Família nordestina guardou séculosslots com bonus de cadastroromances medievaisslots com bonus de cadastromaisslots com bonus de cadastro700 anos na memória:slots com bonus de cadastro

Legenda do vídeo, Cantando histórias, romanceira nordestina mantém viva tradição milenar

"Essa ocupação acontece entre o século 7 e só vai acabar no século 15,slots com bonus de cadastro1453, e isso também provoca toda essa históriaslots com bonus de cadastroluta e heroísmo que vai ser a base desses romances, dessas histórias que são contadas. Inclusive, muitos temas do nosso cancioneiro nordestino vão lidar com essa briga entre mouros e cristãos".

Mas essa ideiaslots com bonus de cadastrocantar as aventuras é ainda anterior à Idade Média. Remete ao mundo antigo. "Seja nas históriasslots com bonus de cadastroHeródoto, mas sobretudo Homero na Ilíada e na Odisseia. Ele (Homero) é um cantador. Exatamente um modelo do cantador que nós temos hoje, tanto aqui no Nordeste, quanto nos séculos 10, 11, 12, 13, 14, 15 na Europa", diz Monteiro Porto.

Mantendo o conhecimento vivo

Pelo menos até o século 15 a escrita circulava muito pouco. A ideiaslots com bonus de cadastrocantar as histórias surgiu exatamente para manter o conhecimento vivo, geração após geração. "Os romances terminam com uma certa combinação pra ajudar o cantador a sempre recordar. A rima ajuda a memorização", diz a professora.

Atanásio Salustino
Legenda da foto, Benedita e Militana aprenderam a cantar romances com seu pai | Foto: Arquivo Pessoal

Foi dessa forma que as canções medievais se difundiram no Brasil. "Tem sempre um que sabe ler, que conta ou canta, e outro que memoriza e vai repetindo", explica Monteiro Porto. Como aconteceu com a romanceira Benedita, que reproduz hoje o que ouvia o pai cantar.

Durante décadas, esse saber ficou na escuridão do anonimato. Até que, segundo conta Benedita, há quase trinta anos foi convidada a dividir suas memórias com estudiosos, participarslots com bonus de cadastrodebates sobre cultura popular e apresentar-seslots com bonus de cadastroeventos culturais. Integranteslots com bonus de cadastrouma família patriarcal, não teve a autorização do marido para alçar voo. Por ciúmes, ela confidencia que ele indicou a irmã para irslots com bonus de cadastroseu lugar.

Benedita permaneceu desconhecida. Mas, aos 76 anos, nunca esqueceu as canções que embalaramslots com bonus de cadastroinfância. Parte do que entoa tem traços da cultura medieval como Juliana e Dom Jorge, outro tanto são canções romanceadas do Nordeste brasileiro, cantares que reúnem diversos gêneros como as toadasslots com bonus de cadastroboi, modinhas e cantosslots com bonus de cadastroromaria e cordel, como As quatro órfãsslots com bonus de cadastroPortugal, do paraibano João Melchiades Ferreira, poeta do século 19.

Livros
Legenda da foto, Tradiçãoslots com bonus de cadastrocantar histórias se enraizou no Nordeste | Foto: Arquivo Pessoal

É um romance longo que Benedita canta na íntegra. "Na cidadeslots com bonus de cadastroLisboa, havia uma uniãoslots com bonus de cadastroquatro donzelas órfãs, sem pai, sem mãe, sem irmãos. Servia a moça mais velha como mãeslots com bonus de cadastrocriação".

Em uma horaslots com bonus de cadastroentrevista para a BBC Brasil, Benedita canta vários romances. Muitas vezes, porém, o olhar parece se perder no tempo. É o malslots com bonus de cadastroAlzheimer que se avizinha. Nenhum dos 11 filhos que teve, como também nenhum neto, se interessouslots com bonus de cadastroaprender os romances cantados pela romanceira.

