Como a luta para salvar botos revelou cadeiasaque mínimo betnacionalcontaminação e doenças na Amazônia:saque mínimo betnacional

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Legenda da foto, Pesquisador narra impacto do uso da carnesaque mínimo betnacionalbotos como isca para peixes contaminados por mercúrio no rio Amazonas | Foto: Fundacao Omacha

Mas qual é a conexão entre o peixe e os botos?

'Deuses da água'

Fernando Trujillo estudou Biologia Marinha e chegou à Amazôniasaque mínimo betnacionalbuscasaque mínimo betnacionalbotos por conselho do explorador francês Jacques Cousteau.

"Os golfinhos me interessavam muito. Nesta época, meus professores na Colômbia me diziam que no país não havia botos ou golfinhos e que eu deveria buscá-los nos Estados Unidos", relatou o biólogo à BBC Mundo (o serviçosaque mínimo betnacionalnotíciassaque mínimo betnacionalespanhol da BBC).

"Mas tive a sortesaque mínimo betnacionalconhecer o comandante Cousteau quando ele fez uma conferência na Colômbia na décadasaque mínimo betnacional1980. Ele me disse que não havia ninguém no país estudando os botos do Amazonas e perguntou: 'Por que você não vai?".

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Legenda da foto, Principal ameaça contra golfinhos, segundo o especialista, é a pesca comercial | Foto: Fundacao Omacha

Trujillo acabou se mudando definitivamente para o pequeno povoado amazônicosaque mínimo betnacionalPuerto Nariño. "Quase não tinha dinheiro, mas os indígenas me davam comida, emprestavam embarcações e começaram a me chamarsaque mínimo betnacionalOmacha".

Trujillo deu esse nome à fundação que criou na Amazônia colombiana, como uma metáfora para o que significa "colocar-se no lugarsaque mínimo betnacionaloutra espécie".

Para os indígenas, os botos são animais sagrados. A grande ameaça à esta espécie, segundo o especialista, vem da pesca comercial.

Peixe carniceiro

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Legenda da foto, Pesquisador identificou conexão entre a conservação do Amazonas e a exploração ilegalsaque mínimo betnacionalouro na região | Foto: Fundacao Omacha

"Quando os grandes bagres começaram a ficar escassos na Amazônia, começamos a notar no Brasil a pescasaque mínimo betnacionalum peixe carniceiro chamado piracatinga (Calophysus macropterus, também conhecido como douradinha, no Brasil, e mota, na Colômbia). Ninguém pescava a piracatinga na Colômbia, porque todo mundo sabe que ele come animais mortos - inclusive cadáveres humanos."

O pesquisador continua: "Até o ano 2000, havia um peixe muito consumido na Colômbia que se chamava 'el capaz'. Era um peixe do rio Magdalena. Mas quando este peixe começou a sumir, os comerciantes começaram a vender a piracacinga fingindo que era o 'el capaz'."

Assim começou a pesca maciça do peixe carniceiro - e a matançasaque mínimo betnacionalbotos corsaque mínimo betnacionalrosa, cuja carne e gordura se transformaramsaque mínimo betnacionaliscas.

"Com apenas um boto morto usado como isca, os pescadores conseguiam pescar 250 quilossaque mínimo betnacionalpicaratinga, o que gerou críticassaque mínimo betnacionalvários países", diz Trujillo.

No Brasil, estima-se que a pesca comercial mate 1,5 mil botos a cada ano.

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Legenda da foto, Pesca da piracatinga, um peixe que se alimentasaque mínimo betnacionalcarniça, impacta populaçãosaque mínimo betnacionalbotos corsaque mínimo betnacionalrosa | Foto: Fundacao Omacha

Proibições

Um vídeo da matança gravadosaque mínimo betnacional2014 gerou tal comoção que o governo brasileiro proibiu a pesca do peixe carniceiro por cinco anos.

Como efeito colateral deste controle no Brasil, a caça a botos se intensificousaque mínimo betnacionalpaíses como Peru, Bolívia e Colômbia.

"Por toda a minha vida eu trabalhei com botos. Mas então me dei conta: agora o tema não são mais os golfinhos, e sim a pescaria", explica o pesquisador.

Trujillo começou então a investigar o consumo da piracatinga, suspeitando que, pelo fatosaque mínimo betnacionalse tratarsaque mínimo betnacionalum peixe carniceiro, seu organismo poderia ter altos índicessaque mínimo betnacionalmercúrio.

"Começamos a colher amostras com Fundo Mundial para a Natureza, da ONG WWF", conta.

Após estudos oficiais, o governo colombiano condenousaque mínimo betnacional2015 o consumo do peixe e,saque mínimo betnacionalsetembrosaque mínimo betnacional2017, proibiu permanentementesaque mínimo betnacionalcaptura e comercialização.

