Por que o Brasil não vacina os macacos contra a febre amarela?:bet365 xg

Macaco bugio

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Brasil não vacina animais silvestres contra doenças. Para especialistas, medida ajudaria a cortar a circulação da febre amarela

Último ciclo urbanobet365 xg1942

A febre amarela tem uma versão silvestre, na qual o vírus circula entre macacos e neles se mantém por pouco tempo. Os vetores da doença são os mosquitos Sabethes e Haemagogus, responsáveis pela circulação do agente patogênico na mata e por eventuais picadasbet365 xghumanos que ali adentram.

Se, ao ir para a cidade, uma pessoa não vacinada que hospeda o vírus for picada por um mosquito como o Aedes aegypti, pode deflagrar-se o ciclo urbano (homem-mosquito-homem), algo que não acontece no Brasil desde 1942.

O Ministério da Saúde afirma não existir vacina para febre amarela licenciada para usobet365 xganimais no Brasil. Caso essa alternativa esteja disponível no futuro, informa o órgão, seria necessário realizar uma sériebet365 xgestudos, tanto epidemiológicos como para validação da vacina, "alémbet365 xgavaliação da eficácia como medidabet365 xgsaúde pública, custo-efetividade, entre outros fatores".

Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda a vacinaçãobet365 xghumanos para 21 unidades da federação. A mais recente é o Espírito Santo.

Pesquisadores recolhem mosquitos no Parque Anhanguera,bet365 xgSão Paulo

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Surtobet365 xgfebre amarela silvestre ameaça macacos, que não transmitem a doença, mas funcionam como sentinelas para autoridades

Há até 50 mil macacosbet365 xgSão Paulo

Nos macacos, a doença causa sintomas muito semelhante aos vistosbet365 xghumanos: febre alta, prostração, icterícia, anorexia, danos no fígado e nos rins - alémbet365 xghemorragia bucal e intestinal. Dali o cenário pode evoluir para agitação, coma e mudanças metabólicas irreversíveis. A morte costuma ocorrer entre três e sete dias depois do primeiro episódiobet365 xgfebre.

Em fevereirobet365 xg2017, quando o surtobet365 xgfebre amarela silvestre se espalhou por Minas Gerais e Espírito Santo, a Sociedade Brasileirabet365 xgPrimatologia afirmou que os macacos são altamente sensíveis ao vírus. "Além disso, eles não têm acesso à vacina!", exclamaram os autores do texto.

Na época, os animais estavam sendo agredidos e, por vezes, mortos pela população, devido a informações equivocadas sobre a transmissão da doença.

Depois que três primatas encontrados mortos - um bugio e dois saguis - foram identificados com a infecçãobet365 xgáreas verdesbet365 xgSão Paulo, a bióloga Juliana Summa, diretora da Divisãobet365 xgFauna Silvestre da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, afirma que pessoas que criam macacos têm soltado os animais sem planejamento, com medo injustificado do contágio.

Isso complica ainda mais, diz ela, a tarefabet365 xginventariar os primatas que habitam 27 parques municipais, quatro estaduais e 14 áreas verdes paulistanas - que abrangem várias propriedades particulares.

"Não conseguimos estimar o númerobet365 xgsaguis, por exemplo, porque temos populações (animais) que vãobet365 xgquatro a cinco membros até outras com 20 a 30", diz. "A gente teriabet365 xgcorrer a cidade inteira para fazer a contagem desses animais."

Com basebet365 xglevantamento bibliográfico, o professor Eduardo Massad faz uma estimativa: "Calculo que existam, aproximadamente,bet365 xg40 a 50 mil primatas não humanos que podem ser hospedeiros da febre amarelabet365 xgSão Paulo. Considerando que a imunidadebet365 xgrebanho para esse vírus sejabet365 xgtornobet365 xg50%, não seria preciso vacinar todos os macacos, mas algobet365 xgtornobet365 xg20 mil deles."

Vacinar macacos seria mais barato do que imunizar pessoas?

A imunidadebet365 xgrebanho é a resistênciabet365 xgum grupo ou população à introdução e disseminaçãobet365 xgum agente infeccioso. Ou seja, é a proporção críticabet365 xgpessoas ou animais acima da qual a doença desaparece.

"Não precisa ser um número exato, mas, se chegar perto da imunidadebet365 xgrebanho, corta-se a circulação do vírus", explica Massad.