Irmã famosa

Militana
Legenda da foto, Militana fez shows pelo país como a 'maior romanceira' do Brasil | Foto: Arquivo Pessoal

Felizmente, graças às pesquisas realizadas pelo folclorista potiguar Deífilo Gurgel, que morreuslots com bonus de cadastro2012, todo esse conhecimento foi gravado e está preservado na vozslots com bonus de cadastroMilitana Salustino do Nascimento, a irmãslots com bonus de cadastroBenedita, que também tinha um acervo considerável e uma memória privilegiada. Ela ganhou fama, notoriedade e ficou conhecida como a maior romanceira do Brasil.

Em 2005, chegou a receber das mãosslots com bonus de cadastroLuís Inácio Lula da Silva, então presidente da República, a Ordem do Mérito Cultural, comenda máxima da cultura brasileira. Para o padre André Martins Melo, historiador que acompanhouslots com bonus de cadastroperto os passosslots com bonus de cadastroMilitana, a comenda foi um marco. "Mudou o interesse das universidadesslots com bonus de cadastrofazer um estudo sobre o luso-brasileiro,slots com bonus de cadastroconhecer historicamente", conta Martins Melo.

Militana morreuslots com bonus de cadastro2010. Já a última guardiãslots com bonus de cadastrouma família que manteve viva a cultura mouro-ibérica, passa boa parte do dia deitada numa rede no alpendre da casa que mora recordando histórias galantesslots com bonus de cadastroamores, aventuras e tragédias.

"Todo o saberslots com bonus de cadastroMilitana é o mesmoslots com bonus de cadastroBenedita. Ela canta o que cantava Dona Militana e o pai: histórias luso-brasileiras. De amor,slots com bonus de cadastropoder,slots com bonus de cadastrograndes brigas,slots com bonus de cadastrocristão com os mouros e assim por diante", diz o padre André.

Invasão estrangeira

Livros
Legenda da foto, Romances ibéricos chegaram ao país com os colonizadores | Foto: Arquivo Pessoal

Durante 15 anos Deífilo Gurgel estudou profundamente sobre o romanceiro no Rio Grande do Norte. Foi ele que descobriu o cantadorslots com bonus de cadastroromances Atanásio Salustino, paislots com bonus de cadastroBenedita e Militana. As pesquisasslots com bonus de cadastroDeífilo no Rio Grande do Norte resultaramslots com bonus de cadastrodois livros: O Romanceiroslots com bonus de cadastroAlcaçuz, publicado na décadaslots com bonus de cadastro1990, e Romanceiro Potiguar, lançadoslots com bonus de cadastro2012, dois meses depoisslots com bonus de cadastrosua morte.

No total, o folclorista coletou 300 romances, alguns deles inéditos no Brasil. "As primeiras questões da oralidade ibérica, os primeiros registros, as primeiras cantigas, vieram pra cá. Se o Rio Grande do Norte não é o maior está entre os maiores, sem dúvida alguma", pontua Alexandre Gurgel, jornalista e pesquisador, filhoslots com bonus de cadastroDeífilo Gurgel.

Gurgel aponta a necessidadeslots com bonus de cadastrodar continuidade aos estudos sobre o tema, sobretudo porque os detentores mais antigos desse conhecimento estão morrendo. "Vários já se foram e a gente vê uma invasão cada vez mais forteslots com bonus de cadastroculturas estrangeiras no nosso país e as novas gerações sem entenderem as suas raízes".

"Eu tenho medoslots com bonus de cadastroperguntar na minha salaslots com bonus de cadastroaula quem conhece Militana e ninguém conhecer. Me assusta a ideia", revela a professora universitária da UFRN. Ela defende que escolas e universidades explorem mais o temaslots com bonus de cadastroforma pedagógica.

Maria Emília reconhece, entretanto, que,slots com bonus de cadastrotermosslots com bonus de cadastroculturaslots com bonus de cadastromassa, esse não é o tema, nem a música, que despertam interesse, já que são vistos como "mais sofisticados", embora tenham origem na cultura popular.

"Você falarslots com bonus de cadastrouma romanceira é mais ou menos como você falar: você escutou Brahms hoje? (Johannes Brahms, compositor alemão do século 19) Tá no campo da erudição, sendo popular, e deveria ser mais difundido nas escolas e na pesquisa também."