A vida dos maisesporte bet sb50 sem-teto que moramesporte bet sbcemitério e chegam a dormir dentroesporte bet sbtumbasesporte bet sbSP:esporte bet sb
Presençaesporte bet sbcrianças é vetada
Entre os sem-teto, há homens, mulheres - uma delas com deficiência física -, idosos e travestis. Os moradores da área afirmam vetar apenas a presençaesporte bet sbcrianças, devido ao ambiente insalubre e ao constante usoesporte bet sbdrogas. Lúcio*,esporte bet sb28 anos, não cansaesporte bet sbfalar da saudade que senteesporte bet sbsua filha,esporte bet sb8 anos.
Lúcio deixou Belo Horizonte (MG) com a mulher e a filha para trabalhar como vendedor no Brás, no centroesporte bet sbSão Paulo. O negócio não deu certo, ele se divorciou e a criança voltou com a mãe para Minas.
"Sem trabalho, eu não consegui pagar aluguel e fui morar com a minha mãe na Vila Nova Cachoeirinha (mesmo bairro do cemitério). Mas ela colocou muitas regras e não deu certo. Fui para a rua, virei camelô e vim para cá há cinco meses", conta o jovem com lágrimas nos olhos.
Se Lúcio é relativamente recente na vizinhança, Igor*,esporte bet sb41 anos, 12 deles passados no cemitério, é um dos moradores mais antigos no local.
Sentadoesporte bet sbum banquinho, ele destampa uma lata, tira dali um tubinho metálico, um pedaçoesporte bet sbpapel alumínio e um saco plástico, e cuidadosamente monta um cachimboesporte bet sbque fuma duas pedrasesporte bet sbcrack, enquanto contaesporte bet sbhistória à BBC Brasil, a poucos metrosesporte bet sbalgumas covas abertas.
"A primeira vez que fumei crack foi no fimesporte bet sb1993. Mesmo fumando com frequência, trabalhei como operadoresporte bet sbempilhadeira, comunicação visualesporte bet sbvárias empresas, alémesporte bet sbtradutor e intérpreteesporte bet sbjaponês no bairro da Liberdade", conta.
Igor afirma ter aprendido japonês depois que,esporte bet sb1995, foi morar no Japão, terra natalesporte bet sbsua avó paterna. A experiência internacional, no entanto, não terminou bem.
"Fui preso por tráficoesporte bet sbdrogas, vandalismo, atropelamento e corrupçãoesporte bet sbmenores. Fui deportado para o Brasilesporte bet sbdezembroesporte bet sb1997. Minha família não quer mais saberesporte bet sbmim. Hoje, a gente só se vêesporte bet sbvelório, casamento e festa", diz.
Igor diz ter tentado recomeçar a vida no Brasil, mas o vícioesporte bet sbdrogas foi mais forte. "Eu só consigo trabalhar se tiver alguém 24 horas do meu lado me incentivando. Hoje, eu tiro meu sustento do lixo, catando reciclagem na rua. Num dia bom, eu pego bastante alumínio e tiro até R$ 100. Mas geralmente eu carrego 100 kgesporte bet sbpapel por R$ 20. É pouco, só o suficiente para manter meu vício", diz ele.
Ele afirma que retira do lixo doméstico parteesporte bet sbsuas roupas e alimentação, como bolos e alimentos jogadosesporte bet sbpacotes fechados. Tudo dividido com os demais moradores da área. Em uma manhã da última semana, um suco amarelo armazenadoesporte bet sbuma garrafa PET sujaesporte bet sbgraxa passavaesporte bet sbmãoesporte bet sbmão para saciar a sedeesporte bet sbIgor e os demais. Sem televisão, ele também se informa por meioesporte bet sbjornais que recolhe dos sacosesporte bet sblixo. Parece adaptado ao ambiente, apesar da faltaesporte bet sbconforto.
"O que mais me deixa triste é não poder abrir uma geladeira e ter o prazeresporte bet sbtomar uma Coca-Cola bem gelada ou comer uma fruta", diz Igor.
Ele admite que,esporte bet sb"momentosesporte bet sbdesespero", cometeu furtos por uma pedraesporte bet sbcrack. "Sou químico geral. Usoesporte bet sbesmalte a tinner. Já usei cristal dos Estados Unidos, ópio, haxixe e muita cocaína".
Noites dentro das tumbas
A presençaesporte bet sbpragas, como ratos e baratas, é constante no local onde os sem-teto ergueram suas barracas. À noite, os insetos se multiplicam, mas a maior dificuldade é enfrentada no períodoesporte bet sbchuvas.
Durante o verão, as enxurradas molham os sofás velhos que eles usam para dormir e se reunir. Para se proteger, os moradores admitiram arrastar grandes pedrasesporte bet sbmármore que cobrem os túmulos e dormir nas gavetas, ao lado dos caixões. Eles se recusaram a mostrar esses locais para a reportagem, mas a informação foi confirmada por funcionários.