Ele reconhece que a imunizaçãobet365 xg20 mil macacos seria trabalhosa e custosa. "Mas, comparada aos 2,9 milhõesbet365 xgdoses da vacina contra a febre amarela previstos para serem aplicados na populaçãobet365 xgSão Paulo, me parece que a estratégia se justificabet365 xgtermosbet365 xgcusto-benefício", opina.

O Ministério da Saúde gasta R$ 4,42 por dosebet365 xgvacina para humanos.

Para Juliana Summa, o ponto mais crítico da proposta é a captura dos primatas. "É uma tarefa muito difícil porque precisamos colocar armadilhas e prever que os animais cairão nelas; dependendo da espécie, ele cai uma vez e não cai mais."

Ela lembra uma experiência com saguis vivida pela Divisão no parque paulistano Alfredo Volpi, que tem 142.200 m². Foram necessários seis meses para pegar oito bichos. "Eles aprendem que a porta da armadilha fecha e não querem entrar ali." Alémbet365 xgsaguis, vivem nas copasbet365 xgárvores paulistanas bugios, sauás e macacos-prego.

Uma alternativa para driblar essa dificuldade, apontada tanto por Juliana Summa como pelo professor Edison Durigon, seriam as vacinasbet365 xgiscas, usadas nos Estados Unidos para proteger os guaxinins da raiva. "As iscas talvez fossem mais eficientes, mas não sei se seria possível desenvolvê-las para febre amarela", afirma a bióloga.

Febre amarela

Crédito, EPA

Legenda da foto, Nos Estados Unidos, vacinasbet365 xgiscas são usadas para proteger guaxinins da raiva; no Brasil, cientistas capturam macacos para testes, mas não para imunização

Dificuldades poderiam ser superadas

Questionado sobre a vacinaçãobet365 xgmacacos ebet365 xgviabilidade, o Ibama informou que tais questões deveriam ser direcionadas ao Ministério da Saúde.

Já o Centro Nacionalbet365 xgPesquisa e Conservaçãobet365 xgPrimatas Brasileiros (CPB), locado no Ministério do Meio Ambiente, chegou a afirmar que um grupobet365 xgpesquisa envolvendo o Institutobet365 xgTecnologiabet365 xgImunobiológicos (Bio-Manguinhos) daria início a testesbet365 xgvacinasbet365 xgprimatas. A assessoria do Bio-Manguinhos, porém, limitou-se a informar que a Fiocruz, à qual pertence o instituto, "não está realizando vacinaçãobet365 xgprimatas contra a febre amarela".

Em agosto, a revista Science publicou reportagem que mostrava o trabalhobet365 xgcientistas da Fiocruz na capturabet365 xgbugiosbet365 xgIlha Grande, Estado do Rio. Essa espécie, se infectada com o vírus, manifesta os sintomas. Por isso, tem o papelbet365 xgsentinela -bet365 xgmorte alerta as autoridades sobre uma possível ocorrência do vírus no local. Os saguis, por outro lado, podem hospedar o vírus sem dar sinal algum disso.

Depoisbet365 xgsedar um bugio com tranquilizante, os pesquisadores checam suas gengivas, os olhos e os genitais atrásbet365 xguma coloração amarelada, segundo a reportagem da Science.

Em seguida, eles recolhem amostrasbet365 xgsangue e testam o animal para o vírus da febre amarela. Para evitar que o bugio vire presa fácil para outros animais, os cientistas o mantêm preso até que recupere totalmente a consciência, o que pode levar maisbet365 xguma hora.

"Nesses rastreamentos, vejo veterinários colocando chips (de monitoramento), tirando sangue do animal. Não poderiam aproveitar para vaciná-lo?", questiona Massad.

Durigon pondera: "De imediato, vacinar a população que vive nos arredores dos parques com suspeita da doença é certamente a atitude mais adequada e eficiente, mas, a longo prazo, medidas como o controlebet365 xgreservatórios e hospedeiros têmbet365 xgser prioritárias."

A seu ver, a faltabet365 xginvestimento na vacina dos macacos seria fruto principalmente da faltabet365 xgentrosamento entre áreas que já estudam os primatas. "O difícil é fazer os diferentes órgãos governamentais conversarem e tomarem atitudesbet365 xgconjunto", diz.

A febre amarela, no Brasil, tem perfil sazonal. Historicamente, o maior númerobet365 xgcasos verificadosbet365 xghumanos ocorre entre os mesesbet365 xgdezembro e maio, quando o maior volumebet365 xgchuvas e as altas temperaturas levam ao aumento do númerobet365 xgmosquitos.