uma das relatoras da comissão parlamentar que acompanha a intervenção militar na cidade.
Para Benedita, o assassinatoroleta demo gratisMarielle, "alémroleta demo gratisuma violência contra a mulher, é uma violência contra a negritude".
"É preciso considerar que estamos vivendo um 'apartheid' no Brasil, que não são os negros que se dividem, que são eles que nos separam. Se você achar que o problema é do negro, do favelado, do trabalhador, está perdido. O problema é da sociedaderoleta demo gratisque vivemos, dos governantes que não fazem políticasroleta demo gratisinclusão porque isso incomoda a elite brasileira."
E, segundo a deputada, Marielle , que denunciava problemas na política, na polícia, nas comunidades, incomodava muito.
"A Marielle era uma mulher negra que incomodava. Incomodava a elite, incomodava o mundo masculino, os políticos. Depois do que aconteceu, todo mundo começou a me ligar para falar para eu tomar cuidado. Nós não vamos nos calar, eles não vão nos amedrontar."
'Quem pensa que é?'
Ela lembra que quando foi vereadora, também sofreu ameaças, porque denunciava batidas policiais irregulares nas favelas, entre outras coisas. "Eu era uma das únicas moradoras do Chapéu da Mangueira a ter telefone. E me ligavam dizendo 'Macaca, cuidado com o que você fala', mandando eu me calar."
Benedita conta que quando chegou pela primeira vez à Câmara dos Deputados,roleta demo gratis1986, ouviaroleta demo gratispessoas na rua e atéroleta demo gratiscolegas frases como "quem você pensa que é para estar aqui?".
"Até então ser vereadora já não era algo bem visto para uma negra, mas era suportável, digamos. Agora, virar deputada... Se você vai subindo na política e se aproxima do espaço que a elite política acha que pertence apenas a ela, as dificuldades vão aumentando. E não é uma questão sóroleta demo gratisordem social, é uma questão muito forteroleta demo gratisordem racial", diz.
"Mas isso não é discutido porque acham que o Brasil é um país miscigenado, etnicamente plural. E precisamos tratar disso, do que é o espaçoroleta demo gratisuma mulher negra. Antes achavam que era só na cozinha. Aí quando levamos anos para que essa mulher da cozinha, a trabalhadora doméstica, fosse reconhecida, vem uma reforma trabalhista do senhorroleta demo gratisengenho [presidente Temer] e tenta colocar os trabalhadoresroleta demo gratisnovo na senzala."