A prefeituraesporte bet sbSão Paulo reconhece que "é recorrente a montagem por dependentes químicosesporte bet sbtendas dentro e fora do Cemitério Vila Nova Cachoeirinha para o consumoesporte bet sbdrogas". A administração diz que as barracas são "retiradas pelos funcionários, mas logo surgem outras no local". Informou ainda que "aciona, sempre que necessário, o Centroesporte bet sbZoonoses para tomar providências"esporte bet sbrelação aos animais mortos e que há uma empresa responsável pela limpeza e retiradaesporte bet sbmato da área.
A administração municipal não informou, no entanto, quanto gasta na manutenção da área, quantas pessoas trabalham ali nem desde quando existe essa ocupação dentro do cemitério, mas a reportagem sabe da presença desses sem-teto no local há pelo menos quatro anos.
Rodrigo*,esporte bet sb40 anos, diz que passa pelo menos parteesporte bet sbseu dia no cemitério há 15 anos.
Ele conta que dorme no local, mas vai à casa dos pais, que vivem na região, todos os dias para tomar banho, almoçar e jantar. "Eu fiz um cursoesporte bet sbhotelaria na Escola Técnica Federal. Eu fumo crack há 21 anos e queria arrumar emprego e sair dessa vida, mas eles (pais) sabem o quanto isso é impossível"
Sem visitas
Quem visita o cemitério da Vila Nova Cachoeirinha chega a ver os moradores da área circulando por ali. Eles tentam conseguir alguns trocadosesporte bet sbtroca da limpezaesporte bet sbum túmulo. Mas muito pouca gente se aproxima da região onde eles vivem.
"A prefeitura nunca apareceu para tentar nos ajudar, só vem para derrubar nossos barracos. A Pastoral (do Povoesporte bet sbRua) visita a gente uma vez por ano para saber se estamos vivos e só a Polícia Militar aparece sempre para 'dar um salve' na gente", diz um homem que pediu para não ser identificado, usando uma gíria para se referir a espancamentos dos agentes policiais.
"Já fui espancado e torturado aquiesporte bet sbjoelhos durante horas por policiais. Eles nos chamamesporte bet sbviciados malditos, ficam perguntando onde estão os cachimbos e derrubam os barracos. Eles querem que a gente faça o quê? Vá para onde?", questiona.
A Secretaria da Segurança Públicaesporte bet sbSão Paulo e a Polícia Militar se posicionaram após a publicação da reportagem. "A Polícia Militar esclarece que as informações foram repassadas ao Comando PM local a fimesporte bet sbque as informações sejam apuradas", diz a corporaçãoesporte bet sbnota.
Um funcionário que trabalha há maisesporte bet sb20 anos no cemitério disse à reportagem que há uma relaçãoesporte bet sbrespeito entre os sem-teto, os funcionários do cemitério e os poucos visitantes da área. "As pessoas têm muito medoesporte bet sbchegar perto deles. Mas eles ficam lá embaixo, não mexem com ninguém", afirmou.
Após uma reforma que durou cinco anos, a capela do cemitério está fechada e também serveesporte bet sbabrigo para moradoresesporte bet sbrua. A prefeitura informou que o local só é aberto "em datas especiais, como o Diaesporte bet sbFinados." A administração do cemitério disse ainda que há três salasesporte bet sbvelório, mas não explicou porque elas também estão fechadas.
Em dois diasesporte bet sbvisita, a reportagem percorreu toda a área do cemitério e andou por quilômetros entre os túmulos. Nenhuma quadra estava livre do lixo.
Funcionários que pediram para não ser identificados disseram que não conseguem dar contaesporte bet sblimpar nem sequer metade da área. "Nós estamosesporte bet sbseis. Quando a gente terminaesporte bet sbum lado, o outro já está com mato alto e todo sujo", conta um deles.
Mas a área do cemitério pode estar diminuindo sem o conhecimento da Prefeituraesporte bet sbSão Paulo. Moradores da região disseram à reportagem a favela do Boi Malhado, no limiteesporte bet sbuma das laterais do cemitério, está crescendo para dentro da área pública. A reportagem identificou três casasesporte bet sbconstruçãoesporte bet sbum dos limites do cemitério, que não é demarcado por muros ou cercas. As casas começam, literalmente, onde terminam os túmulos.
A prefeitura disse que sabe que há casas dentro do cemitério e diz que já pediu a reintegraçãoesporte bet sbposse à Justiçaesporte bet sb2016. "A pedido da Justiça, foi realizada audiênciaesporte bet sbconciliaçãoesporte bet sbque os ocupantes do local concordaramesporte bet sbsair voluntariamente da área até janeiroesporte bet sb2018, o que não foi cumprido. Já foi solicitada nova expediçãoesporte bet sbreintegraçãoesporte bet sbposse", informou a administraçãoesporte bet sbnota.
*Os nomes dos entrevistados foram trocados pela reportagem da BBC Brasil para preservar a identidade deles.