Trujillo disse à BBC Mundo que ainda é muito cedo para se analisar o impacto da proibição sobre a populaçãosaque mínimo betnacionalbotos. Mas, segundo ele, ficou clara a conexão entre a conservação do Amazonas e a exploração ilegalsaque mínimo betnacionalouro,saque mínimo betnacionalonde provém o mercúrio.

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Legenda da foto, Com um boto morto usado como isca, pescadores conseguem pescar 250 quilossaque mínimo betnacionalpicaratinga | Foto: Fundacao Omacha

O Mercúrio e o ouro

"Para um quilosaque mínimo betnacionalouro é necessário 1,32 quilosaque mínimo betnacionalmercúrio. Muitas vezes, entretanto, usa-se até 10 quilossaque mínimo betnacionalmercúrio para isolar 1 quilosaque mínimo betnacionalouro. O desperdíciosaque mínimo betnacionalmercúrio é enorme."

Quando os peixes carniceiros comem outros peixes contaminados, o mercúrio vai se acumulando, já que seu organismo não é capazsaque mínimo betnacionaleliminá-lo.

"O mercúrio ataca o sistema nervoso central, fígado, rins, causa temores e doressaque mínimo betnacionalcabeça agudas", diz Trujillo.

"Além disso, o mercúrio é uma substância quesaque mínimo betnacionalaltas concentrações pode ser teratogênica, ou seja, pode ocasionar malformações congênitas", diz.

"Houve uma época no Brasilsaque mínimo betnacionalque começaram a confundir estes sintomas com ataques gravessaque mínimo betnacionalmalária", conta.

A Fundaçãosaque mínimo betnacionalTrujillo e vários institutos e governos pesquisam alternativas econômicas para a Amazônia como o turismo, os cultivossaque mínimo betnacionalcacau orgânico e aquicultura - a criaçãosaque mínimo betnacionalespécies nativassaque mínimo betnacionalfazendas aquáticas. A ideia é evitar assim o garimpo ilegal que usa grandes quantidadessaque mínimo betnacionalmercúrio, assim como a pesca predatória.

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Legenda da foto, Documentario sobre a luta pelo boto corsaque mínimo betnacionalrosa abriu o festivalsaque mínimo betnacionalTribeca,saque mínimo betnacionalNova York | Foto: Fundación Omacha

Ameaças

Um documentario sobre este trabalho e a luta pelo boto-cor-de rosa abriu o festivalsaque mínimo betnacionalTribeca,saque mínimo betnacionalNova York, esaque mínimo betnacionalbreve estará disponivel na Netflix.

"Há algumas décadas, se tivessem me faladosaque mínimo betnacionalaquicultura no saque mínimo betnacional Amazonas eu teria dado risada", afirma. "Hoje é uma necessidade."

Nos últimos 20 anos, houve um crescimento exponencial na população na Amazônia, graças à exploraçãosaque mínimo betnacionalpetróleo, à mineração, aos grandes cultivossaque mínimo betnacionalsoja, ranchossaque mínimo betnacionalgado e às hidrelétricas, com a expansãosaque mínimo betnacionalbairros nos arredoressaque mínimo betnacionalestradas.

"Há um aspecto socioeconômico neste caso. Já existem 34 milhõessaque mínimo betnacionalseres humanos vivendo na amazônia, dos quais apenas 3,5 milhões são indígenas."

Trujillo sofreu ameaças após a proibição da pesca da piracatinga na Colômbia e chegou a usar um colete a provasaque mínimo betnacionalbalas e proteção especial para voltar à região onde trabalhou por décadas.

Fernando Trujillo
Legenda da foto, Diretor científico da Fundação Omacha, Trujillo falou recentemente sobre seu trabalho na Royal Geographic Society, a Sociedade Real Geográficasaque mínimo betnacionalLondres | Foto: Fundación Omacha

"Foi um momento muito triste. Mais que medo, foi triste, porque eu trabalhei 30 anossaque mínimo betnacionalminha vida para ajudar as pessoas no Amazonas e nunca pensei que este tiposaque mínimo betnacionalestudos abriria uma caixasaque mínimo betnacionalPandora que me renderia ameaças" , lamenta.

"Estou comprometido a buscar alternativas econômicas para a região. Não estou interessadosaque mínimo betnacionalacabar com a economia da área, mas sim fortalecê-la e torná-la sustentável."

A lutasaque mínimo betnacionalTrujillo para proteger os botos deixou um grande ensinamento.

"Os cientistas ensinam que temos que estudar uma espécie e publicar artigos científicos, mas me dei conta que nossos políticos não leem artigos científicos."

Segundo o pesquisador, a principal lição foi perceber que "além da perspectiva científica, é preciso abordar temáticas políticas e socioeconômicas" nos estudos.

"Estamossaque mínimo betnacionalum mundo complexo, e não podemos simplificar as coisas a partir do nosso próprio interesse", diz. "É preciso trabalhar com economistas, sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, comunicadores, criando redessaque mínimo betnacionaltrabalho para a buscasaque mínimo betnacionalsoluções para a Amazônia."

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Legenda da foto, Foto: Fundación Omacha